MANCHETES DA CAPA
O Globo
Mais de 32 milhões de brasileiros estão com terceira dose atrasadas
Câmeras presas a fardas reduzem violência policial
Petrópolis perdeu 2% do seu PIB com o temporal
Amazônia entra no caminho dos pré-candidatos
Enquanto combustível sobe, governos ganham do outro lado da conta
Aos 95 anos, rainha Elizabeth II testa positivo para Covid-19
Rússia mantém manobras militares
O Estado de S. Paulo
Cresce uso de câmeras de vídeo em policiais e letalidade cai
Crise do clima desafia novas técnicas para previsão de temporais
ANS dribla lei e funciona com diretores substitutos há 2 anos
Gigantes ‘fogem’ de plano individual e abrem espaço ara healthtechs
Comandante da PM autoriza protesto e desafia governador de MG
Pirataria dificulta expansão do livro eletrônico no Brasil
Fundos de agronegócio se destacam na B3
Macron organiza reunião de Putin e Biden sobre Ucrânia e tensão cai
Folha de S. Paulo
BC quer lei para conter fraude com criptomoedas
3ª via terá desafio de não encolher com troca de siglas
Faculdades temem ações judiciais na volta às aulas
David Nemer – Desinformação gera engajamento para plataformas
Mercado de jogos eletrônicos atrai mais investimento
Prefeitura de SP não planta árvores há 6 meses
Grupo entre em rio para achar jovem em Petrópolis
Putin mantém seus soldados na fronteira da Ucrânia
Valor Econômico
Pacote bilionário de rodovias vai movimentar o mercado
Estrangeiros na bolsa miram grupo restrito de empresas
O desafio da cadeia ‘limpa’ para veículos
Cresce temor de invasão da Ucrânia
Expectativa de vida no Brasil cai 4,4 anos
Propriedade de marcas na rede é alvo de mais ações judiciais
Quem nunca se arrependeu na carreira?
EDITORIAIS
O Globo
As lições da crise dos caminhoneiros canadenses para o Brasil e o mundo
Os caminhoneiros canadenses passaram dos limites ao transformar protesto em arruaça
O protesto de caminhoneiros e manifestantes antivacina no Canadá tem inspirado movimentos semelhantes noutras partes do mundo e demonstra o poder de mobilização de pequenos grupos de defensores de teorias conspiratórias. Ecoa o mesmo espírito e reúne o mesmo perfil dos que invadiram o Capitólio em Washington ou promoveram a revolta dos “coletes amarelos” na França. Num momento em que parte maior da população sente a fadiga provocada pelas restrições adotadas para combater a pandemia, extremistas se aproveitam para sair das sombras e aumentar seu poder de confusão. Continuam sendo uma parcela minoritária, mas extremamente barulhenta.
No final de janeiro, caminhoneiros saíram de todas as partes do país rumo à capital Ottawa, para o que seria em princípio um protesto. Chegando lá, ocuparam a cidade. Em pouco tempo, passaram a interditar avenidas, xingar transeuntes por uso de máscara e buzinar sem parar. Não satisfeitos, bloquearam pontos da fronteira com os Estados Unidos, como a Ponte Ambassador, por onde passa 25% do comércio.
A ação do governo e da polícia foi de início tíbia. Na semana passada, o primeiro-ministro Justin Trudeau decidiu reagir com energia, mas aí exagerou. Para lidar com a crise, invocou uma Lei de Emergências que permite ao governo tomar medidas extraordinárias em casos de guerra ou sedição. “Não podemos e não permitiremos que atividades ilegais e perigosas continuem”, disse. A polícia comunicou aos caminhoneiros que era hora de sair de Ottawa ou enfrentar as consequências. Quem ajudou com suprimentos, combustível e fundos também foi alvo da ação. Houve multas, prisões, investigações sobre financiadores, até confisco de saldos bancários e criptomoedas usadas para arrecadação.
É possível que esse tipo de medida contenha a ameaça imediata, mas não resolve o problema de fundo: o efeito da decadência que se abateu sobre parcelas da população que querem se fazer ouvir e mantêm poder de mobilização, facilitado pela tecnologia. No mundo todo, os “esquecidos” ou “deixados para trás” em rincões afastados têm adotado o discurso de defesa da liberdade (no Canadá, o movimento se autointitula “Comboio da Liberdade”). Veem ameaça nas decisões tomadas pelo poder que emana dos grandes centros urbanos, seja o aumento do diesel (que deflagrou os protestos dos coletes amarelos ou dos caminhoneiros brasileiros em 2017) ou a imposição de restrições sanitárias (caso recente de Canadá, Austrália ou Estados Unidos).
Em toda democracia, minorias têm o direito de se fazer ouvir saindo às ruas. Os caminhoneiros canadenses, porém, passaram dos limites ao transformar protesto em arruaça, com adesão de neonazistas e outros movimentos desprezíveis. No Brasil e no mundo, as autoridades e o Judiciário precisam acompanhar os desdobramentos. Não se pode esquecer que temos um presidente com histórico de manipular caminhoneiros, propagar teorias da conspiração e ser um expoente do movimento antivacina.
O Estado de S. Paulo
Nem Deus nem o diabo são candidatos
É falsa a afirmação de que, nas eleições deste ano, o eleitor terá de decidir entre Lula e Bolsonaro. Trata-se de manipulação asfixiante e rigorosamente antidemocrática
Diante do descalabro do governo de Jair Bolsonaro, parece evidente a necessidade de que as eleições do segundo semestre sirvam para interromper o retrocesso e a destruição a que o País vem sendo submetido desde 2019 pelo bolsonarismo. Trata-se de imperativo civilizatório mínimo. Jair Bolsonaro mostrou-se indigno e incapaz do cargo que lhe foi atribuído em 2018.
Mas o desempenho sofrível de Bolsonaro na Presidência da República não leva apenas a rejeitar o bolsonarismo nas urnas. Isso seria pouco. A experiência com o governo atual explicita, com poderosa contundência, a necessidade de que a campanha eleitoral esteja centrada em ideias e propostas políticas, e não apenas em nomes. Essa é a melhor proteção contra a farsa bolsonarista.
Deve-se destacar, ao mesmo tempo, que esse tema transcende as circunstâncias políticas atuais, tendo raízes na própria essência do regime democrático. Não há pleno exercício dos direitos políticos se o eleitor faz na urna mera opção por nomes. Não há plena cidadania se o voto é tão somente uma avaliação sobre o passado. O direito ao voto inclui a possibilidade de escolha sobre o futuro do País. Daí a importância de haver – sempre, mas especialmente em ano eleitoral – uma genuína e ampla discussão a respeito dos diagnósticos e soluções possíveis para os problemas nacionais. Fugir desse debate é ludibriar, de partida, o eleitor.
Por óbvio, ninguém tem o descaramento de negar explicitamente a conveniência de discutir, numa eleição, o futuro do País. A manipulação é um pouco mais sutil, mas igualmente nefasta. Por exemplo, é cada vez mais comum ouvir que, nas eleições deste ano, o eleitor terá de decidir entre Lula e Bolsonaro. Essa afirmação, que pode soar a alguns ouvidos como realista – afinal, são os nomes que aparecem nas primeiras posições das atuais pesquisas de intenção de voto –, é inteiramente equivocada. Vigora no Brasil o sistema do pluripartidarismo e se pode afirmar, com toda a certeza, que haverá outros candidatos disputando a Presidência da República em outubro deste ano. Além disso, o primeiro turno das eleições ainda está muito distante.
A falsa disjuntiva entre Lula e Bolsonaro tem um só objetivo: desqualificar e impedir o debate de propostas e ideias políticas sobre o futuro do País. Trata-se de manipulação asfixiante e rigorosamente antidemocrática.
Como esperado, o PT se empenha em fazer com que o eleitor acredite que inexistem alternativas a Lula quando se trata de escolher um candidato capaz de desbancar Bolsonaro. O partido quer encerrar o eleitor desde já numa estreita clausura eleitoral: ou Lula ou Bolsonaro. Ao fazê-lo, o PT se dispensa de apresentar uma discussão madura sobre o futuro do País. Quer impor um binarismo que, a rigor, nem é escolha: é imposição do retrocesso, seja qual for o resultado.
Não é nova a tentativa do PT de desqualificar toda opção política não alinhada ao lulopetismo. Agora, no entanto, a pretensão autoritária tem ganhado contornos escandalosamente explícitos. Em recente reunião da legenda, segundo informou o UOL, Lula disse com todas as letras como se vê – e como deseja colocar o eleitor entre a cruz e a espada. “A humanidade acompanha há séculos a polarização entre Deus e o diabo, e nunca teve terceira via”, disse. Nesses termos apocalípticos, supõe-se que todo aquele que não votar em Lula estará escolhendo o diabo.
Outra tentativa de impedir que o eleitor pondere serenamente a respeito das consequências do seu voto sobre o futuro do País é afirmar que as eleições presidenciais de 2022 são apenas e tão somente um plebiscito sobre a barbárie do governo Bolsonaro. Sob essa lógica, para impedir um segundo mandato de Bolsonaro, valeria a pena votar em qualquer outro candidato. É bom lembrar que foi esse estreito raciocínio, antes aplicado ao lulopetismo, que conduziu Bolsonaro ao Palácio do Planalto. Não convém repetir o erro.
Eleições não são mero duelo de nomes. O voto é oportunidade de avaliar o passado e, de forma muito especial, de definir o futuro.
Folha de S. Paulo
Vieses policiais
Negros, pobres e moradores da periferia são mais parados; urge adoção de câmeras
Os dados parecem não deixar dúvidas: os negros são mais abordados por policiais na cidade do Rio de Janeiro. Eles representam 63% das pessoas que dizem ter sido paradas por agentes da lei, uma fatia consideravelmente superior ao seu peso entre os cariocas (48%).
Os que se declaram brancos, em comparação, equivalem a 51% da população local e correspondem a 31% de quem foi parado ou abordado. No total, 39% dos entrevistados na cidade afirmaram ter passado por essa experiência.
Os números, apurados pelo Datafolha, estão no relatório “Elemento Suspeito”, lançado na terça-feira (15) pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania.
Ressalve-se que nem todos os contatos com a polícia relatados são negativos. Dos 739 moradores do Rio que responderam ao questionário completo, 66% viram agentes ajudando pessoas. No entanto nada menos que 46% testemunharam agressões, e 32% tiveram um parente ou amigo morto ou ferido.
Procurada pela Folha para comentar os resultados do levantamento, a Polícia Militar fluminense afirmou que não há viés racial nas suas operações e que segue protocolos rígidos de atuação.
A resposta, formal e irrealista, poderia levar em consideração outros aspectos identificados pela pesquisa. Por exemplo, 66% das pessoas paradas pela polícia vivem em bairros periféricos ou favelas e 60% ganham até três salários mínimos — segmentos sobrerrepresentados por pretos e pardos.
Logo, fatores como geografia e nível de renda adicionam uma camada de complexidade à questão puramente racial. Trata-se aqui, ademais, de uma cidade que tem parte importante de seu território sob o poder de criminosos e que amarga patamares alarmantes de letalidade em operações policiais.
De nada adianta virar as costas para a truculência e para os vieses por trás de boa parte de abusos e ilegalidades. É preciso encarar o problema e pensar em soluções.
Uma delas está à vista de todos. Trata-se das câmeras portáteis em uniformes, utilizada com êxito nas forças policiais de São Paulo. O equipamento inibe o mau comportamento dos agentes da lei com um simples ganho de transparência.
Sua adoção em todos os estados é urgente para conter o arbítrio e combater abusos —inclusive aqueles que a Polícia Militar fluminense ainda não consegue enxergar.
Valor Econômico
Depois de seis anos, venda da Eletrobras pode virar realidade
China volta ao ponto de partida e encara um revés provisório nas mudanças de paradigma de sua economia
Os acionistas da Eletrobras, holding que controla o capital das estatais federais de energia, se reúne amanhã, em assembleia-geral, para deliberar sobre a privatização da companhia. Tudo indica que, depois de quase seis anos, quando a iniciativa foi lançada pelo governo do presidente Michel Temer, a maior empresa de energia do Brasil deixará de ser controlada, nos próximos meses, pelo Estado.
Na última quarta-feira, por seis votos a um, os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) aprovaram os estudos técnicos do Ministério das Minas e Energia para a desestatização da companhia, fundada em 1962 como estatal, em meio à polarização política provocada pela Guerra Fria. Embora aliado dos Estados Unidos na Segunda Guerra e adepto da democracia e do capitalismo, o Brasil vivia internamente, no início da década de 1960, sob forte pressão de setores da classe média para estatizar empresas, principalmente, as prestadoras de serviços públicos.
Na ocasião, eram fortes ainda os ecos da maior mobilização popular ocorrida até então: a campanha, de notório viés anti-americano, “o petróleo é nosso “, de 1953, que resultou na nacionalização das reservas de petróleo e na fundação, no ano seguinte, da Petrobras, detentora de monopólio que se estendeu até 1998, quando o Congresso Nacional, aprovou emenda à Constituição extinguindo-o.
Os custos desse monopólio para o Brasil são visíveis. Em que pese o reconhecido desenvolvimento da estatal como expert na exploração de óleo em águas profundas, a ausência de competidores para a Petrobras durante décadas atrasou o aumento da eficiência da economia brasileira, que ainda hoje paga pelas consequências do modelo estatal.
No caso da Eletrobras, o ambiente, hoje, não lembra nem de longe a concentração de mercado que ainda beneficia a Petrobras e prejudica o país. Há atores privados operando em todos os segmentos do setor, com exceção da geração de energia nuclear. Isto significa que não faz mais sentido manter a companhia sob comando estatal porque a tendência é que, presa às regras de controle do Estado, não consiga competir com os concorrentes e, assim, além de não prestar bons serviços à população e às empresas, perca continuamente valor, o que no fim também é prejudicial aos interesses da maioria dos brasileiros, dado o elevado investimento feito pelo Tesouro na empresa ao longo de 60 anos.
O corporativismo de parte dos funcionários, o patrimonialismo (dos empregados e de fatias da classe política e do empresariado) e a visão ideológica (na maioria dos casos, usada para defender interesses escusos) impuseram obstáculos à privatização da Eletrobras desde 2016, quando o governo tomou a decisão de colocar esse tema na agenda. Em decisão monocrática _ uma distorção institucional que afronta o arcabouço democrático brasileiro _, um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que, doravante, toda privatização tivesse que ser aprovada por lei. Ora, já havia lei consolidada sobre o assunto, seguida por todos os governos eleitos desde 1989, e esta exigia apenas que o presidente da República, por meio de decreto, ordenasse a inclusão da estatal no Programa Nacional de Desestatização, sendo que este foi instituído por legislação específica.
A novidade do caso Eletrobras é que todos os obstáculos, inclusive, o último, de caráter quixotesco, protagonizado por ministro do TCU, foram superados de maneira institucional e, portanto, democrática _ o que significa dizer que a não privatização é que poderá ser qualificada de ato ilegítimo, uma vez que o Congresso aprovou lei para a venda da estatal e o TCU chancelou os estudos técnicos para viabilizar a desestatização.
O ato quixotesco coube ao ministro Vital do Rêgo, do TCU. Recorrendo a algo inexistente na avaliação de ativos para fins de privatização _ o valor da potência das hidrelétricas _, o ministro, designado relator dos estudos técnicos, calculou que o erário perderá R$ 34 bilhões se vender a holding nas condições propostas. Logo, tratou como “falha” algo incalculável, uma vez que não existe mercado para mesurar o “ativo” ao qual se refere.
No Brasil e alhures, define-se, não apenas no setor público mas também no privado, o preço de um serviço de utilidade pública, como energia e telecomunicação, com base na projeção do fluxo de caixa descontado (isto é, referente ao período de concessão, estimada a inflação). Evidentemente, esta é uma conta complexa que, por isso mesmo, está sujeita à reavaliação ao longo do prazo de concessão. O ministro conseguiu holofotes para sua tentativa canhestra de impedir a venda da Eletrobras, mas não o apoio dos colegas, o que mostra que o Brasil, apesar dos problemas, avança institucionalmente.