Adversários de Bolsonaro se perguntam se ele vai tentar a reeleição
Jair Bolsonaro é no momento o fator imponderável das próximas eleições. O comportamento de Lula, seu principal adversário, é o que se esperava e previa. Idem para os demais concorrentes, nenhum deles até aqui uma formidável surpresa – mesmo considerando o “efeito Moro”, em parte já dissipado.
O imponderável associado ao presidente tem menos a ver com a possibilidade de uma “ruptura” institucional, como a pantomima ensaiada no último 7 de setembro. E muito mais com seu notório desequilíbrio pessoal, pautado em grande medida pelo medo de ele ou de seus filhos acabarem presos em caso de derrota eleitoral. Temer foi preso quando deixou a Presidência, e Bolsonaro acha que corre o mesmo risco.
Nas condições atuais os profissionais da política admitem que as chances de Bolsonaro se reeleger são remotas. Seus “aliados” do Centrão o apoiam sobretudo como nome para ajudar na formação de bancadas – o principal foco dos caciques dos partidos, convencidos de que não importa o vencedor, o jogo de governabilidade para valer será na Câmara dos Deputados.
Bolsonaro percebe a iminência da derrota e vem daí a possibilidade que alguns de seus adversários, como Ciro Gomes, do PDT, tratam já abertamente como probabilidade: a de que o “mito” não tente a reeleição. A questão seria, então, negociar algum tipo de “proteção” no caso de perda da prerrogativa por função.
Para concorrer a deputado ou senador, eleições que venceria facilmente, Bolsonaro precisa se desincompatibilizar (os prazos são motivo de diferentes interpretações). O problema está aí: saindo do cargo para concorrer a eleições corre o risco de ser preso.
“Aqui não há nada contra ele”, diz veterano integrante do STF. Mas, incentivada ou não por Bolsonaro, chegou a ministros da Corte a demanda por saber qual seria o regime jurídico que permitiria ao presidente, por exemplo, ocupar uma embaixada e permanecer “protegido” podendo disputar eleições.
“Ler” o comportamento de Bolsonaro para tentar antecipar suas decisões tem sido atividade com baixa taxa de sucesso, tal o desequilíbrio com o qual age em questões como a vacinação de crianças, que se empenhou em atrapalhar (difícil de entender até pela “racionalidade cínica” do cálculo político-eleitoreiro). Quem tratou com ele recentemente relata certo desinteresse em participar de grandes articulações eleitorais.
“Nunca exclua aquilo que não se sabe”, diz o mantra da antiga KGB – que foi, antes de mais nada, uma escola de especialistas em informação. O problema, no caso de Bolsonaro, é que talvez nem ele mesmo saiba. (O Estado de S. Paulo – 03/02/2022)
WILLIAM WAACK, JORNALISTA E APRESENTADOR DO JORNAL DA CNN