MANCHETES DA CAPA
O Globo
Vacinação atrasada vai prejudicar volta às aulas
Bolsonaro veta proibição à formação de fila ao sancionar Auxílio Brasil
Férias do presidente – Após jet ski e banhos de mar, um dia no Beto Carrero World
Mesmo que chova, show de fogos está garantido no Rio
O Estado de S. Paulo
Varejo puxa resultado ruim da Bolsa em ano de inflação e juros altos
MEC proíbe federais de exigir vacina e reitores vão ao Supremo
Ministério da Saúde prioriza verbas para o orçamento secreto
Cruzeiros na costa brasileira registram 146 casos de covid
Contas públicas surpreendem com superávit de R$ 15 bilhões
USP demite professor acusado de assédio sexual por 8 alunas
Putin ameaça EUA de rompimento se hover sanções por crise na Ucrânia
Folha de S. Paulo
Chefe da Anvisa liga falas de Bolsonaro a ameaças
Presidente vai a Beto Carrero em meio a chuvas na BA
Veja as piores falas de Bolsonaro ao longo do ano
Governo sanciona com vetos lei que cria Auxílio Brasil
Governo sanciona hoje desoneração da folha salarial
Inflação derruba aplicação, e bitcoin lidera investimento
Viação Itapemirim deixa de atender 73 cidades, veja locais
MEC veta exigência de comprovante de vacinação
Réveillon lota hotéis e anima bares no Rio
Doria descumpre promessa de reduzir secretarias
Bancos e postos do Poupatempo não abrem nesta sexta em SP
Saiba como apostar na Mega-Sena da Virada, de R$ 350 milhões
Brasileiros tentam bater hegemonia africana na São Silvestre
Cruzeiros têm casos de Covid-19
Covid dispara nos EUA, e globo tem 1 mi de casos diários
EDITORIAIS
O Globo
País precisa acabar em definitivo com os lixões a céu aberto
A decomposição dos resíduos deixados nos lixões sem o devido tratamento também atinge o solo e os lençóis subterrâneos de água
A pandemia que escancarou a desigualdade, sobrecarregou o Sistema Único de Saúde e aumentou a pobreza agravou outro problema crônico brasileiro: a destinação do lixo. Segundo relatório divulgado no início de dezembro pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a geração de resíduos sólidos aumentou 4% entre 2020 e 2021, chegando a 82,5 milhões de toneladas por ano. Entre outras razões, porque os brasileiros ficaram mais em casa, substituindo o consumo em restaurantes pela entrega domiciliar. Nos cinco anos anteriores, o aumento tinha sido em média de 1%.
Isso não seria tão dramático se quase 40% dos resíduos não fossem encaminhados inadequadamente a aterros sem controle ou lixões a céu aberto. São 30,3 milhões de toneladas, capazes de encher 765 estádios do Maracanã, causando prejuízo à saúde de 77,5 milhões de pessoas, segundo o “Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2021”.
O relatório da Abrelpe destaca que houve avanços, mas admite que dificilmente será alcançada em 2024 a meta de acabar com os lixões, substituindo-os por aterros sanitários, conforme determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Não será a primeira nem a última meta descumprida no Brasil, mas vale ressaltar que ela já deveria ter sido alcançada em 2014. Trata-se de adiamento de dez anos para algo urgente.
Os lixões causam estragos de toda ordem. Contribuem para o aquecimento global ao emitir metano, tornando ainda mais difícil para o Brasil cumprir o compromisso, assumido com mais de cem países na COP26, de reduzir as emissões do gás em 30% até 2030. Aterros também produzem o gás, mas são um avanço porque boa parte tem sistema de captação e aproveitamento, em que as emissões são mitigadas.
A decomposição dos resíduos deixados nos lixões sem o devido tratamento também atinge o solo e os lençóis subterrâneos de água. O vazamento de chorume e a ausência de captura de gases poluentes facilitam a reprodução de insetos transmissores de doenças.
Ao contaminar a água, os resíduos, sejam eles oriundos de domicílios ou de atividades industriais, acabam encarecendo projetos de despoluição de rios e do mar, que podem se tornar inviáveis.
Os prejuízos sociais são imensos. É degradante ver nos lixões catadores dividindo espaço com ratos e urubus. Em vez disso, deveriam estar praticando a coleta seletiva dentro de critérios de salubridade, gerando renda sem pôr a própria saúde em risco.
Responsáveis pela coleta e destinação de lixo, os municípios alegam falta de dinheiro para investir em aterros sanitários. Mas, ao agir assim, agravam a própria crise financeira, já que o gasto com saúde aumenta.
Cenas como a de Gabriel da Silva, de 12 anos, que achou uma árvore de Natal ao revirar um lixão no município de Pinheiro, no Maranhão, deveriam ser parte do passado. Pelo jeito, o drama captado pela foto de João Paulo Guimarães, que viralizou nas redes sociais e comoveu o país, não terá terminado em 2024. E a solução não pode ser adiada mais uma vez.
O Estado de S. Paulo
As mídias sociais e o futuro da democracia
Especialistas se dividem entre os efeitos benéficos e maléficos do espaço virtual. O certo é que ele precisará de alguma forma de regulação
Boa parte das angústias das pessoas que se preocupam com o futuro da democracia advém do impacto dos espaços digitais sobre o tecido social e a capacidade de deliberação dos cidadãos. A invasão do Capitólio nos Estados Unidos tornou-se um ícone dos efeitos deletérios da desinformação e dos discursos tóxicos, intensificando a apreensão sobre o papel das redes sociais.
Neste contexto, o Pew Research Center inquiriu mais de 800 inovadores, executivos, gestores e pesquisadores do campo da tecnologia a propósito do futuro dos espaços digitais e seu papel na democracia. A grande maioria (70%) acredita que a revolução digital tem em igual medida aspectos positivos e negativos; 18% veem uma predominância dos negativos; e 10% dos positivos. Perguntados se, num arco de 15 anos, os espaços digitais serão ou não utilizados de maneira que servirão significativamente ao bem comum, 61% afirmaram que sim e 39%, que não.
Os pessimistas apontam que as fragilidades e perversidades humanas tendem a se amplificar com as novas tecnologias. Humanos são autocentrados e têm a visão curta; logo, são fáceis de manipular. Muitos temem que as instituições humanas não sejam capazes de acompanhar o ritmo e a complexidade das comunicações digitais. Alguns preveem mesmo uma espiral distópica com os avanços na Inteligência Artificial, hipervigilância, a “dataficação” de cada aspecto da vida ou engenharias comportamentais abastecidas pelo autoritarismo e magnificadas pela desinformação.
É um dado que, para maximizar os lucros, os atuais algoritmos das mídias sociais são programados para acelerar o engajamento dos usuários. O problema é que, mais ou menos deliberadamente, eles acabam favorecendo meios de engajamento eficazes, mas socialmente destrutivos, como o extremismo, o ódio e a mentira.
Diante disso, os otimistas ancoram suas melhores esperanças no redesenho dos algoritmos a fim de qualificar a interação dos indivíduos e robustecer o debate democrático. Há um anseio difuso por uma regulação que promova o discurso cívico e reprima a desinformação. Mas ele se depara com a questão crucial: quem seria responsável pelos critérios e sua execução: os governos? As próprias mídias? Os usuários?
Para muitos, o Estado, por meio de uma combinação de regulação e pressões brandas, teria o papel de induzir as empresas de tecnologia a adotar comportamentos mais éticos. Alguns apontam que, como em todos os avanços anteriores na comunicação humana, após um primeiro momento disruptivo, o letramento digital e a familiaridade com os aspectos mais tenebrosos da tecnologia trarão naturalmente melhoras.
Entre as propostas que têm sido aventadas para redesenhar o ambiente digital estão a introdução de mais competição no ecossistema de informações por meio de softwares que permitam às pessoas escolher algoritmos que priorizem conteúdos conforme seus padrões editoriais; sistemas eletivos online que favoreçam consensos ao invés da polarização entre grupos partidários; uma Declaração dos Direitos da Internet que permita uma soberania individual, garantindo o anonimato a cada pessoa, mas erradicando robôs; ou sistemas de comunicação construtivos que reduzam a voltagem do ódio e concilie divisões.
É possível apontar fragilidades e riscos em cada uma dessas estratégias. Possivelmente, o melhor caminho será uma combinação de todas – de maneira que as virtudes de umas compensem os vícios de outras –, orientada pelo princípio da subsidiariedade, ou seja, a primazia da regulação sobre o conteúdo caberia ao usuário e, subsidiariamente, às outras autoridades, das menos às mais centralizadas: as próprias mídias, os governos nacionais e, por fim, uma governança global.
O que parece incontroverso é que, tal como o espaço público físico, o virtual precisa de alguma regulação. É a única alternativa à anarquia. E se essa regulação não for implementada pela coletividade conforme os princípios e métodos democráticos, a história sugere que inevitavelmente o será conforme as ambições autocráticas ou plutocráticas de uns poucos.
Folha de S. Paulo
Golpismo derrotado
Arquitetura da democracia resiste a Bolsonaro; cumpre proteger setores cruciais
Encerra-se um ano particularmente tumultuoso na política nacional, sobretudo pelo comportamento anômalo do presidente da República. Apesar dos percalços e da dissipação de energia cívica, a arquitetura da democracia brasileira resistiu ao golpismo aloprado.
O apogeu da cavalgada autoritária aconteceu nas manifestações do Dia da Independência, mas ela foi desmoralizada em menos de 48 horas por ausência de materialidade.
Jair Bolsonaro ameaçou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, com algo que nem soube enunciar —porque não há nada que o chefe de Estado possa fazer contra a autonomia de um Poder sob a Constituição de 1988.
Atiçou a massa de fanáticos com mentiras sobre a urna eletrônica e com bravatas sobre sair morto do Palácio do Planalto. As eleições de 2022 ocorrerão normalmente sob a égide das urnas eletrônicas, e Bolsonaro sairá da sede do governo derrotado, não martirizado, caso falhe a tentativa de reeleger-se, como hoje apontam as pesquisas.
Ao final da epifania restou uma chusma de caminhoneiros dispostos a sabotar os canais de abastecimento de 214 milhões de brasileiros. Até Bolsonaro percebeu que deixá-los agir seria abrir caminho para a anarquia e o impeachment.
Assim terminou o devaneio autocrático que só a lunáticos pareceu fazer sentido. Restou a face real de Bolsonaro, a de um presidente que não sabe e não quer governar.
A súbita elevação de um deputado patrono de corporativismos, insolente e inepto ao posto de dirigente político máximo dá-se bem a ver nas imagens finais de 2021. Enquanto uma catástrofe humanitária ocorria no sul da Bahia, castigado por inundações e deslizamentos em decorrência de fortíssimas tempestades, o presidente passeava de jet ski em Santa Catarina.
Se gasta seu tempo com assuntos de interesse geral, é para obstruir, com alegações de profunda ignorância científica, a urgentíssima vacinação de crianças contra a Covid, num quadro de nova escalada mundial das infecções.
A aventura de Jair Bolsonaro, que felizmente parece encaminhar-se para seu ocaso, deixa evidenciada a fortaleza dos pilares da democracia brasileira diante do teste mais desafiador sob esta Constituição.
Esse trauma político também deveria incentivar iniciativas reformistas para evitar que áreas cruciais da política pública, como saúde, educação, proteção aos vulneráveis e ao ambiente, fiquem à mercê de piromaníacos eventuais.
Do mesmo modo que o país soube proteger a gestão da moeda de apetites imediatistas de governantes, há de conseguir blindar o futuro de suas crianças e o bem-estar de sua população dos saqueadores e dos que bailam com a morte.