MANCHETES DA CAPA
O Globo
País tem quase 50% de vagas com salário baixo e sem proteção
Troca de siglas deve movimentar 40 deputados
Guedes diz que país pode quebrar com aumento a servidores
Ajuda federal à Bahia é pouca, diz governador
Vacinação de crianças une pais, avós e médicos
América do Sul lidera ranking de imunização
Estudo mostra que exercício estimula consumo de álcool
Rússia fecha a principal ONG de direitos humanos
O Estado de S. Paulo
Desemprego recua, mas renda média é a menor desde 2012
Maioria dos presidenciáveis diz que é contra reeleição
Em meio a apagão de dados oficiais, laboratórios veem alta de casos
Com Ômicron, mundo passa de 1 milhão de casos diários
Conta de luz deve subir menos com socorro de R$ 15 bi ao setor elétrico
Férias sob críticas
Mais 3 parques de SP serão concedidos à iniciativa privada
Pequenas empresas também adotam agenda sustentável
Folha de S. Paulo
Salários caem a seu menor patamar em quase 10 anos
Endividamento das famílias bate recorde, diz Banco Central
Juros bancários sobem de novo e taxa é a mais alta desde 2019
Auxílio-doença do INSS sem perícia chega ao fim; entende
Enchentes destroem vacinas e medicamentos na Bahia
Presidente anda de jet ski e fala em não interromper folga
Avanço da ômicron faz disparar casos de Covid-19 no mundo
Risco de ter doença sobe 6 meses após Coronavac, até em jovens, diz estudo
Prefeitura de São Paulo libera vacina contra gripe para todas as idades
Deportados dos EUA relatam maus-tratos durante detenção
Valor Econômico
Pedido de recuperação judicial cai ao menor nível em 6 anos
Consumo de carne é o mais baixo em 25 anos
Ensino técnico garante vaga mais qualificada
Afro e urbano
Formação com grife empresarial
Aliansce busca fusão com BR Malls
Viagem corporativa se recupera e anima setor de turismo
EDITORIAIS
O Globo
Longe das cadeias globais, a indústria continuará a definhar
O Brasil é um baluarte para ideias comprovadamente erradas sobre desenvolvimento econômico
Uma das perguntas que ainda pairam sobre a economia mundial é: haverá uma grande transferência de unidades fabris da China para Estados Unidos, Europa e áreas nas suas proximidades? Embora a dúvida persista, uma coisa parece certa: mesmo na eventualidade de algo desse tipo acontecer, o Brasil estará fora da lista de possíveis beneficiados.
As causas são conhecidas. O Brasil é um baluarte para ideias comprovadamente erradas sobre desenvolvimento econômico. Mudar essa realidade pode ser um caminho para atrair novos investimentos se as empresas decidirem sair da Ásia. Mas, mesmo que multinacionais americanas e europeias decidam ficar onde estão, o Brasil sem dúvida teria a ganhar com um ambiente de negócios mais competitivo.
Algumas forças alimentam a hipótese de uma debandada da China. A pandemia do coronavírus e o posterior nó nas redes de logística globais deixaram claro quanto a dependência de poucos fornecedores pode, em situações de emergência, causar problemas. Cerca de 60% dos antibióticos importados pelo Japão vêm da China, país responsável por metade da produção global de máscaras, para citar apenas dois itens. Há centenas de outros.
Antes mesmo da Covid-19, Estados Unidos e China caminhavam para o que analistas têm chamado de “desacoplamento”. Algumas empresas já tiraram operações da Ásia, mas outras tantas reforçaram seus investimentos por lá. É cedo para ter uma imagem desanuviada que dê o quadro real da situação.
A manufatura há muito se organizou em cadeias globais de valor, com produção fragmentada em vários países. Nossa posição nessa corrida é nos últimos pelotões. A defasada política industrial brasileira, baseada em tarifas de importação elevadas, incentiva empresas estrangeiras a montar fábricas aqui apenas para explorar o mercado interno, não para exportar produtos de ponta a países ricos. Em vez de se especializar, ocupando nichos nas cadeias globais, a indústria brasileira arrogou-se a missão de fazer quase tudo sozinha. Com isso, condenou o país a produtos mais caros, tecnologicamente menos avançados — e cavou sua própria cova.
Enfrentar os lobbies locais que lucram com essa situação e promover a abertura da economia não garantirá um lugar de destaque em cadeias industriais globais. Economias como a mexicana estão muito à frente, sem falar na questão da proximidade geográfica com o mercado americano. Tampouco equivalerá a uma passagem sem escalas para o Primeiro Mundo — vários outros fatores interferem na expansão do PIB. Mas será, com certeza, um passo para sair do atraso em que a indústria brasileira está. A maior especialidade das lideranças industriais é elencar um sem-número de desculpas para que o governo as mantenha protegidas de qualquer competição. Hora de trocar o disco.
O Estado de S. Paulo
O Brasil não é como Bolsonaro
A ausência de um governo digno do nome em momentos tão críticos teve o efeito positivo de lançar luz sobre a solidariedade entre os cidadãos
O governo do presidente Jair Bolsonaro se ausentou do enfrentamento de quase todos os problemas que afligiram os brasileiros ao longo deste ano particularmente difícil. Não raras vezes, o próprio presidente foi a fonte das atribulações.
Há duas razões para esse comportamento: a baixa estatura moral e intelectual de Bolsonaro para exercer a Presidência e sua notória inapetência para o trabalho. O resultado de três décadas de irrelevante vida pública revela que Bolsonaro nunca gostou do batente. A ascensão à Presidência não parece tê-lo feito mudar de ideia.
Mas, por paradoxal que possa parecer, a ausência de um governo digno do nome em momentos tão críticos teve o efeito positivo de lançar luz sobre a solidariedade entre os cidadãos. Em 2021, os brasileiros deram mostras inequívocas de que os laços de fraternidade que os unem estão mais fortes do que nunca. É como se os cidadãos percebessem que, diante de um governo tão ruim, tivessem de contar apenas uns com os outros. Evidentemente, por mais valorosa que seja, a solidariedade não dá conta de tudo. O apagão governamental produziu desastres. Mas foi graças ao altruísmo de muitos cidadãos que alguns problemas puderam ser ao menos mitigados.
Tome-se como exemplo mais recente a tragédia das chuvas que mataram dezenas e desabrigaram milhares de baianos neste fim de ano. Como se fosse um burocrata qualquer, que assina meia dúzia de papéis e dá seu trabalho como concluído, Bolsonaro se limitou a despachar para a Bahia o ministro da Cidadania, João Roma, e a editar uma medida provisória que cria um crédito extraordinário de R$ 200 milhões para reconstrução da infraestrutura rodoviária destruída pelas chuvas no Estado. Depois, partiu para uma semana de ócio nas praias de Santa Catarina – a imagem do dolce far niente do presidente em contraste com o terrível padecimento dos baianos é de causar engulhos. A ajuda concreta aos baianos que perderam tudo o que tinham tem vindo, principalmente, da solidariedade de seus concidadãos em todo o País e de ações pontuais de empresas privadas, principalmente supermercados, que têm enviado alimentos aos desabrigados.
Outro exemplo recente, este dado por uma adolescente de 17 anos de Aracaju (SE), mostra que não é preciso chegar à idade de Bolsonaro para saber o valor da solidariedade. Como mostrou uma reportagem do Estado, a menina Lenice Ramos idealizou uma ação solidária para distribuir absorventes para alunas carentes da rede pública de ensino. Praticamente sozinha, Lenice conseguiu distribuir 192 mil absorventes a meninas que padecem da chamada pobreza menstrual. Ao fazê-lo, demonstrou ter mais espírito público e sensibilidade social que Bolsonaro, que em outubro vetou o financiamento público à distribuição gratuita de absorventes a mulheres carentes. Uma desumanidade. Poucos dias após o veto cruel, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, prometeu encaminhar ao Congresso um projeto de lei tratando do tema. Até agora não se leu uma linha sequer do tal projeto.
Mas neste ano não houve exemplo maior de união entre os brasileiros em prol do bem comum do que a que se viu no curso da pandemia de covid-19. Os brasileiros, em sua grande maioria, ignoraram olimpicamente a sabotagem do governo federal às medidas sanitárias para evitar a disseminação do vírus. Fazendo ouvidos moucos para a campanha de Bolsonaro contra a vacinação, os cidadãos acorreram em massa aos postos de saúde para receber o imunizante tão logo foi possível. Não foi trivial o sacrifício individual que muitos fizeram em nome do bem-estar coletivo.
Na raiz desse contraste entre governo e sociedade está a incompreensão de Bolsonaro sobre o valor simbólico da Presidência da República. Sabe-se que ele não é talhado para exercer a liderança do País, mas nem sequer se esforça para interpretar o papel. Resgatar o simbolismo de dignidade e espírito público que a Presidência encerra, pois, será uma das muitas missões de quem vier a suceder-lhe.
Folha de S. Paulo
Dois biólogos
Amazônia preservada deve muito aos naturalistas Thomas Lovejoy e Edward Wilson
O ano termina com dupla notícia ruim para a preservação da natureza: morreram os mais importantes biólogos na defesa da biodiversidade, Thomas Lovejoy e Edward O. Wilson. A Amazônia, floresta tropical mais conservada do planeta, deve muito aos dois naturalistas.
Lovejoy tinha 80 anos, 56 deles dedicados à floresta amazônica do Brasil, principalmente. Aportou aqui em 1965 para pesquisas de doutorado na Universidade Yale e nunca mais se distanciou.
Foi sua a iniciativa do Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, em 1979, prolífica parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. Em 2013 o projeto mudou de nome e se tornou o Centro de Biodiversidade da Amazônia.
É o mais antigo programa de estudos sobre o efeito da fragmentação de florestas chuvosas. Nos talhões minuciosamente monitorados colheram-se os dados de centenas de mestrados e doutorados, resultando na publicação de mais de 700 artigos científicos.
O vocábulo “biodiversidade” não se encontra por acaso no nome do centro. Lovejoy cunhou com Eliott Norse, nos anos 1980, o conceito de diversidade biológica (riqueza de espécies) como patrimônio natural a ser preservado, rede de relações ecossistêmicas resultantes de milhões de anos de evolução.
A bacia amazônica, com 7 milhões de km² (mais de 4 milhões de km² no Brasil), reúne a maior concentração de plantas, animais e microrganismos do planeta. A floresta abriga ainda gigantesco estoque de carbono, e sua destruição acelerada se tornou tema de proa no debate mundial sobre mudança climática —em boa medida, pelos esforços de Lovejoy
Edward Wilson, morto aos 92, teve o mérito de contrair a noção acadêmica numa só palavra, que ganharia o mundo e as manchetes: biodiversidade. Consagrou-a com o livro “A Diversidade da Vida”, lançado no mesmo ano em que se realizava no Brasil a cúpula mundial do ambiente Eco-92.
O especialista em formigas escreveu belas páginas sobre sua experiência na floresta amazônica e decerto a tinha em mente ao propor preservar 50% de cada ecossistema da Terra.
A degradação da região nos leva ao limiar de um colapso do bioma conhecido como “dieback” (um outro conceito capitaneado por Lovejoy), espiral de ressecamento da floresta que a tornaria parecida com uma savana. Para honrar seu legado e o de Wilson, compete a nós impedir que isso ocorra.
Valor Econômico
Bolsonaro entra no ano eleitoral em má posição
Nunca um incumbente esteve em situação tão ruim quando tentou a reeleição a um ano antes do pleito
O presidente Jair Bolsonaro chega ao ano final de seu mandato colhendo o que plantou: instituições desfazendo diariamente decisões ilegais de seu governo, inquéritos para apurar fake news em que o mandatário está envolvido e queda de popularidade. A mais recente pesquisa Datafolha revela aspectos relevantes para um candidato à reeleição – 53% consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, 48% julgam que ele é o pior presidente que o país já teve e 60% afirmam que nunca confiam no que ele diz.
O prestígio de Bolsonaro já começara a descer ladeira abaixo logo no início de seu governo, quando decidiu, ao lado de generais que presumiam entender de política, que não precisaria ter uma base de apoio no Congresso. Os legisladores aprovaram uma reforma já amadurecida anteriormente, a da previdência, e barraram todas as pautas conservadoras com que Bolsonaro anima a minoria radical que o admira nas redes sociais. Veio a pandemia e houve mais entendimento entre governo e Congresso diante da catástrofe. Mesmo assim, o protagonismo nunca foi do Planalto.
Bolsonaro fez – e ainda faz, 618 mil vítimas depois – tudo o que pode para impedir que medidas para combater a covid-19 fossem tomadas. Sua mais recente investida foi contra a vacinação das crianças. A magnitude do auxílio emergencial usada para amparar 66 milhões de pessoas que repentinamente ficaram sem fonte de renda colocou no limbo os atos criminosos do presidente, enquanto governadores, prefeitos e serviços públicos de saúde se encarregaram de fazer o que precisava ser feito contra a pandemia.
O ápice das investidas do presidente contra as instituições ocorreu no 7 de Setembro, e, logo depois, foi contido pelo Centrão, já de posse da Secretaria de Governo, da Casa Civil e do comando da Câmara dos Deputados. A aliança foi selada à base de emendas do relator em troca do afastamento da possibilidade de impeachment.
Quem achava que Bolsonaro com uma base parlamentar de apoio abriria a rota menos acidentada para as reformas teve logo de abandonar suas ilusões. As reformas foram deixadas de lado – em primeiro lugar pelo próprio presidente da República, que nunca viu sua necessidade. A reforma administrativa foi um exemplo claro: Bolsonaro topou até mexer neste vespeiro, desde que os atuais funcionários ficassem fora dela.
O presidente escapou de consequências legais sérias porque, a seu modo, e com custos para a nação, montou uma rede de proteção. Além da Câmara, com Arthur Lira – que só viu a pilha de 142 pedidos de impeachment crescer -, ele conta com a complacência da Procuradoria Geral da República, que o auxiliou a arquivar a Lava-Jato, com modificações na cúpula da Polícia Federal e, a partir de janeiro, com dois ministros indicados para o Supremo Tribunal Federal.
Bolsonaro terceirizou o orçamento para o Centrão, apenas requerendo privilégios para suas “bases”, os militares e policiais. Do meio ambiente à saúde e educação, sua gestão oscilou entre a omissão deliberada, a política ideológica destrutiva, a defesa de interesses privados e, por fim, uma desumana incompetência. Os atos de governo são felizmente desfeitos dia após dia. O STF, por exemplo, mandou o Executivo recompor o Conama, devastado por Ricardo Salles, que eliminou na prática a participação da sociedade civil no órgão.
Mesmo com dezenas de bilhões de dólares entregues aos partidos que o apoiam no Congresso, Bolsonaro é o presidente com a menor taxa de sucesso em três décadas. Em 2019, primeiro ano de administração, quando o governo deveria estar no auge de seu prestígio, foram aprovados apenas 30% dos projetos enviados ao Congresso. Na pandemia, foram 42,9% e neste ano, com emendas secretas e tudo, 29% (levantamento do Iesp).
A campanha eleitoral mal está começando e tudo ainda pode acontecer. O ponto de partida do presidente, porém, é muito desfavorável. Pesquisa Datafolha (13 a 16-12) mostrou que Bolsonaro esteve adiante de seu maior rival, o ex-presidente Lula, disparado à frente, apenas como presidente que mais pensa em Deus antes de tomar decisões e o que mais defende os ricos (56%). Ele terá de reconquistar 4 de cada 10 eleitores que o apoiaram em 2018 e bateram em retirada. O Auxílio Brasil deve ter efeitos a seu favor, mas nunca um incumbente esteve em situação tão ruim quando tentou a reeleição a um ano antes do pleito. E a capacidade de Bolsonaro se reiventar é zero.