Marcus Pestana: A decolagem da economia em 2024

Os indicadores da economia brasileira em 2023 não foram ruins. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve bater nos 3%. A divulgação oficial do resultado pelo IBGE será no próximo dia 1º. de março. As projeções iniciais eram bem mais modestas, em torno de 0,7%. O mercado de trabalho está aquecido com taxas baixas de desemprego, crescimento da massa salarial e dos salários reais. Ainda nos desafiam o grande contingente de trabalhadores informais e o não desprezível número de desalentados, que são aqueles que desistiram de procurar emprego.

A inflação, medida pelo IPCA, registrou queda, fechando ano em 4,62%, batendo na trave do limite superior do intervalo de tolerância do sistema de metas inflacionárias. Para 2024, se espera uma inflação em torno de 3,9%, ainda acima da meta de 3% traçada pelo Conselho Monetário Nacional. Os juros reais continuam altos, a taxa básica está em 11,25%, muito acima da inflação estimada, mas o Banco Central sinaliza a continuidade de quedas contínuas nas próximas reuniões do COPOM.

O setor externo também permaneceu com desempenho favorável. Hoje a dívida externa é irrelevante, não é fonte de preocupação como nos anos de 1980. As reservas internacionais se encontram em patamar extremamente confortável somando US$ 355,0 bilhões, um colchão de amortecimento sólido contra volatilidades do cenário global, que está mais favorável, mas com incertezas presentes introduzidas pelas guerras envolvendo Ucrânia e Israel, e as expectativas em torno da eleição americana. As exportações bateram recorde histórico em 2023 chegando ao montante de US$ 344 bilhões, mesmo com a queda dos preços das comodities, compensada com aumento dos quantitativos. As importações caíram para US$ 264 bilhões, o que não é um bom sinal em termos de dinâmica econômica. Com isso produziu-se um saldo positivo na balança comercial de US$ 80,5 bilhões. E ainda que a conta de transações correntes tenha sido deficitária em US$ 28,6 bilhões, o déficit foi facilmente financiado pelo ingresso do Investimento Direto no País (IDP) de US$ 62 bilhões.

Portanto, nos planos da política monetária e cambial não há ameaças graves presentes no horizonte para 2024. A ameaça se situa essencialmente na situação fiscal.

O desequilíbrio nas contas do governo provoca aumento do endividamento, da inflação, da taxa de juros e a desaceleração da economia. Desde 2014, o governo brasileiro tem registrado déficits primários (que não levam em conta as despesas financeiras), com exceção do pequeno superávit em 2022. Ano passado tivemos o segundo pior resultado da história, com um resultado primário negativo em R$ 230,5 bilhões ou 2,12% do PIB. Para estabilizar a relação entre a dívida pública e o PIB, precisaríamos de um resultado positivo de 1,4% do PIB. A Lei de Diretrizes Orçamentária/2024 fixou a meta de déficit zero. Há grande ceticismo quanto o alcance deste resultado e as projeções são de um déficit em torno de 0,9% do PIB. Ou seja, a tendencia é a dívida brasileira continuar crescendo.

A estratégia do atual governo mudou em relação ao antigo teto de gastos, que centrava o ajuste no controle das despesas. Agora, o foco é o aumento da arrecadação e várias medidas foram tomadas. A arrecadação de janeiro de 2024 foi recorde. Mas ainda é cedo para visualizarmos aonde chegará a economia brasileira ao final do ano.

Leia também

Brasil safado de Madonna é negação do conservadorismo

NAS ENTRELINHASFãs revelam uma identidade coletiva na qual representam...

O padrão a ser buscado

É preciso ampliar e replicar o sucesso das escolas...

Parados no tempo

Não avançaremos se a lógica política continuar a ser...

Vamos valorizar a sociedade civil

Os recentes cortes promovidos pelo Governo Federal, atingindo em...

Petrobrás na contramão do futuro do planeta

Na contramão do compromisso firmado pelo Brasil na COP...

Informativo

Receba as notícias do Cidadania no seu celular!