Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (28/06/2023)
MANCHETES DA CAPA
O Globo
Relator vota pela condenação de Bolsonaro por abuso de poder
Copom sinaliza corte de juros com ‘parcimônia’ em agosto
Coronel tenta negar golpismo em mensagens a Cid, mas não convence CPI
Militar vazava operações para o garimpo, diz Polícia Federal
Google terá mais precisão em prever enchentes no Brasil
Áudio mostra que Trump tratou de papéis secretos
‘Dama de ferro’ radicaliza e mobiliza oposição a Maduro
O Estado de S. Paulo
PCC e outras facções ameaçam Amazônia com ‘narcogarimpo’
Ata do Copom indica que Selic pode começar a cair em agosto
Governo estuda medidas para reduzir juros do cartão de crédito
Relator vê ato ilícito de Bolsonaro contra eleição e vota para torná-lo inelegível
MEC avalia 14 pedidos de criação de mestrado acadêmico EAD
Como o novo Plano Diretor vai mudar o perfil de prédios e bairros
Livraria Cultura fecha sem previsão de abertura
Chavismo é investigado por crimes contra a humanidade
Folha de S. Paulo
Lula anuncia Plano Safra de R$ 364 bi a produtores rurais
Não se pode ignorar mentira, diz relator de ação contra Bolsonaro
Maioria no Copom vê espaço para corte de juros em agosto
Coronel nega golpismo e leva ‘cola’ na CPI do 8 de Janeiro
Presidente de Itaú e Bradesco apoiam reforma tributária
Após Plano Diretor, área de mata atlântica de SP pode virar parque
Pia chama 11 estreantes e base veterana para Copa
Valor Econômico
Ata indica corte do juro em agosto; comissão do Senado aprova convite para Campos Neto
IPCA-15 confirma perda de fôlego da inflação
Relator da reforma tributária vê oportunidade inédita de aprovação
Plano Safra terá R$ 364,2 bi e juro menor para produção sustentável
Relator vota por inelegibilidade de Bolsonaro
EDITORIAIS
O Globo
CMN deve manter intacta governança monetária
Alteração nas metas de inflação ou no prazo para cumpri-las pode deteriorar as expectativas e pressionar os juros
A reunião de amanhã do Conselho Monetário Nacional (CMN) — que reúne os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto — é aguardada com ansiedade no mercado financeiro. Está na pauta a discussão das metas de inflação de 2024, 2025 (ambas hoje em 3%) e 2026. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já declarou ser favorável a aumentar a meta, por acreditar que isso aliviaria a necessidade de manter os juros altos para debelar a inflação.
Lula não está apenas errado. A pressão que faz sobre o BC também prejudica seu objetivo. É até possível defender academicamente metas mais altas de inflação, mas, neste momento, com a discussão politicamente contaminada pelo próprio Lula, elas realimentariam a expectativa inflacionária dos agentes financeiros, forçando o BC a praticar juros ainda maiores para cumpri-las. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC é didática ao apontar o risco: “As expectativas de inflação apresentaram algum recuo, mas seguem desancoradas, em parte em função do questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras”.
Felizmente, Haddad e Tebet parecem convencidos de que não é o momento de rediscutir as metas. Depois que a ata deixou claro estar próximo o horizonte para queda dos juros, a expectativa para a reunião é outra. Espera-se que o CMN mude apenas a regra de avaliação. Em vez de estipular que o objetivo seja atingido levando em conta a inflação de janeiro a dezembro, cogita-se adotar um prazo mais elástico. Haveria uma meta não anual, mas contínua. É o que acontece noutros países com sistema de metas inflacionárias (de 36, 29 adotavam prazo superior a um ano, em geral entre 18 meses e três anos, constatou estudo dos economistas Klaus Schmidt-Hebbel e Martín Carrasco).
Haddad defende que também o Brasil alongue o período para cumprimento da meta. De acordo com ele, isso evitaria choques abruptos nas taxas de juros e permitiria combater surtos inflacionários com mais suavidade. Caso o CMN decida estender o prazo, porém, isso contribuiria para semear dúvidas. Ninguém sabe como a tal meta contínua funcionaria na prática. Hoje o presidente do BC é obrigado a se justificar, por meio de carta pública ao ministro da Fazenda, caso a inflação anual fique fora do intervalo de tolerância. Qual seria o formato de prestação de contas em caso de meta contínua? Persistiria a carta anual? Ou haveria carta sempre que a inflação no período de 12 meses ficasse além ou aquém da meta? Nada disso está claro.
Em razão disso, o CMN deveria ser cauteloso e manter intacta a atual governança monetária. Evitaria, assim, solavancos na percepção positiva do mercado. Se o governo quer mesmo a queda dos juros, o principal objetivo da reunião de amanhã tem de ser evitar deteriorar as expectativas. Mesmo mudanças aceitáveis, como estender o prazo das metas, não deveriam ser adotadas se houver risco de realimentarem a inflação. Nos termos da ata do Copom: “Flexibilizações do grau de aperto monetário exigem confiança na trajetória do processo de desinflação, uma vez que flexibilizações prematuras podem ensejar reacelerações do processo inflacionário e, consequentemente, levar a uma reversão do próprio processo de relaxamento monetário”.
O Estado de S. Paulo
BC passa a bola ao governo
Em ata sobre manutenção da Selic, Copom sinaliza que pode começar a baixar juros se o governo colaborar na ancoragem das expectativas de inflação, pois ainda há muitas incertezas
A exemplo do que já havia ocorrido em fevereiro, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) também manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, o tom da ata foi mais ameno que o apresentado no comunicado divulgado após a reunião. Mas, pela primeira vez em sete trimestres, a autoridade monetária abriu a possibilidade de começar a reduzir os juros.
Como esperado, na ata, a autoridade monetária trouxe uma leitura mais atual sobre os cenários externo e interno. A despeito da persistência da inflação global, os bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa permanecem determinados a perseguir suas metas. No Brasil, a economia segue em desaceleração gradual; as expectativas para a inflação deste ano e de 2024 recuaram, mas continuam acima das metas traçadas para ambos os períodos.
Foram outros os trechos da ata que mais chamaram a atenção dos analistas. O primeiro é o fato de que o BC elevou a estimativa de taxa de juros real neutra de 4% para 4,5% ao ano – ou seja, o nível de juros que considera necessário para estabilizar os preços ao longo do tempo. Isso significa que o custo do processo desinflacionário subiu. Como o BC argumentou, esse aspecto não é exclusividade do Brasil, mas é fato que as características inerentes à economia brasileira trazem mais dificuldades e lentidão para a contenção da inflação.
A ata também trouxe respostas aos que cobraram explicações para a manutenção da Selic em 13,75% ao ano, como o governo, o setor produtivo e uma parte do segmento financeiro. Mais do que justificativas contundentes, o BC reconheceu haver, entre seus próprios diretores, divergências sobre a melhor forma de conduzir a inflação à meta a partir de agora.
Enquanto uma parte do Copom ainda está cautelosa em relação aos próximos passos, sobretudo em razão dos componentes mais voláteis da inflação, a maioria dos diretores manifestou confiança para começar a reduzir os juros com parcimônia – trecho mais importante da ata, segundo avaliou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A prévia da inflação oficial, o IPCA-15 de junho, trouxe argumentos a favor das duas alas. O índice subiu pouco, apenas 0,04%, e três dos nove grupos de produtos e serviços registraram deflação, entre os quais Alimentação e Bebidas e Transportes, que tanto comprometeram o orçamento dos consumidores nos últimos meses. Mas os serviços, de forma geral, continuam muito resistentes, os núcleos seguem acima da meta e o preço das passagens aéreas, que contribuiu significativamente para reduzir o índice cheio em maio, voltou a subir, o que corrobora com um cenário de desaceleração mais lenta da inflação.
Se ainda há incertezas sobre a conjuntura inflacionária, o que é certo é que o governo pode colaborar muito nesse processo. Depois de receber vários recados nada amistosos por parte do presidente da República e de seus ministros, o BC usou a ata para dividir com eles a responsabilidade por domar o comportamento dos preços.
Na ata, a autoridade monetária deixou claro que “decisões que induzam à reancoragem das expectativas e que elevem a confiança nas metas de inflação contribuiriam para um processo desinflacionário mais célere e menos custoso, permitindo flexibilização monetária”. Em outro trecho do documento, o BC reconheceu o recuo nas expectativas de inflação, mas ponderou que elas seguem desancoradas, “em parte em função do questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras”.
Diferentemente do que o ministro Haddad declarou (que o documento do BC é o reconhecimento de que o País está no caminho certo na área fiscal), são esses os trechos mais importantes da ata. Neles, há um pedido ao governo para que não abuse da maioria que tem no Conselho Monetário Nacional (CMN) para alterar as metas e tolerar uma inflação mais alta no futuro. O órgão se reúne amanhã para reavaliar os objetivos de 2024 e 2025 e estabelecer o de 2026. A decisão do CMN pode definir a trajetória dos juros daqui para a frente. Espera-se que o governo tenha sabedoria para fazer sua parte.
Folha de S. Paulo
O teste do BC
Dissenso no juro tende a ser mais comum; cumpre fortalecer transparência
Uma contrapartida essencial à autonomia concedida a órgãos públicos é a transparência de seu processo decisório. Um exemplo oportuno dessa condição pode ser vista na ata, divulgada nesta terça-feira (27), da reunião do Banco Central que decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano.
Segundo o documento, embora a permanência da Selic tenha sido aprovada por unanimidade do Comitê de Política Monetária (estavam presentes 8 dos 9 membros do Copom), houve divergência quanto à sinalização dos próximos passos da instituição.
A maioria do colegiado avaliou que, com a continuidade da queda da inflação corrente e da esperada no futuro, haverá condições para iniciar um corte cauteloso dos juros em agosto. Já para outro grupo, diz a ata, é preciso aguardar mais dados sobre o comportamento dos preços e da atividade econômica.
A exposição pública da discordância contribui para qualificar um debate em que não raro se mistura demagogia política a anseios legítimos da sociedade —não é segredo que o Copom se encontra sob pressão pela queda das taxas comandada por ninguém menos que o presidente da República.
Com a adoção de mandatos alternados de quatro anos para o presidente e os diretores do BC, é provável que nos próximos anos se veja mais dissenso nas decisões sobre as taxas de juros. Pela primeira vez na história do país, afinal, haverá convivência de nomes definidos por governos distintos.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já fez suas duas primeiras indicações para o órgão e, a partir de 2025, deverá ter escolhido a maioria de seus dirigentes, enquanto vão se encerrando os mandatos dos indicados por Jair Bolsonaro (PL).
A divergência é natural e saudável, dado que políticas de juros podem se valer de diferentes diagnósticos e estratégias. É fundamental, no entanto, que o objetivo seja sempre proteger a sociedade dos danos de uma inflação elevada —e que todas as posições e decisões tenham sólida base técnica.
Foi esse o entendimento que levou à autonomia do BC, respeitada, em formatos variados, na quase totalidade do mundo desenvolvido e em grande parte dos países emergentes. No Brasil, o modelo apenas começa a ser testado.
Há que fortalecer continuamente o processo decisório e a prestação regular de contas aos cidadãos, que têm o direito de conhecer os motivos a sustentar medidas de tamanho impacto em seu cotidiano.
Visado pelo governo Lula, o regime de metas de inflação também pode, ao menos em tese, ser aperfeiçoado. Será grave erro, porém, buscar um afrouxamento na ilusão de que assim haverá crescimento econômico maior e duradouro.