Cristovam Buarque: O Brasil condenado pelo negacionismo político

Negar a tragédia social é uma forma de genocídio tão grave quanto ignorar a epidemia

A economia de um país não caminha por muito tempo sobre uma sociedade sem justiça social; tanto quanto a justiça social não caminha sobre economia ineficiente. A negação da necessidade de sociedade justa e a negação da necessidade de economia eficiente são dois negacionismos que condenam o Brasil a surtos de crescimento sem sustentabilidade social, ou surtos de avanços sociais sem sustentabilidade econômica.

A história do último século oscilou entre políticas econômicas sem sensibilidade social e políticas sociais sem conhecimento das regras da economia. Tivemos milagres econômicos que logo esbarraram na desigualdade como a riqueza se distribuía, na falta de educação de base, no transporte público caótico, na sua saúde e moradia precárias. Também tivemos momentos de políticas sociais que esbarram na falta de eficiência econômica levando a inflação, juros altos, endividamento, depredação ecológica.

Sem sensibilidade social, tivemos governos que não aumentaram o salário mínimo, mesmo quando a riqueza crescia, outros que sem conhecimento econômico propõem aumenta-lo mesmo sem base econômica que permita sem a ilusão de inflação. Há relação da sociedade com a economia que exige sensibilidade social, mas também respeito a certas regras econômicas.

Sem distribuir renda nem investir no social, a sociedade se desagrega e a economia quebra por demanda limitada, por violência, por desequilibrio ecológico, baixa produtividade, insatisfação. Distribuindo sem considerar limites nem restrições a economia e os benefícios sociais são devastados pela inflação, pela ineficiência, pelos desequilíbrios. A sociedade justa e a economia precisam estar casadas pela responsabilidade política usando a variável tempo para realizar seus propósitos nos prazos possíveis, sem abandonar a eficiência econômica nem os propósitos sociais: sem negativismo social nem econômico, com sensibilidade social e conhecimento científico. Negar os limites definidos pela ciência econômica pode matar ainda mais e por mais tempo do que negar vacina para lidar com a epidemia. Negar a tragédia social é uma forma de genocídio tão grave quanto ignorar a epidemia. (Blog do Noblat /Metrópoles – 04/02/2023)

Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador

Leia também

Volta do X impactará campanhas de segundo turno

A plataforma pagou R$ 28,6 milhões em multas com recursos próprios, não envolveu valores da empresa Starlink, que teve R$ 11 milhões bloqueados pelo Supremo.

Segundo turno desafia Lula a ampliar alianças

A principal força municipalista do país agora é o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, chefe da Casa Civil do governador Tarcísio de Freitas. Desbancou o MDB.

Com Paes eleito e Marçal fora da disputa, o pior passou

O prefeito carioca liderou a eleição de ponta a ponta, fruto da gestão que vem realizando; na tumultuada eleição de São Paulo, o inescrupuloso extremista ficou fora do segundo turno.

As eleições municipais e a disputa da Presidência

A tese do poder local como forma de acumulação de forças alimenta o hegemonismo e a partidarização das políticas públicas nos governos de esquerda.

O Rio não é para principiantes; São Paulo, pode ser

Paes (PSD) disputa a reeleição no Rio com possibilidades de vencer no primeiro turno; Nunes (MDB) corre o risco de ficar fora do segundo turno em São Paulo.

Informativo

Receba as notícias do Cidadania no seu celular!