Vinicius Torres Freire: Bolsonaro, generais e governo do DF estimularam terrorismo; governo foi mole

Três Poderes pareciam barata tonta, polícia e Exército largaram a capital; Lula tomou a decisão certa

Os terroristas da camisa amarela passeavam à vontade pelo Palácio do Planalto às 16h. Tiravam fotos diante do gabinete do presidente, riam, quebravam móveis, destruíam obras de arte. Era o “domingo no parque” dos seguidores de Jair Bolsonaro e adoradores da ditadura militar. Depredaram o Supremo, arrombaram armários, roubavam togas e portas; arruinaram o Congresso. Tomaram o centro do poder federal.

Às 17h53, Luiz Inácio Lula da Silva tomou a atitude devida mínima: intervenção no Distrito Federal.

Prometeu investigação e punição, inclusive para os omissos do seu governo. Falta ver qual será a estratégia para encurralar o golpismo, a subversão militar e empresários que financiam a baderna. Vai haver?

No mais, as autoridades do novo governo, do Congresso e do Supremo pareceram baratas tontas. Ninguém aparecia em público para dizer que havia autoridade. O sistema de segurança inexistia. No final da tarde, o Congresso apenas cogitava um “gabinete de crise”. Havia rumores de que o terror bolsonarista atacaria refinarias. Em São Paulo, golpistas desfilavam com escolta da polícia.

Mais do que omissa, se não coisa pior, a polícia do DF escoltou a horda do Quartel-General do Exército até a Praça dos Três Poderes. Policiais batiam papo e tiravam fotos com a horda.

O Exército, com tantos comandantes colaboracionistas, desapareceu. Para que serve o Batalhão da Guarda Presidencial? Para fazer figuração com fantasia. O Gabinete de Segurança Institucional, o GSI, é uma piada.

Os responsáveis imediatos pela facilitação da baderna subversiva são Ibaneis Rocha (MDB), governador do DF, e seu chefe de polícia, Anderson Torres, ministro da Justiça do governo golpista de Jair Bolsonaro. Ibaneis, que chamou os terroristas de “manifestantes”, demitiu Torres depois que a imundície estava derramada.

Apenas por volta das 17h haveria reação notável. Mas os terroristas eram retirados das sedes do poder federal, sem prisão, como se apenas tivessem pisado na grama.

Flavio Dino, ministro da Justiça, pecou no mínimo por ingenuidade intolerável para alguém em sua posição. Onde estavam as polícias federais? Ninguém notou que caravanas com milhares de subversivos estavam a caminho da capital da República, um motim anunciado faz semanas, com apoio de empresários e pastores? O governo ficou com medo de convocar Forças Armadas e polícias e ser desobedecido?

No mínimo, se não tinha condições de garantir a segurança na invasão anunciada de Brasília, Dino deveria ter metido um dedo no olho de Ibaneis: dizer em público que ele seria o culpado por qualquer baderna.

Mais grave, por quase cumplicidade, há José Múcio, ministro da Defesa, que em sua posse chamou a horda de porta de quartel de “manifestações democráticas”, nas quais tinha amigos e parentes. No domingo, esteve sumido. Vai ficar no governo?

A polícia do DF e Ibaneis já haviam demonstrado que tipo de gente são quando reagiram de modo mole e inepto à tentativa de invasão da Polícia Federal em 12 de dezembro, dia da diplomação de Lula, e à tentativa de ataque terrorista de 24 de dezembro, no aeroporto de Brasília.

A obra, no seu conjunto, porém, é de Bolsonaro, seus generais da reserva e da ativa, de parte das Forças Armadas, do procurador-geral, Augusto Aras, leniente com a escalada golpista incentivada pelo governo de trevas, e de empresários que financiam os subversivos faz anos.

Bolsonaro e seus cúmplices imediatos, Augusto Heleno e Braga Netto, devem ser processados por incitações, campanhas e atos que culminaram nessa onda de terrorismo. As Forças Armadas toleraram, pelo menos, o ajuntamento de terroristas diante de seus muros. Previsível. Ao menos desde 2018, atropelam a Constituição com discursos entre inconstitucionais e golpistas.

Basta. É preciso investigar, processar e julgar todos os promotores da subversão, nas polícias, nos governos, na procuradoria-geral e nas Forças Armadas. Sem anistia. (Folha de S. Paulo – 09/01/2023)

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