Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (25/10/2022)
MANCHETES DA CAPA
O Globo
Pesquisa Ipec: Lula tem 50%, e Bolsonaro, 43%
Indiciado por 4 tentativas de homicídio, Jefferson vira foco das campanhas
Episódio com ex-deputado faz dólar subir e Bolsa cair
TCU recomenda que Caixa suspenda consignado
Gastos do presidente com anúncios nas redes disparam
Fernando Haddad – ‘Quero isolar o centrão’
Caso Bruno-Dom: Justiça soltou suspeito apesar do risco de ‘fuga sem retorno’
Argentina vive era de excesso de câmbios e escassez de produtos
O Estado de S. Paulo
TCU recomenda suspensão do consignado ao Auxílio Brasil
Governo eleva prazo de liberação a 5 dias
PF indicia Jefferson: 4 tentativas de homicídio
Economia estuda tirar do IR dedução com saúde e educação
Reta final mobiliza anônimos nas redes sociais na caça ao voto
Herdeiros vendem a fundos direito a ‘bolada’ para evitar briga na Justiça
CFM suspende norma com restrições ao uso de canadibiol
Reino Unido – Milionário de origem indiana é premiê britânico
Folha de S. Paulo
Jefferson responderá por tentativa de homicídio quádrupla
Prisão do ex-presidente da legenda marca fim do PTB, criado por Getúlio
Prefeito de SP cede, e 2º turno terá transporte gratuito
Escola Sem Partido reflui, mas temas persistem
Lula tem 50%, e Bolsonaro 43% dos votos totais, diz Ipec
PGE se omite sobre fake news e uso da máquina pública
Raquel Lyra afirma que campanha de Marília Arraes em PE é de ‘faz de conta’
STF devolve cargo de governador de AL a Paulo Dantas, aliado de Lula
CFM revoga norma de restrição maior à cânabis medicinal
Conservador Rishi Sunak é novo primiê britânico
Valor Econômico
Campanhas buscam reação a efeito eleitoral de Jefferson
Lula tem 50% e Bolsonaro, 43%, segundo o Ipec
Resultado de bancos deve desacelerar
Caixa tem 24 h para explicar consignado
Só educação não elimina desigualdade
Haddad fala em unir centro democrático
EDITORIAIS
O Globo
Bolsonaro não tem como se desvincular de Roberto Jefferson
Ex-parlamentar que recebeu policiais à bala é personificação dos desvarios do bolsonarismo
A poucos dias do segundo turno, o país assistiu estarrecido a cenas de agressão e violência inadmissíveis numa campanha eleitoral. Primeiro, o ex-deputado Roberto Jefferson, aliado de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro, proferiu em vídeo ofensas à ministra Cármen Lúcia, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF), por decisões que lhe desagradaram. Depois, numa reação inacreditável de desafio à lei e à Justiça, recebeu com tiros de fuzil e granadas policiais federais que foram a sua casa cumprir uma ordem de prisão. Dois agentes ficaram feridos. Jefferson só se entregou após oito horas de afronta à Justiça.
Diante do potencial de danos do episódio a sua candidatura numa eleição acirrada, Bolsonaro tentou de todo modo se desvincular do aliado. Condenou a investida contra os policiais e, num esforço patético, chegou a dizer que não havia foto dele com Jefferson — apenas para ser desmentido em instantes pela profusão de imagens dos dois juntos em sites de notícias e redes sociais. Numa decisão que só pode ser entendida como tentativa de usar seu poder para resolver uma questão eleitoralmente incômoda, decidiu enviar ao local o próprio ministro da Justiça, Anderson Torres. Por que, se o caso já era conduzido pela Polícia Federal?
É impossível para Bolsonaro se desvencilhar dessa ala bolsonarista mais radical — e armada. Condenado no inquérito das milícias digitais, Jefferson é a personificação dos desvarios do bolsonarismo levados às últimas consequências: o desafio contumaz à Justiça e às instituições democráticas, o preconceito e a agressão contra mulheres e minorias, o incentivo às armas, a difusão de desinformação por milícias digitais e uma visão peculiar — e absurda — de liberdade que lhe permite reagir à bala a policiais, como se estivesse num filme de bangue-bangue.
Se Jefferson pode ser considerado um personagem esdrúxulo, isso não torna o episódio menos preocupante. Tais ideias estão disseminadas na militância bolsonarista. STF e TSE são alvos preferenciais — o próprio Bolsonaro já participou de ato em Brasília em que atacou o Supremo. Tão ágil nas redes sociais, ele levou 48 horas para condenar os ataques vis a Cármen Lúcia. Só condenou depois das rajadas de tiros do aliado contra policiais federais, e mesmo assim criticou a Corte. Como se uma coisa justificasse a outra.
O episódio lamentável também expõe mais uma vez o erro da política bolsonarista de facilitar o acesso a armas e munições. Antes do governo Bolsonaro, um cidadão comum não poderia ter fuzis em casa. Agora pode. Jefferson é defensor tenaz das armas, mas seu registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) fora suspenso. Como estava em prisão domiciliar, não poderia manter em casa nenhuma arma, muito menos granadas, restritas às forças de segurança.
O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, agiu corretamente mandando Jefferson de volta à prisão. Crimes para justificar a revogação da prisão domiciliar não faltam. Mas a ida do aliado de Bolsonaro a Bangu 8 não apazigua o ambiente conflagrado. É preocupante que, a menos de uma semana do segundo turno, se assista à radicalização da disputa e à escalada da violência. Mais do que nunca, as instituições precisam ficar vigilantes. Os tiros disparados por Jefferson resvalam também na democracia.
O Estado de S. Paulo
Do que o bolsonarismo é capaz
O bolsonarismo ameaça o respeito à lei, a integridade das instituições, a liberdade política e a paz social. Se alguém ainda tinha dúvidas, Roberto Jefferson desenhou para o País
O ex-deputado Roberto Jefferson mostrou do que o bolsonarismo é capaz. Seu ataque a policiais federais que foram a sua casa para prendê-lo, anteontem, não foi um ato isolado nem fruto de loucura: foi a consequência natural da escalada retórica violenta e golpista do presidente Jair Bolsonaro contra as instituições democráticas.
No 7 de Setembro do ano passado, convém recordar, Bolsonaro declarou que, “qualquer decisão do Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá”, referindo-se ao ministro do Supremo Tribunal Federal responsável pelo inquérito que apura o financiamento e a organização de atos bolsonaristas contra a democracia. E acrescentou, em seu dialeto bronco: “Dizer aos canalhas que eu nunca serei preso”, sugerindo que resistiria a uma eventual ordem de prisão.
Pois bem: em perfeita sintonia com seu líder, Roberto Jefferson, que estava em prisão domiciliar no âmbito da ação penal conduzida por Moraes, decidiu resistir a uma ordem de prisão emitida pelo ministro – e ainda avisou que o faria em vídeos que postou em redes sociais no momento em que a ordem estava para ser cumprida. “Eu não vou me entregar. Eu não vou me entregar porque acho um absurdo. Chega, me cansei de ser vítima de arbítrio, de abuso. Infelizmente, eu vou enfrentá-los”, declarou Jefferson enquanto se preparava para atacar os policiais. Ato contínuo, deu mais de 20 tiros nos policiais, ferindo dois deles, e ainda atirou granadas.
É improvável que isso tenha acontecido por acaso. Ao contrário: Jefferson, como bolsonarista exemplar, parecia ter um plano meticuloso. Primeiro, usou as redes sociais para violar, de modo deliberado, os termos de sua prisão domiciliar. Na ocasião, ofendeu a ministra Cármen Lúcia, do Supremo, porque ela votou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a favor de decisões que, no entendimento de bolsonaristas, configuram censura. A estratégia é óbvia: sabendo que a violação de sua prisão domiciliar, de forma reiterada e insolente, teria resposta da Justiça, Jefferson provavelmente pretendia caracterizar essa reação como perseguição política e cerceamento da liberdade de expressão. É o estado da arte do bolsonarismo.
Os acontecimentos de domingo são gravíssimos em si mesmos, e Jefferson deve ser punido com todo o rigor da lei, sem qualquer hesitação. Mas o caso não se encerra com o encaminhamento do sr. Jefferson para a cadeia. Se o aspecto jurídico se limita à punição do ex-parlamentar, o escândalo político vai muito além.
Bolsonaro, depois de alguma vacilação, tratou de tentar se desvincular de Jefferson, ciente dos estragos potenciais em sua campanha, mas sua proximidade com o ex-deputado vai muito além de algumas fotos dos dois juntos, que o presidente jurava não existirem. Essa proximidade é a única explicação possível para o fato inaceitável de que Jefferson teve tratamento privilegiado da Polícia Federal mesmo depois do ataque a tiros e granadas do ex-deputado contra policiais. Está documentada, em vídeos e testemunhos, a cordialidade com que Jefferson foi tratado – nem algemas lhe puseram. Para culminar, a negociação para a rendição de Jefferson contou com a presença do ministro da Justiça em pessoa, despachado pelo presidente Bolsonaro para cuidar do caso, como se se tratasse de um preso especialíssimo – e não de um criminoso comum.
Seja como for, a tentativa de Bolsonaro de se afastar do caso é inútil. O episódio todo está prenhe de bolsonarismo, em suas múltiplas dimensões – das quais o uso de armamentos contra agentes da lei é apenas o mais vistoso. Enquanto o presidente da República, por mero cálculo político, aparentava abandonar seu aliado fiel, os fanáticos camisas pardas bolsonaristas nas redes sociais procuravam maneiras de justificar a barbárie, sempre em nome da defesa da “liberdade” e contra o que o próprio presidente chamou de “estado ditatorial” promovido pelo Supremo e pelo TSE.
Não há como ignorar. Na Presidência da República, Jair Bolsonaro é um altíssimo risco para o respeito à lei, para a integridade das instituições, para a liberdade política e para a paz social. Se alguém ainda tinha dúvidas, Roberto Jefferson desenhou para o País.
Folha de S. Paulo
Escândalo aliado
Seguidores escancaram que Jefferson e seu ato lunático espelham Jair Bolsonaro
Personagem de escândalos de corrupção e outros episódios degradantes da política nacional ao longo de pelo menos três décadas, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) aderiu nos últimos anos às teses e práticas mais extremadas do bolsonarismo.
Nas redes sociais, fazia pronunciamentos grotescos em que exibia armas de fogo e pregava ataques a magistrados e instituições. Por essa razão, passou a ser investigado no inquérito do Supremo Tribunal Federal acerca de uma suposta organização criminosa digital de inspiração antidemocrática, tendo sua prisão preventiva determinada em agosto de 2021.
Obteve em janeiro deste ano o direito à prisão domiciliar, sob a condição de não retomar as atividades políticas. Nunca levou a regra a sério, como se viu na tentativa frustrada de se lançar candidato a presidente como linha auxiliar de Jair Bolsonaro (PL).
Na sexta-feira (21), Jefferson surgiu em vídeo afrontando, com termos vis, a ministra Cármen Lúcia, do STF e do Tribunal Superior Eleitoral, devido a medidas aplicadas contra a emissora bolsonarista Jovem Pan. No domingo (23), recebeu com granadas e tiros de fuzil os agentes da Polícia Federal que o levariam de volta ao cárcere.
O desvario pistoleiro do comparsa, a uma semana do segundo turno de uma disputa eleitoral acirrada, operou em Bolsonaro uma notável correção de conduta. Contumaz apologista de armas, subversões e arruaças, o presidente desta vez se viu forçado a manifestar, de forma trôpega pela falta de hábito, alguma compostura.
Equilibrou-se entre repudiar publicamente as falas e balas de Jefferson e, ao mesmo tempo, manter a ofensiva contra o Judiciário que embala seus seguidores mais fanáticos. Negou pateticamente ter aparecido em fotos com o petebista celerado e, com mais cálculo, recordou a participação do hoje aliado no mensalão petista.
Impossível saber neste momento se a contenção de danos eleitorais de Bolsonaro será bem-sucedida, mas os próprios militantes da seita bolsonarista a gritar e agredir escancaram que Jefferson e seu ato lunático espelham o chefe.
Desde o primeiro dia de seu mandato, o presidente empenha-se em facilitar o acesso a armas e em difundir a tese doentia segundo a qual a sociedade deve estar pronta para enfrentar à bala uma delirante ameaça ditatorial.
Ele mesmo ameaçou descumprir decisões judiciais, exibiu-se com armamentos de todos os tipos e falou em fuzilar adversários. Para percorrer a distância da bravata à violência golpista, como se viu no domingo, basta um fanático.
Valor Econômico
Jefferson faz a coisa errada na hora errada e lesa Bolsonaro
Pesquisas feitas para Bolsonaro já mostraram que o figurino de comportado ganha mais votos do que o de incendiário
Quem estimula a delinquência política e a violência, como o presidente Jair Bolsonaro, corre o risco de ser vítima dela. A recusa do ex-deputado e líder do PTB Roberto Jefferson, de voltar ao regime fechado e perder a prisão domiciliar, feita à bala e granadas, abriu a semana decisiva da mais acirrada disputa eleitoral desde a redemocratização. A reação inesperada colocou Bolsonaro na defensiva em um momento crucial da campanha.
Trata-se menos de destino do que de acaso e é difícil medir a influência sobre o eleitorado dos atos de um político decadente, que já foi aliado de Lula e denunciou o mensalão, e que havia se juntado à tropa de choque do bolsonarismo desde 2018. Suas condutas e gestos extravagantes, antidemocráticos, podem colocá-lo, para alguns, na vala do bizarro e do excêntrico, como uma exceção, circunscrevendo o alcance do desgaste do presidente. Para outros, os gestos de Jefferson são a decorrência lógica e causal da propaganda bolsonarista contra as instituições da República, de sua defesa da liberdade sem qualquer responsabilidade e da pregação pelo armamento irrestrito da população.
Entre radicais e moderados, o presidente balança. Aos poucos, com um tom menos raivoso, Bolsonaro chegou perto do empate técnico nas pesquisas eleitorais, das quais desconfia. Sua rejeição caiu um pouco, embora em ritmo mais lento que a necessidade eleitoral exige, e a porcentagem dos que avaliam seu governo como ruim e péssimo empatou com os 39% que o têm como ótimo e bom – sua melhor marca desde sempre no governo. A moderação presidencial foi acompanhada de uma enxurrada de estímulos fiscais e parafiscais, para que o ritmo mais aquecido da economia contribuísse para isso.
Bolsonaro, no entanto, não pode e não quer abandonar seus radicais, que exercem nas redes sociais um papel vital, já demonstrado na primeira eleição, na qual o candidato não tinha dinheiro nem tempo de televisão, e é talvez mais influente agora, com fartura de recursos e de minutos no horário eleitoral. O presidente defendeu o valentão boquirroto Daniel Silveira, também do PTB, quando fez ataques vis ao Supremo Tribunal Federal e às instituições democráticas. Condenado pelo Supremo, Silveira foi indultado por Bolsonaro. Ontem, Silveira comentou: “Eu não tenho como defender lançar granada em cima de policiais, mas a questão foi o que levou ele a fazer isso foi um fato muito mais grave”. Ou seja, foi quase legítima defesa contra Alexandre de Moraes, que preside inquérito ilegal, segundo ele, e que “está torturando psicologicamente prisioneiros políticos há muito tempo”.
Algo parecido com essa foi a primeira reação manifesta de Bolsonaro ao incidente. O presidente repudiou as ofensas pavorosas do ex-deputado contra a ministra Cármen Lúcia e a ação armada, mas também os inquéritos “sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do Ministério Público”. Diante da enorme repercussão do caso Jefferson, o presidente disse depois “que quem atira em policial deve ser tratado como bandido”. Mas orientou o ministro da Justiça, Anderson Torres, a acompanhar pessoalmente o caso, o que Torres fez à distância, sem afastar as suspeitas de que o episódio merecera uma indevida e suspeita deferência especial do governo.
É impossível saber o efeito final do desvario armado de Jefferson sobre o eleitorado. Pesquisas feitas para Bolsonaro já mostraram que o figurino de comportado ganha mais votos do que o de incendiário. A única coisa certa é que a atitude tresloucada de Jefferson não beneficia o presidente, como mostrou ontem o comportamento sempre oportunista dos investidores, derrubando as ações e fazendo o dólar disparar.
A estratégia de Bolsonaro, até agora, não contempla franco-atiradores malucos, que podem prejudicá-lo. Ele convocou seus apoiadores a se concentrarem frente às urnas até a apuração terminar e seu partido, o PL, faz campanha para que os bolsonaristas se tornem fiscais nomeados das eleições no domingo. Os militares fizeram silêncio sobre o que descobriram (ou não) em sua averiguação da confiabilidade das urnas. Pode haver muito mais confusão a caminho.
Com a imensa maioria dos eleitores de ambos os lados com decisão de voto já tomada, a disputa será decidida pelos indecisos e abstenções. A conduta aberrante de Jefferson pode ter influência, mas possivelmente aparecerá a conta-gotas nas pesquisas e só será conhecida quando as urnas forem abertas.