IMPRENSA HOJE

Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (24/10/2022)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Jefferson recebe PF com granadas e tiros, mas acaba preso
Eduardo Leite – ‘Espero que em 2026 tenhamos alternativa mais ao centro’
Fintechs miram na alta renda para crescer
Cresce procura por pensão durante gravidez
Obituário/Luiz Galvão – Poeta, escritor e fundador dos Novos Baianos
O clubinho de Xi Jimping

O Estado de S. Paulo

Jefferson resiste a ordem de prisão com tiros e granada e deixa 2 feridos
Campanha teme desgaste e prejuízo para o presidente
Déficit externo da indústria de ponta sobe 28%, segundo estudo do setor
USP quer substituir Sisu por sistema prório de seleção
Petrobras vai licitar nova tecnologia de produção
Xi Jinping preenche novo gabinete com aliados e se torna ‘dono’ do PC chinês

Folha de S. Paulo

Roberto Jefferson é preso após atacar PF com granadas e fuzil
Armas e corrupção assinalam carreira de ex-deputado
Lira vê ‘pico do absurdo’; Lula diz haver risco à democracia
Regime militar tentou desindexar salário e fracassou
Site do PL alista apoiadores para fiscalizar segundo turno
Gasto em infraestrutura escolar sob Bolsonaro é o menor em dez anos
Jacob Mchangama – Apoio à liberdade de expressão tem limites no Brasil
Brasil tem inflação abaixo de EUA pela 1ª vez em 15 anos
Na China, Xi elege nomes leais e firma 3º mandato

EDITORIAIS

O Globo

Racismo contra Seu Jorge em clube gaúcho precisa ser punido com rigor

Apenas a punição exemplar dos agressores poderá ajudar a evitar que tais episódios repugnantes se repitam

Os ataques racistas abjetos sofridos pelo cantor Seu Jorge depois de um show no clube Grêmio Náutico União, em Porto Alegre, precisam ser devidamente investigados, e seus culpados punidos de forma rigorosa. Trata-se de mais uma demonstração de quão insidioso e persistente é o racismo na sociedade brasileira.

Não há outra explicação para parte da plateia que foi assistir ao espetáculo pelas qualidades artísticas ter, de uma hora para outra, começado a vaiar o cantor, gritando “macaco” e imitando grunhidos dos símios, comportamento repugnante, infelizmente ainda frequente nas arquibancadas de alguns jogos de futebol na Europa ou na América do Sul. O governador do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), pediu desculpas públicas ao cantor em nome dos gaúchos — o mínimo que poderia fazer — e garantiu isenção e celeridade nas investigações a cargo da Delegacia de Combate à Intolerância (DPCI) e do Departamento Estadual de Proteção a Grupos Vulneráveis (DPGV).

O presidente do clube, Paulo José Kolberg Bing, usou a velha e inaceitável estratégia de culpar a vítima. De acordo com Kolberg, a reação racista foi resultado de um “gesto político” de Seu Jorge. Na verdade, ao apresentar o jovem instrumentista Pedrinho da Serrinha, de 15 anos, o cantor comentou que, quando se olha para um garoto de 15 anos e ele é branco, continua-se vendo um adolescente, “mas muitas vezes, quando a gente olha para um adolescente negro de 15 anos, a gente pensa em redução da maioridade penal”. Ora, Seu Jorge tem o direito a ter e a expressar a opinião que quiser sobre o assunto. O mínimo a exigir da plateia que pagou para assistir a seu show é um comportamento civilizado e respeitoso. Kolberg tentou, mas não conseguiu justificar o injustificável —é impossível.

Desde 1951, racismo e injúria racial são punidos no Brasil em sucessivas formulações da lei, até com cadeia se assim decidir o juiz. São crimes inafiançáveis e imprescritíveis. Mesmo que ainda falte, segundo juristas, base legal mais sólida para punir o racismo implícito e sutil, a legislação é mais que suficiente para dar conta de aberrações como a que vitimou Seu Jorge.

Humorista é vítima de racismo por vizinha em condomínio em São Paulo: Veja o vídeo
As agressões a Seu Jorge são simplesmente inadmissíveis. Não podem ficar apenas registradas como mais uma demonstração explícita de racismo. A reação dos procuradores e juízes que se debruçarem sobre o caso precisa servir de exemplo. Só a punição rigorosa a todos aqueles que participaram da barbárie ajudaria a evitar que casos do tipo se repitam e a deixar claro que, no Brasil, é intolerável qualquer tipo de racismo .

O Estado de S. Paulo

E Bolsonaro venceu

Mesmo que perca a eleição, Bolsonaro conseguiu o que queria: degradar o debate público. Há 20 anos, Lula teve que garantir estabilidade econômica; hoje, jura que não fechará igrejas

A exemplo do que ocorreu na disputa presidencial de 2002, o petista Lula da Silva se viu novamente obrigado a apresentar uma carta pública para debelar resistências à sua candidatura e criar um ambiente de confiança diante da perspectiva de sua vitória no próximo dia 30. Mas a diferença entre os dois casos é gritante: se há 20 anos Lula teve que se comprometer com a estabilidade econômica, um tema que interessava a todo o País, agora o petista teve que jurar, numa Carta Compromisso com Evangélicos e Evangélicas, que não pretende fechar igrejas nem perseguir cristãos, como o acusa o presidente Jair Bolsonaro.

Trata-se de um assunto totalmente fabricado pelo bolsonarismo, sem qualquer conexão com a realidade nem, muito menos, com o interesse nacional. Ainda assim, o debate eleitoral, que deveria estar voltado para a discussão dos reais problemas do País, foi capturado por essa falsa polêmica, graças ao terrorismo religioso promovido por pastores evangélicos alinhados a Bolsonaro.

Assim, ainda que perca a eleição do próximo dia 30, Bolsonaro pode se considerar um vitorioso: degradou miseravelmente o debate público, conduzindo-o para o campo da desinformação sistemática e do vale-tudo, onde o bolsonarismo joga em casa. Ungido por sua formidável máquina de agitação e propaganda como o “messias” que salvará os cristãos da imoralidade esquerdista, Bolsonaro foi dispensado de explicar os inúmeros erros de seu governo e de dizer o que pretende fazer nos próximos quatro anos. Ao tentar manter os eleitores em transe místico, esse falso profeta escapou do julgamento moral sobre sua criminosa transformação do Estado brasileiro em máquina a serviço de seus interesses eleitorais.

Ao contrário do que a litania bolsonarista pretende fazer supor, no entanto, o apocalipse não está próximo, e há um país com muitos problemas a ser governado. Comparar o Brasil de 2002 ao Brasil de 2022 é reconhecer que o País mudou muito e, ao mesmo tempo, continua essencialmente o mesmo. Os desafios econômicos e sociais são quase idênticos há 20 anos, e incluem a necessidade de reformas estruturantes, políticas sociais consistentes e o equilíbrio fiscal como condições para o crescimento. Nenhum desses temas, no entanto, foi discutido com profundidade durante a campanha neste ano. Pelo contrário: o baixíssimo nível prevaleceu, para deleite dos fanáticos bolsonaristas que vibram com a falta de decoro e decência de seu “mito”.

Problemas muito palpáveis e visíveis, como o avanço da miséria, o retorno da fome, o aumento da inflação e o pífio crescimento econômico – legados do governo Bolsonaro –, cederam lugar a discussões falso moralistas baseadas em desatinos, como o fim da família, a ameaça de fechamento de igrejas, a legalização das drogas, a liberação do aborto e a imposição de banheiros unissex para crianças em escolas, assuntos que nem sequer fazem parte das atribuições da Presidência da República. Incapaz de sensibilizar os pobres que votam em seu adversário, mesmo depois de ter movido mundos e fundos para tentar comprar seus votos, restou a Bolsonaro apelar para o “terreno das crenças e das paixões”, como bem notou Vinícius do Valle, diretor do Observatório Evangélico, em análise no Estadão.

Houve quem tenha avaliado que Lula, se efetivamente quisesse conquistar o voto dos evangélicos, deveria ter apresentado tal carta há muito mais tempo. De fato, um político que almeja ser o líder de uma frente ampla, como é o caso do petista, precisa fazer acenos a todos os segmentos da sociedade, em especial àqueles que lhe são hostis. A resistência do petista em ceder a esses apelos, no entanto, é compreensível, ainda que as pesquisas indiquem que essa atitude possa ter lhe custado votos. A mera existência desse manifesto aos evangélicos, que incluiu a citação explícita de passagens bíblicas e a defesa reiterada da liberdade religiosa que Lula nunca atacou nem ameaçou, é a prova cabal de que Bolsonaro capturou a pauta nacional, transformando a eleição em “Juízo Final”.

Folha de S. Paulo

Distorção eleitoreira

Salto do número de famílias de só uma pessoa evidencia falhas no Auxílio Brasil

A brutal intervenção eleitoreira promovida por Jair Bolsonaro (PL) na economia e na despesa pública teve como principal medida, sem dúvida, o aumento do Auxílio Brasil. Se a ampliação da assistência social era um imperativo do pós-pandemia, o improviso e o oportunismo de Executivo e Congresso gerou distorções graves que vão desafiar a próxima gestão.

Para início de conversa, sobressai o impacto orçamentário. Só a elevação repentina do benefício de R$ 400 para R$ 600, que o candidato promete estender indefinidamente se reeleito, já acarretou dispêndio de R$ 10,9 bilhões adicionais desde agosto, segundo levantamento do portal UOL.

Não para por aí. Somem-se na súbita prodigalidade o aumento precipitado de beneficiários, os empréstimos consignados da Caixa vinculados aos pagamentos futuros, auxílios para caminhoneiros, taxistas e aquisição de gás.

Ninguém sabe ao certo como o futuro presidente, qualquer que seja, cobrirá o rombo crescente. O Orçamento para 2023 enviado ao Legislativo não dá conta do atual gasto assistencial, enquanto outras áreas prioritárias, como educação e ciência, vivem sob ameaça de cortes de verbas.

O caráter açodado das medidas ocasiona outro problema: a desorganização do Cadastro Único, ferramenta indispensável na modernização da assistência social prestada pelo Estado brasileiro. Talvez o melhor exemplo desse desvio esteja na explosão recente do número de famílias unipessoais.

O aumento inaudito foi objeto de reportagem do jornal Valor Econômico. Unidades familiares com uma só pessoa passaram de 3,78 milhões, em julho, para 5,32 milhões, em setembro. Compunham 15,2% do cadastro em novembro de 2021; hoje são nada menos que 25,8%.

Não existe explicação demográfica imaginável para tamanho salto. A razão mais plausível é o desenho descuidado das sucessivas mudanças introduzidas pelo governo Bolsonaro no antigo Bolsa Família, turbinado como Auxílio Brasil.

Criou-se um piso de pagamento que não considera o número de integrantes da família. Em outras palavras, um incentivo claro para que a composição das famílias se fragmente de modo artificial, para não dizer fraudulento.

Seria tão fácil quanto de um moralismo vazio incriminar pelo expediente famílias que mal sobrevivem com até R$ 210 de renda por pessoa. Cabe ao poder público fechar brechas para a deturpação e a perda de eficiência de políticas sociais, mas não há como esperar mais que descaso de um governo que neste momento só tem olhos para os impactos eleitorais.

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