Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (06/10/2022)
MANCHETES DA CAPA
O Globo
Simone Tebet apresenta propostas e anuncia apoio a Lula
Lula larga na frente no 2º turno, afirma Ipec
Orçamento secreto impulsionou candidatos
Batalha por votos dos pequenos empresário
Campanhas preveem finanças apertadas
Para segurar preços, governo quer trocar diretores da Petrobras
Alimentos, combustíveis e setor extrativista puxam queda de 0,6% da indústria
Cláudio Castro – ‘O povo queria união e propostas; o governador virou um prefeitaço’
Para reduzir espera, Rio abre ‘Super Centro de Saúde’
O Estado de S. Paulo
Ao apoiar Lula, Tebet cobra responsabilidade fiscal; ala do MDB opta por Bolsonaro
Opep corta produção de petróleo; EUA veem benefício à Rússia
Alta de acidentes e ataques expõe riscos de mais armas com civis
Trio que descobriu forma de unir moléculas leva Nobel de Química
Contrária a teto de gastos, equipe petista racha sobre nova regra
Secretários deixam governo de SP após Garcia apoiar Bolsonaro
Em relatório sobre votação, TCU elogia transparência do sistema eleitoral
Protestos no Irã ganham impulso na internet
Coites nos EUA – Família brasileira é presa acusada de tráfico de pessoas
Folha de S. Paulo
Lula colhe apoio de Tebet e FHC, e Bolsonaro, de governadores
Petista lidera por 51% a 43%, diz Ipec
Petróleo em alta limita redução de preços da Petrobras
Presidente cita NE e liga vitória de Lula a analfabetismo
Eleitor do PT mata bolsonarista após discussão política em SP
Fragmentação partidária cai quase pela metade
Jovem fere 3 com arma de CAC em escola do CE
Corte de R$ 2,4 bi pelo governo no MEC ameaça universidades
Líder britânica, Truss cita ‘tempestade’ em 1º mês
Valor Econômico
Auxílio tem pouco impacto no voto em bolsões de pobreza
Frente do agro defende reeleição
Tebet e FHC apoiam petista; presidente obtém adesões
Lula marca 51% no 2º turno e Bolsonaro, 43%, diz Ipec
Falências têm maior alta desde o início da pandemia
Opep+ corta produção e no Brasil preços ficam defasados
EDITORIAIS
O Globo
É temerário usar verba da pandemia em piso eleitoreiro
Destinar recursos do combate à Covid para pagar reajuste a enfermeiros não passa de ‘puxadinho orçamentário’
É temerária, além de frágil, a proposta aprovada pelo Senado que permite a estados e municípios usar recursos do combate à pandemia de Covid-19 para pagar outras despesas, como o piso salarial da enfermagem, aprovado pelo Parlamento no fragor do período pré-eleitoral sem dizer de onde sairia o dinheiro. O relator do projeto, senador Marcelo Castro (MDB-PI), estima que R$ 34 bilhões em contas de fundos de saúde poderiam ser usados com esse propósito.
Embora o cenário da Covid-19 tenha melhorado graças à vacinação, o coronavírus não foi embora, como comprovam as quase cem mortes diárias no Brasil. Apesar de a cobertura vacinal ter avançado, ela não é homogênea. Há populações com bons índices de proteção, outras ainda merecem maior atenção. Outro fator a considerar é o vaivém nos indicadores, com avanços e recuos. É importante estar preparado para as oscilações e dispor de recursos para enfrentar novos surtos.
Piso da enfermagem: Supremo suspende reajuste e dá 60 dias para envio de informações
A proposta aprovada no Senado tampouco resolve o problema da falta de recursos necessários para arcar com toda a demagogia do período pré-eleitoral. A verba da pandemia é emergencial, transitória, enquanto os gastos com o novo piso — R$ 4.750 para enfermeiros, R$ 3.325 para técnicos de enfermagem e R$ 2.375 para auxiliares e parteiras — perdurarão no Orçamento. O próprio relator admite que se trata de alternativa provisória, para socorrer estados e municípios até 31 de dezembro, enquanto se busca uma solução permanente. O novo valor foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro em agosto, mas foi suspenso por liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), pois a lei não apresentou fonte para financiar as novas despesas.
Ainda que resolvesse o problema na rede pública, a proposta continuaria capenga, pois não contempla os hospitais particulares e filantrópicos. A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) afirma que o novo piso terá impacto incontornável nos planos de saúde — cujos valores precisarão ser reajustados diante das novas despesas — e no próprio Sistema Único de Saúde (SUS), para onde irá parte da demanda dos hospitais filantrópicos.
Opinião: Piso da enfermagem exige que se aponte fonte dos recursos
Enquanto os parlamentares empurram o problema com a barriga, as prefeituras já calculam os prejuízos. Um estudo da Confederação Nacional dos Municípios estima que o novo piso acarretaria despesas adicionais de R$ 9,4 bilhões e que 32.500 profissionais de enfermagem poderiam ser demitidos. Haveria estrago nas equipes dos programas de saúde da família e noutros fundamentais para os cidadãos.
Ninguém duvida da importância que os profissionais de enfermagem têm para o sistema de saúde, especialmente depois de uma pandemia tão letal, mas o aumento do piso da categoria foi aprovado num ambiente de vale-tudo pela caça aos votos, não importando o custo dos desvarios. Como em tantos outros casos, concede-se o benefício para depois pensar em como pagá-lo, contrariando o que manda a lei.
A proposta aprovada pelos senadores seguirá para a Câmara. Continua difícil acreditar que os parlamentares encontrarão uma fonte de recursos decente, capaz de tapar o rombo que eles próprios criaram e também de equilibrar as contas no setor privado. O avanço sobre os recursos destinados ao combate à pandemia não passa de mais um “puxadinho orçamentário”, desses que se tornaram tão frequentes quanto perigosos na atual legislatura.
O Estado de S. Paulo
Nem social, nem democrata
A ascensão e queda dos tucanos é um retrato em miniatura da tragédia política nacional. O PSDB se putrefaz quando a República mais precisa de uma social-democracia responsável
Parte considerável do eleitorado irá às urnas constrangida a escolher o mal menor entre o que há de mais retrógrado na direita e na esquerda. A guerra entre os populismos lulopetista e bolsonarista estava contratada desde 2018. Nunca como nesses quatro anos e nos próximos quatro foi tão importante mobilizar uma coalizão centrista, agregando o melhor à esquerda e à direita em nome da defesa da democracia; da descentralização política e administrativa; do Estado a serviço do povo e não de privilegiados; e do crescimento sustentável com distribuição de renda e educação de qualidade. Com essas premissas, nascia com a Constituição, em 88, um partido, o PSDB, voltado a concretizar seu ideário, invocando uma luta por “mudanças com energia redobrada, através da via democrática e não do populismo personalista”. Sua ascensão e queda é um retrato da tragédia política contemporânea.
O Partido da Social Democracia Brasileira nasceu de dissidências progressistas do PMDB insatisfeitas com o reacionarismo, o fisiologismo e a corrupção. Renegando o sectarismo classista de partidos trabalhistas como o PT ou PDT e a amorfia ideológica das oligarquias do Centrão, os tucanos abrigaram sob a social-democracia influxos ideológicos como o liberalismo econômico e a democracia cristã. Assimilando dos trabalhistas a primazia do trabalho sobre o capital, e dos personalistas católicos a ética e a participação comunitária, ele conquistou massas de eleitores, de progressistas a liberais e conservadores.
Em oposição responsável ao governo Collor, apoiou a modernização econômica, mas se engajou em seu impeachment. No governo Itamar Franco, engendrou o fim de 20 anos de crise inflacionária. A gestão FHC promoveu privatizações, programas sociais e marcos de governança pioneiros, elevando o País na vitrine global.
Mas já nos anos de ouro do partido estavam entranhados os vermes que hoje o devoram. Quadros inteiros repudiaram o Plano Real e apoiaram a candidatura de Lula em 1994. Candidatos pós-FHC trataram seu legado como a vergonha da família. Quem dera sua mácula maior fosse estar sempre “em cima do muro”. O partido que nasceu para destruir os muros que separam esquerda e direita, ricos e pobres, frequentemente se pôs do lado errado. Quando no certo, foi errático: na oposição ao PT, foi complacente com seus desmandos, e no governo Temer, recalcitrante com suas reformas. Caciques regionais traíram e foram traídos, preferindo ceder o poder a adversários a dividi-lo com correligionários.
Na “oposição” ao governo Bolsonaro, a crise de identidade virou esquizofrenia: seus parlamentares se alinharam a 8 em 10 pautas do governo, inclusive as que violentaram a ordem constitucional, fiscal e judicial. Muitos se refestelaram com migalhas do mercadão de emendas. O partido que se prestava a ser espantalho do PT agora se reduziu a fantoche de Bolsonaro.
As bandeiras se esgarçaram, e os laços com a população também. Nas eleições de domingo passado, virou nanico. São Paulo é paradigmático. Após 28 anos de governo do PSDB, esse bastião da responsabilidade fiscal e social está à mercê do saque bolsolulista. Dos ex-governadores tucanos – todos digladiaram entre si –, Geraldo Alckmin compõe a chapa petista, José Serra não se elegeu à Câmara, João Doria abandonou a vida pública. O atual, o tucano neófito Rodrigo Garcia, não passou para o segundo turno. Se o PSDB seguir sua rota suicida, o vergonhoso apoio “incondicional” de Garcia a Bolsonaro, que passou quatro anos a demonizar o governo paulista, passará à história como um epitáfio infame.
Convém lembrar que o PSDB foi formado por quadros do MDB que consideravam que o partido havia se tornado uma máquina eleitoreira amoral e carcomida a serviço de enclaves paroquiais. Foi exatamente no que se tornou o PSDB – que, entre a derrota e a desonra, escolheu a desonra, e ainda foi estrepitosamente derrotado. Mas em política não há determinismos. A Nação precisa de uma social-democracia responsável e se arranjará com ou sem o PSDB. Cabe ao que restou do partido decidir: ou se regenera bebendo de suas fontes ou vagará como um morto-vivo, mais um dos vermes políticos que degeneram a sociedade e a democracia.
Folha de S. Paulo
Mutação partidária
Direita ganha espaço na Câmara; cláusula de barreira ajuda a baixar fragmentação
A Câmara dos Deputados que acaba de ser eleita no Brasil está mais à direita e apresenta a menor fragmentação partidária desde 2006. A eleição consolida mudanças percebidas desde 2014, com a implosão do sistema de partidos dominantes entre 1990 e 2010.
O bloco de partidos associado à ascensão de Jair Bolsonaro (PL) obteve o avanço mais significativo. Trata-se do grupo formado por PL, União Brasil (fusão de DEM e PSL) e PP, central na coalizão do governo.
Essas legendas obtiveram 205 cadeiras, ante 152 há quatro anos. Tais números em parte exageram o sucesso eleitoral do trio, já que, entre 2019 e 2022, o número de deputados nessas siglas subiu para 185.
Os dados indicam, de todo modo, que elas foram capazes de agregar parlamentares, reelegê-los e ainda avançar sobre territórios alheios.
A proximidade do poder, o interesse em abocanhar mais fundos partidários e emendas ao Orçamento, além da afinidade ideológica, contribuem para explicar esse movimento de agregação.
A fragmentação caiu, medida pelo chamado número efetivo de partidos —cálculo da ciência política que leva em conta a quantidade de legendas e seu tamanho relativo.
A Câmara fragmentou-se de modo expressivo a partir de 2006. O número efetivo de partidos cresceu de 8,5, em 2002, para 16,6, em 2018. Pelas bancadas agora eleitas, a cifra voltou a 9,9.
Um novo sistema de partidos dominantes se formou. A partir de 1994, PMDB, PFL (depois DEM), PT e PSDB se alternaram entre as três maiores legendas. Até 2010, tinham em média 48% das cadeiras.
No início da implosão, em 2014, as três maiores legendas passaram a contar com apenas 32% dos deputados. Nesta eleição, contam com 44%. Os partidos dominantes agora são PL, PT e União Brasil.
A bancada do PT aumentou dos 54 eleitos de 2018 para os 68 deste pleito. Mas os partidos comumente associados à esquerda perderam espaço: de 151 eleitos há quatro anos para 132 (são atualmente 129).
Dos ainda excessivos 23 partidos que elegeram deputados, ao menos 6 não atingiram os requisitos da cláusula de barreira. Outros 5, ora integrantes de federações, estão ameaçados como partidos independentes. Há mais legendas próximas do limite de perder verbas e tempo de TV, caso mantenham seu desempenho.
Em resumo, o domínio que se configura é de partidos antes auxiliares nas coalizões de governo, do dito centrão, associados a direitistas que obtiveram ou confirmaram seus mandatos na onda bolsonarista. A tendência parece de concentração, dados os incentivos do sistema político, a força do conservadorismo e a correta e bem-sucedida cláusula de barreira.
Valor Econômico
Números não favorecem Bolsonaro no 2º turno
Mágicas eleitoreiras podem dar algum resultado, a melhora da economia faz o tempo correr a favor do presidente
O jogo político mudou para o segundo turno das eleições. A votação maior do que a prevista do presidente Jair Bolsonaro colocou o PT sob enorme pressão e de imediato trouxe a impressão de que Lula, o candidato petista, é o rejeitado pelos eleitores, quando o governo atual é que foi reprovado em um pleito com fortes características plebiscitárias. A força eleitoral revivida de Bolsonaro “normalizou” por um momento uma disputa que nada tem de normal. O presidente fechou a boca sobre as urnas na hora em que viu que seu apoio popular não declinou tanto quanto seus índices de rejeição fariam supor, de forma que o argumento de defesa da democracia sob ataque parece ter se esvaído na contenda. No entanto, um segundo mandato de Bolsonaro gera temor de enfraquecimento democrático no Brasil.
Os primeiros lances dos candidatos para o segundo turno foram rápidos. O presidente amarrou um apoio de peso com os governadores do Sudeste, maior colégio eleitoral do país (43% do eleitorado), Romeu Zema (MG), Cláudio Castro (Rio) e Rodrigo Garcia (SP). Lula arrematou o apoio do PDT de Ciro Gomes e de Simone Tebet – ambos obtiveram 8,5 milhões de votos no primeiro turno. Nenhum desses apoios significa que os votos se transferirão automaticamente ou sequer que haverá de fato transferência.
Das alianças de Bolsonaro, a de Zema é a que pode ser a mais produtiva. A votação do governador, de 6,03 milhões, foi superior à do presidente, de 5,2 milhões, em um Estado chave em que Lula obteve 563 mil votos de vantagem. A campanha de Zema a favor de Bolsonaro pode lhe trazer um eleitorado potencial extra de 1 milhão de votos. A mesma conta no Rio mostra uma colheita possível de mais 100 mil votos. Em São Paulo, o presidente teve votação muito superior à do primeiro colocado, Tarcísio de Freitas, o que indica que o candidato a governador deverá avançar mais. A aliança com Garcia e a liberação de votos dos filiados por parte do PSDB impedirá um avanço firme de Lula em São Paulo no segundo turno e coloca em xeque a possibilidade, nunca concretizada, de o PT comandar o Estado mais rico do país.
O PDT foi para o lado de Lula, mas uma ala do partido pode não ir, motivada pela campanha agressiva de Ciro Gomes, contra Lula. Já o MDB liberou o voto de seus filiados. Uma ala do partido já havia embarcado na campanha de Lula, especialmente no Nordeste, mas há uma ala bolsonarista e parte razoável dos que votaram em Simone Tebet tem inclinações conservadoras e tende a votar em Bolsonaro. Ainda assim, se Lula assegurar seus votos no segundo turno e conquistar um quarto dos que sufragaram Tebet e Ciro no primeiro turno, estará eleito. Sua diferença para os 50% de votos, mais um, é de 1,8 milhão de votos – se o número de votos válidos não se modificar. A de Bolsonaro é de 8 milhões de votos.
Bolsonaro obteve vantagem de 3,6 milhões no Sudeste e 3,12 milhões no Sul. Esses 6,7 milhões de votos não cobrem a diferença de mais de 9 milhões de votos de Lula sobre Bolsonaro no Nordeste, nem os 600 mil no Norte. No total Lula teve 6,1 milhões de votos a mais que seu rival. Apenas para equalizar a disputa, Bolsonaro precisa ganhar 3 milhões de votos novos. Não há tal fartura disponível e ele terá de arrancá-los de Lula.
Cálculos de potenciais eleitores indica que a Bahia poderia lhe dar mais um milhão de votos, caso ACM Neto, que teve essa diferença entre sua votação e a do presidente no Estado, resolva lhe dar apoio. Isso não é impossível e poderia ser útil para trazer mais candidatos do União Brasil, como o baiano, para seu lado. A disputa baiana, porém, é regional. Colocar o apoio a Bolsonaro em um Estado onde o PT é muito forte pode ser o passo certo para a derrota. Ademais, ACM não precisa de Bolsonaro para perder ou ganhar.
Haveria, em tese, mais 620 mil a colher no Paraná de seu aliado, Ratinho Junior, 400 mil no Piauí e mais 100 mil no Tocantins. A grosso modo, portanto, é necessário que Lula perca pelo menos quase 3 milhões de votos para um empate – e isso teria de ocorrer nas regiões onde Bolsonaro já ganhou. É quase impossível que isso ocorra no Nordeste, onde a votação lulista é esmagadora e a de Bolsonaro já foi superior à dos candidatos aliados.
Isso explica o frenesi eleitoral em turbinar o Auxílio Brasil – como o 13º salário para as mulheres que recebem recursos do programa. Mágicas eleitoreiras podem dar algum resultado, a melhora da economia faz o tempo correr a favor do presidente, e Lula pode dar passos errados na campanha. No entanto, Bolsonaro não é o favorito e terá de travar batalha morro acima para vencer.