Cristovam Buarque: Voto de Responsabilidade

Em 2006, disputei a eleição presidencial. Junto com Heloisa Helena, tivemos os votos que forçaram o segundo turno entre Lula e Alckmin, com propostas diferentes para o governo, mas com intenções parecidas para o futuro do país. Desta vez, um segundo turno será com um candidato sem compromisso com a verdade, com a democracia, com a ciência, com os pobres, nem com os doentes. Por isto, tudo indica que será melhor para o Brasil decidir a eleição logo no dia 02 de outubro. Não se retrata de apelar para o voto útil, mas para o voto responsável do eleitor. Cada eleitor deve votar com consciência ideológica, de qual candidato ele considera o melhor, mas também com a responsabilidade de como evitar riscos para o pais, neste momento.

Isto depende, em primeiro lugar, dos próprios eleitores que em 2018 preferiram eleger o atual presidente. Tinham razões que justificavam o voto que deram em 2018. Não o conheciam e estavam indignados com o quadro político naquele ano. Queriam renovação e Bolsonaro, apesar de ser um político profissional medíocre por 26 anos, viciado em práticas corruptas como rachadinhas e sem propostas para o Brasil. Mesmo assim conseguiu encarnar a imagem de ser o contrário aos políticos tradicionais. Agora, vocês sabem que ele é do mesmo time, usa os mesmos métodos e beneficia os mesmos grupos e além disto demonstrou que é irresponsável e despreparado para governar o Brasile representar nosso país no mundo.

Em 2018, vocês votaram na pessoa física que inspirava renovação, agora votarão na pessoa jurídica do governo atual, que inspira vergonha, ameaça à democracia, arma a população, entregou o governo ao Centrão, ofende às mulheres, tratou com desdém e incompetência a pandemia, desmoraliza as Forças Armadas, representou mal ao país, incentiva a depredação do meio ambiente, agrava a crise educacional, promove a decadência da ciência e da tecnologia, acirra as divergências políticas e passa a impressão de que usará todos os meios para não entregar o cargo se perder as eleições.

Ao repetirem aquele voto, estarão dando aval a todos os erros e mentiras que ele comete e prorrogando a crise que o Brasil atravessa. Depende de vocês o Brasil resolver esta eleição logo no primeiro turno para evitar quatro semanas de consequências imprevisíveis.

Mas este resultado depende dos eleitores cujos votos serão decisivos para levar Bolsonaro ao segundo turno e a partir daí ele manipular o processo eleitoral por quatro semanas de violência e construir a plataforma para manter-se no poder. É correto apresentar as discordâncias entre os candidatos e votar no que considera melhor, esperando o segundo turno para evitar o pior. Mas na situação de risco que representam quatro semanas de disputa com Bolsonaro e suas milícias, clandestinas ou oficiais, o voto responsável deve procurar livrar o Brasil este presidente, logo no dia 02.10. Todos que temos visões e propostas diferentes de Lula e do PT devemos nos preparar para 2026, mas este ano passa por vencer Bolsonaro em 2022 e felizmente temos o Lula e o PT.

Aqueles que ainda pensam em votar nulo ou branco precisam lembrar que em certos momentos, a neutralidade não é protesto contra todos, significa compactuar com negacionismo, armamentismo, isolamento internacional, falta de empatia, perseguições, desprezo aos que pensam diferente, ameaça à democracia.

Faltam duas semanas para a mais importante eleição na história da república brasileira até este momento, votemos com responsabilidade. Bolsonaro nunca mais, Lula já. (Blog do Noblat/ Metrópoles – 17/09/2022)

Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador

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