Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (30/08/2022)
MANCHETES DA CAPA
O Globo
Ipec mostra estabilidade: Lula tem 44%, e Bolsonaro, 32%
Campanhas veem erros e avaliam participação em novos debates
Lula está mais rouco por refluxo e falta de exercício para a voz
Simone Tebet conquista as redes com desempenho no encontro
Moraes viu risco de ato golpista ao autorizar ação contra empresários
Pedetista ataca rivais e cogita assumir trens
Senado aprova cobertura fora da lista da ANS
País cria quase 220 mil vagas formais em julho
Cônsul suspeito de matar marido volta para Alemanha
Crescem os casos de câncer no pulmão entre não fumantes
Chile protesta contra acusação de Bolsonaro
O Estado de S. Paulo
Cenário se mantém após início da campanha na TV, aponta pesquisa
Moraes diz ter visto risco de ‘atentados contra a democracia’
Bolsonaristas falam em ‘ultimato’ no 7/9
Equipe de Lula acena com reajuste gradual de salários para servidores
Senado aprova lei que obriga planos cobrir tratamentos
Implantação de 5G aquece mercado de celular usado
Empresas vão bancar bolsas para alunos cotistas da USP
Folha de S. Paulo
Senado aprova lei que amplia cobertura de plano de saúde
Indecisos criticam machismo de Bolsonaro durante debate
Equipe bolsonarista minimiza dano por ataque a mulheres
Campanha tenta descolar corrupção de Lula e edita JN
Petista se mantém com 44% no Ipec, e presidente, com 32%
Moraes cita poder de empresários ao justificar operação
3 milhões de brasileiros vivem longo desemprego
Show com 200 drones reabrirá Museu do Ipiranga
Chile reage a Bolsonaro e convoca embaixador
Valor Econômico
Empresas intensificam renegociação de dívidas
Senado derruba rol da ANS para planos de saúde
Eleição afeta humor dos mercados
Fissuras no berço do Bolsa Família
Ipec mostra que cenário segue estável
Bancos freiam juros no crédito imobiliário
Correio Braziliense
Plano terá de cobrir tratamento de saúde fora da lista da ANS
As mulheres que mostram saídas contra polarização
Quase 600 candidatos e um sonho: uma vaga de deputado distrital
Lula quer ajuda da Europa para exploração sustentável da Amazônia
Brasil tem mais de 218 mil empregos formais em julho
Governo chileno pede que Bolsonaro explique ataque a Gabriel Boric
EDITORIAIS
O Globo
Debate evidencia limite de Bolsonaro no público feminino
Agressão gratuita a jornalista tirou dele a vantagem obtida quando Lula derrapou falando de corrupção
O primeiro debate entre os presidenciáveis na noite de domingo deixou claros os limites dos dois líderes nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Lula teve dificuldades para dar explicações convincentes sobre os escândalos de corrupção nos governos petistas. Quanto a Bolsonaro, desferiu um ataque gratuito e abjeto à jornalista Vera Magalhães, colunista do GLOBO e âncora do programa “Roda Viva”, da TV Cultura, que na certa lhe cobrará um preço num público decisivo nesta eleição: o eleitorado feminino.
Desde o início do debate, promovido por um pool de veículos de imprensa liderado pela Band, Lula tentou desviar do tema mais incômodo para sua campanha, os escândalos na Petrobras. Em resposta à primeira pergunta, feita por Bolsonaro, reivindicou para o próprio governo leis de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro aprovadas antes ou depois de sua gestão, para logo em seguida mudar de assunto e elencar conquistas sociais que atribuiu às gestões petistas. Como sempre faz quando o tema vem à baila, driblou a questão. A hesitação permitiu a Bolsonaro reivindicar a paternidade do Auxílio Brasil — de valor, segundo ele, maior que programas sociais do PT — e deixou-o em vantagem. Não durou muito.
Bolsonaro foi pouco depois instado por Vera a comentar uma pergunta ao candidato Ciro Gomes (PDT) a respeito da desinformação sobre vacinas que espalhou na pandemia. Em vez de responder, agrediu com acusações descabidas quem perguntava. Dificilmente teria a mesma atitude se estivesse diante do questionamento de um homem.
O comportamento machista de Bolsonaro foi atacado nas redes sociais e voltou ao foco no debate. “Quando homens são ‘tchutchuca’ com outros homens, mas vêm para cima da gente como tigrão, eu fico extremamente incomodada”, afirmou a candidata Soraya Thronicke (União Brasil). “Quero dizer ao presidente que fabrica fake news e diz inverdades: não tenho medo de você, dos seus robôs ou dos seus ministros”, disse a também candidata Simone Tebet (MDB). Bolsonaro tentou consertar, citou políticas de seu governo em favor das mulheres, desculpou-se por uma declaração desastrada sobre a única filha (a que chamara de “fraquejada”) — mas de nada adiantou. Por mais que tentasse se emendar, o que dizia soava artificial, quando o machismo trouxe de volta a autenticidade rústica que o projetou à vitória em 2018.
A campanha de Bolsonaro tem tentado ampliar sua votação entre as mulheres de todas as formas, lançando mão até da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Os 82,4 milhões de eleitoras, 53% do total, são um dos grupos demográficos em que Bolsonaro enfrenta maior rejeição e mais dificuldade para alcançar Lula. Mais de metade das mulheres afirma que não votaria em Bolsonaro de jeito nenhum. A distância dele para Lula no segmento chega a 20 pontos percentuais, ante menos de 15 no eleitorado como um todo.
As próximas pesquisas dirão se sua estratégia para o público feminino convenceu e se alguma outra candidata ou candidato se projetará depois do debate. Por ora, o fundamental é registrar um desagravo em solidariedade a Vera e a todas as demais profissionais agredidas na cobertura da campanha apenas em razão de sua condição feminina. É simplesmente inaceitável que o presidente da República se comporte assim.
O Estado de S. Paulo
Um debate muito útil
O debate entre os candidatos a presidente escancarou a baixa estatura moral de Lula e Bolsonaro; felizmente, mostrou também que a eleição não se limita aos líderes nas pesquisas
O debate entre os candidatos a presidente na TV Band, na noite de anteontem, escancarou uma realidade há muito denunciada neste espaço: como são ruins os dois primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto.
De forma incontestável, o petista Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro foram os piores no primeiro embate na televisão. O País entendeu perfeitamente por que os dois precisam tanto do cercadinho da polarização: sem propostas para os problemas do País e sem respostas para as acusações que pesam contra ambos, Lula e Bolsonaro limitaram-se a mentir e trocar acusações. Graças a essa miséria, os demais candidatos, com destaque para Ciro Gomes e Simone Tebet, pareciam estadistas.
O debate demonstrou a exata dimensão de Lula e Bolsonaro nesta eleição. Eles podem ser bastante conhecidos e contar com o apoio das respectivas militâncias, mas na realidade têm se mostrado nanicos em ideias e campeões de desrespeito ao voto e à inteligência do eleitor.
Sobre sua trajetória penal, o candidato petista distorceu uma vez mais a realidade. Tendo deixado a prisão e se tornado elegível em razão de nulidades processuais causadas por erros do Ministério Público e da Justiça, postulou o reconhecimento de uma inocência que nunca houve. Lula disse ter sido inocentado até pela ONU. Faltou só citar o Tribunal do Santo Ofício. E tudo isso quando foi questionado sobre a inegável corrupção do PT e o rombo das estatais.
É realmente assustador. Depois de tudo o que foi revelado, depois dos bilhões de reais desviados, Lula é incapaz de reconhecer o problema e de dizer o que fará de diferente para evitar, em um eventual futuro governo, a reedição dos escândalos de corrupção que marcaram para sempre as gestões petistas.
Ao longo do debate, viu-se que Lula não mudou nada. Não pediu desculpas ao País pelo desastre econômico causado pelo PT, tampouco pelo mensalão e pelo petrolão. Repetiu a cantilena petista de que é perseguido injustamente e de que Dilma Rousseff sofreu um golpe.
O País também viu que Jair Bolsonaro não mudou nada. Foi grosseiro com as mulheres, lavou as mãos sobre a articulação política de sua base que resultou no escandaloso orçamento secreto, deu desculpas esfarrapadas sobre a decretação de sigilo de 100 anos até para informações triviais de sua administração, não esclareceu as denúncias de corrupção envolvendo a compra da vacina Covaxin, negou o vergonhoso escândalo do Ministério da Educação e, no geral, reafirmou seu profundo desconhecimento sobre os problemas nacionais. Isso ficou particularmente claro no bloco final, concedido ao candidato para dizer o que pretende fazer se for eleito: quando tomou a palavra, usou-a para falar exclusivamente dos riscos representados pela esquerda na América Latina. A mensagem foi cristalina: o candidato à reeleição não tem rigorosamente nada a propor ao eleitor.
Apesar dessa miséria, o debate não foi em vão. Ficou evidente que há outros candidatos à Presidência da República sérios, com propostas e com experiência. É absolutamente falsa a ideia de que o eleitor neste ano terá de decidir apenas entre Lula e Bolsonaro. O voto não é uma escolha, sob coação, entre dois destinos infelizes. É um exercício consciente e maduro de liberdade.
Em meio ao tumulto protagonizado por Lula e Bolsonaro, Ciro Gomes, por exemplo, encontrou maneiras de expor suas ideias e, de quebra, mostrar as contradições do PT. O candidato do PDT deixou claro que a pretensão de hegemonia de Lula sobre todo o campo da esquerda é antidemocrática, ainda mais quando o PT não quer real debate de ideias e propostas: exige um cheque em branco do eleitor para seu demiurgo.
Outra candidata que se destacou foi Simone Tebet. A senadora do MDB enfrentou com altivez os arreganhos desrespeitosos de Bolsonaro e rebateu com segurança as fabulações de Lula, apresentando-se ao País como alternativa racional e pacífica.
Se o alarido do debate teve alguma utilidade, foi a de mostrar que o País, se quiser, pode deixar de ser prisioneiro do passado corrupto e incompetente do lulopetismo e do presente indecoroso e reacionário do bolsonarismo.
Folha de S. Paulo
Ainda incógnitas
Lula e Bolsonaro omitem ideias em debate, no qual mulheres ganharam destaque
Depois de muita hesitação e algum suspense, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afinal participaram do debate entre os presidenciáveis no domingo (28) à noite. Melhor assim.
A ausência dos dois líderes de intenção de voto segundo as pesquisas do Datafolha representaria um gesto descortês para com os demais candidatos e, sobretudo, um sinal de desprezo pelo eleitor.
Debates integram o processo democrático tanto quanto outros momentos da campanha. Mas com uma diferença: por mais restritivas que sejam as regras negociadas pelos marqueteiros, permitem que os cidadãos analisem os postulantes sob o crivo do contraditório.
Uma coisa é conhecer os candidatos através do filtro enobrecedor da propaganda eleitoral ou acompanhá-los no ambiente controlado dos comícios; outra, bem diferente, é vê-los esgrimir suas teses em meio às antíteses soerguidas pelos adversários políticos.
Daí decorre o elevado interesse suscitado pelo evento de quase três horas organizado pela Folha, pelo UOL, pela TV Bandeirantes e pela TV Cultura. Mas daí também decorre certa frustração provocada pelos dois principais candidatos.
Lula e Bolsonaro revelaram-se menos interessados em esclarecer seus verdadeiros planos de governo do que em adotar uma conduta definida de acordo com as estratégias da campanha eleitoral.
No caso do presidente, isso se traduziu na tentativa de elevar a rejeição do petista, explorando os escândalos de corrupção do passado, ao mesmo tempo em que buscava reduzir a própria reprovação, particularmente entre as mulheres.
No caso do ex-presidente, a opção foi dourar a pílula de seus mandatos, lembrando-se de citar Dilma Rousseff (PT) apenas quando fosse conveniente e arriscando-se a criar expectativas irrealistas diante da nova conjuntura global.
Ambos seguiram um roteiro previsível e pouco esclarecedor, exceto por dois momentos: um, a dificuldade de Lula ao responder perguntas sobre mensalão e petrolão; outro, a deplorável misoginia de Bolsonaro, que atacou a jornalista Vera Magalhães ao ser questionado sobre a vacinação no país.
A hostilidade do mandatário a mulheres ganhou relevo na discussão, o que foi bem aproveitado pelas candidatas Simone Tebet (MDB), principalmente, e Soraya Thronicke (União Brasil).
Lula e Bolsonaro são muito conhecidos; não precisam se apresentar a ninguém, porém não estão isentos de listar ideias. A julgar pelo debate, o eleitorado só pode supor que eles as tenham e que sabem como implementá-las.
Valor Econômico
Inadimplência cresce e é motivo de apreensão
Aumento dos calotes é dado como certo, alimentado pela inflação e juros elevados
Vários sinais de aumento da inadimplência se espalham no cenário econômico. Birôs de crédito, associações comerciais, empresas de varejo, bancos e até escolas vêm registrando o aumento do endividamento e dos calotes dos clientes. O aumento da inflação, a elevação dos juros e o recuo da renda real influenciam na deterioração das condições financeiras. Apesar de a inflação estar agora recuando um pouco não há sinais de que a inadimplência vá diminuir para níveis normais diante da perspectiva de que a economia vai se deteriorar no próximo ano.
Segundo a Serasa Experian, o número recorde de 66,8 milhões de pessoas que não conseguem honrar o pagamento de suas contas e dívidas atualmente é 4,6 milhões maior que o de agosto de 2021. O percentual da população adulta inadimplente passou de 38,9% para 41,4% em junho; e o valor devido cresceu 15,04%, saindo de R$ 244,6 bilhões para R$ 281,4 bilhões no mesmo espaço de tempo.
A onda atual de inadimplência é superior até mesmo à verificada no início da pandemia, quando subiu da marca de 62 milhões de pessoas para pouco menos de 66 milhões. Naquele momento, a bolha foi ainda de curta duração, refluindo em três meses. Agora, vem crescendo com firmeza desde outubro, na sequência do aumento da inflação para o patamar de dois dígitos. A elevação dos preços, especialmente dos alimentos, explica em 90% a inadimplência, segundo a Serasa Experian; e a alta dos juros é responsável pelos 10% restantes.
As pessoas deixam de pagar as dívidas financeiras, mas também os serviços básicos, como água, luz, gás, e aquisições no varejo. Entre comprar comida ou pagar uma conta de luz a opção é clara. As dívidas não financeiras respondem por 59% do total da inadimplência, sendo 22,6% relativas a gás, luz e água; e 7% a serviços de telefonia e internet.
Levantamento de outro birô de crédito, o Boa Vista, detecta que a inadimplência chegou nas compras de comida. O Boa Vista apurou que, no primeiro semestre, 18% dos inadimplentes deram calote em despesas com alimentação e tiveram o CPF incluído na lista de restrição. É o percentual mais elevado desde quando esses dados começaram a ser coletados, há cinco anos. Outras contas não pagas se referem a educação, saúde, impostos, taxas e lazer.
No varejo, a inadimplência também é recorde, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Sua Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) constatou que, em julho, 29% das famílias tinham algum tipo de conta ou dívida vencida, o maior percentual desde 2010, início da série histórica. E o percentual de famílias endividadas atingiu 78%, igualmente um índice recorde. As famílias com menor renda foram as mais afetadas.
Na outra ponta, o quadro tem exigido medidas de cautela dos varejistas. Levantamento do Valor nos balanços das dez maiores redes de capital aberto contabilizou R$ 7,8 bilhões em provisões para devedores duvidosos nos balanços do primeiro semestre, com aumento de quase 22% frente aos R$ 6,4 bilhões registrados no fim de 2021 e de 42,2% acima do apurado no mesmo período de 2021.
Os grandes bancos ainda não registram aumentos significativos da inadimplência nos balanços recentemente divulgados. Dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC) informam que a inadimplência média ficou em 2,7% em junho, com aumento de 0,4 ponto no ano. De toda forma, os bancos reforçam as provisões. Outro levantamento do Valor constatou que os quatro maiores bancos de capital aberto elevaram em quase 50% as provisões para devedores duvidosos ao fim do primeiro semestre, para R$ 21,53 bilhões.
O reforço reflete em parte o aumento das carteiras de crédito, mas também a precaução diante da expectativa de que o aumento da inadimplência é dado como certo, alimentado pela inflação e juros elevados. A deflação registrada em julho não ameniza o temor pois é concentrada em alguns itens como energia e combustíveis.
Não por acaso o tema entrou no debate político. Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) abriu aos beneficiários do Auxílio Emergencial o acesso ao consignado e foi criticado por estimular o endividamento de uma população sem recursos. Inspirado na experiência inglesa, muito distante da brasileira, o candidato Ciro Gomes (PDT) propôs a “lei antiganância”, que pode acabar reduzindo a oferta de crédito. As duas ideias são ineficientes para enfrentar a bolha da inadimplência, diante da desaceleração da economia esperada para 2023.
Correio Braziliense
Respeito às mulheres
As eleições mais recentes mostram que as mulheres adquiriram opinião própria, votam segundo os seus princípios e de acordo com o que acreditam
As eleições de 2022 serão marcadas pelo protagonismo das mulheres. Num país machista e preconceituoso, como o Brasil, são elas que decidirão quem ocupará a Presidência da República nos próximos quatro anos. Não por acaso, todos os temas relacionados a elas, em especial a misoginia e a desigualdade de renda, estão dominando os debates. Aqueles que insistirem em tratar as demandas femininas como mimimi e optarem por um discurso violento certamente não contarão com o voto da maioria desse público.
Os números são eloquentes: as mulheres representam 53% do eleitorado, 40% delas dizem, segundo pesquisas, que ainda podem mudar de voto até o dia das eleições, 50% veem a economia como a principal preocupação no momento, por causa da inflação e boa parcela cita a saúde como demanda importante, sobretudo pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus. Entre os eleitores com ensino superior completo, elas são 60,8%. No grupo que tem ensino universitário incompleto, representam 55,2%. Dos que concluíram o ensino médio, somam 56,1%.
As eleições mais recentes mostram que as mulheres adquiriram opinião própria, votam segundo os seus princípios e de acordo com o que acreditam. Não se guiam mais por pais e maridos. Como muitas têm ressaltado, política não é mais coisa de homem, ainda que elas estejam sub-representadas em todas as esferas de governo, quadro que tende a mudar mais rapidamente nos próximos anos. Aqueles que não se antenarem à nova realidade perderão o bonde da história. Foi-se o tempo que o voto feminino era artigo de segunda categoria.
Nesse contexto, a submissão virou coisa do passado. E o Brasil tem uma dívida enorme com as mulheres, cujo direito do voto só lhes foi concedido em 1932, ou seja, 108 anos depois de os homens exercerem esse ato de cidadania. A obrigatoriedade do voto feminino só foi instituída em 1965. Antes, voluntária, a escolha nas urnas muitas vezes era decidida pela família. Uma distorção característica de uma nação patriarcal, de caciques e coronéis políticos.
Com razão, as mulheres questionam por que ainda há tanta disparidade no mercado de trabalho, por que ainda ganham menos que os homens mesmo exercendo as mesmas funções. Chefes de família, elas indagam sobre os motivos de não terem creches à disposição de seus filhos para que possam trabalhar em paz e por que a inflação está tão alta a ponto de entes queridos passarem fome. Demonstram enorme sensibilidade ante a desestruturação das famílias, preocupadas com o futuro dos filhos e dos maridos desempregados. Também cobram medidas mais efetivas contra a violência doméstica, da qual são as principais vítimas. É isso que precisa ser levado em conta por aqueles que disputam a Presidência da República.
O direito de as mulheres se posicionarem abertamente, inclusive na política, não pode ser visto como algo pejorativo, como pregam alguns, que tentam desqualificá-las ao defini-las como feministas. Sim, são feministas e donas de suas vontades. Elas sabem o poder que têm e deixarão bem claro nas urnas o que pensam e o que repudiam. Conquistá-las vai muito além de promessas populistas e sem conteúdo.
Sendo assim, que nos pouco mais de 30 dias que faltam para as eleições, o voto feminino se mantenha na linha de frente das discussões por um Brasil melhor. Descompromisso com esse eleitorado será sinal de derrota certa. Acabou o tempo de achar que o cabresto se sobrepõe à liberdade da livre escolha. As mulheres estão aí para mostrar que o país pode mudar para melhor. Basta, apenas, ter a humildade para ouvir as demandas delas, sem soberba, instinto de superioridade e misoginia. Elas querem e merecem todo o respeito, independentemente da posição política que venham a tomar.