Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (12/08/2022)
MANCHETES DA CAPA
O Globo
Ato inédito pró-democracia reúne ‘capital e trabalho’ em respota a ataques de Bolsonaro
Carlos Fico: ‘Um ato mais amplo e efetivo’
Sem Bolsonaro e Lula – Consórcio de imprensa suspende debate presidencial em pool
Petrobras reduz de novo o preço do diesel
Projetos investigados do Ceperj são postos sob sigilo pelo governo
Remédio considerado promissor já está em análise pela Anvisa
O Estado de S. Paulo
Manifestações unem opostos em defesa do processo eleitoral
Falta de vacinas e dúvidas dos pais atrasam vacinação de crianças
Nilson Teixeira: ‘Meta para dívida, em vez de limite de gasto, é equívoco’
Trote para a PM passa a ser punido com multa de R$ 2,1 mil
Grupo espanhol quer comprar usinas de energia solar e eólica
Folha de S. Paulo
Atos pluralistas rechaçam golpismo e pedem respeito a Estado de Direito
Organizadores tentam manter mobilização
Governo alardeia ações na economia em dia de protesto
Bancos deveriam ficar neutros, diz presidente do BB
SP adia abertura do Museu do Ipiranga para fugir de Bolsonaro
Brasil importa 95% de insumos farmacéuticos
Valor Econômico
Sociedade civil promove ato em defesa da democracia
Empresários reforçam apoio às instituições
Petrobras anuncia nova redução no diesel
Bolsonaro usa combustível como resposta
‘Penduricalhos’ salariais ainda parados no STF
Correio Braziliense
Brasil manda mensagem em defesa da democracia
Para Mello, sistema eleitoral é seguro
Leandro Grass – ‘A violência não está dentro das escolas’
Mais perto da legalização
Ucrânia: Fantasma nuclear
EDITORIAIS
O Globo
Um dia histórico de união em defesa da democracia
Leitura de manifestos com eventos em várias cidades dá recado claro: Brasil não tolerará rumo autoritário
É provável que o dia 11 de agosto de 2022 passe doravante a figurar entre os mais relevantes na trajetória democrática do Brasil. Foram lidas duas cartas em defesa da democracia em ato na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), mesmo local onde o jurista Goffredo da Silva Telles Jr. leu, em agosto de 1977, sua Carta aos Brasileiros, marco no início da derrocada da ditadura militar. Outras cidades também foram palco de eventos semelhantes.
Com o pátio das arcadas do Largo São Francisco lotado, os presentes ouviram o conteúdo da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, lançada pela USP e inspirada na de 1977. Antes foi lido o manifesto Em Defesa da Democracia e da Justiça, encabeçado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e assinado por entidades representativas dos setores produtivos e da sociedade civil. Ambos já eram públicos.
Os dois textos apoiam de forma enfática a democracia e o sistema eleitoral brasileiro. Condenam os ataques mentirosos e reiterados contra as urnas eletrônicas.
O evento encheu de manifestantes a praça em frente ao prédio da São Francisco e comprovou o que já demonstravam quase um milhão de assinaturas em apoio à Carta da USP e as mais de cem entidades que ratificaram a iniciativa da Fiesp.
Reuniu cidadãos de diferentes classes sociais, representantes de movimentos da sociedade civil, estudantes, profissionais liberais, acadêmicos, ex-ministros de distintas administrações, líderes sindicais, empresários, artistas e celebridades.
Havia assalariados e milionários; integrantes da comunidade LGBTQIA+ e héteros; negros e brancos; gente de esquerda, de centro ou direita; quem defende a abertura comercial e fãs do protecionismo; quem empunha a bandeira das privatizações e crentes no estatismo; quem é a favor da descriminalização das drogas e quem é contra; feministas e opositores do aborto; quem só cursou o ensino fundamental e doutores diplomados pelas melhores universidades; quem gosta de funk, sertanejo, samba, pagode, rock, jazz ou música erudita; quem tem plano de saúde privado e pacientes do SUS, brasileiros nascidos no Sul, Sudeste, Nordeste, Norte e Centro-Oeste.
O que une a todos? A convicção de que os brasileiros não permitirão que o país siga o caminho do autoritarismo. O roteiro do golpe na “versão século XXI” não conta obrigatoriamente com tanques nas ruas. Costuma começar com um populista eleito de modo democrático para, logo em seguida, dar início à lenta corrosão das instituições formais da democracia.
A História recente mostra que a estratégia é usada por líderes de extrema direita e de extrema esquerda, sem distinção. O jogo só é válido se eles ganham sempre. É contra esse pensamento que vastos segmentos da sociedade brasileira esqueceram suas muitas diferenças e se uniram em favor das urnas eletrônicas e da Justiça. O recado está dado: o Brasil não será uma Venezuela nem uma Hungria. Aqui prevalecerá o Estado Democrático de Direito.
O Estado de S. Paulo
Um Brasil altivo defende a democracia
A leitura das ‘Cartas’ em defesa do regime democrático e do Judiciário mostrou que o País não está dividido em relação à democracia, valor inegociável para toda a sociedade
Se o presidente Jair Bolsonaro envergonhou profundamente o País ao difamar a democracia brasileira perante embaixadores estrangeiros, a resposta da sociedade em defesa das eleições e do regime democrático orgulhou e emocionou o País. Ontem, em todo o território nacional, foram lidos manifestos em defesa do Estado Democrático de Direito, numa demonstração luminosa de que a sociedade está vigilante e não aceita retrocessos autoritários. A democracia é um valor inegociável, o patamar mínimo imprescindível. Não é questão de ser de esquerda, direita ou centro. É apenas a firme compreensão de que não existe projeto de país sem respeito às regras e às instituições democráticas.
Na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, foram lidos dois manifestos. Elaborada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e que recebeu a adesão da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), da União Nacional dos Estudantes (UNE), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de muitas outras entidades, a carta Em Defesa da Democracia e da Justiça é expressão contundente de que o apoio ao regime democrático e ao Poder Judiciário une os mais diversos setores e as mais variadas ideologias. “A todos que exercem a nobre função jurisdicional no país, prestamos nossas homenagens neste momento em que o destino nos cobra equilíbrio, tolerância, civilidade e visão de futuro”, diz a carta da Fiesp. A sociedade não está dividida em relação à democracia e às instituições democráticas.
Como ressaltou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, que leu o manifesto da Fiesp no Salão Nobre da faculdade, “hoje (ontem) é um momento grandioso, em que capital e trabalho se juntam em defesa da democracia. Estamos celebrando aqui com alegria, com entusiasmo, o hino da democracia”.
Em seguida, no pátio das Arcadas, foi lida a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, a Carta de 22, que até ontem à tarde havia recebido mais de 950 mil assinaturas, sendo mais de 160 mil professores, 28 mil engenheiros, 14 mil médicos, 9 mil desempregados, 6 mil policiais, 5 mil enfermeiros, 4 mil dentistas e 4 mil motoristas. Esses números explicitam que a defesa da democracia não é uma causa partidária ou elitista. É uma causa do povo brasileiro. “São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”, diz a Carta de 22.
Na ocasião, o diretor da Faculdade de Direito da USP, Celso Campilongo, lembrou três aspectos fundamentais do Estado Democrático de Direito, todos eles enxovalhados pelo presidente Bolsonaro. O primeiro é a “observância do princípio da legalidade, do respeito às leis”, ou seja, “tudo o que não estão querendo fazer com o nosso sistema eleitoral”, disse, referindo-se aos ataques de Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas. O segundo aspecto, lembrou o professor Campilongo, é o princípio da publicidade.
Consequência direta dos dois anteriores, o terceiro aspecto do Estado Democrático de Direito é o “controle da legalidade e da publicidade pelas instituições com competência para fazê-lo”. E o professor lembrou que quem tem competência para organizar as eleições, apurar os votos e proclamar os resultados é o Tribunal Superior Eleitoral. “O resto é gente sem competência jurídica e sem competência moral para se intrometer no processo eleitoral brasileiro”, disse Campilongo, num ensinamento especialmente necessário nos dias de hoje, em que o bolsonarismo tenta envolver os militares na apuração das eleições, atribuição totalmente estranha às funções constitucionais das Forças Armadas.
Após a leitura da Carta de 22 no pátio das Arcadas, tocou-se o Hino Nacional. Seus versos ressoaram forte no centro de São Paulo e em todo o Brasil. Eram a certeza de que, apesar de toda a escalada de violência de Jair Bolsonaro contra a democracia, continua havendo um País altivo, que não deseja ser refém dos autoritários e que lutará para defender suas instituições, suas eleições, sua democracia. Esse é o verdadeiro e profundo Brasil.
Folha de S. Paulo
As cartas e a Carta
Atos pluralistas mostram que democracia se tornou a pele cívica dos brasileiros
Movimentos cívicos em todo o país deixaram claros ao pretendente a autocrata no Palácio do Planalto os limites inegociáveis da democracia brasileira. As eleições periódicas, o respeito a seus resultados e a posse dos vitoriosos inscrevem-se em pedra na Constituição de 1988.
No largo de São Francisco, na capital paulista, deram-se nesta quinta (11) duas declarações de intransigência com a ordem democrática.
Entidades sindicais, empresariais e de outros segmentos da sociedade compuseram um arco-íris de filiações, convicções e finalidades para reafirmar seu compromisso comum com os marcos civilizados da disputa política, o império da lei e os direitos fundamentais.
Também no largo situado na região do primeiro povoamento urbano de São Paulo, o pátio da Faculdade de Direito —a qual completava 195 anos de fundação— foi o cenário da leitura da carta, subscrita por centenas de milhares de cidadãos, cujo mote é “Estado Democrático de Direito sempre!”.
Atos convergentes no objetivo de realçar as fronteiras intransponíveis ao autoritarismo erguidas pelo regime constitucional e no de reconhecer a eficácia e a confiabilidade do sistema eleitoral ocorreram em outras cidades brasileiras.
De todas essas manifestações salienta-se o amálgama entre empregados e patrões, progressistas e conservadores, liberais e estatistas, desconhecidos e famosos, população e elite. Elas demonstram que a democracia no país não se restringe a alguns enunciados afixados num pedaço de papel. Tornou-se a pele cívica dos brasileiros.
Esse conjunto de valores comuns contém um ensinamento que custou milênios de sofrimentos, violência e miséria à humanidade para desenvolver-se —o compartilhamento do poder político com garantias de liberdades e direitos individuais franqueia a todos o exercício pleno do potencial criativo e a busca pelo bem-estar.
Apenas os pactos democráticos, porque genitores de instituições com autonomia, respeito à lei e responsabilidade, asseguram redes intertemporais de solidariedade para os concidadãos em carência de renda e outras condições materiais. Apenas eles, e pelas mesmas razões, podem propiciar estabilidade a negócios e investimentos.
Quando o poder se concentra num tirano ou num estamento, nada está garantido aos súditos, a começar da vida e da liberdade.
Regime das leis e da soberania popular, a democracia exige submissão aos procedimentos pactuados pelos representantes da população. Respeito às autoridades designadas para conduzir as eleições e obediência às urnas fazem parte do acordo que está na Carta, o que as cartas de 11 de agosto fizeram muito bem em reavivar.
Valor Econômico
Preço da energia bate novo recorde na Europa
A prolongada onda de calor na Europa intensificou a desorganização no setor de energia ao reduzir a capacidade de geração, além de aumentar a demanda por eletricidade
Os preços da eletricidade na Europa atingiram novos recordes, com a onda de calor prolongada perturbando os mercados de energia, que já estavam sob pressão dos cortes no fornecimento de gás para o continente pela Rússia.
A potência de carga de base alemã para entrega no próximo ano, o preço de referência europeu, subiu mais de 5% ontem, para o recorde de € 455 por megawatt-hora (MWh). Isso é cinco vezes maior do que o preço registrado há um ano. O contrato francês equivalente aumentou 4%, ultrapassando € 600 por MWh pela primeira vez.
Os preços da energia, fortemente influenciados pelo custo do gás – principal fonte de geração de eletricidade – vêm subindo desde o início do ano, já que o preço do gás mais do que quadruplicou.
A prolongada onda de calor na Europa intensificou o problema em julho ao reduzir a capacidade de geração, além de aumentar a demanda por eletricidade.
As baixas velocidades do vento devido às altas temperaturas reduziram a geração de energia eólica, enquanto a queda dos níveis de água ao longo do rio Reno interrompeu a entrega de carvão às usinas de energia na Alemanha, disse William Peck, analista de mercado de energia da ICIS, empresa de análise de commodities.
Na França, onde os rios são usados para resfriar muitas de suas usinas nucleares, os baixos níveis de água também afetam a geração, acrescentou Peck. Mais da metade da capacidade de energia nuclear da França está atualmente paralisada para manutenção.
“Os preços tão altos são o mercado tentando levar alguém a algum lugar para fazer algo para impedir os apagões”, disse Peck. “Eles estão dizendo: qualquer usina que esteja parada vai receber muito dinheiro para voltar a produzir.”
A França geralmente exporta o excesso de eletricidade que produz. Mas neste ano tornou-se um importador, o que significa que os países vizinhos estão queimando gás adicional para gerar eletricidade para a França, justamente quando a Europa tenta conservar suprimentos para o inverno. A Alemanha exportou 600 mil MWh de eletricidade para a França em junho, o dobro de um ano antes.
Correio Braziliense
O Dia dos Pais e a economia
A boa previsão de vendas do comércio para a data precisa ser considerada dentro da perspectiva do futuro da economia no país
Às vésperas dos Dia dos Pais, nem o endividamento, nem o clima de instabilidade política, nem a inflação — que em 12 meses segue ainda acima de dois dígitos, apesar de recuo em julho — parecem desanimar os consumidores que, após dois anos de restrições mais rigorosas no convívio social, planejam presentear os homenageados do próximo domingo. Ao menos é o que mostram estimativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), segundo as quais o volume de vendas para a data neste ano deve somar R$ 7,28 bilhões.
O número em si parece expressivo, mas é melhor quando visto em perspectiva. Em relação à mesma data de 2021, a alta estimada nos negócios é de 5,3%, aponta a entidade ligada ao comércio. Se a comparação for com 2020, o quadro impulsiona ainda mais o otimismo dos comerciantes: o crescimento da expectativa de negócios é de 15,7% em relação ao Dia dos Pais do primeiro ano da pandemia.
Já é muito, considerando que empresários amargaram nos dois últimos anos os desempenhos mais modestos desde 2016 nessa que é considerada a quarta melhor data para o comércio varejista brasileiro. Porém, as razões para comemorar são ainda maiores entre os lojistas quando se considera que as boas perspectivas de negócios ocorrem em um contexto em que o brasileiro anda declaradamente com a corda no pescoço.
Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da própria Confederação Nacional do Comércio, mostra que o comprometimento das contas dos brasileiros vem subindo de forma contínua nas duas faixas pesquisadas (entre rendimentos familiares maiores e menores que 10 salários mínimos), e atingiu no mês passado nada menos que 78% dos lares, na média. Pior: 29% das famílias têm débitos atrasados, o maior percentual da série histórica, e mais de 10% já sabem que não terão como honrar seus compromissos.
Mas como explicar que mesmo com a inflação também alta — o acumulado em um ano do IPCA chegou a 10,07%, há 11 meses acima de dois dígitos — o endividado consumidor brasileiro movimente o otimismo dos empresários? Quem procura analisar é a própria Confederação Nacional do Comércio.
Para os técnicos da entidade, o primeiro fator é de certa forma óbvio: com o controle dos termômetros da pandemia, brasileiros voltaram às ruas — e às compras. Citando indicadores do Google, a CNC aponta que a circulação de consumidores em estabelecimentos de comércio em julho foi 1,7% maior que a registrada antes do início da crise sanitária. Índice que parece pequeno, mas é expressivo se comparado com as quedas nesta época do ano em 2020 (-35,9%) e em 2021 (-12,4%).
O segundo aspecto apontado como decisivo para a estimativa de crescimento nos negócios é “a recomposição da massa de rendimentos por meio da liberação de recursos extraordinários, tais como os saques nas contas do FGTS, antecipação de recursos do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS e, principalmente, ampliação do Auxílio Brasil, tanto em termos de beneficiários quanto do valor do benefício médio”. Para a entidade representativa do comércio, é esse dinheiro que tem sustentado o avanço das compras.
Ou seja, o otimismo de compradores e vendedores parece apoiado no que os críticos do governo podem apontar como um “pacote de bondades” pré-eleitorais de vida curta, e que os defensores da atual gestão tendem a atribuir a algo como um conjunto de medidas de estímulo à economia e de benefícios sociais para fazer frente à crise deflagrada pela covid-19.
De um ponto de vista ou de outro, o fato é que tais “medidas extraordinárias” não se sustentam a médio e longo prazos. A boa previsão de vendas para o Dia dos Pais precisa ser considerada dentro da perspectiva do futuro da economia no país. Há que se comemorar a conjuntura e o legítimo desejo de presentear, que faz mover as engrenagens econômicas. Mas, dadas as razões que justificam o momento, é de se questionar se os mecanismos terão sustentação para se manter girando da mesma forma até o Natal. Ou além.