Bernardo Mello Franco: Bolsonaro não quer debate

Jair Bolsonaro não gosta de ser questionado. A quatro meses da eleição, ele avisou que deve faltar aos debates entre os presidenciáveis. Só pretende dar as caras no segundo turno — se houver, é claro.

“No primeiro turno, a gente pensa. Porque se eu for, os dez candidatos ali vão querer todo o tempo dar pancada em mim”, disse.

Em conversa com o animador Ratinho, o capitão propôs um formato inusitado de debate: as perguntas feitas aos candidatos teriam que ser combinadas antes do início do programa. “Até para não baixar o nível”, justificou.

Num encontro a sério, os políticos são confrontados com assuntos incômodos e precisam se virar sem a cola do teleprompter. O que Bolsonaro propõe é outra coisa: transformar um gênero jornalístico em peça de propaganda.

Em 2018, o capitão só aceitou participar de dois debates. Na Band, ficou nervoso quando Guilherme Boulos quis saber por que ele embolsava o dinheiro do auxílio moradia em Brasília. Na RedeTV!, foi espinafrado por Marina Silva por ter ensinado uma criança de colo a fazer o sinal de arminha.

Depois da facada, Bolsonaro não compareceu mais a nenhum confronto. Alegou razões médicas, que não o impediram de aceitar outros compromissos. No segundo turno, ele repetiu a desculpa para não enfrentar Fernando Haddad. Os debates foram cancelados, o que beneficiou o capitão.

A tática de fugir da raia não é nova. Fernando Collor (1989), Fernando Henrique (1998) e Lula (2006) também se recusaram a encarar os adversários no primeiro turno. A diferença é que os três lideravam as pesquisas, e Bolsonaro aparece 21 pontos atrás do petista no Datafolha.

As razões do atual presidente são outras. Num debate de verdade, ele precisaria dar explicações sobre a inflação galopante, os rolos dos filhos e a demora a comprar vacinas.

O capitão prefere frequentar ambientes onde não corre o risco de ser questionado. No bate-papo com Ratinho, que já atuou como garoto-propaganda de seu governo, ele mentiu à vontade sobre a urna eletrônica, as queimadas na Amazônia e as críticas da classe artística. (O Globo – 01/06/2022)

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