MANCHETES DA CAPA
O Globo
PF diz que Bolsonaro gerou disinformação sobre urnas
Datafolha: Lula tem 47%; Bolsonaro, 21%; Moro, 9%; Ciro, 7%; e Doria, 3%
PL age para derrubar veto a fundão de R$ 5,7 bilhões
Renegociação de dívida do Simples passa na Câmara
FMI anuncia saída do Brasil após críticas de Paulo Guedes
Comemoração terrivelmente evangélica
ONG vê aumento de migração de venezuelanos
Caso João Pedro: MP-RJ denuncia 3 policiais por homicídio doloso
Dr Consulta vai oferecer plano de saúde
Firjan: Rio deve receber R$ 332 bi em três anos
Imortal: O economista e escritor Eduardo Gianetti é eleito para a ABL
Supermercados europeus barram carne brasileira
O Estado de S. Paulo
Pacote eleitoral pode somar R$ 90 bi, dobro do déficit de 2022
Congresso quer tirar verba do TSE para usar em campanhas
Refis para pequena empresas e empreendedores é aprovado
Bolsonaro agiu para desinformar sobre as urnas eletrônicas, diz PF
Mendonça toma posse no Supremo e vai a culto
Orçamento secreto – Maioria do STF segue Rosa Weber e libera pagamentos
Capes corta repasse de verbas para centro de pesquisa
Juro alto em países ricos tende a afastar investidor do Brasil
Em meio a críticas de Guedes, FMI fecha escritório no Brasil
Metrô de SP – Depois de 17 anos em obras, última estação da Linha 4 começa a funcionar
Economista, Gianetti é eleito para ABL
Folha de S. Paulo
Lula tem 47% contra 21% de Bolsonaro, mostra Datafolha
Anvisa libera vacinação em crianças
Aéreas já exigem passaporte vacinal em embarque
Imunizante contra nova gripe só chegará em março de 2022
OMS recua da decisão de classificar velhice como doença
Mendonça defende democracia após posse no Supremo
Guedes pede R$ 2,5 bilhões para reajustes de servidores
FMI anuncia que fechará escritório no Brasil em 2022
Eduardo Giannetti é eleito imortal da ABL
Barra Funda, a nova Santa Cecília
Valor Econômico
Importação dispara para o agro, mas desacelera para a indústria
Sócias devem levantar R$ 32 bi com a venda da Braskem na B3
A casa como destino
BNDES obtém R$ 2,7 bi com ações da JBS
Avança união de Hapvida e Intermédica
Câmara aprova Refis para microempresas
EDITORIAIS
O Globo
É inadmissível demora do governo para sanar apagão de dados no SUS
Não é a primeira vez que apagões de dados prejudicam a rotina de acompanhamento da Covid-19
É inconcebível que, em uma semana, o governo não tenha sanado o apagão de dados nos sistemas do Ministério da Saúde. É como se não fosse prioridade para a pasta pôr fim aos transtornos que afetam milhões de brasileiros. Na sexta-feira da semana passada, um ataque digital derrubou a plataforma ConecteSUS, que armazena o histórico de vacinação dos cidadãos, inclusive contra a Covid-19. O serviço é usado para comprovar a imunização em lugares que exigem apresentação do passaporte sanitário. Ontem quem acessava a plataforma deparava com a informação: “Aguarde até dez dias úteis para que seu registro de vacina apareça no ConecteSUS”.
Não é a primeira vez que apagões de dados prejudicam a rotina de acompanhamento da Covid-19. Em agosto, uma mudança nos critérios de registro de testes positivos da doença, feita sem discussão com estados e municípios, afetou a transparência das informações. De uma hora para outra, a pasta passou a exigir que número de lote e fabricante dos testes de Covid-19 constassem nos registros efetuados pelas secretarias de Saúde, provocando atraso desnecessário nas notificações e distorção na sequência dos dados.
Desta vez, o apagão não atinge apenas o ConecteSUS. Afeta os registros sobre casos, mortes e vacinação nos estados. Na quarta-feira, Goiás, Mato Grosso do Sul e Tocantins não informaram os dados devido aos problemas. Com estatísticas incompletas, análises sobre a evolução da doença ficam prejudicadas. O Ministério da Saúde tem dito que espera restabelecer tudo até o fim de semana. É tempo demais.
Os dados do ConecteSUS são importantes para comprovar a vacinação, por mais que o governo Bolsonaro rechace a obrigatoriedade da vacina. O certificado é exigido por prefeituras, estados e empresas como forma de incentivar a imunização e aumentar a segurança dos cidadãos, como acontece em vários países. É ferramenta essencial também para embarque nos aeroportos.
Na quarta-feira, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) formaram maioria para confirmar decisão do ministro Luís Roberto Barroso que determinara a exigência do passaporte sanitário para viajantes que chegam ao país. Embora a medida já esteja em vigor, ainda carece de uma portaria interministerial. Espera-se que a demora em publicá-la seja apenas questão técnica.
Fez bem o STF em agir com base na ciência. A decisão do governo de permitir a entrada de viajantes não vacinados desde que cumprissem quarentena era temerária, por ser de difícil aplicação. Especialmente num momento em que a variante Ômicron se espalha. Estados e municípios já tinham deixado claro que não teriam como fiscalizar o cumprimento das normas.
A decisão do STF sobre o passaporte sanitário reforça a necessidade de o Ministério da Saúde restabelecer quanto antes o funcionamento do ConecteSUS. É impensável que brasileiros que chegam ao país tenham de recorrer a documentos de papel para comprovar a vacinação quando o mundo inteiro usa o passaporte digital.
O Estado de S. Paulo
A passeata de Guedes contra o FMI
Como Bolsonaro, o ministro da Economia demonstra dificuldade para aceitar críticas e para entender o valor de entidades multilaterais
O ministro da Economia, Paulo Guedes, conseguiu superar com folga a esquerda mais folclórica, aquela do “fora, FMI”. Hostilizado pelo ministro, o Fundo Monetário Internacional anunciou a decisão de fechar seu escritório de representação em Brasília. “Estamos dispensando a missão do FMI”, declarou Guedes durante encontro com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Dissemos para eles fazerem previsões em outro lugar”, acrescentou. Previsões sombrias têm sido rejeitadas pelo ministro, empenhado em mostrar ao mundo um Brasil próspero e bem ajustado, só existente em suas fantasias. Mas o limite parece ter chegado quando Ilan Goldfajn, economista respeitado dentro e fora do País, foi nomeado para um importante cargo no Fundo, a direção do Hemisfério Ocidental.
Ex-presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn ocupa atualmente a presidência do Conselho do Crédit Suisse e assumirá o novo posto no próximo ano. Geralmente discreto, suas opiniões continuam sendo ouvidas e registradas com interesse. Serão necessários, disse ele recentemente, pelo menos dois anos de muito trabalho para reconduzir a inflação à meta. “Passamos os últimos dois anos com incertezas fiscais, econômicas, políticas e institucionais. Um dia a conta vem”, comentou no começo do mês em entrevista ao Estadão/Broadcast.
“Ilan também tem o direito de criticar”, disse Guedes em sua fala na Fiesp. “Mas, já que tem um brasileiro que critica o Brasil indo para o FMI, ele não precisa mais ficar aqui”, completou o ministro, um tanto confusamente. Ninguém criticou “o Brasil”. Goldfajn falou sobre a incerteza fiscal, o rompimento do teto e a inflação distante da meta, fatos conhecidos, inegáveis, incorporados nos cálculos do mercado e refletidos na instabilidade cambial. Dólar acima de R$ 5,60 é um dos efeitos dessa desordem e da insegurança quanto à evolução das contas públicas. São façanhas atribuíveis ao presidente da República e a sua equipe, com destaque para o ministro da Economia.
Guedes ainda se refere a um erro de previsão para sustentar seu discurso contra o FMI. No ano passado, o Fundo chegou a estimar para a economia brasileira uma queda de 9,1%, mais que o dobro da perda registrada, meses depois, nas contas oficiais (4,1%). Houve um erro, de fato, mas alguns meses depois os técnicos do FMI começaram a rever seus números. Para este ano a projeção divulgada em outubro indica expansão de 5,2%, parecida, naquele momento, com a do mercado. As novas estimativas correntes no setor financeiro, no entanto, já estão abaixo de 5%. Para 2022 o Fundo ainda prevê para o Brasil uma expansão de 1,5%, bem superior às do mercado, próximas de 0,5%.
Ao contrário de Guedes, economistas do setor privado, de escolas e de entidades internacionais, como o FMI, o Banco Mundial e a OCDE, costumam rever suas contas e avaliações. Todas essas instituições têm um currículo de serviços importantes à comunidade internacional. O FMI, por exemplo, ajudou cerca de 90 governos a enfrentar os efeitos econômicos e sociais da pandemia, desde o ano passado.
Não por acaso essas organizações são valorizadas por governos de países de todos os grupos. A maior fatia de capital do FMI é controlada pelos Estados Unidos. A segunda maior, pelo Japão; a terceira, pela China. A da Rússia, bem abaixo na lista, supera a do Brasil. A maior parte dos países-membros do FMI compõe grupos, para somar suas cotas e aumentar seu poder de voto. Líder de um desses grupos, o Brasil ocupa um assento na diretoria executiva, órgão política e administrativamente importante.
Em várias ocasiões o governo brasileiro recorreu à instituição para enfrentar dificuldades cambiais e fiscais, mas conseguiu dispensar essa ajuda nas últimas duas décadas. Isso de nenhum modo reduz a importância do Fundo ou de outra instituição multilateral. Americanos, alemães e chineses sabem disso. Guedes, como seu chefe Bolsonaro, parece ter dificuldade para perceber o valor da ordem e da cooperação internacionais.
Folha de S. Paulo
Trancos e barrancos
STF e Anvisa tomam decisões certas, e Bolsonaro ainda sabota política sanitária
Até um indicado pelo governo Jair Bolsonaro (PL) ao Supremo Tribunal Federal consegue tumultuar a gestão da pandemia. Nesta quinta (16), o ministro Kassio Nunes Marques manobrou para interromper um julgamento em que já havia ampla maioria a favor da exigência do passaporte da vacina contra a Covid-19 para a entrada no país.
Ao que parece, a norma, já imposta antes por liminar, permanecerá em vigor. Entretanto restam dúvidas em torno da execução da medida que não podem ser respondidas por magistrados.
O governo prossegue na sabotagem dos esforços para o controle do vírus, enquanto instituições, unidades da Federação e órgãos de Estado fazem sua parte —como a Anvisa, que autorizou a aplicação do imunizante da Pfizer em crianças a partir dos 5 anos de idade.
Por mais que a queda dos números de novos casos, internações e mortes mereça comemoração, precauções ainda são necessárias. Transcorridos dois anos da Covid-19, a versatilidade do coronavírus não cessa de surpreender. Neste momento é a variante ômicron que põe o mundo em prontidão.
No alto das preocupações está a celeridade com que a cepa se dissemina, sem precedentes. A Organização Mundial da Saúde tem registro de sua presença em 77 países, inclusive no Brasil, apenas um mês depois dos primeiros casos detectados em Botsuana e África do Sul.
Essa rápida transmissão se dá mesmo em países com boa parte da população imunizada com duas doses. Há indícios, porém, de que uma terceira dose de reforço conseguiria combater a variante.
Quanta à gravidade da síndrome respiratória desencadeada pelo vírus modificado, permanece alguma incerteza. Uma primeira e isolada morte se confirmou no Reino Unido, mas é prematuro concluir que a variante seja de fato mais benigna, como parece ser o caso.
O ensinamento a extrair se mostra o mesmo de quando surgiram as outras variantes: na dúvida, prevalece o princípio da precaução.
Por aqui não temos vigilância genômica decente. Não mais de dois terços da população tomaram duas doses. O ministro da Saúde foi picado pela mosca azul eleitoral. Sua pasta está refém de hackers, e até estatísticas fundamentais perdem em agilidade e confiança.
O presidente continuará a combater vacinas e máscaras —em busca de agradar à parcela minoritária do eleitorado que pode levá-lo ao segundo turno da eleição.
Valor Econômico
Relatório de inflação do BC tangencia aperto monetário
São grandes as incertezas em ano eleitoral, com um governo que desdenha austeridade
O Relatório de Inflação do Banco Central de dezembro deixa no ar dúvidas sobre os rumos do ciclo de aperto monetário “mais contracionista” do que o do cenário básico em 2022 e 2023, o horizonte relevante. As projeções que constam do cenário do BC são as mesmas que as da ata do Comitê de Política Monetária e nelas, uma Selic de 11,75% seria suficiente para trazer a inflação de 2023 à meta (3,25%). Uma das hipóteses, olhando os números, é que o BC provavelmente não elevará os juros além disso, ou os elevará marginalmente. Mas é provável que os juros serão reduzidos mais lentamente do que a queda do IPCA permitiria, dando margem de segurança à autoridade monetária para não estourar o teto da meta pela segunda vez consecutiva.
O relatório indica que mesmo com juro de 11,75%, a possibilidade de a inflação ultrapassar o limite superior da meta em 2022 é elevada, de 41%. Já para 2023, a chance é muito menor e, o que é significativo, é praticamente igual tanto para superar o teto quanto para furar o piso (13% e 15%, respectivamente). Não parece conveniente, à primeira vista, levar a meta Selic muito além daí, bastando conservar o juro mais elevado por mais tempo durante o ano que vem.
É um nível respeitável de aperto. Com 11,75% no horizonte, no segundo trimestre de 2022 a taxa de juros real atingirá 6,3%, acima da taxa neutra de 3,5% (revista, 3% era o nível anterior). Ainda que o cenário básico preveja declínio a partir de outubro, para encerrar o ano com Selic a 11,25%, o hiato do produto (uma medida da diferença entre o crescimento atual em relação ao potencial) subiria dos atuais -1,7% para -2,1% ao final de 2022. O Banco Central reviu sua projeção para o Produto Interno Bruto do ano que vem de 2,1% para 1%.
A Selic de 11,75% será fortemente contracionista no segundo trimestre porque o BC está indo mais rápido no reajuste da taxa nominal do que o aumento observado nas expectativas de inflação. “Em outras palavras”, observa o relatório, “o deslocamento da curva de juros nominal da pesquisa Focus também significou elevação da taxa de juros real”. O ritmo acelerado de aumento dos juros, no entanto, que em tese busca um aperto monetário maior em um período menor de tempo em relação a outras possíveis trajetórias, não parece estar de acordo com um aperto “mais contracionista” durante 2022 e pelo menos parte de 2023.
Porém, mesmo no cenário básico, segundo o relatório, em que da taxa real de juros começa a cair a partir do terceiro trimestre de 2022, ela mesmo assim “fica acima da taxa real neutra no horizonte considerado”, ou seja, é contracionista em algum grau. A dúvida então é quão “mais contracionista” o ciclo de aperto precisa ser para satisfazer a política mencionada na ata do Copom?
Mesmo com a revisão da taxa de crescimento para 1%, o BC está razoavelmente acima das projeções de mercado, de 0,5% com viés de baixa, enquanto que aumentou o número de bancos e consultorias que preveem recessão ou estagnação. Isto é, as projeções privadas, que tem norte em 11,75%, imaginam uma retração maior do PIB do que o BC, que prevê um crescimento maior mantendo um aperto “mais contracionista”.
Entre ser “mais contracionista” e “deverá ser mais contracionista” da ata há a menção às expectativas inflacionárias, que terão de voltar a estar alinhadas com as da autoridade monetária. Este tom mais duro cumpre a função de agir sobre elas, ao mostrar a intenção do BC de que fará o que for preciso para trazer a inflação de volta à meta. A comunicação do BC teve que ser feita sem rodeios, não só porque a inflação passou dos dois dígitos, mas também porque sua credibilidade está em jogo, com mais críticas de que o banco teria ficado muito “atrás da curva”.
O BC cortou caminho aumentando várias vezes o ritmo de alta, de 0,75 ponto para 1 ponto e depois, 1,5 ponto percentual, com objetivos diferentes – dos suaves forward guidance e “normalização parcial”, à normalização total, depois juro no terreno contracionista e significativamente contracionista, até o estágio atual.
Ao acrescentar a reancoragem, o BC terá de vencer a batalha das expectativas, expressas, entre outras, no Focus. Como esse trabalho é demorado, é possível que o BC tenha de passar do compromisso verbal à ação – mas talvez não. A inflação ainda estará perto dos dois dígitos em fevereiro (9,9% pelo relatório) e em 8,2% ainda no segundo trimestre. São grandes as incertezas em ano eleitoral, com um governo que desdenha austeridade.