Hélio Schwartsman: Biologia eleitoral

O casamento entre Lula e Alckmin não seria uma 3ª via, mas talvez a 2,5ª

Uma aliança entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin já parece mais que um balão de ensaio. Eles se cortejam e a cópula desponta como uma possibilidade real.

No momento, eles fazem movimentos análogos ao da sinalização sexual biológica para reforçar suas posições. Lula posa como imbatível para tentar levar Alckmin para o posto de vice pagando o menor dote possível, isto é, sem o PT abrir mão de lançar candidato ao governo de São Paulo. O petista sugere que tem todas as condições de vencer já no primeiro turno e que o ex-governador paulista não agrega tantos votos assim. Não valeria o risco de afastar eleitores de esquerda que torcem o nariz para o agora ex-tucano.

Verdade, mas só em parte. Alckmin teve poucos votos como candidato a presidente em 2018 e deve ter menos ainda fora do PSDB. Tende a zero, porém, o risco de o eleitor de esquerda deixar de votar em Lula no ano que vem. Para tirar Bolsonaro, votaria até no cabo Daciolo.

O principal motivo para Lula querer Alckmin como vice é que tê-lo facilitaria a condução do governo. Lula sabe que tão ou mais difícil do que vencer o pleito será administrar o país em caso de vitória, em especial a economia.

Com o ex-tucano, o petista indicaria de forma crível para a sociedade (sinalização conspícua) que volta sem espírito de vingança e disposto a negociar com todos. Se os acertos entre os dois envolverem também nomes da equipe econômica, as resistências a Lula nas fileiras do empresariado podem ser significativamente reduzidas.

Se a aliança sair, será também mais uma ducha de água fria sobre os que depositam esperanças no surgimento de um candidato competitivo que não Lula nem Bolsonaro. É que um Lula já fazendo a composição com o centro político reduz ainda mais o espaço ecológico (outro conceito biológico) para nomes alternativos. O casamento entre Lula e Alckmin não seria uma 3ª via, mas talvez a 2,5ª. (Folha de S. Paulo – 17/12/2021)

Hélio Schwartsman, jornalista, foi editor de Opinião. É autor de “Pensando Bem…”

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