Bernardo Mello Franco: Bolsonaro transformou rachadinha em negócio de família

Os Bolsonaro transformaram a atividade parlamentar num negócio de família. Pai e filhos penduraram dezenas de assessores fantasmas em seus gabinetes. A turma fingia que trabalhava e repassava a maior parte dos salários ao clã.

O Ministério Público já havia comprovado os desvios no escritório de Flávio Bolsonaro, denunciado por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Agora uma nova gravação situa o presidente no topo do esquema.

Andrea Siqueira Valle passou duas décadas como funcionária de Jair Bolsonaro na Câmara. Em áudio revelado pelo UOL, ela admite que participava da “rachadinha”. Ficava com 10% do salário e devolvia o resto ao então deputado.

A fisiculturista é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda mulher do capitão e mãe do jovem lobista Jair Renan. Durante o casamento, ela comprou 14 imóveis, parte deles em dinheiro vivo.

A ex-cunhada conta que Bolsonaro comandava a arrecadação clandestina e chegou a demitir um de seus irmãos. O rapaz também recebia sem trabalhar, mas não devolvia a quantia combinada. “Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’’’, diz Andrea.

A gravação ainda acrescenta um novo personagem à trama: o coronel Guilherme Hudson, colega do presidente na Academia Militar. Segundo a fisiculturista, ele era um dublê do ex-PM Fabrício Queiroz. Levava os fantasmas ao caixa eletrônico e recolhia as contribuições em espécie.

Esta não é a primeira vez que Bolsonaro aparece como beneficiário da rachadinha. O MP já havia descoberto que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama. O procurador Augusto Aras não quis investigar o caso, e o Supremo decidiu arquivá-lo nesta semana.

A inconfidência da ex-cunhada também deve empacar na Justiça, já que o presidente não pode ser processado por crimes anteriores ao mandato. Mas tem potencial para danificar ainda mais a imagem do “Mito”, que passou a ser chamado de corrupto nos atos pró-impeachment.

Eleito com discurso moralista, Bolsonaro ensinou aos filhos uma das fórmulas mais rasteiras de embolsar dinheiro público. O escândalo das vacinas sugere que ele só demorou a se envolver em rolos maiores por falta de oportunidade. (O Globo – 07/07/2021)

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