Alessandro Vieira: CPI tem que investigar tentativa de incriminação de Luís Miranda

Senador diz que governo retardou a compra de vacinas de multinacionais sérias, como Pfizer e Janssen, e aceitou negociar com a Davati, por meio do cabo Dominguetti, e a Precisa, de Francisco Maximiano (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

O líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (SE) demonstrou durante depoimento da CPI da Pandemia, nesta quinta-feira (01), que o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que fazia “bico” como vendedor de vacinas, cometeu falso testemunho à comissão, apresentando, sem nenhum contexto com o depoimento, um áudio atribuído ao deputado federal Luís Miranda (DEM-DF), insinuando que a testemunha-chave do colegiado tentara negociar aquisição de doses da vacina da Astrazeneca, diretamente com a Davati Medical Supply.

Alessandro Vieira mostrou, com base nas atas em atas cartoriais, que Dominguetti, que se apresenta como representante da Davati, tentou propositadamente desmoralizar o deputado, e seu irmão – o também denunciante Luís Ricardo Miranda, servidor de carreira do Ministério da Saúde -, que nem é citado.

“Aqui não é lugar para brincadeira. Isso aqui não é lugar pra moleque, pra molecagem. Para tentar fazer alguma forma de interferência na investigação, que trata de meio milhão de brasileiros que morreram”, afirmou, de forma veemente, o senador.

No áudio apresentado por Dominguetti – supostamente enviado por Cristiano Alberto Carvalho, seu superior na Davati -, Miranda parecia negociar a compra de vacinas. A troca de mensagens, e o áudio, no entanto, ocorreram há dez meses e tratavam de aquisição de luvas. Em nenhum momento o áudio cita palavra vacina nem sinônimo.

“Foi uma contextualização gravíssima”, afirmou Alessandro Vieira, que chegou a lembrar a Operação Uruguai — a derradeira tentativa de Fernando Collor para se livrar do impeachment.

Enquanto ocorria o depoimento, o deputado Luís Miranda apresentou em cartório todo o conteúdo dos diálogos, áudios, prints e conversas que teve, em setembro de 2020, falando da compra de luvas para clientes nos Estados Unidos.

“O senhor tem noção da gravidade do que está fazendo?”, perguntou o senador.

“O senhor se deu o trabalho de inserir o irmão do deputado nessa mesma teoria, nessa mesma tese. O senhor certamente é a única pessoa nesse País que ouviu o áudio [de Miranda] e conseguiu ouvir uma referência ao irmão do deputado”, frisou o senador.

Dominguetti disse que foi o seu “entendimento individual do áudio”, que recebeu no mesmo dia do depoimento dos irmãos Miranda, na CPI, no dia 28 de maio. Cristiano Carvalho negou ter enviado o áudio.

‘Testemunha plantada’

Os senadores suspeitam que Dominguetti tenha sido uma “testemunha plantada” como forma de desqualificar uma das principais linhas de investigação da CPI e tirar foco do líder do governo e deputado Ricardo Barros (PP-PR), acusado de ser o chefe do esquema no Ministério da Saúde.

A avaliação é de que a desqualificação Miranda neste momento protegeria o Palácio do Planalto de acusações de omissão e prevaricação diante de suspeitas graves de corrupção na compra de vacinas contra a Covid-19. Com sua intervenção, Alessandro Vieira defendeu a CPI de uma tentativa de ataque e evitou o desvio do seu foco.

Pedido de prisão

A CPI apreendeu o celular de Dominguetti e por pouco ele não recebeu voz de prisão durante o depoimento. Alessandro Vieira chegou a pedir a prisão em flagrante do depoente – negada, no entanto, pelo presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), que não descartou fazê-lo em outro momento. Aziz também concordou em marcar uma acareação entre o depoente, Cristiano Alberto Carvalho e Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde. Dias é acusado de envolvimento no esquema.

Entrevista à Folha

Luiz Paulo Dominguetti disse, em entrevista ao jornal ‘Folha de S.Paulo’, que em fevereiro, em um jantar em Brasília, o então diretor de Logística do ministério, Roberto Dias, pediu propina de US$ 1 por dose de vacina para a empresa assinar contrato com o ministério. A negociação, segundo a reportagem, envolveria 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. Estava presente, ainda, o tenente-coronel Marcelo Blanco, assessor do ministério – também demitido posteriormente – e um outro oficial. Dominguetti também afirmou que se encontrou com o então secretário-executivo da pasta, coronel Elcio Franco Filho, e disse que o militar iria “validar” o negócio.

O depoente admitiu ao senador que quem o introduziu no Ministério da Saúde foi coronel Blanco – apresentado a ele por um amigo comum, a quem se referiu como Odilon – que já fizera negócios com a pasta. A CPI descobriu que Blanco tinha aberto uma empresa, a Valorem Consultoria em Gestão.

“Como é que se imaginou que essa seria uma negociação séria?”, perguntou Alessandro Vieira, lembrando que “nós temos um presidente da República que não é capaz de desmentir a denúncia”.

Motivação de Dominguetti

O senador, que é delegado da Polícia Civil de Sergipe há 20 anos, afirmou que, se ainda precisa ser melhor esclarecida a motivação de Dominguetti em incriminar Miranda, existem outras certezas.

“A gente não tem dúvida mais que o governo retardou, não quis negociar, protelou a compra de vacinas de fornecedores como a Pfizer, a Janssen, o Butantã”, afirmou o senador.

Ele lembrou que se o Brasil tivesse se portado como a média mundial, fazendo o que os outros países fizeram, o País teria salvo a vida de mais de 300 mil brasileiros.

“O mesmo governo, que retardou a compra de vacinas multinacionais sérias, aceitou negociar com coisas como a Davati, por meio do cabo Dominguetti, e a Precisa n[ deFrancisco Maximiano]”, disse Alessandro Vieira. (Assessoria do parlamentar)

Alessandro Vieira quer na CPI representante de empresa que relatou pedido de propina para compra de vacina

Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da Davati, afirmou ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose do imunizante da AstraZena em troca de fechar contrato com o Ministério da Saúde (Foto: Reprodução/Agência Senado)

O líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (SE) apresentou pedido de convocação do representante da empresa Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que relatou ao jornal ‘Folha de S. Paulo’ ter recebido um pedido de propina para venda de vacinas. Para o senador, a denúncia é gravíssima e que precisa ser apurada.

“Brasileiros morrendo de Covid e bandidos atrás de vantagens ilícitas. Precisamos apurar tudo. A CPI segue avançando”, afirmou o senador na rede social.

Segundo reportagem do jornal, Dominguetti Pereira afirmou que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose em troca de fechar contrato com o Ministério da Saúde. A proposta teria partido do diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, durante um jantar no dia 25 de fevereiro.

Roberto Dias foi indicado ao cargo pelo líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Sua nomeação ocorreu em 8 de janeiro de 2019, na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM).

A empresa Davati buscou a pasta para negociar 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca com uma proposta de US$ 3,5 por unidade, e depois disso passou o valor passou a US$ 15,5.

Sessão secreta

O senador Alessandro Vieira também protocolou requerimento pedindo uma sessão secreta como deputado federal Luís Eduardo Miranda (DEM-DF). Ele relatou à revista Crusoé que,  em  reunião  realizada com  o  líder  Ricardo  Barros  e  Silvio  Assis, conhecido  lobista  de  Brasília,  teria  recebido  oferta  de  propina  para  não  criar obstáculos  aos  negócios  da  Covaxin. (Assessoria do parlamentar)