Bolívar Lamounier divulga mensagem às forças armadas do Brasil

O sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier (Cidadania-SP) divulgou neste sábado (12) uma mensagem aberta às Forças Armadas do Brasil, na qual critica as atitudes recorrentes do presidente Jair Bolsonaro que, em meio a uma pandemia que já matou quase 500 mil pessoas, age para desestabilizar a democracia no país. Lamounier parte da motociata promovida hoje, classificada por ele de “arruaça”, para alertar para o risco de convulsão social, que seria uma das etapas da escalada autoritária de interesse do presidente.

“Da convulsão, como sabemos, passa-se facilmente a conflitos de envergadura crescente, ao recurso a armas por parte tanto de militares como de civis. No limite – e queira Deus que não esteja ainda à vista – o espectro da guerra civil e de abalos na integridade federativa e territorial de nossa Pátria. Senhores Oficiais: O Brasil é um país cheio de problemas, mas não é uma república bananeira”, argumenta. “Nunca fomos e jamais seremos uma republiqueta. Somos um país orgulhoso de sua História e uma Nação orgulhosa de sua identidade”, completa.

O sociólogo ainda pede que os militares e as demais instituições dêem um basta ao projeto golpista de Bolsonaro. “Vossas Excelências, o Legislativo, o Judiciário e todos nós, cidadãos, precisamos estar atentos aos desmandos que se sucedem, mantendo-nos preparados para detê-los antes que seja tarde demais.Cada nova arruaça que o Sr. Bolsonaro e seus fanáticos perpetrarem precisa receber a única resposta cabível: Parem”, defende.

Leia abaixo:

MENSAGEM ABERTA ÀS FORÇAS ARMADAS DO BRASIL

Excelentíssimos Senhores Oficiais-Generais da Marinha, do Exército e da Aeronáutica

Dirijo-me respeitosamente a Vossas Excelências para expressar as preocupações de um cidadão com o quadro político que, dia após dia, se vem delineando em nosso país.

Indo direto ao ponto, hoje, 12 de junho de 2021, em São Paulo, assistimos perplexos a mais uma arruaça encenada pelo Exmo. Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.

Não me parece necessário, mas permito-me ressaltar que tais manifestações vão do grotesco ao extremamente arriscado, violando de maneira flagrante as disposições constitucionais e as expectativas que balizam o processo sucessório e o exercício do poder presidencial.

O que, inicialmente, podia ser denominado um “estelionato eleitoral” vem rapidamente se convertendo em algo muito mais grave. Os brasileiros não podem se enganar ou ser enganados. O plano posto em prática pelo Sr. Bolsonaro não permite outra interpretação. Começou pela desestabilização das instituições, pouco lhe importando, ao que tudo indica, o fato de estarmos atravessando uma pandemia que já ceifou a vida de quase quinhentos mil brasileiros. Prosseguiu pelas já mencionadas arruaças, cujo objetivo é, evidentemente, formar aglomerações e suscitar oportunidades de convulsão social. Da convulsão, como sabemos, passa-se facilmente a conflitos de envergadura crescente, ao recurso a armas por parte tanto de militares como de civis. No limite – e queira Deus que não esteja ainda à vista – o espectro da guerra civil e de abalos na integridade federativa e territorial de nossa Pátria.

Senhores Oficiais:
O Brasil é um país cheio de problemas, mas não é uma república bananeira. Nunca fomos e jamais seremos uma republiqueta. Somos um país orgulhoso de sua História e uma Nação orgulhosa de sua identidade.

Vossas Excelências, o Legislativo, o Judiciário e todos nós, cidadãos, precisamos estar atentos aos desmandos que se sucedem, mantendo-nos preparados para detê-los antes que seja tarde demais.

Cada nova arruaça que o Sr. Bolsonaro e seus fanáticos perpetrarem precisa receber a única resposta cabível: Parem. O padrão de conduta que os senhores tentam difundir nada tem a ver com os anseios e ideais dos brasileiros.

Polarização política estúpida e desordens induzidas de cima para baixo: não é disso que precisamos. Isso não é o Brasil. Precisamos, isto sim, de superar a estagnação econômica para a qual fomos arrastados há cerca de vinte anos. De educar os milhões de analfabetos funcionais que compõem a maioria de nossa população. De recuperar a seriedade e a legitimidade das instituições políticas. De deter a marcha ascendente do crime organizado. De estimular na juventude o gosto pelo estudo, a motivação para o trabalho e uma repulsa contínua e enérgica ao populismo. De recuperar o respeito internacional por nosso país.

São Paulo, 12.06.21
Bolívar Lamounier
Cidadão

Freire: salvo-conduto do Exército a Pazuello fortalece escalada golpista de Bolsonaro

Presidente do Cidadania cobra impessoalizaras e articulação de todas as forças de oposição, sem exceção, em torno de candidato único em 2022

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, alertou nesta quinta-feira (3) que a decisão do Alto Comando do Exército de não punir o general Eduardo Pazuello, que participou de uma manifestação política ao lado de Jair Bolsonaro, fortalece a escalada golpista do presidente. Na avaliação de Freire, o Exército optou por contemporizar, contrariando frontalmente o Estatuto dos Militares, mesmo sob risco de instalar a anarquia nas Forças Armadas, o que desperta grande preocupação sobre a estabilidade democrática do país.

“O Alto Comando subordinou-se à extrema-direita e à degradação institucional imposta por Bolsonaro, que avançou em sua escalada golpista. A solução que encontraram pra superar a crise Pazuello abre as portas para a indisciplina e a politização das Forças Armadas. Tem graves implicações para o momento e para as eleições de 2022. Esse cenário impõe duas ações a todas as forças democráticas, sem qualquer exceção: lutar pelo impeachment e unir-se em torno de um único candidato no ano que vem. O golpismo subiu de patamar, não pode haver exceção nessa unidade”, argumenta.

Ele cobra que as conversas sobre o pleito do ano que vem sejam feitas agora também em novo patamar. Se necessário for, até mesmo com a escolha de outra liderança ainda não posta no cenário que viabilize tanto eleições livres quanto a vitória. O ex-deputado lembra o exemplo do marechal Henrique Teixeira Lott, então ministro da Guerra, que desarticulou um golpe em 1955 e garantiu a posse do presidente eleito Juscelino Kubitscheck.

“Como hoje não temos nas Forças Armadas um ministro como ele para deter a escalada golpista, quem sabe tenhamos de encontrar um novo Lott candidato a presidente para garantirmos as eleições de 2022. Pode parecer despropositado a alguns ou alarmista, mas também em 55 a articulação golpista vinha do Palácio do Planalto. Uma especulação que nasce do grave ato de subordinação do Exército à vontade de Bolsonaro, contrariando o próprio estatuto. Não acredito em bruxas, mas essa acabou de passar voando sobre Brasília”, sustenta.

O presidente do Cidadania aponta ainda os recentes episódios envolvendo a atuação de policiais militares extrapolando de suas funções, deixando duas pessoas cegas na manifestação de domingo em Pernambuco e prendendo um professor em Goiás, que circulava em um carro adesivado com a frase “Fora, Bolsonaro genocida”. “Cito apenas dois. Há vários outros. Se essa sucessão de episódios não nos servir de alerta, o que servirá?”, questiona.