Rita Lee é sinônimo de irreverência, rebeldia, coragem, vanguardismo, mas sobretudo sinônimo de alegria
Rita Lee escreveu um divertido auto obtuário, um meu seria menos divertido: “teve o privilégio de ser contemporâneo da Rita Lee, de quem recebeu parte das alegrias que viveu”. Não escolhemos o período de vida, nem o nascimento, nem a morte, por isto é sorte viver no mesmo tempo que pessoas como Chico Buarque, Sebastião Salgado, Pelé, Caetano Veloso e outros personagens. Cada um enriqueceu minha vida, mas Rita Lee foi certamente a contemporânea que mais encantou, mais provocou e mais alegria passou. Ela foi uma “ritaleegria” com suas composições e performances.
Muitos classificam sua música como rock, mas seu estilo merece o nome de rita, ritmo próprio, conforme o gosto do ouvinte. Para mim, diversas músicas dela são frevo, a música de minha origem. Ao ouvi-la, não se consegue ficar imune, tanto quanto ao ouvir um frevo. Deu um toque próprio e contemporâneo, ainda mais alegre, com a alegria que lhe caracterizava e que ela deixou em suas criações e desempenhos.
Rita Lee é sinônimo de irreverência, rebeldia, coragem, vanguardismo, mas sobretudo sinônimo de alegria.
O Brasil inteiro ficou menos alegre desde quando ela se afastou por causa da doença, ainda mais agora com seu falecimento. Ficam suas músicas e seus shows gravados. Mas já não teremos novas músicas, nem novos shows. A alegria fica disponível, mas não vai crescer como desejamos. É como se uma fábrica de alegria interrompesse definitivamente sua produção.
Uma fábrica chamada ritaleegria (Blog do Noblat/Metrópoles – 13/05/2023)
Cristovam Buarque foi senador, governador e ministro