Cristina Serra: Agro é golpe

A violência golpista vai muito além de manés dispostos a amolar por aí

A capital do golpismo no Brasil atende pelo singelo nome de Sorriso. Fica em Mato Grosso, tem 94 mil habitantes e orgulha-se de ser a capital nacional do agronegócio. As urnas de Sorriso deram 74,34% dos votos para o zumbi do Alvorada e 25,66% para Lula.

Conforme levantamento do UOL, são de Sorriso os donos de 24 das 43 contas bancárias bloqueadas por determinação do STF por suspeita de financiamento de atos golpistas. Alguns dos empresários também foram doadores da campanha bolsonarista.

Passados mais de vinte dias da vitória de Lula, tais atos afrontam a democracia e o Estado Democrático de Direito e podem ser enquadrados como terrorismo. Foi o que se viu no fim de semana, quando dez criminosos atacaram a tiros o posto da concessionária da BR-163, no Mato Grosso.

A violência golpista vai muito além de manés dispostos a amolar por aí. Há golpistas agindo dentro dos quartéis. O general André Luiz Ribeiro Campos Allão, comandante da 10ª Região Militar, em Fortaleza, disse a subordinados que protegerá as manifestações golpistas mesmo que receba ordem “de outros poderes no caminho contrário”. Um evidente desafio ao Judiciário.

Personagem do golpe de 2016, o ministro do TCU Augusto Nardes, tal e qual vivandeira alvoroçada, aparece em conversa de tom conspiratório no WhatsApp com o “time do agro”. O vice na chapa da erisipela ambulante, Braga Netto, foi flagrado no “QG do golpe”, em Brasília, recebendo políticos, militares e representantes do… agro. E Valdemar Costa Neto, claro, dá uma forcinha com mais uma lorota sobre fraude nas urnas.

Com esse caldo, os golpistas tentam fabricar uma crise para a transição e arrastá-la até o começo do governo Lula: como dissolver os protestos sem provocar instabilidade e desordem no país? Para que não tenham sucesso é preciso que as instituições saiam, com urgência, do modo “funcionando normalmente”. (Folha de S. Paulo – 22/11/2022)

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