MANCHETES DA CAPA
O Globo
STF vê ‘fatos gravíssimos’ e dá aval a investigação sobre ministro
Datafolha: Lula tem 43% e Bolsonaro, 26%
STJ autoriza reajuste por idade a planos de saúde coletivos
Chineses sob pressão – Plataformas digitais na mira
Investigação esvazia Cracolândia em SP, mas surgem novos ‘fluxos’
Rio apresenta ao STF plano vago contra violência
Retomada do turismo inspira debate hoje no Jockey Club
Ocidente adverte Rússia sobre arma químicas
Êxodo infantil, face cruel da guerra
O Estado de S. Paulo
STF autoriza investigação de ministro por propina no MEC
Propina com desconto de 50%
Altos salários e regalias na Petrobras atravessam governos
Disputa política bloqueia indicações a agências e órgãos reguladores
Tarcísio de Freitas acerta que vai se filiar ao Republicanos
Onda de assaltos assusta alunos do Largo de São Francisco
Rússia sofre mais sanções e Biden sugere expulsão do G-20
Folha de S. Paulo
Reprovação ao governo cai, e Bolsonaro reduz desvantagem
Competição afunila, e terceira via definha com ‘migalhas’ de intenção de voto pulverizadas
Ministro manteve repasses a pastores após denúncia à CGU
Desonerar diesel pode tirar R$ 16,6 bi da arrecadação
Empresas param a produção de máscaras no país
Telegram vira base para rede espalhar dados antivacina
Após 7 anos, andar de táxi fica mais caro em São Paulo
Fotógrafo Lalo de Almeida, da Folha, é premiado pelo Word Press Photo
Valor Econômico
Desalento ainda atinge 4,8 milhões de pessoas no país
STF autoriza investigação na Educação
G7 tenta impedir venda de reservas de ouro da Rússia
Além dos brinquedos
Brasil vai aderir a acordo sobre aviões e peças
PPPs atraem R$ 1,8 bi para iluminação
Bolsonaro mostra fôlego no Datafolha
O preço do luxo
EDITORIAIS
O Globo
Pesquisas não significam eleição definida
O Datafolha divulgado ontem revela uma oscilação nas intenções de voto, tanto em Bolsonaro quanto em Lula
A corrida eleitoral nem começou, mas, pelas análises das últimas pesquisas, parece que já está definida. Para a maioria, a única dúvida é se o presidente Jair Bolsonaro perderá para Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro ou no segundo turno. Uma minoria ainda acredita que Bolsonaro tem chance. Mas todos só enxergam essas duas possibilidades. É como se a polarização que viceja nas redes sociais tivesse posto antolhos no debate e deixado o país numa trilha inexorável, fechando os caminhos para a reflexão serena.
É um truísmo, mas não custa repetir: ninguém ganha eleição na véspera. A História não cansa de dar exemplos — em escala municipal, estadual ou federal — de candidatos no início desconhecidos que, no final, saem vitoriosos como resultado da argúcia política ou da capacidade de sintonizar o espírito do eleitorado. De Luiza Erundina a Alexandre Kalil, de Romeu Zema a Wilson Witzel, de Fernando Collor ao próprio Bolsonaro, todos eram dados como azarões — e todos venceram.
O Datafolha divulgado ontem revela uma oscilação nas intenções de voto, tanto em Bolsonaro quanto em Lula, com este ainda na frente daquele. Mas é ilusão acreditar que as preferências estejam consolidadas. Claro que a disputa entre os dois é o cenário mais provável. Mas não o único possível. Embora os números reforcem a percepção de que o jogo esteja definido, ainda estão contaminados pelo passado, e obviamente estão na frente os candidatos mais conhecidos do eleitor.
É verdade que o ambiente digital já antecipa o embate e que as articulações para os palanques regionais estão em curso, mas a população só se envolve para valer quando estreia a propaganda na televisão. Tudo ainda pode mudar — e nada é mais fatal na política do que a arrogância daqueles que julgam conhecer o futuro.
Para obter sucesso, é certo, qualquer candidatura alternativa precisaria superar obstáculos nada triviais. O primeiro — e mais óbvio — é o nome. Não existe na urna uma opção identificada como “terceira via”. Pelo menos quatro pré-candidatos almejam ocupar tal posto: o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), o governador João Doria (PSDB) e a senadora Simone Tebet (MDB). Há conversas entre os três últimos para que apenas um concorra, de modo a evitar a fragmentação do eleitorado. É um passo essencial, mas insuficiente.
O segundo obstáculo é mais desafiador: adotar uma estratégia consistente para chegar ao segundo turno. Bolsonaro venceu em 2018 graças ao êxito da campanha digital e já dedica esforços a repetir a dose. Não será fácil, contudo, superar a rejeição acumulada em três anos, sobretudo com a gestão desastrosa da pandemia. Lula, em contrapartida, tenta reunir um amplo arco de alianças para se apresentar como candidato anti-Bolsonaro. Atraiu até um rival histórico do PT, o ex-tucano Geraldo Alckmin. O espaço para candidaturas alternativas aos dois, embora estreito, também fica mais claro. Para chegar ao segundo turno, tal candidatura teria de convencer o eleitor de Bolsonaro de que tem mais chance de derrotar Lula. É uma missão dura, mas não intratável.
O final da semana que vem, quando se esgota o prazo para quem pretende concorrer deixar cargos no Executivo, é o primeiro marco no calendário eleitoral. As possibilidades se afunilam, mas é fundamental lembrar que o vencedor só é definido no dia da votação.
O Estado de S. Paulo
Isso também é corrupção
Bolsonaro repete que não há corrupção em seu governo, mas o escândalo do MEC é mais um caso, entre outros, de mau uso e de desvio de dinheiro público
Como uma espécie de contraponto às muitas e evidentes confusões, omissões e ineficiências de sua administração, Jair Bolsonaro gosta de dizer que, pelo menos, não há corrupção em seu governo. Nesta semana, voltou ao tema duas vezes, assegurando que zela pelo dinheiro público e gabando-se de que o País está “há três anos e três meses sem corrupção no governo federal”.
Parece claro que o presidente estava se referindo a escândalos como a roubalheira do petrolão e do mensalão, que marcaram os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff e que tanto ultrajaram os brasileiros. Mas a corrupção na administração pública não se caracteriza somente pelo assalto a estatais ou pela apropriação privada de dinheiro do contribuinte. Quando o governo permite que oportunistas interfiram na distribuição de verbas públicas para o atendimento de interesses particulares, sem qualquer transparência ou controle dos cidadãos, trata-se de degradação da administração pública – em português claro, é corrupção.
O escândalo do gabinete paralelo no Ministério da Educação (MEC), com evidências de tráfico de influência e direcionamento de verbas por parte de pastores evangélicos que não têm nenhum cargo no governo, é apenas o exemplo mais recente desse desvirtuamento da gestão do dinheiro público.
O governo Bolsonaro escarnece da inteligência alheia quando se apresenta como exemplo de lisura com o dinheiro público. Para começar, Jair Bolsonaro assumiu a Presidência carregando consigo graves suspeitas de rachadinha envolvendo sua família e até hoje não explicou as movimentações financeiras suspeitas, os cheques de assessores nas contas de familiares ou as compras de imóveis com dinheiro vivo. Para piorar, desde então, acumulam-se evidências de que Jair Bolsonaro pode ter usado o cargo para dificultar as investigações. Em vez de maior transparência, ao longo do governo só aumentou a opacidade sobre o tema.
No ano passado, a CPI da Pandemia revelou indícios graves de corrupção, no âmbito do Ministério da Saúde, envolvendo compra de vacinas, com negociações obscuras em um shopping center, acusações de pedido de propina e inexplicáveis sobrepreços. O governo federal simplesmente negou as suspeitas, sem apresentar nenhuma explicação à população. Essa informalidade, sem procedimentos de transparência e controle, é um dos ambientes mais férteis para a corrupção.
O caso do gabinete paralelo no Ministério da Educação repete esse padrão de informalidade, com graves suspeitas de corrupção e mau uso de dinheiro público. Tem até denúncia de pedido de propina em ouro. Mudam-se os Ministérios e os nomes dos envolvidos, mas as práticas continuam as mesmas: as suspeitas de corrupção não são levadas a sério, e o ministro segue no cargo como se tudo fosse absolutamente normal. Segundo revelou o Estadão, após receber denúncia de cobrança de propina envolvendo pastores, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, teve pelo menos sete reuniões com essas lideranças religiosas. Haja crença na doutrina da infalibilidade, agora aplicada a pastores.
Nada disso deveria surpreender num governo marcado pelo escândalo do orçamento secreto, em que, sem transparência, sem controle e sem critérios técnicos, recursos do Orçamento da União foram distribuídos a parlamentares dispostos a apoiar o governo em troca de verbas para seus redutos eleitorais.
Todos esses casos são muito graves, e sabe-se lá o que mais virá à tona. Como não foram os sistemas ordinários de controle do governo que os detectaram, é provável que o País continue dependendo da imprensa para descobrir aquilo que a corte bolsonarista gostaria de manter em sigilo.
A constatação de que não se sabe o que está sendo feito do dinheiro público deveria causar tanta indignação quanto descobrir, por exemplo, que empreiteiras amigas, beneficiárias do assalto à Petrobras durante os governos lulopetistas, reformaram um sítio frequentado pelo ex-presidente Lula. Há muitos outros modos de mal gastar e de desviar recursos públicos de suas finalidades originais, como mostram esses três anos e três meses de governo Bolsonaro.
Folha de S. Paulo
Distância menor
Datafolha mostra Bolsonaro mais perto de Lula, apesar de economia e desgoverno
A distância entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) diminuiu. É o resultado mais notável da pesquisa Datafolha sobre as intenções de voto para presidente. O mandatário também se aproximou de adversários que ainda o derrotam em um segundo turno.
O discreto avanço de Bolsonaro aparece na pesquisa de declaração de voto espontânea. Em dezembro de 2021, Lula tinha 32%, ante 30% agora; Bolsonaro, marcava 18% e subiu a 23%. A diferença entre os dois adversários caiu de 14 pontos para 7 —idêntica à que se registrava nos levantamentos de julho e de setembro do ano passado.
Na pesquisa estimulada, em que são apresentadas listas de candidatos ao entrevistado, Lula bate Bolsonaro por margem ainda considerável, 43% a 26%. Não é possível comparar as preferências de março com a da pesquisa anterior, pois o quadro de postulantes mudou.
Na pesquisa espontânea, o presidente avançou de modo similar nas categorias em que o Datafolha divide o eleitorado —renda, instrução, região, idade e sexo.
Ainda assim, na pesquisa estimulada tem mais adeptos entre homens (31%) do que mulheres (21%), menos entre eleitores com ensino fundamental ou renda inferior a dois salários mínimos (19%) ou do Nordeste (20%). Empata com Lula entre aqueles de renda de 2 a 5 salários mínimos e vence o petista no eleitorado de renda mais alta.
No segundo turno, o petista derrota o mandatário por 55% a 34%, ante o placar de 59% a 30% de dezembro. Bolsonaro ganhou 4 ou 5 pontos percentuais contra todos os seus adversários hipotéticos numa rodada final da disputa eleitoral. Todavia continua a ser rejeitado por maioria absoluta, de 55%.
É difícil explicar variações nas preferências do eleitorado, ainda mais aquelas pequenas em termos estatísticos. O presidente ganhou pontos remando contra a maré da precária situação socioeconômica.
A taxa de inflação anual continua na casa dos 10% anuais, e está viva a revolta com a alta dos combustíveis. A renda cai, pois os empregos criados pagam pouco e a carestia reduz o poder de compra.
Bolsonaro dedica-se de modo mais intenso à campanha eleitoral e política, atividade que domina seus dias desde a posse. Conta com o trunfo do novo Auxílio Brasil.
É possível ainda que tenha avançado nas intenções de voto porque no momento aparece com menos frequência no noticiário negativo, pois baixou o tom de suas declarações contra a democracia e a razão —como no caso de sua campanha infame contra as vacinas.
Seja qual for a explicação, o fato é que o candidato Bolsonaro sobrevive ao seu desgoverno.
Valor Econômico
Não há fim à vista para a tragédia ucraniana
Moderar Putin e por fim à tragédia ucraniana seriam proezas de um estadista
A Ucrânia está sendo reduzida a cinzas e, um mês após o início da invasão russa, nada indica que essa tragédia esteja próxima do fim. O poderio militar da Rússia é muito superior ao da Ucrânia e seus efetivos militares enviados equivalem, grosso modo, ao de todo o exército ucraniano. No entanto, a resistência galvanizada pelo presidente Volodymyr Zelenski e os erros militares da Rússia impedem uma resolução rápida do confronto, como esperava Putin. O tempo joga contra a Ucrânia e ainda que prejudique os planos de Putin, não passa por sua cabeça nada menos que uma vitória, em seus termos.
Apesar dos apelos diários de Zelensky, a Otan, única força que poderia deter Putin, não agirá em território ucraniano diante das ameaças do Kremlin de uma guerra nuclear. Ainda que recebendo armas, a Ucrânia não tem força aérea operacional, como mostra a inacreditável caravana de tanques russos em direção a Kiev, desde o início da invasão. Mas a resistência dos militares e civis armados tem produzido milagres de resistência diante de uma descomunal desproporção de forças.
Mariupol, cidade portuária no sudeste ucraniano, virou uma paisagem de escombros, sob fogo concentrado russo. As forças armadas da Rússia, como mostraram suas atuações na Síria, e mostram agora na Ucrânia, têm particular apreço por bombardear hospitais, maternidades, escolas e prédios civis, uma estratégia destinada a vencer pelo terror e sugestão de que não haverá compaixão pelos vencidos, se não entregarem as armas. É impossível saber o número de mortos até agora no conflito, de um lado e de outro. A contabilidade de pouco mais de 400 vítimas civis é tão pouco crível quanto a de 15 mil soldados russos. Não se sabe a verdade.
As negociações diplomáticas vivem um impasse. Putin quer mais avanços no terreno para impor suas demandas. As apresentadas por ele são pesadas para o governo ucraniano. Zelensky se conforma com a neutralidade ucraniana (não adesão à Otan), a carta mais barata, ainda que signifique a usurpação de sua independência manu militari. A Rússia, porém, tem a intenção de anexar a região do Donbas, a sudeste, possivelmente estendendo o território rebelde até a Crimeia, anexada em 2014.
Mesmo que mais lentamente, as tropas russas progridem rumo a Kiev. Há poucas chances de se evitar um desfecho ainda mais sangrento e devastador do conflito. As sanções econômicas, com o isolamento da Rússia do sistema financeiro internacional e o sequestro de suas reservas, podem ser eficazes, mas seu tempo é diferente do tempo da guerra. Uma das premissas das sanções é tornar o preço da invasão russa tão grande que novas aventuras de Putin sejam para sempre desencorajadas. Mas não mudarão de imediato o jogo no campo de batalha, que favorece a Rússia.
O cerco financeiro e comercial mergulhará a economia russa em profunda depressão, mas na ausência de oposição com capacidade de dividir as elites russas e tornar a queda de Putin factível, o autocrata não mudará seus planos. Talvez a única pessoa com força suficiente para demovê-lo pacificamente seja Xi Jinping, o presidente da China, mas é impossível saber o que ele pensa ou fará.
A China tornou-se aliado vital para a Rússia, da qual ela dependerá para escoar mercadorias que estão sendo barradas por Europa e EUA, obter divisas e se manter à tona diante do severo bloqueio financeiro. Xi aceitou o argumento russo, da provocação da Otan, para justificar a invasão – na prática, quer enfraquecer os EUA. Mas isso lhe traz enormes problemas geopolíticos. A União Europeia rompeu laços com a Rússia, mas era considerada por Pequim potencial aliada por suas divergências com os EUA. Se a invasão da Ucrânia pôs Putin nos braços de Xi, solidificou entendimentos que iam mal entre americanos e europeus.
Alienar seu maior parceiro comercial para obter “parceria ilimitada” de uma potência decadente como a Rússia não parece ser bom negócio. A ação russa acentuou uma tendência latente de reconfiguração das cadeias de produção globais, que prejudica China, Rússia e todo o comércio internacional – um revés para a globalização como ocorreu até agora.
Xi Jinping, à frente da segunda maior economia do mundo, será testado como líder de um dos três blocos a que a invasão russa reforçou o desenho. O momento é ruim para ele, às vésperas de confirmar seu poder com um terceiro mandato, inexistente desde Deng Xiaoping. Moderar Putin e por fim à tragédia ucraniana seriam proezas de um estadista. Grandes gestos, porém, não vieram até agora, e talvez não venham.