MANCHETES DA CAPA
O Globo
Rússia mantém ataques, mas faz aceno diplomático
Otimismo leva a quedas do dólar e do petróleo
Com paixão e improviso, milícias buscam resistir
PSB desiste de federação com o PT
Caetano canta contra o garimpo em reservas
Memórias de um conflito retratado na tela
Farmácias já encomendaram 5,65 milhões de autotestes
Prefeitura suspende contrato de empresa de reboque
Destroços de navio histórico são encontrados na Antártida
Conservador vence eleição presidencial na Coreia do Sul
O Estado de S. Paulo
SP dispensa máscara ao ar livre e avalia liberação total em 15 dias
Rússia diz que já não exige deposição de presidente ucraniano
Ataque russo destrói maternidade
Usina de Chernobyl está em situação crítica, diz Ucrânia
Mercado vê inflação a 7% e Selic podendo chegar a 14%
O pecuarista com livre acesso ao Planalto e recursos
Congresso desafia STF e mantém autores de emendas em sigilo
STF rejeita pedido e mantém punições na lei da Ficha Limpa
107 anos após naufrágio, um navio inteiro
Folha de S. Paulo
SP deixa de exigir máscara ao ar livre, medida inclui escolas
Ucrânia acusa Rússia de atacar maternidade
Postos de controle barram imprensa perto de Kiev
Regra de concessão de rodovias mudará com alta do petróleo
PT, PCdoB e PV decidem formar federação sem PSB
Caetano encabeça protesto contra debacle ambiental
Votação de projetos sobre combustíveis é adiada pela 3ª vez
Pacheco desiste de concorrer à Presidência
Globo boicota russos e para de exportar novelas
Valor Econômico
Fertilizante dispara, eleva custo e pressiona inflação
Governo cogita MP para subsídio aos combustíveis
Mercados veem distensão e têm reação positiva
Violência cresce na véspera de nova negociação
Mercado Livre é alvo de hackers
Cenário global muda, mas não destrava acordo UE-Mercosul
Pacheco desiste de candidatura à Presidência
EDITORIAIS
O Globo
País tem de aumentar cobertura das vacinas do calendário infantil
No Brasil, o último caso da doença foi registrado em 1989
A confirmação de um caso de poliomielite num menino de 4 anos em Israel, onde há 30 anos não havia registro da doença, soou os alarmes nos sistemas de saúde do mundo todo. Segundo autoridades israelenses, ele não estava vacinado. A origem do vírus ainda está em investigação. A pólio permanece como doença endêmica apenas na Nigéria, no Paquistão e no Afeganistão. Recentemente foi reportado um surto no Malaui, provocado por uma cepa paquistanesa.
No Brasil, o último caso da doença foi registrado em 1989. O país recebeu o certificado da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) atestando estar livre da doença em 1994. Foi espetacular o esforço brasileiro que levou à erradicação da pólio, simbolizado no popular Zé Gotinha. Nossas campanhas de vacinação se tornaram referência mundial. Atendendo a uma sugestão do próprio Albert Sabin, que desenvolveu a vacina contra a pólio, o Brasil foi o primeiro país a criar um Dia Nacional de Vacinação. Sabin esteve várias vezes por aqui e contribuiu enormemente para a erradicação da doença.
Nos últimos anos, contudo, essa trajetória bem-sucedida mudou. Os índices de vacinação despencaram e hoje não inspiram confiança. Em 2015, a cobertura contra a pólio era de 98%. Em 2020, já durante a pandemia de Covid-19, caiu para 76%. No ano passado, foi para 68%. Considerando o ciclo completo, com reforços, era de apenas 52,5%. Desdobrados em regiões, os indicadores são ainda mais dramáticos. No Norte e no Nordeste estão, respectivamente, em 42% e 44%.
Índices frustrantes não se restringem à pólio. Estão em queda para doenças que só foram controladas com a vacinação em massa. A pandemia contribuiu, mas não é o único fator. A queda já vinha ocorrendo antes. Entre as causas estão as campanhas de desinformação, problemas de acesso aos postos, horário restrito, ausência de publicidade e a situação conhecida como “hesitação vacinal” (vacinas estão disponíveis, mas há a falsa sensação de segurança pela quase erradicação da doença).
O sarampo, altamente contagioso, é o caso exemplar. Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de erradicação conferido pela Opas. Mas o descuido com a vacinação fez com que o mal retornasse. Apenas dois anos depois, um surto em estados do Norte voltou a provocar mortes, situação inadmissível, já que não faltam vacinas. Não demorou para que o surto, importado da Venezuela, se espalhasse por outras regiões. Hoje o sarampo se tornou novamente uma preocupação de saúde pública.
É fundamental ampliar a cobertura vacinal no país. A pandemia não serve mais de desculpa, pois está em queda em praticamente todos os estados. Com o avanço da vacinação — quase 75% dos brasileiros estão com o esquema completo —, o movimento nos postos caiu drasticamente. Podem-se aproveitar a estrutura montada (e bem-sucedida) no combate à Covid-19 e a mobilização notável da sociedade para alavancar a vacinação contra outras doenças. Para isso, o Ministério da Saúde precisa se mexer.
O Estado de S. Paulo
Vitória da cidadania e do bom senso
Liberação das máscaras só foi possível porque a maioria da população aderiu às medidas sanitárias, a despeito da sabotagem de Bolsonaro
Premidos pela emergência da pandemia de covid-19, os brasileiros tiveram de se adaptar muito rapidamente a uma nova forma de vida em sociedade. Além de ter de repensar os cuidados pessoais diante da ameaça de um vírus que causou a morte de mais de 650 mil pessoas no País, cada um precisou dedicar especial atenção à saúde de seus concidadãos. Manter distância uns dos outros, atitude desafeita à própria natureza gregária do nosso povo, que impôs tantas restrições, foi uma das muitas medidas necessárias para frear a disseminação da doença que exigiram disciplina e espírito público. Mas nenhuma dessas medidas representou tão bem esse zelo a um só tempo individual e coletivo como a adesão da maioria dos cidadãos ao uso das máscaras. Nenhum objeto simbolizou essa tragédia – e, por outro lado, a responsabilidade individual e a união de todos que o momento grave exigia – como as máscaras.
Dois anos depois, graças a esse esforço coletivo, e em particular à confiança dos brasileiros nas vacinas, o uso da proteção facial começa a deixar de ser obrigatório em algumas cidades do País. Trata-se de uma sinalização inequívoca de que, se ainda não é possível declarar o fim da pandemia no País, se atingiu um patamar em que sua fase mais mortal, desde que mantida a prudência, pode ter ficado para trás.
O Rio de Janeiro foi a primeira capital a desobrigar o uso das máscaras tanto em ambientes abertos como fechados. Os Estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Maranhão e o Distrito Federal também já tornaram facultativo o uso da proteção facial ao ar livre.
Ontem, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou que em todo o Estado o uso de máscaras deixou de ser obrigatório em áreas abertas de shoppings, praias, parques e calçadas. A proteção facial também deixou de ser obrigatória para alunos, professores e funcionários nas áreas externas das escolas. Não há data para a liberação em ambientes fechados, como no Rio, mas, tendo em vista a queda consistente dos casos e mortes decorrentes de covid-19 e o avanço da vacinação infantil em São Paulo, não deve tardar para que os paulistas que assim desejarem também deixem as máscaras de lado em quaisquer ambientes nos quais se sintam seguros.
É importante frisar que a decisão de desobrigar o uso de máscaras está embasada em parecer do comitê científico que assessora o governo de São Paulo. Vale dizer, os cidadãos que se sentirem à vontade podem deixar de usá-las nos espaços apropriados sabendo que a liberação decorre de análises com base em dados científicos. Por outro lado, é altamente recomendável que indivíduos que tenham o sistema imunológico comprometido não deixem de usar a proteção facial em todas as situações. Por razões óbvias, os indivíduos que ainda não completaram o ciclo vacinal e aqueles que apresentam sintomas gripais também devem continuar usando máscara. E também se deve respeitar, é evidente, a vontade de todos os que, independentemente de sua condição, queiram continuar se protegendo.
A liberação do uso das máscaras é o passo mais significativo na direção de uma certa normalidade. Isso só foi possível porque, ao fim e ao cabo, prevaleceu a adesão da esmagadora maioria da população às medidas preconizadas pelas autoridades sanitárias, em especial à vacinação, a despeito da sórdida e incessante campanha do presidente Jair Bolsonaro contra toda e qualquer ação em prol da saúde pública. Por todos os seus desatinos na condução do Brasil durante esse período trevoso, Bolsonaro tem lugar garantido na história como a personificação de um segundo mal que se abateu sobre os brasileiros, além do coronavírus. Quando não foi omisso, o presidente se notabilizou por ações deliberadamente contrárias ao interesse público.
Malgrado a ignorância do presidente e de seus devotos mais fanáticos, prevaleceram o instinto de autoproteção e o espírito público da maioria de seus governados, seja agindo com prudência nos limites de sua responsabilidade, seja pressionando administradores públicos a agirem corretamente nessa crise. Só por isso, e nada mais, hoje é possível vislumbrar dias melhores no futuro próximo.
Folha de S. Paulo
Tremor global
Sanção dos EUA ao petróleo da Rússia eleva os riscos de recessão com inflação
Com forte apoio entre republicanos e democratas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, proibiu importações de petróleo e derivados da Rússia, em mais uma escalada nas sanções econômicas em represália à invasão da Ucrânia.
A restrição, a primeira a atingir o setor de energia, levou as cotações do barril a quase US$ 130 —o que se configura grave, mas ainda não catastrófico, na medida em que as importações americanas não são significativas. Nesta quarta (9), viu-se queda do preço com melhora de expectativas dos investidores.
Para o Brasil fica mais difícil, política e economicamente, manter intacta a prática de repassar aos consumidores domésticos as variações internacionais. De todo modo, um choque mais grave, que praticamente asseguraria uma recessão mundial, depende de um embargo europeu que ainda não se vê.
A relutância da União Europeia em seguir o mesmo caminho decorre de sua dependência. Cerca de 40% dos combustíveis fósseis consumidos no continente vêm da Rússia, e essa fonte não pode ser substituída rapidamente.
Os estragos, de todo modo, já são significativos e se alastram para outras matérias-primas. Com peso de 3% na economia mundial, a Rússia responde por parcelas bem mais elevadas da produção e do comércio internacional de energia, metais e alguns alimentos, não raro ultrapassando 15%.
Na prática, as sanções acabam por segmentar os mercados que antes funcionavam quase sem discriminar a origem dos produtos, mesmo que as proibições legais ainda não os atinjam diretamente.
Isso ocorre porque participantes da cadeia produtiva —operadores logísticos, empresas comercializadoras, bancos, entre outros —recusam-se a transacionar com russos.
Talvez a maior novidade da situação atual nem sejam as draconianas sanções, mas a inédita conduta das empresas privadas ocidentais, pressionadas pela opinião pública e temerosas de riscos legais.
As consequências dessa segmentação do mercado também abalam as economias do Ocidente, num efeito bumerangue.
Assim, começa a subir a desconfiança e a cair a oferta de crédito, normalmente um prenúncio de problemas financeiros maiores, num momento em que a economia mundial já sofre os efeitos da inflação e se aproxima o momento da subida dos juros nos EUA.
O choque das matérias-primas torna o cenário mais complexo. No caso dos bancos centrais não será fácil navegar entre a pressão inflacionária, de um lado, e o risco de recessão magnificado, de outro.
A continuidade da guerra, com mais brutalidade e vítimas civis, deverá manter a escalada de novas sanções e impactos econômicos.
Valor Econômico
Janela partidária dá mais força a Centrão nas eleições
Enfraquecimento do Executivo e maior autonomia do Centrão, que com bancadas crescentes, comanda o Legislativo, é desafio para próximo presidente
A janela para a troca de partidos está aberta até o dia 1 de abril e o que conta, como sempre, é a busca do dinheiro para a disputa das eleições deste ano. O fundo eleitoral mais que dobrou, para R$ 4,9 bilhões, e não por outro motivo as bancadas que mais devem crescer são as dos partidos do Centrão, que terão o maior quinhão dos recursos. O fundo é distribuído levando em conta as bancadas eleitas em 2018 e não as hoje atuantes na Câmara dos Deputados.
Seja quem for o próximo presidente da República, terá de se entender com um bloco de centro fisiológico reforçado em número de parlamentares e com muito mais poder decisório sobre o Orçamento, como se comprova neste ano em que os recursos das emendas somam R$ 33,5 bilhões, ou um terço das despesas discricionárias da União.
O presidente eleito tende a atrair a adesão do bloco centrista, mas sob compromissos de repartição do poder que podem se revelar paralisantes, a depender da margem de vitória e de sua capacidade de formar alianças, habilidade obrigatória desprezada pelo presidente Jair Bolsonaro, com as consequências que se conhece. À repulsa de formação de um bloco de apoio no Congresso seguiu-se a dependência absoluta do Centrão, que ocupa a Casa Civil e a Secretaria de Governo, além de ter palavra decisiva nas mudanças orçamentárias.
PP, PL, agora partido de Bolsonaro, PSD, de Kassab, Republicanos e PSL, que se fundiu com o DEM, tiveram as maiores bancadas saídas do pleito de 2018, logo disporão das maiores somas de recursos na próxima disputa eleitoral. Como o poder da cúpula partidária é determinante na distribuição do dinheiro e o próprio aumento desmesurado do fundo eleitoral trará o encarecimento das campanhas, os atuais detentores de mandato terão a prioridade de recursos na disputa eleitoral.
Além disso, o fim das coligações partidárias em pleitos proporcionais, uma das mudanças na legislação que podem de fato reduzir o número de partidos de fantasia que circulam pelo Congresso, reduzirá o número de candidatos lançados pelos partidos ao número de vagas em disputa, mais uma. A saber, será preciso apostar nos mais aptos a vencer, situação em que os atuais deputados têm vantagem natural. Por tudo isso, é possível que a renovação na Câmara, grande com a onda direitista que elegeu Bolsonaro, seja menor nas próximas eleições.
Mais recursos em poder do Centrão quase certamente trarão o aumento das futuras bancadas dos partidos que hoje formam o coração da aliança governista, o PP e o PL, mais Republicanos e PSD de Kassab. É preocupante que a polarização entre Bolsonaro e PT tenha enfraquecido substancialmente um dos polos, o dos partidos nos quais ainda se pode discernir alguma ideologia e objetivos programáticos. A tendência vem se consolidando desde as eleições municipais de 2016.
O PSDB, que no poder fulminou a inflação com o Plano Real, vegeta hoje em uma crise que pode ser terminal. Os veteranos da cúpula, desalojados pelas novas forças mais à direita, pregam abertamente contra o vencedor das prévias, João Doria, e defendem que o partido não lance um candidato presidencial próprio, algo inédito na história da legenda. Dividido, o PSDB perdeu força como possível aglutinador de uma hipotética terceira via, verá sua bancada emagrecer na janela de trocas partidárias e possivelmente, também na próxima quadra legislativa.
O PSB busca aliança ou federação com o PT, que não abre mão da disputa para governador de São Paulo – há divergência sobre postulações em outros Estados. A federação daria ao PT o comando de bloco importante na Câmara – os federados são obrigados a votarem juntos nos próximos 4 anos -, mas tolheria o PSB, a menos que a compensação fosse o comando do Palácio dos Bandeirantes, em cuja disputa os candidatos dos dois partidos, Márcio França e Fernando Haddad têm chances (com alguma vantagem para o segundo). O PDT de Ciro Gomes não está em ascensão e deve perder deputados na janela partidária.
Bolsonaro terceirizou seu governo para o Centrão, e Lula se habituou com o Centrão parceiro de governo, como ocorreu em seus dois mandatos e, em parte, nos de Dilma Rousseff. Mas a subordinação era clara, com o Executivo ditando o rumo geral do governo e da pauta no Congresso. A relação de forças parece ter se invertido em direção ao enfraquecimento do Executivo e maior autonomia do Centrão, que com bancadas crescentes, comanda o Legislativo. É um desafio para quem ocupar o Planalto, seja quem for.