No segundo dia do Seminário Internacional da Comemoração dos 100 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB), nesta quarta-feira (09/03), o debate em torno do tema “O nacional-desenvolvimentismo em questão”, 7 palestrantes discutiram o papel do Estado neste processo, abordando os seguintes aspectos: a preservação ambiental, o crescimento econômico, a retomada de uma política industrial, a adoção de medidas de distribuição de renda e o controle da inflação.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações (1998), ex-diretor do Banco Central (1985 a 1987) e ex-presidente do BNDES (1995 a 1998), ressaltou que a experiência mostra que o nacional-desenvolvimentismo só será possível, se alcançado o equilíbrio entre as principais correntes que comandam o processo.
“Como fica o nacional-desenvolvimentismo no contexto do mundo que o Brasil está inserido?”, indagou. Segundo ele, pensar em romper é “uma bobagem, pois a economia brasileira está totalmente inserida” no contexto mundial. “O que se extrai é que tem de equilibrar as duas coisas: precisa ter um lado conservador e um lado que saiba equilibrar seu governo mais social. Se fugir disso, vai ter crise, inflação e uma série de coisas”.
Sob a coordenação de Giovanna Victer, secretária da Fazenda de Salvador (BA) e especialista em Políticas Públicas do Ministério da Economia, a segunda mesa redonda de debates teve como consenso que o nacional-desenvolvimentismo tem de considerar como elemento essencial: o social. “O componente da política social atrelado ao desenvolvimentismo e os desafios devem ser colocados, tratando as novas tecnologias e os novos mecanismos em [sistema de] integração.”
Vinicius Müller, doutor em História Econômica e professor do INSPER (Instituto de Ensino e Pesquisa) e da FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), fez uma análise histórica sobre a trajetória econômica do Estado brasileiro e o nacional-desenvolvimentismo. Na sua avaliação, esse processo, inaugurado em 1930, teve prosseguimento até os anos de 1970. Seu auge foi registrado durante o governo Juscelino Kubitschek, embora com mais gastos em infraestrutura do que em educação. Ele lembrou dos avanços, inclusive no Estado Novo e Estado Militar, quando “[substituímos] o arcaísmo da nossa agricultura e veio a ascensão do agronegócio, nos anos 1970”.
Para Paulo Ferracioli, professor de Negócios Internacionais e Comércio Exterior na FGV Management, houve “oportunidades existentes e que foram perdidas ao longo do tempo”. Mas também registrou os avanços, como a criação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo. Segundo ele, é preciso abandonar a crença de uma dicotomia mundial e compreender que o caminho é o da composição, a exemplo da China que buscou ajuda externa para compor seu parque industrial. “Não sou muito otimista, porque não sei se a gente tem vontade política. A globalização impede que a gente tenha políticas próprias, isso é absolutamente equivocado”.
Pedro Nery, doutor em Economia pela Universidade de Brasília e consultor legislativo do Senado Federal na área de Economia do Trabalho, Renda e Previdência, reiterou que a história política brasileira mostra que políticos de distintas correntes mencionam a defesa do nacional-desenvolvimentismo sem, no entanto, observar a complexidade do tema.
“Talvez a gente devesse falar mais em investir em capital humano e não em indústrias, mais em saneamento básico e [no combate à] pobreza no Brasil”, disse. “Esta é a provocação que gostaria de fazer porque solta como está a questão de política de desenvolvimento é qualquer coisa. Olhar para o futuro é observar o que vai significar o projeto nacional de desenvolvimento”.
Desafios
Jorge Caldeira, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), afirmou ser impossível projetar metas e alternativas para o futuro sem pensar na preservação do meio ambiente e no carbono neutro. Segundo ele, a política ambiental está no centro do planejamento econômico mundial. “O desenvolvimento no Brasil talvez venha a se fundar na economia livre do carbono neutro”, previu, lembrando que a União Europeia saiu na frente neste processo, seguida pela Coreia, China e Reino Unido.
Cesar Benjamin, cientista político, editor e político brasileiro, lamentou o cenário atual brasileiro que, na sua opinião, reflete negativamente o que se refere às perspectivas futuras. “O Brasil se transformou em uma nação de vontade fraca, não no sentido apenas subjetivo, mas o arcabouço institucional brasileiro produz muito calor e pouca luz”, afirmou o intelectual, lamentando o cenário político atual.
“A agenda brasileira é de uma pobreza diante dos desafios que estão postos para o Brasil no século XXI, que nos transformou em uma nação incapaz e nos acomodou. Isso me leva a uma extrema preocupação”, disse Benjamin, salientando que esta fragilidade pode ser verificada no momento pela dependência do Brasil dos fertilizantes da Rússia. “Basta lembrar que com a crise na Ucrânia, nós estamos sem fertilizantes. O Brasil é um país vocacionado para a paz”, afirmou. “Um conjunto de desatinos impede o Brasil de se colocar na esfera mundial. Temos potencialidades”.
André Amado, secretário executivo do Seminário, reiterou que, com base em sua trajetória na diplomacia, é impossível dissociar o nacional-desenvolvimentismo da preservação ambiental e da integração nacional. Ele ressaltou que, no passado, as principais discussões internacionais no âmbito do meio ambiente só começavam quando o diplomata brasileiro estava presente: “Hoje em dia nem sabem se o Brasil está presente”.
Seminário
O aniversário dos 100 anos do Partido Comunista Brasileiro está sendo comemorado através do Seminário Internacional que começou ontem (08/03) e segue até amanhã (10/03), no qual participarão 14 palestrantes. As discussões estão sendo transmitidas ao vivo pelos canais oficiais da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) no Youtube e Facebook, em respeito às normas sanitárias em decorrência da pandemia da Covid-19.As informações estão disponíveis em https://pcb100anosfap.com.br/.
No seminário, promovido pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e pelo Cidadania, estará em discussão a trajetória do PCB reunindo 14 palestrantes distribuídos em três mesas redondas com os seguintes temas:
1. Primeira Mesa: O comunismo e Brasil
2. Segunda Mesa:O nacional-desenvolvimentismo
3. Terceira Mesa: O desafio da democracia em termos globais.
PROGRAMAÇÃO 10/03/2022
QUINTA-FEIRA
09H30 – 3a SESSÃO DE DEBATE O DESAFIO DA DEMOCRACIA EM TERMOS GLOBAIS
Introdução ao tema: Marco Aurélio Nogueira
Coordenadora: Aspásia Camargo
Palestrantes internacionais:
1. Ernesto Ottone
2. Vicente Palermo
Palestrantes nacionais:
3. Maria Celina D’Araújo
4. Sérgio Fausto
Conclusões: Alberto Aggio e Marco Antônio Villa
Encerramento: Caetano Araújo e Roberto Freire