Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (23/02/2022)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

EUA e Europa reagem com sanções econômicas à Rússia
Guedes propõe usar FGTS para pagar dívidas
Deputados bolsonaristas insuflaram motim da Polícia Militar de Minas
Justiça eleitoral ‘não se renderá’, diz Fachin ao assumir TSE
Morte de Moïse foi ‘triplamente qualificada’, diz MP
O drama sem fim dos desabrigados em Petrópolis
Estudo com centenários indica como manter cérebro ativo
Julio Croda – ‘Pandemia está a caminho do fim”
Mary Helen: Advogado diz que brasileira presa na Tailândia traficou drogas sem saber e não crê em pena de morte

O Estado de S. Paulo

EUA e Europa impõem à Rússia primeira leva de sanções
Em Kiev, medo convive com a rotina
Apesar das turbulências, dólar ignora crise e cai no Brasil
STF pode impor restrições a tratamentos e medicamentos
Sob pressão política, Guedes deve liberar saques do FGTS
Voto feminino faz 90 anos e mulher ainda busca espaço
Doria admite que pode abrir mão de candidatura à Presidência
Família Tatto acumula fortuna e amplia influência no PT

Folha de S. Paulo

Flávio Bolsonaro mobilizou Receita em casao da ‘rachadinha’
Rede integrada para rastrear arma não anda, indicam papéis
Ministério Público denuncia 3 presos pela morte de Moïse Kabagambe
Doria admite hipótese de desistir de candidatura
Três brasileiros são presos com cocaína na Tailândia
Biden afirma que Rússia perderá acesso a empréstimos no Ocidente
Projeto de criptomoedas avança no Congresso
UE recomenda deixar de exigir teste a visitantes vacinados

Valor Econômico

Sócios aprovam capitalização para privatizar a Eletrobras
Governo quer consignado no Auxílio Brasil
EUA e Europa elevam
Galinhas dos ovos de ouro
Dólar tem a menor cotação desde 1º de julho, a R$ 5,05
Marfrig define “board” de peso para BRF
Aeroporto de Natal deve guiar as relicitações

EDITORIAIS

O Globo

Invasão redesenha mapa geopolítico do Pós-Guerra Fria

No outro extremo do planeta, tudo dependerá da reação do ator mais importante a emergir no novo mapa geopolítico: a China

A entrada de tropas russas em território ucraniano, depois do discurso agressivo em que Vladimir Putin contestou a própria existência da Ucrânia como país independente da Rússia, pôs em marcha um conflito de desdobramentos ainda imprevisíveis no curto prazo. Já houve escalada da mera diplomacia ao endurecimento de sanções, por parte tanto dos americanos quanto dos europeus. A Alemanha suspendeu a licença para um novo gasoduto que traria energia russa à Europa Ocidental.

Analistas se debruçam agora sobre cenários de invasão que vão desde a anexação das duas províncias ucranianas de maioria étnica russa — que a Rússia reconheceu como independentes — até a ocupação de toda a Ucrânia, com ataques aéreos e o avanço dos 190 mil soldados mobilizados por Putin. Independentemente do dano que qualquer conflito venha a causar à região e do choque inevitável na economia global — cujo primeiro sinal é a nova alta na cotação do petróleo —, estão no médio e longo prazos as consequências mais preocupantes.

A maior delas é o redesenho do mapa estratégico do planeta em vigor desde o fim da União Soviética. Na Europa, isso se traduz no ressurgimento da Rússia como potência militar com uma esfera de influência estendida às fronteiras dos países da Europa Oriental que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan): Polônia, Hungria, Romênia, Eslováquia, Lituânia, Letônia e Estônia. A agressão russa põe a Otan diante de uma questão crítica: até que ponto empenhar armas e contingentes militares para defender essas fronteiras? Só esse dilema já representaria uma vitória estratégica para Putin, cuja disposição para correr riscos e perseguir seus objetivos tem superado em muito a do Ocidente.

No outro extremo do planeta, tudo dependerá da reação do ator mais importante a emergir no novo mapa geopolítico: a China. A tibieza americana para defender a Ucrânia e os aliados do Leste de investidas russas seria inevitavelmente interpretada pelos chineses como medida de até onde os Estados Unidos estariam dispostos a ir para defender outra área em disputa: a ilha de Taiwan, que a China também considera parte de seu território. Se Moscou obtiver sucesso na invasão da Ucrânia, a questão óbvia passará a ser: que fará Pequim em relação a Taiwan?

Não é acaso, portanto, que os movimentos militares de Putin tenham sido precedidos do anúncio de uma aliança com o líder chinês, Xi Jinping. A China lhe traz fôlego para resistir a sanções de toda sorte. Interessa a Xi uma parceria estratégica para enfraquecer as pretensões americanas na Europa ou em qualquer lugar, de modo a ampliar seu poder. A disputa que até agora se restringe ao campo econômico poderia adquirir um caráter bélico.

Para o Ocidente, o momento não poderia ser menos propício a aventuras militares. O mundo ainda não se recuperou da pior pandemia em mais de um século, a inflação ressurgiu com força nos países ricos, e o ânimo isolacionista e nativista toma conta dos debates em todas as democracias. Em contraste com o ímpeto agressivo de Putin, a atitude dos líderes ocidentais tem sido apostar no apaziguamento por meio de sanções, nas instituições e nos caminhos de uma ordem global que se revela ineficaz e caduca. A maior prova do fracasso da estratégia adotada depois da Guerra Fria é que hoje é Putin quem dita o passo desse jogo.

O Estado de S. Paulo

Putin testa o mundo

Ao botar um pé na Ucrânia, autocrata russo expôs inequivocamente suas intenções imperialistas. As sançõesprecisarão ser igualmente inequívocas

A esperança de dissuasão de uma invasão russa à Ucrânia ficou no passado, a dúvida agora é sobre sua escala. O presidente russo, Vladimir Putin, expôs suas intenções. Mas a resposta do Ocidente segue envolta em nuvens de incerteza.

Na segunda-feira, Putin, ao mesmo tempo que negou o direito à independência da Ucrânia, reconheceu a independência dos enclaves separatistas de Donetsk e Luhansk, anunciando o envio de tropas.

A Otan declarou que a Rússia está fabricando um pretexto para assaltar Kiev. A Alemanha suspendeu a certificação do gasoduto da Rússia Nord Stream 2. Os EUA e a União Europeia anunciaram sanções aos separatistas e a alguns indivíduos e negócios russos. Mas tudo ainda longe das tão prometidas “consequências massivas”.

Enquanto 190 mil soldados da Rússia seguem instalados nas fronteiras da Ucrânia, seu aparato de propaganda e desinformação avança. O entourage de Putin alega que os líderes ucranianos são “nazistas”, que está em curso um “genocídio” da população russa na Ucrânia e que o país é um fantoche usado pela Otan para “desmantelar a Federação Russa”.

Nas últimas semanas, Putin logrou desestabilizar o governo ucraniano; reafirmou sua autocracia, desviando a atenção das dificuldades econômicas e de figuras da oposição; ensaiou exercícios com mísseis nucleares para intimidar os adversários; e estreitou a cooperação com a China. Mas o sucesso estratégico desses avanços táticos dependerá da resposta do Ocidente.

É plausível que Putin tenha calculado uma repetição da invasão à Crimeia, em 2014, que pegou o Ocidente desprevenido. Mas hoje as condições são outras.

A mídia ocidental está menos vulnerável à desinformação russa, os serviços de inteligência puseram as manobras de Putin sob holofotes, e atrocidades na Ucrânia seriam difundidas em tempo real de smartphones para o mundo. A Otan expôs a intransigência de Putin e desarmou suas acusações de intransigência da Otan, ao se oferecer para negociar restrições a armamentos e exercícios militares. Os aliados prometem apoio diplomático e militar sem precedentes à Ucrânia, e a ameaça galvanizou o sentimento dos ucranianos de que seu destino está com o Ocidente.

A Rússia tem muito a perder, a começar pelo sangue e dinheiro derramados em solo ucraniano em prol de um megalômano. O isolamento comercial e financeiro da Rússia pode até favorecer os membros do Politburo, que já sofrem sanções e controlam a “fortaleza econômica” erguida desde 2014, mas feririam severamente os empresários russos e a população, criando o risco de revoltas populares. O ônus seria lançar definitivamente Putin nos braços de Xi Jinping, mas isso não compensaria as perdas econômicas e condenaria a Rússia a ser um satélite diplomático menor e um exportador de commodities baratas à China.

A debacle dos EUA no Afeganistão, o governo de transição na Alemanha, o ano eleitoral na França e as agruras políticas do premiê britânico, Boris Johnson, seguramente foram computados por Putin como fraquezas a serem exploradas. Se são de fato, o mundo está para descobrir. A dissuasão é possível, mas a retaliação econômica precisa ser mais enérgica. “Não precisamos das sanções após o bombardeio e após nosso país ser alvejado ou após não termos mais fronteiras e após não termos mais economia”, disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, a aliados reunidos em Munique. O mesmo pode ser dito de apoio militar.

No pior dos cenários, Putin pode desencadear uma blitzkrieg com a mesma brutalidade empregada na Chechênia e na Síria. A guerra ameaça toda a ordem europeia pós-2.ª Guerra. Mas ela ainda pode ser evitada se o Ocidente tiver aprendido com a história. Após a invasão da Crimeia, também foram prometidos “danos massivos”, mas quatro anos depois a Rússia recebia uma Copa do Mundo. O pretexto de invadir a Ucrânia em solidariedade a etnias russas ecoa a anexação dos Sudetos pela Alemanha hitlerista. Até agora as nações ocidentais mostraram mais força nas palavras do que em seus atos, mas, se não quiserem ser mais uma vez reféns de um ditador, precisarão galvanizar essas ameaças em ação.

Folha de S. Paulo

Mais um vizinho

Colômbia é outro país a descriminalizar o aborto, expondo o atraso do Brasil

Embora seja ainda uma das regiões do mundo com mais restrições à interrupção legal da gravidez, a América Latina tem conhecido, nos últimos tempos, avanços significativos nessa seara.

Em menos de um ano, a Argentina e o México tornaram-se os dois primeiros grandes países latino-americanos a descriminalizar a prática. Na segunda-feira (21), a Colômbia, o terceiro mais populoso da região, juntou-se a esse grupo precursor, composto ainda por Cuba, Uruguai e Guiana.

Pela margem mínima de 5 votos a 4, a Corte Constitucional do país vizinho decidiu que nenhuma colombiana poderá mais ser processada por realizar aborto até a 24ª semana de gravidez. Até então, o procedimento só era admitido nos casos de estupro, má formação do feto e risco de morte da mãe.

Ao retirar o aborto do rol de delitos presentes no Código Penal, o tribunal não só concede às mulheres um direito sobre seus corpos como também evita que aquelas que já haviam sido obrigadas a se submeter a um procedimento clandestino venham ainda a amargar um processo judicial.

Chegam anualmente à Justiça colombiana cerca de 400 casos de interrupção de gravidez, sujeitos a penas que variam de 16 a 54 meses de prisão —e 346 mulheres já foram condenadas por aborto, das quais 85 menores de idade.

A maior parte desses casos termina vindo à tona por meio de denúncias de funcionários da área da saúde, uma vez que também era considerado crime que um hospital deixasse de relatar casos de colombianas que buscassem ajuda médica após complicações resultantes de uma tentativa de aborto.

Por ora, a deliberação da suprema corte garante apenas que a interrupção da gestação não mais será tratada sob a ótica penal.

A decisão, contudo, deve estimular o Congresso, para onde se dirige agora a pressão dos grupos feministas, a aprovar uma lei que garanta a realização segura e gratuita do procedimento, como ocorre, por exemplo, na Argentina.

O recente avanço latino-americano deixa ainda mais evidente o atraso do Brasil. Por aqui prevalece o temor de tratar o tema sob a ótica da saúde pública, como defende esta Folha, e buscar o convencimento da sociedade.

O debate acaba esvaziado, enquanto o exemplo colombiano serve para que Jair Bolsonaro (PL) exiba seu simplismo conservador sem enfrentar maior contraponto.

Valor Econômico

Tensão na Ucrânia piora quadro inflacionário global

O precário quadro fiscal e as incertezas eleitorais deixam pouco espaço para o BC ser flexível

Além dos sérios e preocupantes impactos humanitários, as tensões na Ucrânia devem ter repercussões econômicas importantes. Agravam o já complicado quadro inflacionário global e se somam a outras forças que atuam para desacelerar o crescimento mundial.

Ainda é cedo para delimitar o tamanho do estrago, mas parece certo que o custo de energia será mais alto. A Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, e está na segunda posição na exploração de gás natural. Ontem, a cotação do petróleo brent encostou perto de US$ 100 dólares o barril.

A alta dos custos de energia ocorre a despeito de, neste momento, os Estados Unidos e a Europa terem imposto sanções apenas moderadas, sem limitar as exportações atuais. As sanções mais pesadas ficaram para depois, na esperança de forçar uma negociação e evitar que as tensões na Ucrânia evoluam para uma guerra.

O presidente americano, Joe Biden, anunciou o bloqueio de duas grandes instituições financeiras russas nos mercados ocidentais, além de limites à negociação da dívida soberana do país. O chanceler alemão, Olaf Scholz, suspendeu a certificação do gasoduto Nord Stream 2, que fará uma ligação direta entre a Rússia e a Alemanha, sem passar pela Ucrânia. O projeto, porém, ainda não está operando, e a medida basicamente limita a oferta futura de gás.

Os mercados financeiros mundiais, no entanto, já precificam uma boa parte dos riscos de uma escalada no conflito, com a queda das Bolsas, movimento de fuga de investidores para ativos de menor risco e alta de preços de commodities, incluindo agrícolas, metais e energia.

O resultado mais provável de tudo isso é um novo impulso na inflação, num momento em que os bancos centrais de países desenvolvidos enfrentam dificuldades para reinar sobre a carestia criada pela pandemia.

No caso das economias ricas, o que preocupa sobretudo é a alta dos custos de energia. Economias de renda média e baixa devem sofrer também com a alta de preços de alimentos. A Rússia e a Ucrânia são importantes produtores de trigo. Há impactos indiretos: a alta de preços do gás deve encarecer os fertilizantes, que são muito dependentes desta fonte de energia.

Ainda não está completamente claro como o Federal Reserve (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE) vão reagir. De um lado, a inflação tende a se acelerar. Mas, de outro, o crescimento econômico tende a perder vigor, com a maior aversão a risco e a corrosão da renda das famílias, provocada pela alta de preços de alimentos e de energia.

Os juros mais longos dos Estados Unidos expressam um pouco desse dilema. O retorno do título de 10 anos do Tesouro americano recuou. Esse movimento pode refletir apenas uma fuga dos investidores para o porto seguro dos papéis do governo dos EUA. Pode ser também uma indicação de que o aperto monetário sinalizado pelo Fed será temporário – e as forças recessivas tenderiam a prevalecer, demandando novos estímulos.

No Brasil, a cotação do dólar caiu 1,09% ontem, para R$ 5,05, transmitindo a falsa impressão de que a nossa economia está alheia aos impactos da crise geopolítica na Ucrânia. Quem mostra a verdade dos fatos é a curva de juros futuros, que registrou alta, também no pregão da terça-feira.

A taxa de câmbio reflete vários fatores. Alguns meramente técnicos, como o fim do chamado “overhedge” em 2021, que fazia os bancos comprarem dólares em excesso no mercado futuro. Há ainda uma rotação de carteiras de investimentos, com a migração de capitais estrangeiros das ações superavalorizadas de tecnologia para ativos mais baratos em países emergentes. A alta das commodities favorece o real. Os juros em dois dígitos também são uma poderosa força atratora de capitais voláteis.

O recado que o mercado de juros dá, porém, é que o ganho obtido com a valorização do real é insuficiente para cobrir os custos mais altos de produtos importados. O principal é o petróleo, mas pode haver impactos também nos preços de alimentos, com a alta das cotações do trigo, milho e soja.

Ao contrário dos banqueiros centrais de países desenvolvidos, por aqui a política monetária é calibrada com olho exclusivamente na inflação. O precário quadro fiscal e as incertezas eleitorais deixam pouco espaço para o Banco Central ser flexível, daí os mercados colocarem prêmios na curva de juros. O desdobramento mais provável será mais inflação e menos crescimento econômico.

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