O Globo
Manchetes da capa:
Frete dispara, e varejo improvisa para garantir Natal abastecido
Médico relata assédio da Hapvida por kit Covid
TSE amplia transparência para eleições
Paes defende carnaval sem distanciamento
Exercício físico é mais importante que perda de peso
Projetos ameaçam reservas extrativistas
TCU vê fragilidade em análise ambiental de leilão de petróleo
Secretário ostenta em Dubai
Boris Johnson admite que crise de abastecimento está ligada ao Brexit
Editorial
Risco de Amazônia virar savana é novo alerta para Brasil
Estudo aponta que no pior cenário, os efeitos combinados do desmatamento e do aquecimento global poderão elevar a temperatura à sombra na Amazônia em até 11,5 °C ao final do século
Com o governo fazendo os últimos acertos na proposta a apresentar na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), que começa no dia 31 de outubro em Glasgow, na Escócia, um estudo feito por quatro pesquisadores brasileiros traça um quadro apocalíptico se o desmatamento não for detido. Publicada na edição desta semana da revista científica britânica Nature, a pesquisa tem um título autoexplicativo: “Desmatamento e mudanças climáticas projetam aumento do risco de estresse térmico na Amazônia Brasileira”. Os cientistas não pintam um cenário desértico, como nos filmes “Mad Max”, mas a floresta dando lugar a uma savana, com grama e árvores esparsas.
No pior cenário, os efeitos combinados do desmatamento e do aquecimento global poderão elevar a temperatura à sombra na Amazônia em até 11,5 °C ao final do século, afirmam os autores do estudo, Beatriz de Olveira, da Fundação Oswaldo Cruz, Marcus Bottino e Paulo Nobre, ambos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e Carlos Nobre, da Universidade de São Paulo (USP). Um aumento de calor dessa magnitude impediria trabalhadores de diversos setores de exercer seu ofício nos dias mais quentes e poria em risco a vida de crianças, de idosos e de adultos com certas doenças.
Os efeitos seriam mais sentidos pela população do Norte, onde 12,4 milhões seriam afetados. Outros 17,2 milhões de brasileiros das outras regiões também seriam atingidos em alguma medida. As estimativas foram feitas com base nos dados atuais, sem levar em conta aumentos populacionais, elevação da expectativa de vida e mudanças da estrutura demográfica. No total, os habitantes de 16% dos 5.570 municípios brasileiros perceberiam o aumento do calor.
Faria sentido a delegação brasileira na COP26 considerar esse e outros estudos que apontam a mesma direção. Se chegar a Glasgow repetindo o mesmo blá-blá-blá que Bolsonaro falou na ONU no mês passado, quando descreveu a situação do meio ambiente no Brasil de forma desconectada da realidade, é certo que haverá repercussão negativa.
Como revelou O GLOBO, diplomatas da União Europeia (UE) trabalham nos bastidores da conferência para tentar isolar o Brasil. Para eles, Bolsonaro e seus representantes fazem propostas irracionais que não serão cumpridas. Exemplo: foi antecipado de 2060 para 2050 o objetivo de atingir a neutralidade de carbono.
Um diplomata afirma que a única maneira de garantir acordos significativos em Glasgow é obrigar o Brasil, na base de pressão, a fazer concessões. Após o desmatamento recorde dos últimos anos, do desmonte dos órgãos de fiscalização, do apoio explícito a grileiros e garimpeiros, promessas de bom comportamento serão ignoradas. Para voltar a ser respeitado nas conferências do clima e livrar os brasileiros do estresse térmico, o governo terá de fazer muito mais.
O Estado de S. Paulo
Manchetes da capa:
Caso Prevent Senior expõe controle precário sobre planos
Setor de eventos prevê retomada total em 2022
Carro elétrico vira alvo de disputa entre montadoras
Agro busca terceira via para evitar volta do PT
Governadores vão à COP e querem ‘lei verde’
Ciro minimiza ataque e propõe trégua ao PT
Queiroga voltará ao País após teste negativo
Censo das benzedeiras
Megavazamento revela offshore de líderes mundiais
Saúde nega certificado para ‘mix de vacina’
Editorial
Um projeto para o País
Mais do que ser anti-Lula ou anti-Bolsonaro, o que faz falta é ter um projeto para o País. Essa é a melhor resposta contra as forças do atraso
Com recorde de desaprovação popular e sem ter o que apresentar como realização de seu governo, Jair Bolsonaro repete, com frequência crescente, o seu mantra: não fosse ele, o PT teria voltado ao poder. Na lógica bolsonarista, o governo não precisa apresentar nenhum resultado. O dever de Bolsonaro na Presidência da República se resumiria apenas e tão somente a manter Lula longe do Palácio do Planalto.
Essa tática, que parece tão resolutamente antipetista, é uma farsa, já que atende perfeitamente aos interesses do PT. A quase completa ausência de resultados do governo Bolsonaro é o cenário dos sonhos de Lula. Não há como negar. O desgoverno de Bolsonaro é caminho muito favorável para Lula voltar ao poder.
Mas o mantra bolsonarista – não fosse Bolsonaro, o PT teria voltado ao poder – tem ainda outra evidente contradição. Nenhum candidato é eleito apenas para ocupar um espaço vazio. Jair Bolsonaro não foi eleito para impedir que Lula, diretamente ou por meio de algum de seus postes, voltasse ao poder. Bolsonaro foi eleito – eis a verdade que o bolsonarismo tenta esconder – para governar.
É acintoso o desconforto de Bolsonaro e de seus apoiadores com essa realidade tão básica: um presidente da República é eleito para governar. Quando confrontados com a ausência de resultados do governo Bolsonaro, seus apoiadores logo revidam com a subespécie do mantra bolsonarista: apesar de tudo, em 2022, no segundo turno com Lula, voto é em Bolsonaro.
Deve-se ressaltar que a manobra também é comum entre os lulistas. Quando confrontados com o legado de corrupção, incompetência e negacionismo do PT, os lulistas logo revidam: mas, num segundo turno entre Lula e Bolsonaro, em quem você vota? E ficam indignados se o interlocutor mostra que o exercício dos direitos políticos numa democracia é necessariamente mais amplo do que essa asfixiante disjuntiva.
A transformação da política em mero embate de negativos é profundamente perniciosa ao País. A rigor, não se pode nem mesmo dizer que se trata de luta entre forças políticas antagônicas. É mero choque de rejeições: o anti-Lula versus o anti-Bolsonaro.
Nesse cenário – e ainda tendo um longo tempo até as eleições de 2022 –, é muito oportuna a observação feita por Alfredo Setubal, presidente da Itaúsa, ao tratar da relação entre o empresariado e as administrações petistas, em entrevista ao jornal O Globo. “Ele (Lula) gastou muito para eleger a Dilma, o déficit fiscal foi enorme. As consequências foram muito ruins e culminaram na recessão a partir de 2014 e no impeachment da Dilma. Mas, mais que anti-Lula, os empresários querem alguma coisa pró-Brasil. Eu não acho que é um sentimento anti-Lula, eu acho que é um sentimento de mudança. Esse modelo não está dando certo. Por isso se fala da terceira via”, disse Alfredo Setubal.
Lula e Bolsonaro almejam o mero choque de rejeições. Mas tal embate é rigorosamente insuficiente para o País superar a crise econômica, política, social e moral na qual foi mergulhado. A experiência de 2018 é bastante pedagógica. Elegeu-se um presidente da República cuja única proposta consistiu – e ainda consiste – em ser o anti-Lula, e ele vai entregar um Brasil em piores condições do que recebeu.
O bolsonarismo é terreno fértil para o lulopetismo, e vice-versa, porque os dois não vivem de governar, mas de vencer eleições a qualquer custo. É urgente, portanto, que as lideranças políticas, em sintonia com a sociedade civil organizada, apresentem propostas consistentes, aptas a enfrentar com responsabilidade os problemas do País.
Uma campanha nessas bases, protagonizada por candidatos genuinamente interessados em revigorar a democracia e unir os brasileiros em torno de ideias sólidas para tirar o Brasil do atraso, terá o condão de deixar evidente que Lula e Bolsonaro pouco têm a oferecer ao País além de cizânia e impostura. Nunca é demais lembrar que, nas duas disputas pela Presidência da República com Fernando Henrique Cardoso, Lula perdeu no primeiro turno.
Mais do que ser anti-Lula ou anti-Bolsonaro, o que faz falta é ter um projeto para o País. Essa é a melhor resposta contra as forças do atraso.
Folha de S. Paulo
Manchetes da capa:
Marinha pune subalternos, mas poupa altos oficiais
Sonia Guajajara – Se vier, marco temporal vai aumentar conflitos
Haitiano encara riscos para trocar Brasil pelos EUA
Empresa offshore de Guedes gera questionamento
Veículos apuram contas em paraísos fiscais
STF pode liberar showmício na eleição de 2022
Médicos relatam pressão por kit Covid na Hapvida
Ensino remoto se torna desafio na rede privada de SP
Restauro do Copan é autorizado
Senado indica que vai votar agenda econômica
Ciro minimiza ataques e pede trégua a petistas
Editorial
Sinecura militar
Em boa hora CGU apura salários pagos nas estatais a membros das Forças Armadas
A crescente presença de militares em empresas estatais federais tem propiciado o surgimento de uma casta de funcionários com remunerações duplicadas às custas do erário. Diante desse quadro aberrante, a Controladoria-Geral da União (CGU) decidiu abrir processo de auditoria para investigar pagamentos em tais situações.
Reportagem desta Folha revelou que 15 integrantes de Exército, Aeronáutica e Marinha ocupam a presidência de empresas com controle direto da União e recebem salários duplicados, que somam de R$ 43 mil a R$ 260 mil mensais.
O valor mais elevado refere-se ao atual presidente da Petrobras, o general de Exército da reserva Joaquim Silva e Luna. O teto do funcionalismo público é de R$ 39,3 mil —os vencimentos de um ministro do Supremo Tribunal Federal.
A distorção tem causado mal-estar mesmo em setores das Forças Armadas, tendo sido objeto de questionamento em uma publicação dedicada a temas do meio.
Em sua auditoria, a CGU optou por deixar de lado estatais vinculadas ao Ministério da Defesa. A Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), ligada ao Exército, por exemplo, é presidida pelo general de Exército da reserva Aderico Visconti Pardi, que tem salários acumulados de R$ 49,9 mil brutos.
Na Amazônia Azul Tecnologias de Defesa (Amazul), vinculada à Marinha, o presidente Antônio Carlos Guerreiro, vice-almirante da reserva, recebe pagamentos que totalizam R$ 62,9 mil.
Note-se que nas duas empresas, como também mostrou este jornal, há indícios de irregularidades. A Imbel não integra o Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (Siape) para o processamento da folha de pagamentos, o que contraria a legislação.
Já na Amazul, trabalham 16 funcionários com recebimento acumulado de aposentadoria.
A CGU alega que normas legais dos dois últimos anos passaram a impedir sua atuação em órgãos da estrutura do Ministério da Defesa —um tipo de blindagem que não tem justificativa clara.
Ocorrências heterodoxas como essas se verificam em contexto de crescente ocupação da máquina pública por militares, num verdadeiro aparelhamento promovido pelo presidente Jair Bolsonaro, que não esconde sua disposição de aquinhoar esses setores com privilégios e sinecuras.
Essas circunstâncias, lamentavelmente, remetem a administração pública e o Executivo a um passado que já deveria estar superado.
Valor Econômico
Manchetes da capa:
Regra trava importação e deve encarecer alimentos
Demanda cresce e empresas alongam dívida
As lições do bilionário da Blackstone
Sonho de morar fora esbarra em IR
Motos puxam vendas de vários segmentos
Polêmica ambiental cerca leilão da ANP
Fatalismo climático
Brasil
O cenário externo se complica para o Brasil
Um em cada 5 alunos da rede municipal de São Paulo segue com aulas on-line
Crédito privado é saída para déficit habitacional, diz BID
Preço de carnes não dará trégua mesmo após forte aumento
Nos cálculos da inflação, impacto deverá diminuir
Economia vê risco de auxílio emergencial turbinar IPCA
Guedes e Campos Neto dizem que declararam offshores
Saúde pretende revacinar toda a população em 2022
Leilão da ANP enfrenta polêmica ambiental
TCU apontou fragilidades em análise preliminar de ministérios
O mercado é o freio mais eficaz, afirma ex-presidente do Ibama
Em busca de R$ 260 bi, roadshow vai a Nova York
Política
Contagem regressiva
Lula monta gabinete de pré-campanha só com petistas
Inflação dá o tom em atos anti-Bolsonaro
Congresso estuda isenção a inadimplentes do Fies
Doria intensifica contato com filiados do PSDB
Trocando em miúdos
Novo quer lançar cientista político para presidente
Internacional
Empresas pedem clareza dos EUA sobre China
Democrata acenam com um pacote menor
Governo Biden abraça política de Trump ao defender tarifas sobre o aço
Série de problemas eleva risco de desaceleração global
Índia está na iminência de ter apagão de energia
Editorial
Nada menos que ambição e protagonismo na CoP-26
Cresce a pressão empresarial por um papel de protagonismo e de liderança do Brasil
Às vésperas da CoP-26, que ocorre em Glasgow (Escócia) no início de novembro, cresce a pressão empresarial por um papel de protagonismo e de liderança do Brasil na conferência da ONU sobre mudanças climáticas. Mais de 100 presidentes de grandes companhias e de associações setoriais assinaram carta pedindo ao governo Jair Bolsonaro uma postura ambiciosa nas negociações. Como ponto de partida, é estarrecedor que seja necessário um apelo de tal magnitude para dizer o óbvio às autoridades de um país cuja influência no tema vinha sendo amplamente reconhecida pela comunidade internacional ao longo das últimas três décadas – graças à atuação em cúpulas como a Rio-92, a Rio+20 e na costura do histórico Acordo de Paris.
Mais do que altruísmo puro ou pensar nas gerações futuras, o empresariado começa a enxergar também possibilidades de fazer dinheiro – ou pelo menos evitar perdas – com uma nova arquitetura para a preservação do meio ambiente. Trata-se de um casamento de interesses bem-vindo. Um novo estudo, feito pela seção brasileira da Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil), mostra que o país tem a possibilidade de gerar créditos de carbono em torno de 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente e obter receitas de US$ 100 bilhões até 2030 com a sua comercialização.
A fim de aproveitar essa oportunidade de divisas, tanto para o governo quanto para a iniciativa privada, será essencial a regulamentação do artigo 6º do Acordo de Paris, que deve estar no centro das discussões da CoP-26. Uma vez regulamentado, o artigo vai permitir que os países transfiram de uns para outros o resultado verificado na redução de suas emissões de gases do efeito-estufa, indo muito além do atual mercado voluntário.
O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, garantiu que o Brasil terá uma “posição construtiva” no encontro. Ele informou já ter relatado esse compromisso ao enviado especial para o Clima da Casa Branca, John Kerry, e para o presidente da CoP-26, Alok Sharma – o britânico que foi levado ao Palácio do Planalto por auxiliares de Bolsonaro, em agosto, e ficou esperando inutilmente por uma rápida reunião com o líder brasileiro duas semanas depois de ele ter recebido uma representante da ultradireita alemã em audiência extra-agenda.
Leite também acenou com uma antecipação da meta, atualmente fixada para 2030, de zerar o desmatamento ilegal. Isso estaria, segundo ele, dentro de um programa de “crescimento verde” que contemplará diversas iniciativas: conservação florestal, menor uso de recursos naturais, geração de emprego e remuneração para quem preserva matas nativas. As diretrizes devem ser apresentadas ainda antes da CoP-26.
O problema é que, para onde se olha, há fatos e projetos que colocam em xeque as promessas de desenvolvimento sustentável e minam o discurso brasileiro. Para ficar no dado que resume a situação: de janeiro até agosto, a Amazônia perdeu 6 mil km² de cobertura vegetal, índice praticamente semelhante ao verificado no mesmo período de 2020.
Poucas semanas depois de ter avalizado a contratação obrigatória de 8 mil megawatts em novas usinas térmicas a gás, como jabuti na MP da Eletrobras, o governo divulgou um plano nacional para uso do carvão mineral na matriz elétrica até 2050. Na semana passada, foi anunciada a licença ambiental que autoriza o início das obras da linha de transmissão Manaus-Boa Vista, sem definir as compensações socioambientais para o povo Waimiri-Atroari. Parte do “linhão” passa por uma terra indígena cuja etnia foi dizimada na construção da BR-174, durante a ditadura militar, e hoje se resume a 2,3 mil pessoas.
No Congresso, propostas como a de regularização fundiária e de novas regras para o licenciamento ambiental avançam rumo à análise final. A liberação de atividades econômicas em terras indígenas, como mineração, está na pauta. Podem até ter méritos, quando se avalia cada projeto minuciosamente, mas consolidou-se a impressão – sobretudo no exterior – de que são tentativas de “passar a boiada” e facilitar a exploração dos recursos naturais. Enquanto isso, iniciativas como o PL 5.518/20, que abre caminho para uma gestão mais sustentável e atrativa de florestas públicas concedidas ao setor privado, têm apenas patinado.
Está nas mãos do Executivo e do Legislativo, tantas vezes unidos por fisiologismo, somar esforços e construir uma agenda que permita ao Brasil chegar à CoP-26 em condições de exercer protagonismo. Não bastam retórica ou anúncios vazios. Um segmento expressivo do empresariado já deu seu recado: está na retaguarda, pronto para endossar essa atitude.