MANCHETES DA CAPA
O Globo
Guedes quer cortar subsídios para reduzir IR de empresas
Dominguetti propôs doação a reverendo por venda de vacina
Vaga no STF vai para Mendonça, diz Bolsonaro a ministros
Contra ‘sommeliers’, repescagem pode acabar no Rio
SP e Rio avaliam transmissão local de variante Delta
MEC deixa sem uso R$ 1,2 bi para estruturar escolas
Os afetos de Karim Aïnouz
Comunidade gay reage a morte brutal na Espanha
O Estado de S. Paulo
Ministro que agiu contra críticos é nome de Bolsonaro para o STF
Economia quer cortar subsídios para reduzir o IRPJ
União quer vender os Correios; PGR contesta a forma
Dinheiro contra pandemia bancou gasto de militares
Novo mais rico do Brasil tem 39 anos e US$ 19,4 bilhões
Mourão promete 12% de queda no desmate
Brasil e Argentina decidem Copa América
Folha de S. Paulo
SP tem indício de transmissão local da variante delta
Bolsonaro fala em indicar Mendonça ao Supremo
Barros é acusado de simulação financeira para ocultar R$ 2 mi
Saúde cita enganação por sócia da Precisa na gestão do agora deputado
Pantanal é alvo de ameaça tripla além do fogo
País vê 4,3 mi a mais vivendo com até R$ 275 ao mês
Plano do governo prevê venda de 100% dos Correios
Folha errou ao não ligar vacina vencida a falha no sistema
Câmara quer vetar a divulgação de pesquisa eleitoral
Saverin ultrapassa Lemann como o brasileiro mais rico
Espanha tem atos após morte de gay nascido no Brasil
Em Cannes, Spike Lee chama Bolsonaro de gângster
EDITORIAIS
O Globo
Militares em escândalos na Saúde constrangem as Forças Armadas
Parte dos recursos extras para o SUS acabou destinada a gastos de rotina da caserna
Com sua tendência a militarizar a administração, o governo Bolsonaro imaginou que colocar uma “tropa” no Ministério da Saúde seria uma decisão acertada para derrotar o novo coronavírus. Quase um ano e meio de pandemia depois, constata-se que a estratégia fracassou. Com mais de 525 mil mortos, o enfrentamento à pandemia é esquadrinhado por uma CPI para que se apurem erros e omissões. Militares, que chegaram à Saúde para evitar irregularidades, estão hoje no centro dos escândalos.
Em depoimento à CPI da Covid, o servidor Luis Ricardo Miranda, chefe de Importação do Departamento de Logística, disse ter recebido pressões de superiores — entre eles o tenente-coronel Alex Lial Marinho e o coronel Marcelo Bento Pires — para apressar a importação da vacina Covaxin, a mais cara entre todas as contratadas pelo governo. Marinho, que foi coordenador-geral de Logística de Insumos Estratégicos, deixou o ministério no início de junho, retornando ao Exército. Pires, que atuava na logística de vacinas, também não ocupa mais cargo na pasta.
Outro militar em evidência nos escândalos das vacinas é o tenente-coronel Marcelo Blanco da Costa. Noutro episódio sob investigação (as negociações malogradas para comprar 400 milhões de vacinas da AstraZeneca), Blanco foi citado pelo cabo da PM Luiz Paulo Dominguetti como participante do jantar, em 25 de fevereiro, em que o então diretor de Logística, Roberto Dias, cobrou, segundo Dominguetti, US$ 1 de propina por dose. Dias nega. Blanco confirma o encontro, mas também nega que tenha ouvido pedido de propina.
O próprio general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, é alvo de investigações sobre falhas na crise de Manaus, omissão na compra de vacinas e uso de drogas ineficazes contra a Covid-19 no famigerado “tratamento precoce”. Ex-número dois de Pazuello, o coronel Elcio Franco recebeu no Ministério da Saúde intermediários aventureiros que tentavam vender ao governo vacinas que não tinham.
A ênfase dada aos militares na pandemia fica evidente também na distribuição das verbas. Como informou a coluna de Malu Gaspar no GLOBO, parte dos recursos extras para o SUS acabou destinada a gastos de rotina da caserna, de acordo com análise de Elida Graziane Pinto, procuradora do Ministério Público de Contas de São Paulo. Segundo o relatório, enviado à CPI, ao menos R$ 140 milhões da verba emergencial foram parar no Ministério da Defesa, sem justificativas.
A despeito da tropa escalada para reforçar o ministério, a pasta se tornou um balcão de negócios para tratativas espúrias, enquanto brasileiros morriam aos milhares vítimas de negligência. Vacinas que não existiam, outras mais caras, pedidos de pagamentos antecipados em prejuízo ao Erário, toda sorte de negociação nebulosa que precisa ser investigada. Até agora, a atuação dos militares na Saúde só tem servido para embaraçar o governo e constranger as Forças Armadas, cuja imagem se deteriora a cada dia pela associação com o governo Bolsonaro.
O Estado de S. Paulo
A estreita visão do governo
O bem-estar da população passa ao largo do rol de preocupações do presidente da República. Jair Bolsonaro só tem olhos para a eleição de 2022
O presidente Jair Bolsonaro editou medida provisória no início desta semana prorrogando o pagamento do auxílio emergencial por três meses. Cerca de 39 milhões de brasileiros receberão entre R$ 150 e R$ 375 até outubro. A nova rodada de pagamentos, portanto, segue os moldes da anterior, tanto em valores como em público-alvo.
Com o País ainda devastado pelos efeitos da pandemia de covid-19, prorrogar o auxílio emergencial era o mínimo a fazer, até mesmo por imposição humanitária. A taxa de desemprego beira os 15%, a inflação acima do teto da meta corrói a renda dos que ainda a têm e o espectro da fome ronda os lares de milhões de brasileiros. O grande problema é que Bolsonaro é um presidente do tipo que se contenta com o mínimo a fazer, especialmente quando este mínimo é o que ele precisa para tentar estancar a vertiginosa queda de sua popularidade.
A esta altura, já está claro para a maioria dos brasileiros – como pesquisas de opinião sobre o governo podem atestar – que o bem-estar da população passa ao largo do rol de preocupações do presidente da República. Bolsonaro só tem olhos para a eleição de 2022. Neste sentido, prorrogar o auxílio emergencial não se pauta por outra coisa que não o mero cálculo eleitoral. Caso estivesse genuinamente preocupado com a situação periclitante de milhões de brasileiros, Bolsonaro teria dedicado tempo e energia para melhor formular e implementar seu plano de transferência de renda, uma reformulação do programa Bolsa Família que o governo pretende chamar de Renda Brasil.
“Estamos prorrogando o auxílio emergencial por mais três meses enquanto acertamos o valor do novo Bolsa Família para o ano que vem”, disse o presidente durante breve cerimônia em seu gabinete. Por sua vez, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a prometer o lançamento do Renda Brasil ainda neste ano. Já o ministro da Cidadania, João Roma, afirmou que o programa será lançado em novembro próximo. Bolsonaro fala em 2022, Guedes é impreciso e Roma promete o Renda Brasil para daqui a cinco meses. Uma conversa entre os três poderia resolver ao menos o problema de comunicação.
A prorrogação do auxílio emergencial, repita-se, era o certo a fazer. Mais certo, porém, teria sido o governo compreender, ainda em 2020, o sentido da palavra “emergencial” e ter planejado a transição para o novo Bolsa Família, reformulado. Não o fez porque só planeja quem tem um plano a executar. A ausência de um programa de governo claro e exequível é um vício fundamental deste governo. Igualmente, a visão estreita. Basta lembrar que o ministro da Economia, não faz muito tempo, falou em “surpresa” pela irrupção da segunda onda de covid-19 no País, ainda mais mortal do que a primeira. Não foram poucos os epidemiologistas que alertaram para este risco.
Um programa de transferência de renda, seja como for chamado, é imperativo em um país tão desigual como o Brasil. Mas não deve ser um fim em si mesmo. É dever do governo planejar uma política econômica que propicie as condições para o crescimento da atividade, este, sim, capaz de mudar a vida das pessoas de forma consistente. A política econômica há de vir acompanhada por uma política de educação igualmente bem elaborada e implementada. No Brasil sob Jair Bolsonaro, não há uma coisa nem outra.
Ao presidente, ao que parece, interessa mais lançar mão de políticas pontuais de claro viés eleiçoeiro do que atacar os problemas que pairam sobre sua mesa de trabalho com mais responsabilidade. Bolsonaro não mobilizou seu governo para mudar profundamente a realidade que submete milhões de seus concidadãos à pobreza, ao desemprego e à fome. Agora, acossado que está por graves denúncias de corrupção na aquisição de vacinas, pela acusação da prática de “rachadinhas” e, como se não bastasse, pelos achados de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que tem lançado luz sobre o descalabro que é a resposta federal à crise sanitária, tenta de qualquer forma se manter de pé do ponto de vista eleitoral, dado que a atual conjuntura política lhe é flagrantemente desfavorável.
Folha de S. Paulo
Fiéis na corte
Indicação de outro nome alinhado a Bolsonaro para o STF exige exame rigoroso
A história sugere que todo ministro do Supremo Tribunal Federal em pouco tempo começa a se distanciar do presidente da República que o indicou, exibindo independência para ganhar o respeito dos pares e influência na corte.
Não foi esse o caso, até aqui, de Kassio Nunes Marques, o escolhido por Jair Bolsonaro para preencher a vaga aberta pela aposentadoria de Celso de Mello no ano passado.
Há oito meses no tribunal, o magistrado tem se alinhado com os interesses do mandatário em sucessivos julgamentos e parece mais preocupado em demonstrar fidelidade com seus votos do que em contribuir para a construção da jurisprudência da corte.
Foi assim quando se discutiram no STF a realização de cultos religiosos durante a pandemia, a possibilidade de reeleição dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado e outros assuntos.
O ministro ficou isolado com suas posições, que frequentemente contrariaram o entendimento firmado por decisões anteriores dos colegas e por vezes desafiaram o bom senso —como a liminar esdrúxula que em abril liberou os cultos na pandemia, revogada pelo plenário logo depois.
Nesta terça (6), Bolsonaro anunciou a auxiliares que nomeará o chefe da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, para a vaga que se abrirá no tribunal na próxima semana com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello.
Se Nunes Marques era praticamente um desconhecido quando foi alçado ao tribunal, não há mistério no caso de Mendonça, servidor público de carreira que aderiu ao bolsonarismo desde o início e não perde oportunidade de se curvar diante do presidente.
No breve período em que esteve à frente do Ministério da Justiça, usou a Lei de Segurança Nacional para tentar intimidar críticos do governo e se pôs a serviço até de Abraham Weintraub, o celerado ex-ministro da Educação que chegou a incitar o chefe do Executivo contra o Supremo.
Mendonça tem percorrido gabinetes em busca de apoio desde que seu nome começou a ser ventilado para o cargo. É mal visto no Senado, que terá a tarefa de examinar a indicação, e dentro do próprio tribunal no qual quer ingressar.
Mas tudo sugere que Bolsonaro não se importa com as críticas que o escolhido tem recebido. Sua prioridade é cumprir a promessa feita há tempos a líderes evangélicos, indicando um dos seus para o Supremo —se não der certo, poderá dizer que ao menos tentou.
Dada a maneira negligente com que o presidente faz suas escolhas, caberá apenas ao Senado examinar as qualificações do novo candidato a juiz —o que deveria fazer sem a tradicional complacência.