MANCHETES DA CAPA
O Globo
Ensino remoto deixa alimentação de 2,7 milhões de crianças deficiente
CPI já listou 38 potenciais falsos testemunhos
Rosas para meio milhão de vítimas
Mendonça acelera périplo por vaga no STF
No AM, polo de agronegócio vira foco de desmate
Copa América – Empolgação ainda não entrou em campo
Quando cada ação dos adversários é mapeada em algoritmos
Brasil tem ‘mal-estar’ recorde com inflação e desemprego
‘Minha luta’ revisada – Versão crítica do livro aponta fake news de Hitler
Imortais: Campanha para 4 vagas da ABL em Fernandona, Gil e o ficcionista Munduruku
Irã elege presidente linha-dura e tenta destravar acordo nuclear
O Estado de S. Paulo
1 em cada 4 senadores é alvo de ação por impropidade
Investidor estrangeiro volta e mira ‘onda’ de IPOs
Depois da covid, famílias têm de enfrentar dívidas
Candidato não precisa ser do PSDB, diz Tasso
Rancho Queimado – Uso de kit-covid não melhora estatísticas
Indústria nacional retoma presença no mercado de TVs
Sem chip, montadoras adiam recuperação
Folha de S. Paulo
Sem perspectiva, metade dos jovens quer deixar país
Esquerda tenta ampliar atos contra Bolsonaro
AGU defende levar processo de civis para a Justiça Militar
Frank Wilderson 3º – Escravidão persiste e negro não é visto como ser humano
Com energia mais cara, brasileiro vai atrasar contas
Adensamento privilegiou classe alta em São Paulo
SP estuda antecipar a primeira dose mais uma vez
Poucas igrejas ainda não retomaram os cultos presenciais
Pandemia na Índia pode estar cinco vezes pior
Valor Econômico
Empresas tiram projetos do papel com alta do petróleo
Vacinação lenta estende cenário de tragédia
Contribuinte perde no STF tese sobre ISS
‘A girl from Rio’
CEOs contam como foi sofrer um ‘burnout’
Chapinhas e ‘air fryers’ mudam perfil de importados
Economia mostra retomada sem empregos
“Corremos risco institucional se esticarmos a corda”
EDITORIAIS
O Globo
Derrotar milícias exigirá combate às fontes de renda
As milícias já controlam 57% do território do Rio de Janeiro
A queima de fogos de cinco minutos durante o sepultamento do miliciano Wellington da Silva Braga, o Ecko, morto pela Polícia Civil no último dia 12, mostrou de forma ruidosa que, apesar da retirada de cena do chefão mais procurado do Rio, a milícia está mais viva do que nunca. Ecko, baleado durante uma operação policial quando estava na casa da mulher em Paciência, na Zona Oeste do Rio, comandava a maior milícia do estado, com atuação não só na capital, mas também na Baixada Fluminense e na região da Costa Verde.
Não se sabe se o espólio de Ecko ficará em família — o próprio bandido herdara o negócio ilícito de um irmão, morto pela polícia em 2017 — ou se será alvo de disputa entre quadrilhas. Tanto num caso quanto no outro, não é improvável uma guerra sangrenta por territórios a partir da nova configuração de poder. Não se deve imaginar que a contenda ficará restrita às milícias. Ecko foi responsável por convulsionar o submundo do crime, unindo grupos rivais num poderoso e letal conglomerado, conhecido como “narcomilícia”.
As milícias já controlam 57% do território do Rio, segundo levantamento do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (Geni-UFF) e do Núcleo de Estudos de Violência da USP, em parceria com Fogo Cruzado, Pista News e Disque-Denúncia. De acordo com a pesquisa, 2,1 milhões vivem sob domínio dessas quadrilhas. Surgidas em comunidades da Zona Oeste no início dos anos 1990, formadas originalmente por policiais e bombeiros, elas rapidamente se espalharam pelo estado e hoje já controlam uma área maior que a ocupada pelo tráfico. Num estado democrático, é inaceitável que milicianos exerçam um poder paralelo para subjugar a população.
As quadrilhas começaram “vendendo” proteção a moradores, de forma compulsória. Depois expandiram suas atividades, passando a controlar sinais de TV e internet, comércio de botijões de gás, extração de areia, contrabando de cigarros, transporte de Kombis e vans etc. O domínio é tamanho que chegam a cobrar “taxas de segurança” de pipoqueiros. Hoje o negócio mais rentável é a construção de casas e prédios clandestinos em terrenos invadidos ou áreas de proteção ambiental. Tudo sob a vista grossa do poder público. A expansão se beneficiou da leniência de autoridades e do avanço dessas organizações criminosas sobre o Legislativo e o Executivo, estratégia política para legitimar o crime que hoje contamina os escalões mais altos da República.
Há muito as milícias deixaram de ser um problema apenas de segurança pública. São também um risco de degradação urbana e ambiental. Em 2019, dois prédios erguidos clandestinamente por milicianos numa área de proteção ambiental na Muzema, Zona Oeste, desabaram, matando 24 pessoas. A indústria imobiliária irregular não reduziu o ritmo nem na pandemia.
Por mais rumorosa que seja, a morte de Ecko move as peças, mas não muda o jogo. Evidentemente, a atuação das milícias precisa ser alvo de combate sistemático, e são necessárias operações contra as quadrilhas e seus líderes, detentores de extensas folhas corridas. Mas o crucial é atacar o flanco financeiro dessas organizações criminosas, para que elas realmente sejam desarticuladas. Caso contrário, a morte do chefão significará tão somente que a quadrilha está sob nova direção.
O Estado de S. Paulo
A classe média não é culpada
Há desperdícios, de fato, mas só por imensa ignorância ou escandalosa má-fé se pode lançar sobre a classe média a responsabilidade pela fome
Incapaz de promover crescimento seguro, geração de empregos e bom uso do dinheiro público, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta associar o drama dos mais pobres ao desperdício de comida pela classe média. “Precisamos dar incentivos para que o que é jogado fora possa ser endereçado aos mais necessitados”, disse o ministro num evento da Associação Brasileira de Supermercados. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, presente na ocasião, poderia ter informado seu companheiro de governo sobre a produção e a disponibilidade de alimentos no Brasil, mas preferiu acompanhá-lo em seus comentários sobre a perda de alimentos e a necessidade de rever prazos de validade.
Há desperdícios, de fato, mas só por imensa ignorância ou escandalosa má-fé se pode lançar sobre a classe média a responsabilidade pela fome. Até 2014 a desnutrição era um problema limitado a uma parcela muito pequena da população. As condições pioraram a partir da recessão de 2015-2016, mas a fome só chegou a proporções desastrosas durante o desgoverno do presidente Jair Bolsonaro. Não se passa fome por escassez de comida, mas por falta de dinheiro para comprá-la.
Antes de falar sobre os hábitos da classe média, o ministro da Economia deveria dar atenção ao mercado de trabalho, com 14,8 milhões de desempregados no primeiro trimestre e mais de 30 milhões de subutilizados – contingente formado pelos desocupados, desalentados e outros milhões de trabalhadores potenciais. O quadro seria pior se milhões de indivíduos, em vez de tentar uma precária sobrevivência trabalhando por conta própria, continuassem buscando uma vaga.
O fracasso da impropriamente chamada política econômica ficou visível já em 2019, início da infeliz era bolsonariana. Naquele ano a economia cresceu menos que em 2018 e o desemprego permaneceu elevado. O único resultado positivo foi a aprovação da reforma da Previdência, um assunto já encaminhado na gestão do presidente Michel Temer. No primeiro trimestre de 2020 o Produto Interno Bruto (PIB) foi menor que nos três meses finais do ano anterior, embora o impacto da pandemia só se tenha manifestado na segunda quinzena de março.
As ações a favor da sustentação da economia e da renda dos trabalhadores, em 2020, deram algum resultado, e nessa fase o Brasil quase se alinhou aos mais de cem países governados por líderes mais sérios e responsáveis. Todos tentaram, nos limites de suas possibilidades e recorrendo, em muitos casos, a ajuda externa, atenuar os efeitos da crise sanitária. Mas o Brasil novamente se distinguiu, a partir do segundo semestre daquele ano, com a elaboração de um projeto orçamentário irrealista e a redução do auxílio emergencial. A suspensão do auxílio no começo de 2021 jogou milhões de famílias no desespero, tornando-as dependentes de campanhas de solidariedade.
Gente de todas as camadas, incluída a classe média atacada pelo ministro Guedes, participou do socorro às famílias sem dinheiro e sem comida, enquanto a equipe econômica tropeçava nos próprios pés e o Executivo negociava fatias do Orçamento com o Centrão. Um dos produtos dessas negociações foi a criação de um Orçamento paralelo, concebido para favorecer parlamentares dispostos a colaborar com o presidente e sua turma. A equipe econômica, muito bem comportada, foi incapaz de resistir ao dilaceramento das verbas enquanto faltava emprego e a grande massa continuava desassistida.
Além de se mostrar incapaz de promover a criação de empregos e de ajudar os pobres na fase mais crítica deste ano, o desgoverno federal contribuiu para o aumento da inflação, desde o ano passado, assustando os investidores financeiros e motivando enorme valorização do dólar. A instabilidade cambial, atenuada só recentemente, alimentou a inflação. Nos 12 meses terminados em maio os preços ao consumidor aumentaram mais de 8%. Os piores efeitos, obviamente, foram sentidos pelos mais pobres, finalmente lembrados, na quinta-feira, pelo ministro da Economia. Mas a culpa da fome, segundo ele, é da classe média.
Folha de S. Paulo
Cerco ao Enem
Inoperante para o que importa, MEC faz nova investida ideológica contra exame
Como se não houvesse questões mais graves e urgentes num país cujas escolas estão entre aquelas há mais tempo fechadas no mundo por causa da pandemia, o Ministério da Educação segue priorizando sua delirante cruzada ideológica.
A mais recente investida mira o Exame Nacional do Ensino Médio. A prova, que desde 2009 é o principal meio de acesso às universidade federais, acumulou durante sua história não poucos problemas e dificuldades —de falhas ligadas ao gigantismo adquirido a dúvidas sobre sua finalidade pedagógica.
A busca por aprimorar alguns de seus aspectos, assim, é não só legítima como desejável. Não é isso, contudo, o que vem fazendo o atual ocupante do MEC, Milton Ribeiro.
Conforme reportagem da Folha, a pasta está em vias de criar uma estapafúrdia comissão para fazer a revisão ideológica da prova. O dirigismo está longe de constituir novidade no governo Jair Bolsonaro.
Em 2019, o Inep, órgão responsável pelo Enem, criou comitê para filtrar as questões daquele ano.
Pretende-se agora tornar essa instância permanente, com membros remunerados para censurar o conteúdo desse e de outros exames, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica.
Do rol de critérios que deverão nortear o processo de revisão constam algumas das obsessões bolsonaristas, como barrar perguntas que atentem contra “valores cívicos, como respeito, patriotismo” e “valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade”, ou ainda que sejam “subjetivas”, conceito tão amplo quanto vago.
Totalmente alheia às necessidades educacionais do país, a iniciativa é combatida por setores do próprio MEC. A área técnica do Inep foi contrária à criação da comissão, argumentando que o exame já conta com um longo processo de elaboração das questões, com ao menos sete etapas de revisão.
Tais tentativas de impor ideologia barata sobre práticas e conhecimentos acumulados vêm acompanhadas, desde de 2019, de uma sucessão de desarranjos na prova.
Atrasos no cronograma de preparação do exame tornaram-se comuns; erros na correção das provas geraram confusão e prejuízo a milhares de estudantes em 2019; no ano passado, o necessário adiamento da prova só ocorreu após um extenso e conturbado processo.
Longe de estarem circunscritas ao Enem, a inépcia administrativa e a confrontação ideológica constituem a própria essência do MEC sob Jair Bolsonaro e explicam por que, passados dois anos e meio, o ministério segue sendo uma máquina inoperante e disfuncional.
Valor Econômico
Uma PEC para evitar a politização dos militares
Iniciativa precisa ser olhada com mais atenção pelo Parlamento
Avança, a uma velocidade bem abaixo da ideal, a proposta de emenda constitucional (PEC) que veda a nomeação de militares da ativa para cargos civis da administração pública.
A ideia é positiva. Afinal, no Brasil de hoje o chefe do Poder Executivo insiste em mesclar sua imagem pessoal e a de seu governo com a reputação das Forças Armadas, instituições de Estado bem avaliadas por parte considerável da população.
Nesta equação, saem perdendo Exército, Marinha e Aeronáutica. Em praticamente todas as semanas o presidente Jair Bolsonaro aproveita-se da estrutura militar para realizar uma solenidade, inaugurar uma obra ou participar de alguma cerimônia. Barracas de campanha já viraram até cenário para as tradicionais “lives” de quinta-feira ancoradas pelo presidente.
Foi numa dessas viagens, por exemplo, que uma organização do Exército passou a figurar, no inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar a realização de atos antidemocráticos, como um dos locais de onde foram acessados perfis suspeitos. Bolsonaro acena para parte de sua base eleitoral sem se preocupar com os danos institucionais que pode causar.
Entre oficiais, não há registro de críticas em relação à PEC. Ela tornou-se, portanto, uma iniciativa que precisa ser olhada com mais atenção pelo Parlamento.
De autoria da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), a proposta de emenda à Constituição é debatida há meses entre os parlamentares. Ela tomou força com a nomeação do general da ativa Eduardo Pazuello para o Ministério da Saúde e ganhou ainda mais evidência depois que o militar participou de um ato político ao lado do presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro.
A história é conhecida. Pazuello desrespeitou não apenas o bom senso como também atropelou as regras de conduta que se espera dos integrantes das Forças Armadas. Subiu em um carro de som e, ao lado do seu comandante em chefe, falou à plateia como se num evento de campanha eleitoral estivesse. Isso tudo depois de comparecer à CPI da Covid do Senado para defender sua gestão no Ministério da Saúde, uma passagem que ficará marcada na história pela ineficiência e pelos tristes números de mortes que até hoje não param de crescer.
Ainda assim, até agora a PEC só recebeu o apoio de 150 dos 513 deputados. Para entrar oficialmente no sistema da Câmara e começar a ser discutida – inicialmente pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que analisa a admissibilidade – são necessárias as assinaturas de pelo menos 171 deputados.
O texto é ponderado. A PEC determina que militares – das Forças Armadas ou da polícia – que quiserem ocupar cargos de indicação políticas, como ministérios, terão que se licenciar, caso tenham menos de dez anos de serviço, ou passar para a reserva, se tiverem mais de dez anos. Segundo a deputada Perpétua Almeida, ainda seria possível discutir também a ampliação para outras carreiras que tampouco deveriam exercer atividades de caráter político-partidário.
“Busca-se resguardar as Forças Armadas (FFAA) dos conflitos normais e inerentes à política, e fortalecer o caráter da Marinha, do Exército e da Aeronáutica como instituições permanentes do Estado e não de governos”, destaca a parlamentar na justificativa que fundamenta a apresentação da PEC. “As Forças Armadas, e suas altas e dignificantes funções de defesa permanente da Pátria, não devem ser submetidas a interesses partidários, mas também não podem se desviar de sua função constitucional para participar da gestão de políticas de governos, estes, por definição democrática, transitórios. A história do Brasil e a própria Constituição nos trazem a certeza de que a presença de militares da ativa, servindo a governos e participando da luta política partidária, pode contaminar a tropa com a politização e a partidarização do seu corpo, fenômeno nefasto para a democracia”.
Se lamentavelmente a PEC não avançar, a estratégia da oposição será tentar introduzir esse debate nas discussões a respeito da reforma administrativa. Conforme revelou o Valor na semana passada, aliás, esse tema já chegou à mesa do relator da reforma, o deputado Arthur Maia (DEM-BA). No entanto, misturar os dois assuntos pode criar uma grande oportunidade para aqueles contrários a ambas as iniciativas. O Brasil sairia perdendo duplamente.