Mauricio Huertas: Bolsonarismo é o petismo na mão inversa

O cidadão com mais de dois neurônios já entendeu que não é possível ser antipetista e defender a Lava Jato e ao mesmo tempo continuar se declarando um eleitor bolsonarista consciente e satisfeito com as ações e realizações deste governo.

Pois se é verdade que o PT se meteu em escândalos e roubalheiras, justificando a rejeição popular e a surra nas urnas, também tem ficado evidente o empenho pessoal do presidente Jair Bolsonaro e dos seus rebentos 01, 02 e 03 para melar qualquer tipo de investigação mais aprofundada contra a banda podre da política.

Comentamos aqui outro dia que estavam cada vez mais evidentes as manobras governistas para tentar impedir investigações incômodas aos três poderes da República. Dissemos que, se não bastasse interferir na Lava Jato ao trocar o comando da Polícia Federal, esvaziar o Coaf e nomear um Procurador Geral visto como manipulável, a família Bolsonaro deixava as suas digitais também na pressão e nos conchavos para barrar a chamada CPI da Lava Toga.

Afirmamos ainda que o bolsonarismo está se restringindo cada vez mais rápido aos fanáticos, lunáticos, inaptos e ineptos. Quem votou em Jair Bolsonaro com alguma esperança sincera de mudança ou por falta de opção já identificou a armadilha.

“Ética, liberalismo, postura republicana, a defesa do estado democrático de direito e mesmo o cumprimento das próprias promessas de campanha passam longe deste governo!”, foi a conclusão que chegamos no artigo “O divórcio entre bolsonaristas e lavajatistas”, de 9 de setembro.

“Percebendo que o eleitor minimamente consciente começa a manifestar o seu descontentamento com o estelionato eleitoral, o bolsonarismo radicaliza ainda mais. Os ataques desmedidos a antigos apoiadores já é sinal do desespero crescente. O divórcio entre bolsonaristas e lavajatistas também é questão de tempo. A relação de confiança e o apoiamento mútuo já se esgarçaram.”

Pois é idêntico o diagnóstico de Celso Rocha de Barros no artigo “Movimento bolsonarista reflui e radicaliza” , publicado na Folha de S. Paulo em 16 de setembro, portanto posterior ao nosso. Isso porque esse movimento que está acontecendo é óbvio. O bolsonarismo (ou boçalnarismo) está ruindo, graças a Deus! Não há cristão que aguente! (Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!)

“Os bolsonaristas inteligentes sabem que a eleição de 2018 foi uma mistura de contingências que não devem se repetir: a facada, a desistência de outsiders como Joaquim Barbosa e Luciano Huck, a prisão de Lula, o casamento entre bolsonarismo e lavajatismo, o naufrágio das candidaturas ligadas a Temer”, relata Rocha de Barros. “Essa onda atraiu as elites econômica e política para Bolsonaro nas últimas semanas do primeiro turno. Agora a onda refluiu e o sistema busca alternativas.”

E conclui: “O voto puramente antipetista parece ter abandonado Jair. Sua taxa de aprovação é semelhante à proporção do eleitorado que o apoiava antes da disparada no primeiro turno. A propósito, os dois principais governadores eleitos na onda bolsonarista —​Doria e Witzel— já tentam se afastar de Bolsonaro.”

A cereja do bolo é o guru dos fanáticos descerebrados, Olavo de Carvalho, conclamando os idiotas a formarem uma militância organizada em defesa de Bolsonaro e partir para a “ação” (seja lá qual significado se queira dar a isso, mas certamente coisa boa não deve ser).

O bolsonarismo é o petismo na direção inversa, na mão trocada. E sabe quem chegou a essa conclusão? Não foi nenhum “isentão”, como é carimbado o sujeito que enxerga defeitos à direita e à esquerda, nos fanáticos por Lula ou por Bolsonaro. Foi simplesmente a deputada mais votada da história do Brasil, com seus mais de 2 milhões de votos, eleita pelo partido do presidente, o PSL: Janaína Paschoal. Se ela diz, que somos nós para duvidar?

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do #Cidadania23 em São Paulo, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do #BlogCidadania23 e apresentador do #ProgramaDiferente.

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