Protestos pela Educação são registrados em pelo menos 22 Estados e DF
André Guilherme Vieira, Carolina Freitas, Isadora Peron, Cristian Klein e Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico/Folhapress
Até às 21h28, foram registrados no portal “G1” e em redes sociais atos contra os cortes na Educação em 136 cidades, distribuídas em 25 Estados e no DF. Este é o segundo protesto nacional contra os cortes feitos pelo governo Bolsonaro. O último ocorreu no dia 15 de maio.
Entre as maiores mobilizações estão as de Salvador, onde há uma greve estadual da educação há mais de 40 dias, além de São Paulo e Rio de Janeiro.
Em algumas cidades, houve paralisação com adesão de professores em instituições federais de ensino. Há bloqueios em prédios de instituições e também em algumas rodovias. No Amambaí, no Mato Grosso do Sul, um grupo de indígenas bloqueou uma rodovia.
Os primeiros atos ocorreram em 220 cidades de 26 Estados e do Distrito Federal.
Em decreto publicado em março que bloqueou R$ 29 milhões do orçamento deste ano, o governo federal contingenciou R$ 5,1 bilhões da área da Educação. Desse montante, R$ 1,7 bilhão envolve diretamente o ensino superior federal.
Rio
Ainda que menor do que o primeiro ato do dia 15, a manifestação ocupa toda a avenida Rio Branco, no Centro Rio. Milhares de manifestantes, cerca de um terço do protesto de duas semanas atrás, que registrou por volta de 150 mil pessoas, lotam a principal via do centro carioca, da Candelária à Cinelândia.
No primeiro ato, houve greve e as escolas e universidades não funcionaram, facilitando a mobilização durante todo o dia, concentrando a mobilização já no meio da tarde. Dessa vez, o protesto cresceu em onda, rapidamente, depois das 17h, com o fim do horário de expediente tradicional.
Manifestantes portam faixas, cartazes e adesivos contra os cortes do orçamento de universidade e institutos federais, contra o presidente Jair Bolsonaro e a favor do ex-presidente Lula. Numa cartolina, lê-se: “Reforma da Presidência”, numa ironia à proposta do governo de reformar o sistema de previdência.
Para a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), já era esperado que esse ato fosse menor, embora a parlamentar considere que ele reúna mais pessoas do que a manifestação de apoio a Bolsonaro, feita em Copacabana, no domingo.
Jandira diz que o protesto do dia 15 foi maior porque se tratava de uma greve nacional de educação. Hoje o funcionamento das escolas foi normal, tanto o setor público quanto o privado, lembra. E a manifestação foi convocada por entidades estudantis, sem o aparato de sindicatos.
A menos de cem metros da parlamentar, o ex-deputado federal Chico Alencar, do Psol, considerou um sucesso a presença de manifestantes. “A bandeira contra as atrocidades do governo na educação está mais firme do que nunca”, disse.
O ex-deputado afirmou ser “remanescente de 1968” e lembrou que as manifestações contra a ditadura militar foram cumulativas. “Tinha umas maiores, outras menores, mas havia uma chama acesa de prosseguir, de lutar”, disse.
Os manifestantes fazem muito barulho com bumbos e carregam cartazes como “Educação é ordem; ciência é progresso”,
“A burrice no poder é toda orgulho” e “Idiota inútil é o conje”, numa alusão à fala do ministro da Justiça, Sergio Moro, ao querer expressar a palavra “cônjuge”. O protesto seguirá rumo à Cinelândia.
São Paulo
Em São Paulo, estudantes se concentraram no Largo da Batata, na zona oeste da capital paulista, e depois seguiram em caminhada em direção à avenida Paulista. Estão representados em bandeiras e bancas que vendem camisetas e livros PT, Psol, PDT e MST.
Centrais sindicais também se fazem presentes com balões gigantes e um boneco inflável de Bolsonaro com a faixa de presidente do “Laranjal do PSL”. A presidente da União Nacional dos Estudantes, Marianna Dias, avaliou bem os protestos pela manhã e prometeu um ato “gigante” em São Paulo, Rio e Belo Horizonte agora à tarde.
Circula abaixo-assinado contra a reforma da Previdência, que também é criticada em uma grande faixa preta em frente à Kombi com alto falantes da Sintusp em que lideranças do movimento discursam, em uma aula pública. Um jovem representante do PT falou ao microfone e pediu aplausos para os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff.
A convocação para uma greve geral em 14 de junho dá o tom dos discursos e palavras de ordem em São Paulo. Lideranças dos estudantes e de sindicatos reforçam a mobilização para a próxima manifestação da esquerda, para manter quente a mobilização contra o governo.
Os organizadores estimaram o público na concentração em 60 mil pessoas. Pedro Gorki, presidente da Ubes, discursou em jogral com os manifestantes: “Nós estudantes hoje viemos dar uma aula ao presidente e ao ministro da Educação. Se eles querem nos ver na fila do sistema penitenciário, que eles saibam que a juventude não arreda o pé até mostrar para esse ministro que a educação é importante”.
A deputada estadual e cantora Leci Brandão, do PCdoB, pediu que Bolsonaro pegue sua “caneta” e assine um texto dizendo que está indo embora. Foi muito aplaudida.
Guilherme Boulos, líder do MTST, foi uma das lideranças mais aplaudidas pelo público ao ser anunciado.
Salvador
Milhares de estudantes concentram-se em Salvador na praça do Campo Grande, de onde sairão em passeata. Com faixas e cartazes, manifestantes protestam contra Bolsonaro. Em cima de um trio elétrico, líderes estudantis discursam e puxam gritos de guerra. O ato trava o trânsito na região central de Salvador.
O protesto na capital baiana também tem como alvo o governador da Bahia, Rui Costa (PT). Professores das universidades estaduais, em greve há mais de 40 dias, criticam os cortes no orçamento e pedem reposição salarial. “A luta pela educação une toda a esquerda, independente de quem é o alvo do protesto”, afirma o Laurenio Sombra, 52, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana. Há ainda faixas em apoio a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Brasília
Em Brasília, a concentração começou em frente à Biblioteca Nacional e seguiu para o Congresso.
Um grupo de manifestantes parou em frente ao Ministério do Meio Ambiente e protesta contra o ministro Ricardo Salles. Além de pedir a saída do ministro do cargo, gritam palavras de ordem contra a gestão de Salles. “Ricardo Salles, incompetente, é inimigo do Meio Ambiente”, dizem. O grupo está vestido de verde e carrega bandeiras da associação do Ibama.
Recife
O ato no Recife reúne um público visivelmente menor do que a manifestação realizada no último dia 15. A concentração, na rua da Aurora, área central da cidade, conta em sua grande maioria com estudantes secundaristas da rede pública de ensino.
Além dos protestos contra o contingenciamento promovido por Bolsonaro, os manifestantes atacam a reforma da Previdência e exaltam Lula.
Belo Horizonte
O ato na capital de Minas Gerais saiu com uma hora de atraso do horário previsto e caminhava em direção à avenida Afonso Pena. Às 20h30, uma multidão bloqueava parcialmente o trânsito em frente à Praça da Estação – o endereço que nas eleições é o preferido de candidatos do PT.
Em faixas, slogans e nas camisetas, os participantes faziam criticas à reforma da Previdência e também contra outras medidas do governo Jair Bolsonaro, como o decreto das armas. O mote “Lula Livre” também esteve presente.
Sindicatos de professores e de servidores, CUT e outras entidades ajudaram a organizar o ato. A Polícia Militar não fez estimativa de publico, mas os organizadores chegaram a falar em 30 mil pessoas. É o mesmo número citado por apoiadores de Bolsonaro que se reuniram domingo (26) na cidade.
“A gente sabia que haveria muita gente, mas ficamos felizes de ver que houve essa resposta maior. A pauta é importante”, diz Maria Rosaria Barbato, vice-presidente do Sindicato de Professores da UFMG (Apubh). Ela diz ainda que o ato desta quinta é uma preparação para a greve geral do dia 14 de junho, contra a reforma da Previdência.
Curitiba
Estudantes e professores que participam do ato em Curitiba instalaram uma nova faixa na fachada do prédio histórico da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
No domingo (26), uma faixa com a frase “em defesa da Educação” pendurada no mesmo local havia sido retirada sob aplausos por manifestantes pró-Bolsonaro.
A nova faixa é maior que a anterior e foi colocada num local mais alto da fachada do prédio da UFPR, numa operação que contou com andaimes.
“Isso mostra que toda vez que a educação for atacada estaremos aqui para defendê-la e colocá-la num ponto ainda mais alto”, disse Paulo Vieira Neto, presidente da Associação dos Professores da UFPR, uma das entidades que participam do ato em Curitiba.
A nova faixa traz novamente a frase “em defesa da Educação”.
A retirada repercutiu. Nesta quinta, diferentes campi da UFPR receberam uma faixa parecida com a do prédio histórico. Faixas com os dizeres “em defesa da Educação” também foram instaladas em universidades do Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo.
“A faixa virou um símbolo”, disse o professor Vieira Neto.