NAS ENTRELINHAS
“A guerra de fake news nas redes sociais, com intuito de desgastar o petista, recrudesceu em razão da pesquisa de opinião que mostra aumento da percepção positiva em relação ao governo”, observa o jornalista
Enquanto no país inteiro a imagem de Luiz Inácio Lula da Silva e do seu governo continuam em queda, no Sul do país, região onde o ex-presidente Jair Bolsonaro foi vitorioso nas eleições, o presidente da República melhorou sua avaliação, segundo pesquisa Genial/Quaest, divulgada ontem. Lula tinha 25 pontos percentuais de avaliação positiva, subiu para 34 pontos, enquanto a avaliação negativa caiu de 42 para 41 pontos.
No contingente que considerava sua atuação regular, 6% de 31% avaliaram que o governo melhorou. Esse resultado é atribuído à rapidez e intensidade com Lula mobilizou os esforços da União, e não somente do governo, para atender às vítimas das chuvas do Rio Grande do Sul.
Esse resultado mostrou ao governo que a solidariedade como os mais necessitados e a eficiência dos órgãos federais no socorro são capazes de reverter a imagem negativa, não somente no Sul, mas também nos demais estados. E a guerra de fake news nas redes sociais, com intuito de desgastar o governo, ontem, recrudesceu em razão da pesquisa.
A crise no Rio Grande do Sul continuava liderando as postagens no X (antigo Twitter). Pela mesma razão, os ataques à jornalista da Globo News Natuza Nery, chamada de “menininha” e “miserável” pelo influenciador de extrema direita Pablo Marçal, também estavam entre os mais comentados. De igual maneira, o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, que está no Rio Grande do Sul coordenando as ações do governo e é gaúcho, figurava entre os mais citados na rede.
A politização da tragédia agora parece inevitável. Por causa das fake news, Pimenta pediu à Polícia Federal (PF) para investigar mentiras em redes sociais espalhadas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), pelo senador Cleitinho (Republicanos-MG) e por Marçal. O ministro da Comunicação Social alega que houve impacto dessas narrativas na credibilidade das instituições — como o Exército, Força Aérea Brasileira (FAB), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e ministérios.
Onze publicações consideradas fake news foram listadas. Eduardo Bolsonaro publicou nas redes sociais que o governo federal teria demorado quatro dias para enviar reforços à região. Mas a outra face dessa moeda é a cadeia de solidariedade e a mobilização da sociedade, que mostram um nível de coesão social que está em contradição com o que acontece nas bolhas da internet.
Pesquisas
No quadro geral da pesquisa Genial/Quaest, porém, a percepção do governo segue em linha descendente. A avaliação positiva ficou em 33%, menor nível desde o início do levantamento, iniciado em fevereiro de 2023. Na edição anterior, em fevereiro deste ano, esse percentual era de 35%.
Outro terço da população considera o governo ruim ou péssimo, mas esse número caiu 1%. O contingente que considera o governo regular passou de 28% para 31%. O dado mais significativo é a avaliação do rumo governo, que 49% consideram errado, enquanto 41% consideram certo.
No Sudeste, Lula enfrenta talvez o seu pior cenário, com os índices de aprovação em queda livre: era de 30% caiu para 26%. Os que avaliam negativamente o governo hoje são 39%, alta de 1%. A faixa dos que o consideram regular aumentou de 20% para 32%.
Ao contrário do que ocorre no Sul, onde a atuação de Lula no socorro aos flagelados é reconhecida por uma parcela que fazia uma avaliação hostil ao governo, no Sudeste Lula não consegue melhorar sua avaliação por causa da percepção popular sobre a economia. Em dois dos quatro estados do Sudeste, ele enfrenta governadores de oposição que são potenciais candidatos a presidente: Tarcísio de Freitas (SP) e Romeu Zema (MG). No Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro também é da oposição. O único governador aliado de Lula é Renato Casagrande, do Espírito Santo.
No Centro-Oeste, o governador Ronaldo Caiado (GO), com aprovação muito superior, não esconde que pretende disputar a Presidência. A avaliação positiva de Lula caiu de 33% para 30%. A negativa continua 33%. Quanto a regular, saiu de 31% para 34%. A pesquisa foi realizada entre 2 e 6 de maio e ouviu presencialmente 2.045 brasileiros de 16 anos ou mais, em todos os estados. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.
A imagem do governo Lula é fruto de um choque de versões, no qual as redes sociais têm papel decisivo. Por mais que o governo mostre indicadores positivos na economia, a percepção continua negativa para 38% dos entrevistados, enquanto apenas 27% acreditam que melhorou. A inflação é a principal causa das insatisfações, principalmente os gastos com combustíveis, água, luz e alimentos. São itens básicos para a sensação de qualidade de vida da população.
Mesmo no Nordeste, seu principal reduto, Lula registrou queda na avaliação positiva, passando de 51%, em fevereiro, para 48%, em maio. O percentual de entrevistados que avaliam o governo regular também aumentou, no mesmo período — 25% para 30%. A fatia dos nordestinos que avaliavam o governo Lula como negativo passou de 23% para 21%, ainda acima do piso de 18% nas edições anteriores. (Correio Braziliense – 08/05/2024)