Petrobrás na contramão do futuro do planeta

Na contramão do compromisso firmado pelo Brasil na COP 28 de redução dos combustíveis fósseis, Alexandre Silveira (Minas e Energia), endossado por Prates (presidente da Petrobrás), diz que o país deve continuar a exploração de petróleo até alcançar os mesmos indicadores sociais de economias desenvolvidas

Na quarta-feira (10), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, comentou para a Folha de S. Paulo [1] que “o Brasil vai explorar petróleo até ter nível de país desenvolvido”.

Já Jean Paul Prates, atual presidente da Petrobrás, maior empresa de petróleo e energia do país, continua defendendo a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas – uma região conhecida pela sua biodiversidade única e ecossistema altamente sensível à interferências.

“Não estamos dentro da floresta”[2].

Mas o que há de errado nessas falas?

Primeiro o fato de que ambas as falas buscam uma exploração desenfreada de petróleo na expectativa de que a sua comercialização é que de fato irá elevar o país ao patamar de “desenvolvido”.

Um sonho possível se estivéssemos no século XIX.

O que o ministro e o presidente da Petrobrás ignoram é que estamos no século XXI, em que o principal desafio do século, especialmente nas próximas décadas, é reduzir e eliminar a produção e uso dos combustíveis fósseis por uma questão muito simples: SOBREVIVÊNCIA.

Cientistas renomados, ONGs, a ONU, enfim grande parte das entidades ambientais concordam que o aquecimento do planeta acima dos 3ºC, em relação ao patamar da época pré-industrial, será catastrófico, com o derretimento das gelereiras, seca na Amazônia, aumento dos eventos climáticos extremos, entre outros [3].

Resumindo: o sonho de um país desenvolvido no século XXI é incompatível com a exploração do petróleo a longo prazo.

A conta não fecha. Simples assim.

O que aconteceu com o compromisso assinado na COP 28? Foi só para “inglês ver”?

Na COP 28, evento promovido pela ONU a fim de reunir lideranças globais para firmar acordos e compromissos em prol de soluções para as mudanças climáticas, que ocorreu em dezembro de 2023 em Dubai, o Brasil assinou o compromisso de reduzir o uso de combustíveis fósseis, até 2050 – como o petróleo, gás natural e carvão mineral – para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas que têm impactado o planeta.

Porém, antes e depois de assinar o compromisso, o Brasil sinaliza justamente o contrário! O governo, mais de uma vez, aponta para investimentos na exploração e extração do petróleo, ao invés de investir em pesquisa e tecnologia para uma transição energética efetiva.

O Brasil é um país de extensão territorial continental, possui os biomas mais importantes do planeta terra, dentre eles a Amazônia, a Mata Antlântica, Pantanal e Cerrado, tem uma das maiores capacidades hidroelétricas, além do potencial fotovoltaico, eólico e biogás do mundo.

Poderíamos utilizar os lucros bilionários da Petrobrás para investir pesado na transição energética e nos tornarmos o primeiro país do mundo a ser carbono zero. O exemplo de desenvolvimento e economia verdes. Liderança global em desenvolvimento sustentável.

Mas o governo está cego pelos números que o óleo preto e pegajoso podem gerar no curto prazo.

Em outras palavras, o sonho do ministro de transformar o Brasil em um país desenvolvido é mais do que possível, é atingível e em poucas décadas. O problema é que o caminho escolhido para atingir esse objetivo é incompatível com o futuro do planeta. Assim, ao invés de o país ser exemplo de energia verde, escolhe afundar no próprio petróleo.

Geovanna Machado, presidente da Juventude 23

NOTAS:

[1] Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/04/brasil-vai-explorar-petroleo-ate-ter-nivel-de-pais-desenvolvido-diz-ministro-de-energia.shtml

[2] Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2023/09/28/prates-defende-exploracao-de-petroleo-na-foz-do-amazonas-nao-estamos-dentro-da-floresta.ghtml

[3] Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/mundo/estudo-da-onu-aponta-que-temperatura-do-planeta-pode-aquecer-quase-3c-sem-acoes-agressivas,cf2658499544a5bea9aab0f7b0cc8ddfgspv7sdg.html?utm_source=clipboard

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