Durante dois anos, entre 1998 e 2000, eu integrei a Unesco, realizando projetos e participando de seminários em Portugal e na França.
Em determinada oportunidade, tive a honra de expor um trabalho meu em um seminário voltado para o exame da escravidão nas Américas. Apenas 17 historiadores foram convidados para o evento internacional. Presentes pesquisadores de várias partes do mundo. Nós, brasileiros, éramos a delegação mais numerosa: quatro integrantes. Então presidente da Academia Brasileira de Letras, o embaixador Alberto da Costa e Silva era o principal representante do nosso grupo. Convivi com ele por dez dias nesse Seminário, realizado em Évora. Tinha uma cultura extraordinária. Grande humanista, eu o considerava o maior escritor do Brasil. Estive com ele por algumas vezes ainda na ABL.
Alberto da Costa e Silva fará falta.
Acabo de receber a notícia do falecimento de Olga Sodré. Eu a conheci há cerca de 50 anos. Ainda muito jovem, recém formada em Sociologia, Olga atuou na Revista da Civilização Brasileira, em uma época marcada pela presença de intelectuais do porte de Ferreira Gullar, Oscar Niemeyer, Antônio Houaiss, Ênio Silveira e Nelson Werneck Sodré, este último seu querido pai.
Tive a honra de assinar um livro com Nelson Werneck Sodré em 1998, intitulado Tudo é Política. Foi um lançamento memorável, realizado na Livraria Dazibao, então situada no Paço Imperial. Centenas de pessoas estiveram presentes. Exatamente nesse belo prédio foi lido, de uma de suas janelas, a 9 de janeiro de 1822, o Manifesto por excelência da da nossa Independência, o Fico. Não haveria local mais adequado para Nelson Werneck Sodré, um lutador das nossas mais significativas causas populares e nacionais, divulgar sua obra.
Olga Sodré dedicaria os últimos anos de sua existência ao importante e generoso trabalho de divulgação do acervo de seu pai. Muito católica, ela sempre enalteceu o espírito de abertura de Nelson, um ateu convicto.
Descanse em paz, minha amiga Olga.
Ivan Alves Filho é historiador.
26 de novembro de 2023