Bernardo Mello Franco: Sinais opostos na reta final

Na semana decisiva, petistas tentam vender otimismo; governistas lançam factoides e estimulam arruaça

A convocação foi feita em tom solene, no fim da tarde de segunda-feira. Pelas redes sociais, o ministro Fábio Faria instou a imprensa a “acompanhar a exposição de um fato grave na frente do Palácio da Alvorada logo mais, às 19h30”.

No horário marcado, o ministro apareceu diante das câmeras. Contou a seguinte história: rádios do Nordeste teriam deixado de veicular milhares de inserções de Jair Bolsonaro. Não apresentou detalhes ou provas do suposto boicote.

A seu lado, o publicitário Fabio Wajngarten aproveitou para fazer propaganda. Disse que o capitão foi “censurado” e, sem ser perguntado, informou que a campanha continuava “firme, forte e unida”. “A gente está na frente das eleições. A gente virou a curva”, acrescentou, na contramão de todos os institutos de pesquisa.

O factoide durou pouco. Ainda na noite de segunda, o TSE constatou que a denúncia se baseava em relatório apócrifo, sem datas ou horários das tais inserções. “Os fatos narrados não foram acompanhados de qualquer prova e/ou documento sério”, resumiu o ministro Alexandre de Moraes.

Ele cobrou a apresentação de provas e ameaçou enquadrar a dupla por crime eleitoral “se constatada a motivação de tumultuar o pleito”. Ontem o assunto só subsistiu nas redes bolsonaristas.

A bomba dos dois Fabios revelou-se um traque. Mais ruidosas foram as granadas atiradas por Roberto Jefferson contra a Polícia Federal. No domingo, o ex-deputado reagiu com violência a uma ordem de prisão. Entrincheirou-se com armas e explosivos, em aparente tentativa de insuflar um levante bolsonarista.

O Capitólio de Levy Gasparian fracassou. Ao notar a repercussão negativa, o capitão abandonou o velho aliado, a quem chamou de “bandido”. Jefferson terminou a noite sozinho e de volta ao xadrez.

Na reta final da eleição, as duas campanhas emitem sinais opostos. Os bolsonaristas transpiram nervosismo e estimulam a arruaça. Os petistas buscam vender otimismo e tratar do futuro, embora reconheçam que a disputa não está ganha.

Em ato festivo, Lula ostentou as aquisições mais recentes de sua frente ampla: a senadora Simone Tebet, o economista Persio Arida, os tucanos históricos José Gregori e José Aníbal. Para aguçar o apetite dos novos aliados, prometeu ceder espaços e montar um governo “além do PT”. Horas depois, repetiu que, se eleito, será “presidente de um mandato só”.

Bolsonaro disse o mesmo em 2018, mas esta já é outra história. (O Globo – 26/10/2022)

Leia também

Brasil fica mais perto da nova Rota da Seda

Os chineses tentam atrair a adesão do Brasil ao programa há anos. Até agora, os governos brasileiros resistiram, por razões econômicas e geopolíticas.

Meia-volta, volver!

Ivan Alves Filho* Aprendi com um mestre do valor de...

A Democratização da Literatura no Brasil

Matheus Rojja Fernandes * A democratização da literatura no Brasil...

As eleições de 2024 e as de 2026

* Ivan Alves Filho Escrevo logo após o encerramento do...

O que se move sob nossos pés?

Há algo que se move sob nossos pés e...

Informativo

Receba as notícias do Cidadania no seu celular!