O general Walter Braga Netto (PL), pré-candidato a vice de Jair Bolsonaro na chapa em que ele disputará a reeleição, disse em um encontro com empresários da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro que, se não for feita a auditoria dos votos defendida pelo presidente, “não tem eleição”.
A fala de Braga Netto se deu na última sexta-feira (24), dois dias antes de ele ser oficializado vice. E causou constrangimento na plateia de 40 empresários selecionados a dedo pela federação empresarial para um discreto encontro dedicado oficialmente à apresentação de pleitos do Rio ao “assessor especial da presidência da República”.
Longe da imprensa e frente a uma audiência em tese simpática, Braga Netto se soltou e repetiu a narrativa infundada de Bolsonaro sobre a segurança da urna eletrônica – ao contrário do que diz o presidente, os votos no Brasil são auditáveis.
À equipe da coluna, a assessoria de imprensa de Braga Netto afirmou que não houve ameaças, que sua fala foi tirada de contexto e mal interpretada pelas fontes.
Mas, segundo relatos colhidos pela equipe da coluna, a sala foi tomada por um incômodo silêncio após a declaração. O militar da reserva, que foi exonerado hoje do governo para disputar as eleições, estava acompanhado do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, pré-candidato a deputado federal pelo PL.
Braga Netto recebeu de estrategistas de Bolsonaro a missão de ajudar na arrecadação de recursos para a campanha. A previsão da cúpula é que ele se dedique a viajar pelos estados onde estão os principais doadores.
A visita ao Rio se deu em razão da proximidade com o empresariado fluminense desde o período em que foi interventor federal no estado, durante o último ano do governo Temer, em 2018.
A insistência na ameaça de ruptura com base em teses conspiratórias coincide com a onda de notícias ruins que se abateu contra o governo Bolsonaro nas últimas semanas.
Além da prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, o Palácio do Planalto se vê diante da suspeita de interferência do presidente na Polícia Federal, a piora dos índices econômicos e a estagnação do presidente no último Datafolha. O escândalo que derrubou Pedro Guimarães da presidência da Caixa Econômica, que eclodiu na última terça-feira, somou-se à lista nos últimos dias.
No início do mês, o próprio presidente aproveitou sua passagem pelo Rio para disparar ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao sistema eleitoral durante reunião com a Associação Comercial fluminense.
Em julho de 2021, reportagem do Estado de S. Paulo relatou que Braga Netto teria feito a mesma ameaça ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por meio de emissários.
À época, tanto Lira quanto o general da reserva foram cobrados pelo então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, pela suposta declaração. Ambos negaram que o diálogo tenha ocorrido, e o jornal reiterou o teor da reportagem.
Procurada, a Firjan informou que não comentará o episódio. (Por Johanns Eller/O Globo – 01/07/2022)