Pedro Cafardo: Alguns números para vigiar debate eleitoral

Dias atrás, um candidato à Presidência fez afirmações equivocadas ou mesmo mentirosas sobre dados de governos passados. Cada vez mais, à medida que a campanha eleitoral avança, “fake news” serão jogadas no colo dos eleitores.

Nesta coluna, pretende-se apresentar números básicos objetivos, sem qualificação, sobre os oito governos desde a volta das eleições diretas, em 1989. São alguns indicadores macroeconômicos e sociais geralmente utilizados para avaliar o desempenho de um governo, como inflação, PIB, dívida externa, mortalidade infantil, desemprego etc.

Como o colunista não dará sua opinião, caberá ao leitor observar os números e tirar conclusões. Alguns ex-presidentes ou correligionários deles, para justificar maus desempenhos, poderão sempre apelar para a velha tese da herança maldita. Outros, como já fizeram muitas vezes, argumentarão que resultados posteriores positivos se devem à herança bendita, aquela decorrente de medidas tomadas por governos que precederam àquele que apresenta bons indicadores.

Muitas medidas, de fato, têm efeitos favoráveis ou desastrosos a médio prazo. Discutem-se hoje, por exemplo, as sequelas da implantação do teto de gastos na gestão Michel Temer. Economistas liberais consideram que o teto impediu políticas de populismo fiscal. E progressistas dizem que a medida amarrou as mãos dos formuladores de política econômica, bloqueou investimentos e teve forte impacto recessivo.

Outro exemplo: a PEC da “Bondade”, que atropela o teto e autoriza gastos de R$ 41,2 bilhões até 31 de dezembro, com evidentes objetivos eleitorais, terá implicações fiscais no próximo governo. Costuma-se dizer que contra fatos não há argumentos, embora um empresário importante do passado recente do país, José Mindlin, certa vez tenha invertido, sábia e jocosamente, o sentido da frase dizendo que “o economista é aquela pessoa para a qual contra argumentos não há fatos”.

As tabelas abaxio, elaboradas pelo economista Robinson Moraes, do Valor Data, mostram dados incontestáveis dos últimos 33 anos. Retratam fatos e serão úteis para checar possíveis citações de candidatos. Os itens são limitados, naturalmente. Não trazem alguns indicadores importantes como o número de pessoas que passam fome (33 milhões). Nem dados ambientais e sobre segurança pública, estupros, assassinatos etc, que têm chamado a atenção da opinião pública nos últimos anos. Mas são números básicos, que podem indicar para onde está indo uma administração pública.

É possível e já foi até muito usual a manipulação de números no Brasil. Durante a ditadura, dados da inflação e índices de correção eram arranjados. Hoje, com tantas informações disponíveis, ficou mais difícil essa manipulação. Mas há, ainda, muitos torturadores de números. (Valor Econômico – 12/07/2022)

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