Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (24/05/2022)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Doria desiste, mas partidos da 3ª via continuam divididos
Bolsonaro troca de novo o presidente da Petrobras
Governo reduz em 10% tarifas de importação
Márcio França – ‘Lula é um Neymar, mas não pode carregar todos’
Crítico de Bolsonaro perde vice-presidência da Câmara
Força Aérea ‘vai cumprir as leis’ nas eleições, afirma brigadeiro
Rio registra escassez de 134 remédios injetáveis nas redes pública e privada
Biden diz que usaria força para defender Taiwan

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro troca chefia da Petrobras pela 3ª vez e quer mudar política de preços
Doria desiste e abre caminho para Tebet; ala do PSDB quer ter candidato
Intervenções do Congresso vão encarecer conta de luz em 10%
Farra dos caminhões de lixo – Empresa tem sede em casa ‘no mato’ e concorrentes dividem escritório
Luiz Carlos Trabuco – ‘O investidor estrangeiro confia na democracia do Brasil’
MEC disiste de facilitar novas vagas em cursos de Medicina
Varíola dos macacos – Anvisa sugere máscara e isolamento para adiar chegada
EUA criam bloco para frear avanço da China na Ásia

Folha de S. Paulo

Doria desiste de candidatura e abre nova disputa no PSDB
Presidente da Petrobras cai após 40 dias
MDB não vai me abandonar, diz Tebet após Doria
Com vácuo, Lula quer usar Alckmin para atrair tucanos
Só 2% do garimpo ilegal dentro de terra yanomami é fiscalizado
Davos prevê risco inflacionário e dano à globalização
Rússia matou 87 em ação mais letal, acusa Zelenski
Biden fala em defender Taiwan se China atacar

Valor Econômico

Bolsonaro demite o terceiro presidente da Petrobras
Governo volta a cortar tarifa de importação
Após desistência de Doria, Tebet tenta unir o centro
Empresas têm ganho forte no 1º tri
TST para ações sobre grupo econômico
Vale é a 9ª maior pagadora de dividendo global
Hausmann vê risco de alta forte do juro nos EUA

EDITORIAIS

O Globo

Governo usa projeto de internet por satélite de Musk para desinformar

Não se sabe nada sobre o serviço, nem especificação nem custo

Na ânsia de faturar politicamente com a visita-relâmpago de Elon Musk ao Brasil, Jair Bolsonaro deu mais uma prova de sua capacidade singular para desinformar. Afirmou que o serviço de internet por satélite oferecido pela empresa de Musk ajudará a preservar a Amazônia. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, foi mais fundo na desinformação: “O satélite pode nos informar que estava ali uma serra elétrica, e o governo vai conferir se é um lugar onde está tendo desmatamento legal ou ilegal”.

As declarações partem de três premissas falsas. Primeira: os satélites da Starlink, de Musk, não foram concebidos para sensoriamento remoto ou imagens, como Faria deu a entender. São satélites de comunicação. Segunda: não faltam informações sobre onde e quando acontecem os desmatamentos. O Brasil é pioneiro no monitoramento de florestas por satélites desde a década de 1970. Há anos conta com os sistemas mais avançados do mundo, ambos do Inpe: o Deter, com cobertura de áreas acima de 25 hectares, e o Prodes, para áreas superiores a 6,2 hectares. Instituições independentes emitem dados complementares.

A terceira premissa falsa, a mais grave, é supor que exista interesse do atual governo em fiscalizar e punir. Das áreas desmatadas identificadas entre 2019 e 2021, apenas 5% foram alvo de embargo ou autuação do Ibama, segundo o relatório da parceria entre Instituto Democracia e Sustentabilidade e MapBiomas. É notório o esvaziamento dos órgãos de monitoramento e fiscalização pelo atual governo. Desde a posse de Bolsonaro, a área desmatada cresceu 75%, de acordo com os dados disponíveis. É um descalabro.

Preocupado em tirar selfies e difundir propaganda nas redes sociais, Bolsonaro se esqueceu de dar mais ênfase ao que teria sido a parte da visita de Musk com mais chance de ajudar o país: a tentativa de oferecer internet rápida e barata na Amazônia e em áreas remotas, onde a melhor solução é a tecnologia via satélite. Por usar satélites de baixa órbita, a Starlink de Musk poderá, uma vez concluída sua implantação, oferecer conexão mais confiável e com menor tempo de resposta. Há, porém, serviços concorrentes em desenvolvimento, como o Project Kuiper, do também bilionário Jeff Bezos, ou o OneWeb. Nenhum deles é exclusivo para o Brasil ou para a Amazônia.

Espalhados pela região amazônica, pelos menos 700 mil vivem em reservas extrativistas, terras indígenas e comunidades quilombolas que poderiam ser beneficiadas com a instalação de internet rápida não só em escolas, mas também em postos de saúde. “É imenso o potencial ganho que essa população poderia ter com a medicina à distância”, afirma Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

A questão não é se satélites de baixa órbita podem ser parte da solução para o isolamento e a pobreza na Amazônia. A dúvida é se a empresa de Musk seria a melhor opção. Não se sabe nada sobre o serviço que oferecerá, nem especificação nem custo. Ele hoje tem a mesma densidade do vácuo sideral. Houve tietagem de mais, trabalho de menos.

O Estado de S. Paulo

Ação entre amigos

Compra superfaturada de caminhões de lixo é o mais novo capítulo dessa singular parceria entre Bolsonaro e o Centrão. O que pensa o procurador-geral da República?

A conjunção de um presidente incapaz, uma grei de parlamentares oportunistas e um procurador-geral da República que não demonstra ter gana para cumprir o papel que a Constituição lhe reserva criou esse ambiente singular no qual vultosos recursos do Orçamento são usurpados à luz do dia para financiar ambições estranhas ao interesse público praticamente sem reação. Poucas vezes em nossa história republicana foi tão fácil para uma plêiade de políticos indignos de seus mandatos malversar recursos públicos. Vedações legais, imperativos morais ou espírito público parecem meros detalhes incapazes de fazê-los perder algumas horas de sono que sejam.

O jornalismo profissional e independente tem feito a parte que lhe cabe para a construção de uma sociedade democrática, vale dizer, uma sociedade informada, livre e participativa. Nos últimos três anos e meio, só o Estadão revelou mais escândalos de corrupção do que o governo que se jacta de ter “acabado com a corrupção” em Brasília teria coragem de admitir. A rigor, antes mesmo de Jair Bolsonaro tomar posse como presidente da República este jornal já havia revelado ao País o esquema das “rachadinhas”, lançando luz sobre as suspeitas de peculato, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito que recaem sobre o filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, e o “faz-tudo” do clã, o notório Fabrício Queiroz.

Desde então, o País tomou conhecimento, entre outros malfeitos, do “orçamento secreto”, esquema urdido no Palácio do Planalto para evitar o impeachment de Bolsonaro, e assistiu ao governo tomar uma nova forma: a submissão quase absoluta do presidente da República aos interesses do Centrão, grupo político que hoje é liderado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e por seu correligionário à frente da Casa Civil, o ministro Ciro Nogueira (PP-PI).

Essa parceria – chamemos assim – entre o governo e o Centrão tem se notabilizado menos pelas boas políticas públicas que poderiam advir de uma união de forças entre um Executivo e um Legislativo mais ciosos da realidade do País do que pelas suspeitas de corrupção que se sucedem a cada apuração de jornalistas que ousam não se dar por vencidos, a despeito dos fortes ataques de que têm sido vítimas.

Recursos do “orçamento secreto”, uma excrescência por si só, foram usados para comprar ônibus escolares superfaturados. Os veículos foram distribuídos de forma absolutamente antirrepublicana, privilegiando municípios governados por amigos – e até mesmo parentes – dos mandachuvas de turno. Depois, vieram os tratores, que, assim como os ônibus, foram adquiridos a preços muito discrepantes da realidade de mercado e por meio de convênios entre municípios escolhidos a dedo e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). A Codevasf, aliás, é um capítulo muito peculiar na história da “parceria” entre Bolsonaro e o Centrão. Sob o atual governo, a chamada “estatal do Centrão” foi inchada a tal ponto que passou a abarcar projetos em cidades que distam até 1,5 mil quilômetros das águas dos rios que batizam a empresa.

No domingo passado, o Estadão revelou mais um esquema envolvendo veículos pesados: a compra superfaturada de caminhões de lixo. Após análise de mais de 1,2 mil documentos durante dois meses, o jornal constatou um aumento de 500% nas compras de caminhões de lixo pelo governo Bolsonaro. Novamente, Ciro Nogueira aparece no centro das apurações. Só a empresa de uma amiga do ministro-chefe da Casa Civil firmou contrato de quase R$ 12 milhões com a Codevasf para fornecimento de 40 caminhões de lixo. As compras são dissociadas de quaisquer políticas de saneamento básico. A título de exemplo, no Piauí, Estado de Ciro Nogueira, 89% dos municípios descartam os dejetos em “lixões” a céu aberto. Segundo especialistas, até os modelos dos caminhões, do tipo compactador, são inapropriados para municípios com menos de 17 mil habitantes, como são a maioria das cidades atendidas por essas compras.

Diante das informações que a imprensa apura e publica diariamente e das evidentes suspeitas de corrupção, cabe perguntar: o que pensa o procurador-geral da República?

Folha de S. Paulo

Descuido vacinal

Governos e sociedade precisam reverter atraso na imunização de crianças e jovens

São preocupantes os dados que mostram atrasos na vacinação de crianças e jovens contra a Covid no país, após uma bem-sucedida imunização dos adultos mais velhos.

A Folha noticiou, a partir de números do Ministério da Saúde, que mais da metade dos meninos e meninas de 5 a 11 anos que receberam a primeira dose da Pfizer pediátrica ou da Coronavac nos primeiros meses do ano podem estar com a segunda dose atrasada.

Ademais, apenas 30% dos brasileiros de 18 a 24 anos de idade apresentam o esquema vacinal com as três doses recomendadas desde dezembro do ano passado. Os percentuais de adesão, aliás, decrescem com as faixas etárias.

Parece intuitivo que a queda da letalidade do coronavírus —a média diária de mortes deixou a casa dos milhares e hoje ronda uma centena— leva a um relaxamento com os imunizantes, a despeito da boa procura inicial. Na população, mais de três quartos tomaram duas doses ou dose única, segundo o consórcio de veículos de imprensa.

Se os cuidados diminuíram na sociedade, do Ministério da Saúde é que não se deve esperar maior diligência no governo de Jair Bolsonaro (PL). Nunca será demais lembrar que o presidente liderou uma ofensiva de desinformação a respeito das vacinas contra a Covid.

Quanto ao público infantil, cumpre dizer que o cenário já era alarmante antes da pandemia no que diz respeito a outras doenças, com alta da chamada taxa de abandono.

Isto é, os pais já vinham deixando de levar seus filhos para completar a proteção contra, por exemplo, sarampo, rubéola, caxumba (a tríplice viral, com duas doses) e poliomielite (três doses).

No caso da Covid, esse movimento ganhou o estímulo macabro das autoridades negacionistas. Em vez de campanhas como as protagonizadas no passado pelo Zé Gotinha, a pasta da Saúde ocupou-se de dificultar a imunização infantil.

Além de minimizar a necessidade e a urgência da vacina, defendeu uma despropositada consulta pública para recomendar que crianças de 5 a 11 anos fossem atendidas —desde que mediante a apresentação de prescrição médica e consentimento dos pais.

Com a bem-vinda volta das aulas presenciais e diante do aumento do número de novos casos e reinfecções, todos os níveis de governo deveriam se articular para promover a imunização completa de crianças e jovens, com campanhas efetivas de esclarecimento.

A sociedade também precisa fazer sua parte. É fundamental o retorno às atividades econômicas e sociais, portanto não há motivo para retrocessos e riscos no processo de prevenção da doença.

Valor Econômico

Evasão e reprovação apontam prioridades no ensino

Implantação do ensino em período integral nas redes públicas se tornou mais do que importante para viabilizar a recuperação do aprendizado

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro exibia pretensa preocupação com a conexão de escolas rurais com a internet e intimidade com o bilionário Elon Musk e a Câmara dos Deputados apressava-se em aprovar em regime de urgência o ensino em casa (“homeschooling”), novos dados divulgados pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostravam em detalhes os efeitos danosos da pandemia no ensino, evidenciando as reais prioridades na área da educação.

O Inep informou que a segunda etapa do Censo Escolar da Educação Básica mostrou que a taxa de abandono no ensino médio dobrou com a pandemia, passando de 2,3% para 5% entre 2020 e 2021. O desastre foi puxado pela rede pública estadual já que na privada houve estabilidade. Também houve aumento nas taxas de abandono do ensino fundamental, de 1% para 1,2%, chegando a 2,1% nos anos finais, do sexto ao nono ano. Na rede privada, caiu para 0,2% em 2021. Em algumas regiões, o quadro é ainda pior. Nos Estados do Norte, a taxa de abandono do ensino médio chegou a 10,1%; e, no ensino fundamental, a 2,5%.

O Censo Escolar da Educação Básica também mostrou aumento na taxa de reprovação dos estudantes em 2021. No ensino fundamental, ela foi de 2%, subindo para 4,2% no ensino médio: 11,7% nas escolas federais, 4% nas estaduais e 1,6% nas privadas.

Esses dados compõem o quadro do impacto negativo da pandemia na educação e são coerentes com outras informações. Pesquisas confirmam o efeito mais negativo nas crianças menores, menos preparadas para acompanhar aulas on-line. Segundo os próprios pais, menos da metade das crianças de 6 a 7 anos (46%) sabem ler e escrever nas escolas públicas em comparação com 60% em 2019. Houve declínio também nas privadas, de 78% para 69%.

O professor do Insper, Naércio Menezes Filho, menciona em artigo publicado no Valor (20/5) estudo importante que mostra que as crianças que estavam na pré-escola em 2020 aprenderam apenas 64% do que havia sido absorvido em matemática pelas crianças da geração de 2019, sendo que as mais pobres somente metade e as mais ricas, 75%. Segundo o estudo houve até um aumento de 14% nas crianças de 2020 que não conseguiam se sentar e se levantar do chão sem usar algum apoio, provavelmente porque ficaram muito tempo em casa durante a pandemia, operando o celular ou o computador.

A defasagem na aprendizagem pelo longo tempo de escolas fechadas dado o atraso na vacinação da população brasileira e as dificuldades de se viabilizar o ensino remoto, seja por deficiência das escolas ou da tecnologia deve trazer consequências a longo prazo na vida da geração Covid. O Brasil está entre os países do G-20 onde os estudantes terão as maiores perdas de rendimentos ao longo da vida em consequência das deficiências de aprendizagem durante a pandemia. Fica atrás apenas da Indonésia e do México, segundo estudo do Fundo Monetário Internacional. Os ganhos médios de estudantes brasileiros serão 9,1% menores ao longo da vida por causa do fechamento das escolas. Na Indonésia, a perda é de 9,7%, e, no México, de 9,9%. A perda será maior entre as classes de renda mais baixa.

Esse quadro não é uma maldição inescapável e poderia ser corrigido ou minorado por atuação do governo. Naércio detalha algumas providências em seu artigo. Um dos primeiros passos seria o governo fazer uma avaliação da situação atual dos estudantes em todo o país, por faixa etária e rede de ensino, para basear um plano para corrigir as deficiências encontradas no menor tempo possível. Ele sugere o engajamento dos agentes da Estratégia Saúde da Família (ESF), que atinge 60% dos domicílios, para buscar as crianças que estão fora da escola e conter a evasão escolar.

Em “live” realizada pelo Valor (16/5) a CEO do Itaú Social, Angela Dannemann, disse que a implantação do ensino em período integral nas redes públicas se tornou mais do que importante para viabilizar a recuperação do aprendizado, com a ajuda de ONGs para oferecer atividades complementares. Segundo ela, turnos de apenas quatro horas de aula são mais “uma jabuticaba brasileira”.

A recuperação da defasagem do aprendizado exige parceria entre os governos estaduais e municipais, dada a descentralização do sistema, com envolvimento da sociedade, que deveria ser capitaneado pelo governo federal. No entanto, o que se vê é a preferência do Planalto por eventos midiáticos, em conluio com a Câmara dos Deputados, que acha urgente o “homeschooling” nesse cenário catastrófico para o ensino.

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