MANCHETES DA CAPA
O Globo
TSE vai convidar número recorde de observadores
Cúpula tentará demover Doria de pré-candidatura
Lula e Kalil avançam por aliança em MG
Eletrobras: TCU deve aprovar hoje privatização
Rodrigo Neves – ‘Ciro é preparado, mas discordo dos ataques a Lula’
A onda de frio que vem lá do sul
Bolsonaro move processo contra Alexandre de Moraes no STF
Assembleia de SP cassa mandato de Arthur do Val por fala sexista
‘A supremacia branca é um veneno’, diz Biden
O Estado de S. Paulo
Bolsonaro vai ao STF e acusa Moraes de abuso de autoridade
Ciclone atípico causa danos e morte no Sul e derruba temperaturas
Cúpula do PSDB pressiona Doria para que desista da candidatura
Cassado na Alesp, Arthur do Val perde direitos políticos por 8 anos
Reajuste prometido a servidores exige bloqueio de R$ 10 bi no Orçamento
Volta do despacho gratuito de bagagem passa no Senado
Folha de S. Paulo
TCU deve aprovar hoje processo para privatizar Eletrobras
Bolsonaro processa Moraes por abuso de autoridade
Cúpula do PSDB eleva pressão para Doria desistir
Alesp decide cassar Arthur do Val, que fica inelegível
Trans na política enfrentam rotina de perseguição e ameaças de morte
Com temperaturas baixas, capitais reforçam abrigos
Sopão perde carne, e doações de cesta básica diminuem
Operação chama de zumbis usuários na cracolândia
EUA tentam convencer Bolsonaro a ir a cúpula
Nova York volta a recomendar máscaras em lugares fechados
Valor Econômico
Setor privado responde por toda a alta do investimento
Atlântica, BP e Fleury unem-se em oncologia
UE pretende adiantar taxa de carbono
Hapvida perde R$ 9,3 bi em valor na bolsa
Renda será afetada por fechamento de escolas
Tribunais têm alta em ações por litigância climática
Horizonte investe R$ 3,1 bilhões em ferro-níquel no PA
EDITORIAIS
O Globo
No país em que faltam vacinas, número de armas não para de subir
Armar a população não é política de segurança, mas de morticínio
Faltam vacinas, mas sobram armas. O Brasil tem hoje 1,15 milhão de armas legalizadas nas mãos de cidadãos. O número representa um aumento de 65% em relação ao arsenal registrado pela Polícia Federal e pelo Exercito em dezembro de 2018, antes da posse do presidente Jair Bolsonaro, como mostrou levantamento feito pelo GLOBO em parceria com os institutos Igarapé e o Sou da Paz.
Pelos dados, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, o maior salto se deu nas licenças para pessoas físicas, sob responsabilidade da Polícia Federal: 72% (de 346 mil em 2018, para 595 mil no fim de 2020). Nos registros do Exército, que incluem caçadores, atiradores e colecionadores (CACs), o aumento foi de 58% (de 351 mil para 556 mil).
Não se pode dizer que o presidente Jair Bolsonaro não esteja cumprindo uma de suas principais promessas de campanha: facilitar o acesso às armas, mesmo de guerra, como fuzis, antes restritas às forças de segurança. Também não se pode dizer que esse afrouxamento das normas para compra, posse e porte de armas tenha nos conduzido a um país mais seguro. Ao contrário.
Basta observar o cotidiano das cidades brasileiras, sobressaltadas por chacinas, feminicídios, assaltos cinematográficos, guerras entre quadrilhas, confrontos sangrentos entre policiais e bandidos e saraivadas de balas perdidas, que sempre encontram inocentes pelo caminho. Basta lembrar os nomes de Ágatha, Rebecca, Emilly, João Pedro e tantos outros, cujas vidas foram interrompidas brutalmente por essa desgraça que rouba o futuro de nossas crianças e adolescentes.
Não poderia ser diferente. Armar a população não é política de segurança, mas de morticínio. Nunca será. A esperança de haver alguma política séria para o setor morreu com a saída do então ministro da Justiça e Segurança Publica, Sergio Moro, em meio às pressões de Bolsonaro para interferir na PF. Restou o salve-se quem puder de cidadãos reféns da violência. No seu despreparo, Bolsonaro confunde armas com segurança.
De nada adianta alegar que essas armas e munições são legais e estão nas mãos de “cidadãos de bem”. Balela. Sabe-se bem o destino que tomam, indo parar nas mãos dos bandidos. O próprio Bolsonaro foi assaltado em 1995, e a arma não o protegeu. Foi levada pelos bandidos. As balas que mataram Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes saíram de um lote desviado ou roubado da Polícia Federal. Triste ironia: o Estado acaba por financiar o crime.
Cidadãos mais armados representam um risco que ainda não se mostrou nos indicadores de violência, mas certamente aparecerá depois da pandemia. Tarda, mas não falha. Uma hora a Covid-19 passará. Mas a epidemia de violência que fustiga os brasileiros continuará matando, sob o beneplácito do governo Bolsonaro. Ainda não se descobriu uma vacina contra a insensatez.
O Estado de S. Paulo
Os perdedores de sempre
Ruim para todos, a desocupação é maior entre negros, mulheres, menos educados e moradores de áreas menos desenvolvidas
Continuou feio o quadro do emprego, no primeiro trimestre, com 11,9 milhões de pessoas desocupadas, grupo equivalente a 11,1% da força de trabalho. Mas as condições permaneceram muito mais feias para negros, mulheres, jovens, trabalhadores com menor escolaridade e habitantes de regiões menos industrializadas. Pode-se encontrar no mercado de trabalho uma síntese das desigualdades brasileiras, principalmente de raça, de gênero, de educação e de desenvolvimento regional. O exame dessas desigualdades poderia fundamentar planos, programas de governo e projetos econômicos e sociais, mas nada disso se viu em Brasília no atual mandato presidencial. Talvez algo parecido com planejamento surja nos próximos meses, durante a campanha eleitoral, mas a discussão, até agora, ficou longe desse território.
O contraste mais notável é visível quando se examina a relação entre desemprego e escolaridade. Estiveram desocupados no primeiro trimestre 5,6% das pessoas com nível superior completo. Mais que o dobro, 11,9%, foi o desemprego encontrado entre os trabalhadores com educação superior incompleta. No caso daquelas com ensino médio incompleto, a desocupação chegou a 18,3%, taxa muito superior à taxa média geral, 11,1%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As pessoas menos educadas, como têm apontado outras pesquisas, são também aquelas mais sujeitas à informalidade e às piores condições de emprego e de remuneração. Um acesso mais amplo à instrução, com melhor distribuição das oportunidades educacionais, mudaria as possibilidades de trabalho de dezenas de milhares de pessoas e, ao mesmo tempo, elevaria duplamente o potencial produtivo do fator trabalho, tornando-o mais eficiente e qualificando-o para tarefas mais complexas. Ganhariam indivíduos, famílias, empresas e, portanto, a economia nacional, se o País dispusesse de uma política bem desenhada e bem executada de formação de recursos humanos ou, como dizem alguns especialistas, de capital humano.
Formar capital humano é algo dificilmente compatível, no entanto, com políticas já aplicadas no Brasil. Não se confunde com a facilitação populista do acesso ao diploma nem com o moralismo hipócrita combinado com tráfico de influência por pastores amigos da corte. O Brasil dispõe de respeitados educadores, de estudiosos da economia da educação e de experiências de sucesso em políticas estaduais. São preciosas fontes de ideias para formulação de boas políticas educacionais.
Boas políticas nessa área serão combináveis com ações para o enfrentamento de outros problemas, como as desigualdades econômicas associadas a sexo e raça. Segundo a Pnad, a desocupação dos homens foi de 9,1% no primeiro trimestre, enquanto a das mulheres atingiu 13,7%. Entre os brancos, os desocupados foram 8,9%. Pretos e pardos ficaram bem acima da média, com taxas de desemprego de 13,3% e 12,9%.
As desigualdades entre regiões e Estados foram visíveis nas condições de emprego. Onze Estados do Nordeste e do Norte ficaram no grupo das 14 unidades com desocupação acima da média geral de janeiro a março. As outras duas foram o Rio de Janeiro e o Distrito Federal. As maiores taxas foram apuradas na Bahia (17,6%), em Pernambuco (17%), no Rio de Janeiro e em Sergipe (14,9% nos dois Estados). O menor desemprego, 4,5%, foi registrado no Sul, em Santa Catarina. Na unidade mais industrializada, São Paulo, a desocupação, 10,8%, foi pouco inferior à média nacional.
Foi estimada em 40,1% a taxa nacional de informalidade, isto é, de ocupação sem registro oficial. Isso inclui o emprego assalariado e a ocupação por conta própria. De novo, as maiores taxas foram assinaladas no Norte e no Nordeste – 62,9% no Pará, 59,7% no Maranhão e 58,1% no Amazonas. As menores foram apuradas em Santa Catarina (27,7%), no Distrito Federal (30,3%) e em São Paulo (30,5%).
A melhora do quadro geral dependerá do crescimento econômico, por enquanto muito moderado.
Folha de S. Paulo
Algazarra golpista
Entidades devem lembrar Bolsonaro de que não há margem para aventura autoritária
Não deve haver dúvidas sobre as inclinações autoritárias do presidente Jair Bolsonaro (PL). Exibiu-as ao longo dos sete mandatos como deputado federal e não tem feito questão de reprimi-las em mais de três anos no Palácio do Planalto.
Se a ruptura do regime democrático dependesse tão somente da sua vontade, o Brasil correria riscos ponderáveis de recair na ditadura —e pelo método embrutecido e antiquado da quartelada.
Felizmente a institucionalidade nacional e o contexto internacional interpuseram uma série de obstáculos robustos entre as pulsões tirânicas, de um lado, e a realidade política, do outro. Contorná-los não será tarefa fácil para ninguém.
Bolsonaro experimentou ele mesmo a concretude do rochedo democrático quando foi obrigado a recuar da intentona subversiva do Dia da Independência, no ano passado. Reforçou a partir de então a sua aliança com o statu quo parlamentar na tentativa de elevar as suas chances de reeleger-se.
O presidente logrou desse modo reverter uma parcela da impopularidade e melhorar seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto, mas ainda não a ponto de tornar-se o favorito. O horizonte da economia turvou-se pela inflação, o que costuma dificultar a reeleição de qualquer governante.
Novamente acossado pelo espectro do fracasso, Jair Bolsonaro recobrou a algazarra golpista. Instrumentaliza militares em investidas contra a Justiça Eleitoral e insufla as audiências por onde passa com ameaças difusas de tumultos e revoltas no segundo semestre.
Nesta segunda (16), o chefe de governo repetiu as bravatas no seu estilo, aos berros e empregando termos chulos, num evento de supermercadistas na capital paulista. As eleições, vociferou, poderão ser conturbadas se não forem limpas.
Em enquete proposta pela Folha, partidos de oposição e independentes afirmaram haver risco de Bolsonaro tentar um golpe contra o processo eleitoral. Autoridades e entidades tradicionais da sociedade civil preferiram o silêncio diante das indagações da reportagem.
A campanha presidencial ter começado de fato —de direito, apenas em agosto— talvez explique a cautela adotada por representantes de organizações apartidárias e dos Poderes de Estado. Neste pleito, no entanto, será preciso discernir com nitidez situações de ataque ao regime que virão do presidente da República para reagir a elas.
Lembrar, em atos e palavras, ao mandatário nostálgico de ditadores e torturadores que não há margem para aventuras autoritárias no Brasil do século 21 integra o conjunto de obstáculos à tirania que tornará inexorável, em caso de derrota nas urnas, a posse de seu sucessor em 1º de janeiro de 2023.
Valor Econômico
Desaceleração da China desafia ambições de Xi
Xi conta com o nacionalismo para angariar apoio contra a ofensiva americana
O teste mais decisivo do enfrentamento da covid-19 na China veio nos últimos meses, quando a pandemia parece contida nos países desenvolvidos e em vários emergentes. O governo chinês atuou em escala nunca vista – 300 milhões de pessoas em lockdown ou com sérias restrições de mobilidade – com Xangai e seus 26 milhões de habitantes como símbolo da política de tolerância zero do presidente Xi Jinping. O resultado é que a economia esfria rapidamente, como era inevitável, e as mazelas chinesas reduzirão o crescimento global, sem, no entanto, contribuir significativamente para a redução da inflação, dada a interrupção massiva das cadeias de produção.
Quarenta e uma cidades afetadas pela redução da mobilidade somavam 30% do PIB chinês. Xangai, maior porto do mundo, e Shenzen, o quarto, tiveram redução drástica de movimento, assim como as milhares de empresas em suas proximidades. Como no resto do mundo, o consumo foi o mais atingido de imediato. O varejo recuou 3,5% em março e 11,1% em abril, mas os choques foram severos também na oferta. A produção industrial recuou 2,9% (nos 12 meses encerrados em abril) e a produção de automóveis, 41%.
O combate implacável à pandemia agravou os problemas do cambaleante setor imobiliário, em reestruturação depois do colapso da Evergrande e da fragilidade financeira das grandes incorporadoras do país. A construção de novos imóveis diminuiu 44% nos doze meses encerrados em abril. A queda do volume de vendas de imóveis se aprofundou de 25,6% até março, em relação ao mesmo período de 2021, para 32,2% nos primeiros quatro meses do ano. As exportações cresceram menos, de 15% em março para 4% em abril.
A pandemia trouxe mais problemas terríveis para Xi, que já havia apertado o cerco sobre o setor imobiliário e de construção (quase um terço do PIB) e sobre as gigantes de tecnologia, em que uma razia regulatória deu uma base técnica ao objetivo de reduzir o poder político delas, que fora longe demais. O financiamento para as incorporadoras nunca mais foi o mesmo, compreensivelmente, embora, caso queira relançar a economia com rapidez, depois da paradeira dos lockdowns, algum estímulo deva ser colocado em ação.
A pandemia colocou mais distante a possibilidade de a China atingir a meta de 5,5% de crescimento no ano, a menor em décadas. No segundo trimestre a expansão será menor que os 4,8% do primeiro e as apostas dos analistas se deslocam para 4% no ano. Como o impulso econômico chinês é de 20% do global, uma redução desta magnitude pode tirar ao redor de 0,3 ponto percentual do PIB global, se a situação não piorar.
O governo chinês, porém, parece inclinado a repetir os estímulos de sempre, cada vez com menores resultados, de maiores investimentos na infraestrutura e na construção imobiliária. Com o consumo em queda, Pequim terá de ampliar a disponibilidade de crédito para os veículos de financiamento dos governos locais, usados no setor imobiliário, que andam em baixa. Até abril, movimentaram US$ 112 bilhões, 25% menos do que no mesmo quadrimestre de 2021. É usar a mesma fórmula que levou à formação de bolhas de crédito e imóveis, cujos riscos minam a capacidade de crescimento e que são enfrentados com mais estímulos pelo governo.
Xi tentará este ano obter seu terceiro mandato como presidente e líder máximo do Partido Comunista. Há espaço para surpresa, embora pequeno. A insatisfação massiva com a forma truculenta com que os lockdowns foram executados e os protestos decorrentes se espalharam pelo país. Não se conhece dissensão no PCC, mas Xi usa a campanha contra covid como dogma e prova de lealdade. Um crescimento muito abaixo da meta será um sinal claro de revés.
A quebra da direção colegiada, que vinha colecionando sucessos econômicos desde Deng Xiaoping por mais de três décadas – e permitia correção de rumos sem desonras pessoais, está dando lugar à suposta infalibilidade do líder supremo, agora posta à prova em vários campos da vida nacional. Xi conta com o nacionalismo para angariar apoio contra a ofensiva americana. O “inimigo externo” serve também para apertar o controle ideológico do partido, o que por outro lado, aumenta o número de insatisfeitos nos escalões da hierarquia estatal. Xi pode obter o terceiro mandato que, então, se desdobrará em vários outros.