Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (05/05/2022)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Alta de juros nos EUA e no Brasil dificulta retomada da economia
Empresas vão à Justiça contra aumento dos planos coletivos
Conselho de Ética abre processo contra Eduardo Bolsonaro
São Paulo reage à onda de crimes de falsos entregadores
Consumo abusivo de álcool cai entre jovens brasileiros
Decisão sobre aborto pode afetar outros direitos nos EUA
‘Zelensky quis a guerra’, diz Lula à revista Time
Novo surto de Covid aumenta restrições em Pequim

O Estado de S. Paulo

Alta de juros no Brasil e nos EUA eleva risco de desaceleração da economia
Deputados querem que reajuste da conta de luz vá para 2023
Emenda parlamentar bancou show de artistas em ato pró-Lula
Mulheres poderão sacar FGTS para pagar creche de filhos
Com covid em alta, escolas suspendem aulas e voltam a exigir máscara
Planos e médicos podem optar por consulta presencial ou online
Contra assaltos, governo de SP dobra número de policiais
Rússia ataca envio de armas pelo Ocidente à Ucrânia

Folha de S. Paulo

Mais pessimistas, Brasil e EUA esticam escaladas de juros
Maior taxa em cinco anos torna investimento em renda fixa atraente
Nova pró-reitora não vê espaço para tirar cotas da USP
Vice em obras da Codevasf usa laranja e cresce sob Bolsonaro
Eduardo Bolsonaro é alvo de ação na Câmara
Verba pública banca show de Mercury em apoio a Lula
Zelenski também tem culpa, diz petista à Time
Atual ministro da Educação tentou nomear pastor lobista
Rodrigo Garcia endurece discurSos sobre segurança
Vinicius Poit critica STF e prega fim da era PSDB em SP
PF apreende ouro em avião escoltado por PMs

Valor Econômico

BC e Fed sobem juro e indicam continuar o aperto monetário
Copom segue para última alta de 0,5 ponto
Flexibilidade para as mães
Legislativo pressiona Aneel, diz Lira
Fiocruz firma acordo sobre droga para covid
Discursos de Lula preocupam líderes do PT
Povos Indígenas são centrais para a Amazônia
“Big Techs” e Netflix perdem US$ 1,37 trilhão

EDITORIAIS

O Globo

Sucessivos casos de racismo mostram quanto o Brasil ainda precisa avançar

É verdade que o país tem uma legislação robusta para coibi-lo, o problema é aplicá-la

O que choca no comentário do vereador paulistano Camilo Cristófaro (expulso ontem do PSB) durante sessão da Câmara na terça-feira não é apenas o racismo inaceitável, mas também a circunstância. Sua frase abjeta foi pronunciada numa Casa que tem obrigação de abolir e lutar contra essa chaga que envergonha o Brasil. Não há demonstração mais clara de quanto o país ainda precisa avançar para combatê-la do que somar-se, à profusão de manifestações racistas que têm vindo à tona nos últimos dias, a de um representante eleito pelo povo.

Sem saber que seu áudio seria ouvido no plenário, Cristófaro soltou o seguinte despautério: “Eles arrumaram e não lavaram a calçada. É coisa de preto, né?”. Pela gravação, não fica claro a que ou a quem se referia. Não importa. A afirmação por si só expõe o desrespeito à lei e a falta de decoro. Depois da repercussão, vieram as desculpas. Cristófaro deu duas versões para justificar o comentário. Na primeira, alegou que se referia a “carros pretos” de difícil manutenção. Depois afirmou que se dirigia, num galpão de carros, a um colega negro com quem alegou ter intimidade para falar o que falou. Não convenceu nem seu partido, que anunciou a desfiliação.

O episódio na Câmara aconteceu apenas um dia depois de outro caso abominável envolvendo denúncia de racismo. Uma mulher negra registrou queixa na polícia contra uma passageira branca, acusada de fazer comentários racistas sobre seu cabelo no metrô de São Paulo. “Toma cuidado com seu cabelo porque ele está muito próximo ao meu e pode me causar doença”, disse ela, segundo relatou a vítima. À polícia, a acusada alegou que apenas quis dar uma dica para que ela evitasse pegar doença e disse que não teve intenção de ofender. Como quase sempre, os acusados raramente reconhecem a gravidade de seus atos. Nenhum racista acha que é racista.

Nas partidas da Copa Libertadores, têm sido deploráveis as manifestações racistas de torcedores imitando macacos para ofender jogadores. Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), CBF e clubes têm sido complacentes com esse comportamento inaceitável. Só depois de repetidos episódios esboçaram reação para combatê-lo. Reportagem do GLOBO mostrou que a punição a esse tipo de crime nos estádios é rara — apenas um quarto dos casos vai a julgamento — e, quando ocorre, branda.

É verdade que o país tem uma legislação robusta para coibi-lo, o problema é aplicá-la. “Não tem ninguém preso por racismo no Brasil”, disse a jornalista Flávia Oliveira, colunista do GLOBO, comentando o caso do metrô na GloboNews. Mas a reação da sociedade tem mudado, chamando a atenção para o comportamento repugnante. Passageiros se indignaram, saíram em defesa da vítima e chamaram a polícia, que levou a acusada para prestar depoimento. O racismo não desaparecerá espontaneamente. Combatê-lo deve ser uma missão diuturna das instituições e da própria sociedade. Cabe aos cidadãos denunciar, à polícia investigar, à Justiça punir.

O Estado de S. Paulo

Lula calado é um poeta

Líder petista parece que tem uma cota de besteiras para dizer até a eleição. Não é à toa que o principal foco de crises de sua campanha seja a área de comunicação

A julgar por suas declarações nas últimas semanas, parece que o ex-presidente Lula da Silva tem uma cota de besteiras para dizer até a eleição. É impressionante. Não é à toa que o principal foco de crises em seu comitê de campanha seja a área de comunicação.

Muito distante daquele líder político dotado de um acurado tino eleitoral, atributo que é reconhecido até por seus adversários, o Lula de 2022 nem parece ser alguém que precisa, mais uma vez, conquistar eleitores fora da tradicional órbita de atração do lulopetismo para confirmar seu favoritismo na disputa pela Presidência da República. O que o líder petista anda dizendo tem chocado até aliados históricos. Tanto é assim que próceres do PT e “marqueteiros” preparam o discurso que Lula deverá ler no ato de lançamento de sua pré-candidatura, no próximo sábado, tal é o receio quanto aos danos que a incontinência verbal do ex-presidente pode causar.

O mais recente desatino de Lula, dito em entrevista à revista Time, foi atribuir ao presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, uma parcela da responsabilidade pela invasão de seu país por tropas russas. “Ele (Zelensky) quis a guerra. Se ele não quisesse a guerra, teria negociado um pouco mais”, disse Lula à Time, como se houvesse espaço para uma negociação de boa-fé com quem se senta à mesa armado até os dentes. Lula trata como simétricas as posições da vítima e do agressor, o autocrata russo Vladimir Putin, um despautério que não tem o respaldo de nenhum líder democrático no mundo.

Lula, que não sabe o que é uma guerra, ainda teve o desplante de censurar o comportamento de Zelensky, dando a entender que seu passado como ator o faria buscar mais os holofotes do que a diplomacia. “O comportamento dele é um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. Ele aparece na televisão de manhã, de tarde e de noite (…) como se estivesse em campanha. Ele deveria estar mais preocupado com a mesa de negociação.”

A incrível insensibilidade de Lula em relação ao líder de um país que tem de confortar seus concidadãos em meio às agruras de uma guerra só perde para seu cinismo – afinal, se alguém busca os holofotes todo o tempo e transforma cada gesto seu em peça de campanha, este é, inequivocamente, Lula da Silva.

Chega a ser embaraçoso para alguém que se arvora em líder de uma notável “frente ampla” pela democracia e contra o autoritarismo no Brasil dar amparo a um evidente ato de violência injustificada perpetrado contra um país soberano, sobretudo em entrevista à imprensa estrangeira. Ao fim e ao cabo, Lula se junta ao presidente Jair Bolsonaro na condescendência com que trata os crimes de guerra cometidos por Putin contra o povo ucraniano.

Em relação aos temas domésticos, Lula também não tem poupado esforços para chocar – ou ao menos constranger – apoiadores e afugentar eleitores mais moderados. Semana sim e outra também, o ex-presidente tem dito, entre outras bobagens, que é preciso “abrasileirar o preço da gasolina”, como se a política de preços da Petrobras não estivesse fundamentalmente ligada às oscilações do mercado internacional, assim como o milho, a soja e outras commodities.

Há poucos dias, em outra fala desastrada, Lula deu a entender que policiais não seriam “gente” ao dizer que Bolsonaro “não gosta de gente, gosta de policiais”. O petista se desculpou com a categoria logo em seguida.

Em outro aceno a seu público cativo, Lula prometeu, novamente, revogar a reforma trabalhista, a despeito dos dados que atestam a importância da medida, aprovada no governo de Michel Temer, para a redução do desemprego. Isso o fez levar sermão de ninguém menos que Paulinho da Força (Solidariedade). “Esquece essa história de reforma trabalhista. Ganha a eleição que eu resolvo com o (deputado) Marcelo Ramos na Câmara em dois meses”, disse o notório líder da Força Sindical ao petista.

Nessa toada, o País ainda haverá de sentir saudades de Dilma Rousseff e sua “saudação à mandioca”. Malgrado o desastre de seu governo, ainda era possível achar graça nas bobagens de Dilma. Com Lula, não há graça nenhuma.

Folha de S. Paulo

Querelas inúteis

Reação de Bolsonaro e Congresso não parece capaz de evitar alta de combustíveis

O expressivo reajuste de preços da Petrobras revoltou consumidores e agitou o mundo político em março. Da direita à esquerda, candidatos, detentores de mandatos e o governo federal em particular atacaram os aumentos, de modo quase sempre demagógico e oportunista.

O Congresso modificou o ICMS sobre combustíveis, que deverá ser cobrado por meio de um valor nacional fixo por litro. A União abriu mão de receita, zerando parte das alíquotas. Jair Bolsonaro (PL) demitiu o presidente da Petrobras de modo tão conturbado quanto inócuo —preços continuaram a subir.

O diesel encareceu ainda mais do que a gasolina. Teria quando muito havido estabilidade, em relação ao início de março, caso os estados renunciassem ao valor total de sua arrecadação sobre o óleo. Não se trata de um caminho viável.

Ademais, a Petrobras está à beira de anunciar nova rodada de reajustes, caso prossiga a sua política —correta— de adequar seus preços aos do mercado internacional. E não há nenhum sinal de mudança, o que, aliás, é impedido pelo regulamento da gigante estatal.

O governo federal acusa os estados de terem fixado um valor excessivo para o novo ICMS dos combustíveis. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), acusa União e estados de minarem o esforço parlamentar de tentar baixar o preço por lei. São desculpas rotas.

Os governos estaduais alegam que fixaram o valor do imposto de modo a manter a receita em nível equivalente ao de novembro de 2021. Já estariam, por esse raciocínio, perdendo arrecadação.

O governo federal não se importa com os cofres. Abre mão de recursos em variadas frentes, com objetivos eleitoreiros, concedendo subsídios socialmente iníquos.

Apenas com o diesel, deixará de receber cerca de R$ 20 bilhões em um ano. Dito de outro modo, a dívida pública aumentará nesse montante, mais a taxa de juros que incidirá sobre o passivo. Além de não resolver um problema, o combustível caro terá piorado outro, o endividamento excessivo.

A demagogia e a incompetência técnica têm agravado os problemas nacionais, em particular desde o início da década de 2010. Voluntarismo e populismo impõe soluções simplistas e enganosas para máquinas complexas como o governo e a economia do país.

A maior inflação em quase 20 anos é sem dúvida um flagelo terrível, mas a intervenção espalhafatosa de Bolsonaro na Petrobras só serviu para corroer a imagem da maior empresa brasileira.

Devem-se buscar paliativos que favoreçam a população mais pobre, mas também essa discussão segue a reboque da política rasteira.

Valor Econômico

Fed sinaliza comedimento na aceleração dos juros

Powell mostrou confiança de que a estabilidade de preços virá nos “próximos anos”

O Federal Reserve americano elevou a taxa de juros em 0,5 ponto percentual, para o intervalo entre 0,75% e 1% e esse ritmo será mantido pelo menos em suas reuniões de junho e julho. No mês que vem, o balanço de ativos do banco começará a encolher à razão de US$ 30 bilhões em títulos do Tesouro e US$ 17,5 bilhões em papéis de hipoteca, montante que dobrará após três meses. O principal ato de Jerome Powell, presidente do Fed, na apresentação da decisão, foi demonstrar que, ainda que a inflação esteja muito alta, sua abordagem é otimista quanto aos resultados e ainda gradualista no aperto monetário. “Temos boas chances de estabilizar os preços sem que a economia entre em recessão”, disse.

A frieza de Powell sobre a escalada inflacionária, que é a maior em 40 anos, tem razão de ser. O Fed “tem de evitar adicionar incertezas em um ambiente já repleto delas”, avisou. Neste caminho, afirmou que o Comitê de Mercado Aberto do banco em nenhum momento cogitou uma alta de 0,75 ponto percentual nas reuniões subsequentes. Ele também traçou limites práticos para o horizonte da política monetária, ao apontar que o Fed pretende chegar “expeditamente” ao juro neutro – pelas previsões dos membros do banco, algo entre 2% e 3% – e então avaliar se as condições financeiras decorrentes desse aperto são suficientes para colocar a inflação a caminho dos 2%. Não parece haver dúvida de que este nível será atingido até o fim do ano, mesmo a um ritmo menor de reajustes subsequentes dos fed funds, com altas contínuas de 0,25 ponto percentual a partir de setembro.

O presidente do Fed disse que a desaceleração do PIB no primeiro trimestre (1,4% anualizado) não reflete a tendência geral da economia americana. A queda nos estoques não sinaliza nada claramente para o futuro, enquanto que a robustez da demanda dos consumidores e dos investimentos das empresas, sim.

O Fed não vacilará, segundo Powell, em entrar em território em que os juros contraem a atividade, mas só depois. “A discussão sobre quão alto deverá ir o juro só ocorrerá quando atingirmos o nível neutro”, contou. “Isso não significa que temos esta direção hoje, mas se preciso não hesitaremos em tomar esta decisão”.

A visão de Powell pressupõe que o mercado de trabalho está mais apertado do que nunca, com quase duas vagas não preenchidas para cada americano desempregado, e que ele suportaria um freio de arrumação que contivesse a corrida dos salários e a oferta de vagas. Da mesma forma, os gastos das famílias e os investimentos das empresas estão fortes. O objetivo é trazer equilíbrio ao mercado de trabalho e reduzir a demanda a um ponto em que ela possa ser atendida por uma oferta instável, golpeada pelo combate à covid na China e a guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Para ele, a criação de empregos vai desacelerar, pelo efeito combinado de políticas fiscais e monetárias que deixaram o modo estimulativo. A participação da força de trabalho tem crescido e isso ao longo do tempo vai aumentar o desemprego, reduzir vagas e amortecer salários. “Há chances de se fazer um pouso suave, ou mais suave”.

Uma sucessão de grandes choques recentes retirou a previsibilidade dos cenários. Mais surpresas ruins podem vir do front da guerra na Europa ou dos lockdowns chineses, com repercussões duplas, nas cadeias de produção e nos custos gerais, transmitidos pela alta dos preços da energia e petróleo.

Fleugmático, Powell respondeu serenamente a perguntas incômodas, como a de democratas e republicanos, que discordam em quase tudo, concordarem que o Fed está atrasado no combate à inflação, ou se o Fed havia perdido credibilidade. Ele refutou as duas premissas. Na primeira, disse que até outubro a inflação teve algumas quedas, para disparar a seguir. Na segunda, insinuou que as sinalizações do BC de que mudaria o ritmo de alta dos juros foi suficiente por si só para que os títulos do Tesouro fossem rapidamente para 3%.

Powell tergiversou sobre se seria necessário que as cadeias de produção se normalizassem para que a inflação voltasse aos 2%. A implicação é de que se isso não ocorresse, a dose de juros deveria então ser maior, entrando em terreno contracionista. Sob bombardeio, o Fed, que não tem de seguir calendários para atingir metas, ainda está “zen”, ao contrário de parte dos investidores. Powell mostrou confiança de que a estabilidade de preços virá nos “próximos anos”.

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