Termina amanhã, dia 18, o prazo dado a si mesma pela terceira via para anunciar uma chapa única de MDB, PSDB e Cidadania para competir à Presidência da República. Nada indica que chegarão a um acordo, tenho a impressão de que não haverá candidato nenhum do hoje chamado de “centro democrático”. Cada partido terá o seu, e talvez o ex-governador de São Paulo João Doria só consiga se impor no PSDB pela Justiça, para garantir que seja respeitado o resultado das prévias internas, que o indicaram como candidato oficial dos tucanos.
Mas ele já perdeu completamente o apoio do partido, não tem ninguém expressivo que o apoie, com exceção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem ascendência moral sobre o partido, mas não votos na Convenção. A última tentativa para manter viva a chama da terceira via é uma chapa com Simone Tebet, do MDB, na cabeça, e algum tucano — talvez o senador Tasso Jereissati — na vice, o que agradaria ao MDB e ao PSDB oficiais.
Pode ser que saia essa solução, mas num ambiente muito conturbado dentro dos próprios partidos. A força dessa terceira via foi dissipada por seus componentes, que não abriram mão de reivindicações pessoais, e não houve ambiente para chegar a uma chapa comum que fosse competitiva. A força regional do PSDB, tomada de assalto pela candidatura de Bolsonaro em 2018, hoje está bastante reduzida.
A crise dos tucanos paulistas está dificultando, se não inviabilizando, a candidatura do governador Rodrigo Garcia. Outro nicho tucano abocanhado pelos concorrentes é Minas Gerais. Nos dois estados, o PT segue na liderança folgada nas eleições estaduais. A definição de palanques na eleição de Minas, um dos maiores colégios eleitorais do país, leva em conta não apenas os acordos regionais, mas também a tradição de ter aquele estado o condão de eleger o vencedor na disputa presidencial.
No momento, essa tradição está sendo confirmada pelas pesquisas sobre a corrida presidencial no estado: Lula tem 39,7%, Bolsonaro 22,1%. Na disputa estadual, ao contrário, o governador Romeu Zema, apoiado pelo Novo e aliado de Bolsonaro, está à frente do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil. Os bolsonaristas veem a situação como uma previsão de que Bolsonaro chegará à frente no final.
No entanto algumas pesquisas indicam que, quando Kalil é identificado como o candidato de Lula, o resultado se inverte. Na sondagem espontânea, os dois candidatos estão empatados tecnicamente, o petista com 24,6% das intenções de voto, cerca de dois pontos percentuais à frente de Bolsonaro, que tem 22,4%.
A dificuldade para oficializar o apoio do PT ao candidato do PSD a governador do estado está na disputa pelo Senado. Kalil pretende lançar Alexandre Silveira como senador. Nesse caso, Lula teria de abrir mão do apoio ao deputado federal petista Reginaldo Lopes. O que não é bem-visto no PT de Minas, que quer lançar candidatura própria para o Senado.
A situação explica o esforço da pré-campanha do ex-presidente para apresentar em Minas a chapa com Geraldo Alckmin de vice, oficializada posteriormente em São Paulo. Constatado empiricamente pelo Ibope há algum tempo, quando ainda era o patriarca dos Montenegros quem estava à frente da empresa, o fato de Minas espelhar o voto do brasileiro é uma das verdades estatísticas comprovadas eleição após eleição.
Pegando as eleições desde a retomada democrática iniciada em 1989, todos os presidentes eleitos venceram em Minas: Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Bolsonaro. Em 2014, o candidato do PSDB Aécio Neves era considerado favorito para eleger seu candidato em Minas, mas perdeu em seu reduto eleitoral para a petista Dilma Rousseff, que também era mineira. A então presidente venceu a eleição presidencial em Minas pela mesma diferença apertada com que derrotou Aécio no plano nacional. Dilma teve 52,41% dos votos válidos no que era então o segundo maior colégio eleitoral do país, enquanto Aécio teve 47,59%. A petista já havia vencido no primeiro turno no estado, quando obteve 43,48% dos votos válidos, diante dos 39,75% de Aécio. No plano nacional, Dilma teve 51,6% contra 48,3% de Aécio. A explicação é que o estado replica em sua composição as diversas regiões do país. Tem indústria importante, especialmente a automotiva, como no Sudeste; a agropecuária é fundamental em sua economia, como no Centro-Oeste e no Sul; possui uma região incluída na zona da Sudene, o Vale do Jequitinhonha, como no Nordeste; e a zona metropolitana de Belo Horizonte é semelhante às capitais do Sudeste. (O Globo – 17/05/2022)