A Diretora Executiva do Instituto Identidades do Brasil, Luana Génot, palestrou sobre diversidade e inclusão social, durante aula inaugural do programa Elas Lideram, promovido pela M23, e voltado para pré-candidatas do Cidadania. Um dos assuntos abordados foi o racismo estrutural, que, segundo ela, vai além do que podemos ver, de uma piada ou xingamento.
“Independente se a legenda é de esquerda ou da direita, é uma ausência das pessoas negras nos seus protagonismos, na possibilidade de eles cunharem uma plena trajetória dentro da política partidária ou do mercado de trabalho. Precisamos ter um olhar mais profundo sobre esse tema, abrir caminhos e oportunidades pra pessoas negras, indígenas e outros grupos não por caridade, mas por entender que sem igualdade e oportunidade não há plena prosperidade, justiça e educação. Então, se a gente quer ser um país que se desenvolva cada vez mais, a gente precisa atacar a estrutura da desigualdade que tem no racismo a sua a sua fonte”, sustentou.
Génot considera que houve avanço das mulheres na ocupação de espaços de poder, mas levantou o questionamento sobre quantidade e qualidade, o que, para ela, deveriam andar juntos.
“Geralmente, focamos nas metas numéricas. Queremos alcançar um determinado número de mulheres inscritas nos partidos, porque precisamos alcançar um determinado quantitativo pra dizer que temos. Mas o grande desafio é em relação à qualidade. Precisamos olhar a longo prazo. Eu preciso olhar não só pra uma lista de candidatas que eu tenho, mas pra qualificação delas. A gente não quer só estar, a gente quer ser incluso pra conseguir tomar decisões e avançar nas agendas também”, destacou.
A diretora também abordou a questão do antirracismo, e da luta pela diversidade e inclusão, temas que considera importantes serem pautados nos projetos de governo pelos candidatos, independentemente se são mulheres.
“Todos nós temos múltiplas identidades, somos partes do todo. Nenhum de nós representa a humanidade e os outros representam parcelas da humanidade. Todos nós temos idade, escolaridade, classe social, raça, ocupação, orientação sexual. Eu digo isso porque parece algo irrisório e trivial, mas não é. Conceito de diversidade, por exemplo, não é exatamente igual ao da inclusão. Diversidade significa diferenças psicológicas, físicas, sociais que todos nós temos. Inclusão é a responsabilidade em incluir pessoas que estão sub-representadas dentro dos grupos, é fazer um plano de trabalho com metas, resultados e prazos para incluir mais mulheres negras, mulheres com deficiência, população LGBT, dentro da legenda, da minha empresa”, ressaltou.
Durante a apresentação, Génot citou dados que mostram alguma evolução, mas ainda longe de suprimir as desigualdades existentes. Segundo ela, o número de alunos negros no ensino superior cresceu 400% de 2010 a 2019, mas o gap no acesso ao mercado de trabalho continua. Dados do IBGE revelam que o Brasil tem 118 milhões de pessoas negras e indígenas, mas apenas 5% dos cargos executivos nas 500 maiores empresas são ocupados por eles.
“Trabalhador negro recebe 36,1% a menos que um não negro. Menos de 1% das mulheres negras ocupam cadeiras em grandes empresas. Mulheres negras representam apenas 2% no Congresso Nacional. É o ciclo interrompido, porque formamos pessoas, mas elas estão sendo subaproveitadas. Nós também somos responsáveis por trazer crescimento econômico. Precisamos reconhecer esses descompassos pra conseguir avançar”, observou.
Um outro ponto que, de acordo com a diretora, é fundamental especialmente pra quem está se candidatando, ou já é candidato, é parar de romantizar o racismo nos discursos. “Precisamos entender que se ainda temos oito a cada dez pessoas mais pobres negras ou indígenas, isso é fruto ainda da consequência dessa nossa configuração como país e de uma constante romantização do racismo por aqui. Se a história do nosso país fosse dividida em cinco dias, quatro deles seriam em regime de escravidão. E a gente ainda muito mal resolveu isso. Temos ainda muito a fazer, especialmente dentro do cenário político, que é onde causamos mudanças estruturais, pra acelerarmos essas agendas e que a gente não precise mais falar sobre isso”.
Para ela, pessoas negras, indígenas, mulheres precisam de ações afirmativas pra que essa desigualdade estrutural seja corrigida “Precisamos construir mais bancadas, mais projetos de leis que consigam fortalecer pautas sub-representadas, apoiar grupos de trabalho até mesmo dentro dos partidos pra que agendas como a questão racial, de gênero possam ser constantemente mais discutidas, treinar os membros dos partidos pra não reproduzir violências de gênero”, disse.