Preocupação das consultorias especializadas é o País não encontrar caminho para crescer
No cálculo de riscos políticos e econômicos em relação às eleições brasileiras o horizonte já é o do pós-eleitoral. Essa postura indica que as consultorias assumem que Lula será o vencedor e o estrago institucional bolsonarista permanecerá nos limites do último 7 de Setembro, quando Bolsonaro demonstrou ser incompetente e não controlar forças para um golpe.
As mesmas análises dirigidas sobretudo a investidores fora do País consideram o conjunto de forças do Centrão um fator de estabilidade. Em outras palavras, um presidente como Bolsonaro, que já não governa, está limitado em suas estripulias institucionais. E Lula, que sem o Centrão não governa, estará contido em suas estripulias econômicas (como reverter reformas trabalhista e previdenciária).
No panorama geral, o próximo presidente lidará com um cenário internacional perigoso, mas paradoxalmente favorável a grandes produtores de commodities, como o Brasil. Considera-se que fatores negativos como a inflação global, a subida de juros nas economias centrais e o rompimento de cadeias produtivas globais (que aumentam custos em todos os setores) serão mais do que compensados pelos preços de produtos que latino-americanos exportam.
O dólar a R$ 4,60 já seria o termômetro disso. Diante do que acontece relacionado à guerra na Ucrânia – a retirada em massa de grandes empresas da Rússia – e o agravamento das relações da China com o EUA e a Europa, a América Latina em geral e o Brasil em particular estão sendo vistos por investidores internacionais como lugares razoavelmente “tranquilos” e “seguros”. Tem outro para onde ir?
As mesmas consultorias de risco assinalam, porém, que os problemas de fundo começam no pós-eleitoral brasileiro. O mais evidente deles é que nenhum dos líderes nas pesquisas indicou até aqui como pretende tirar o País da estagnação, marasmo em produtividade e medíocre crescimento econômico das últimas décadas. E o “fator estabilidade” do Centrão é, ao mesmo tempo, a garantia de que não surgirá nenhum grande impulso em qualquer direção.
Relatórios de análise de risco político e econômico de consultorias internacionais dão menos ênfase a aspectos como “qualidade das elites dirigentes”, “lideranças políticas” ou “ideias para o País” – para não falar em qualidade da democracia e emburrecimento geral do debate. Quem faz contas de retorno de investimento imediato tende a achar tudo isso acadêmico e distante.
Mas é o decisivo mesmo no curto prazo. Nesse sentido, o cenário de risco político e econômico das eleições brasileiras é péssimo. (O Estado de S. Paulo – 21/04/2022)
William Waack, jornalista