MANCHETES DA CAPA
O Globo
Silva e Luna: Petrobras não pode fazer política partidária
Interino assume MEC, e candidatos buscam apoio de Centrão e evangélicos
Especialistas criticam inchaço das emendas parlamentares
Agenda ambiental do STF mira decisões do governo Bolsonaro
‘Caso Lollapalooza’ – Ministro do TSE revogou sua própria liminiar contra o festival
Rio tem dia de caos com greve de rodoviários e garis
Daniel Silveira se refugia na Câmara para não usar tornozeleira
Vereador do Rio investigado não terá mais fuzis em escolta
1ª presidente da Academia Brasileira de Ciências critica misoginia
Animação da Disney traduz mudança da puberdade
Obituário/Elifas Andreato – Ilustrador que deu identidade à MPB
Entre a destruição e o esboço de paz
O Estado de S. Paulo
Com trocas partidárias, Bolsonaro reforça base de apoio em campanha
Petrobras não pode fazer política, diz Silva e Luna antes de sair
Reitor do ITA é cotado para comandar pasta da Educação
Governo autoriza aumento de 10,89% em medicamentos
Pista de Congonhas ganha ‘puxadinho’ de 70 metros
Fundadores do São Luiz projetam para pets mega-hospital de R$ 50 milhões
Elifas Andreato – Mestre das capas de LPs sai de cena
Negociação de paz avança em meio à dificuldade russa na ofensiva militar
Folha de S. Paulo
Rússia anuncia ‘redução drástica’ de ataques a Kiev
Ministro do TSE revoga censura ao Lollapalooza
Sistema eleitoral faz vista grossa para campanhas
Corrupção vai crescer, dizem 53% dos brasileiros
Auxílio alcança 23% da população, mas valor é criticado
Atrito com governo deve seguir com Pires na Petrobras
Helena Nader – Ciência e educação precisam ser política de Estado
Um em 4 brasileiros considera comida em casa insuficiente
Doria afirma ter ordenado remoção da nova cracolândia
Valor Econômico
Apesar de reveses, Pix já é lider em pagamentos
Política de preço não deve mudar na Petrobras
Agricultura regenerativa
Rússia diz que vai reduzir ações em Kiev
Principal banco digital da Europa chega ao Brasil
Projeções para o IPCA deste ano e do próximo se afastam das metas
Fundos pagam US$ 16 bilhões pela Nielsen
EDITORIAIS
O Globo
Novo presidente da Petrobras terá de conter Bolsonaro
Adriano Pires, se confirmado no cargo, terá o desafio de atender ao novo chefe sem manchar sua biografia
Não é difícil entender a intenção do presidente Jair Bolsonaro com a troca no comando da Petrobras. Seu objetivo sempre foi usá-la como arma política. Para interferir nas decisões da empresa, demitiu o primeiro presidente em seu governo, o economista Roberto Castello Branco, e, agora, decidiu demitir seu substituto, o general Joaquim Silva e Luna. Para o lugar dele será indicado o consultor Adriano Pires, uma referência no mercado de energia. Faltando menos de sete meses para o primeiro turno das eleições, com a guerra levando o preço do petróleo às alturas, a pressão do Planalto para reduzir o preço da gasolina, do diesel e do gás não diminuirá. Pires, se confirmado no cargo, terá o desafio de atender ao novo chefe sem manchar sua biografia. Não será tarefa fácil.
Ele foi um dos principais críticos da experiência desastrosa do governo Dilma, quando os preços foram mantidos em patamares baixos de forma artificial, e a empresa acabou na lona, com a maior dívida do mundo. No governo Temer, a petroleira adotou como política seguir a flutuação do petróleo no mercado internacional e, aos poucos, resgatou sua saúde financeira. Pressões políticas para intervir no preço sempre houve, mas Bolsonaro é um caso à parte. Em entrevista ao programa “Roda viva”, Castello Branco contou que recebia até mensagens do presidente sobre o assunto — um despropósito.
Em ano eleitoral, a alta dos combustíveis cria um problema enorme para Bolsonaro. Afeta os mais pobres (gás), diminui a renda de quem trabalha com motos e automóveis (gasolina) e alimenta a inflação via custo do frete (diesel). Em 2021, a inflação da gasolina foi de 47%. Ao mesmo tempo, a manutenção artificial de preços baixos prejudica os investimentos da Petrobras e pode levar ao desabastecimento, como o próprio Pires sempre enfatizou.
Embora consumidores possam vibrar com medidas populistas, a festa tem curta duração. Evidências mostram que os preços artificialmente baixos estimulam a demanda, alimentando a inflação futura. Para não falar na necessidade de incentivar a redução das emissões de CO2 oriundas de combustíveis fósseis, condição essencial para deter as mudanças climáticas.
A melhor forma de garantir o preço justo na bomba é levar a cabo o plano de privatização de refinarias, de modo a criar um mercado realmente competitivo. Além disso, para proteger o consumidor da volatilidade na cotação do petróleo, Pires tem defendido subsídios por meio de um fundo de estabilização mantido pelo Tesouro, não pelo acionista da Petrobras. É uma visão até sensata, e tramita no Congresso um projeto para implementá-la. Na prática, contudo, é longa a história no Brasil de iniciativas semelhantes que sofrem todo tipo de interferência política.
O mesmo risco cercará a gestão de Pires na Petrobras. A empresa, que distribuiu à União R$ 37,3 bilhões de dividendos e pagou R$ 203 bilhões em impostos no ano passado, é vista com cobiça pelos caciques do Centrão. Depois da Operação Lava-Jato, várias regras foram adotadas para protegê-la da rapina dos políticos. Pires precisará fazer o que for necessário para resguardá-las não apenas dos interesses do presidente em ano eleitoral, mas sobretudo da volúpia daqueles que sempre fizeram da estatal o cenário de todo tipo de negociata.
O Estado de S. Paulo
Sem emprego há muito tempo
Aumenta a proporção de desempregados há mais de dois anos, o que prejudica sua capacidade de obter nova ocupação
São quase 4 milhões de trabalhadores que não conseguem uma ocupação remunerada há pelo menos dois anos. Para essa parcela expressiva de brasileiros e brasileiras, é como se não houvesse melhoras no mercado de trabalho. Redução do desemprego, aumento do contingente de ocupados, melhora generalizada por faixas de idade ou de escolaridade e por setores de atividade econômica, nada disso alcança esse contingente.
Dramáticas são as consequências imediatas para seu padrão de vida e o de seus familiares. Talvez não tão evidentes, mas bem mais duradouros, são outros efeitos do desemprego prolongado. O afastamento do trabalho por muito tempo provoca desde a perda de habilidades e de autoestima até a potencial condenação do trabalhador nessa situação a ocupar funções cada vez menos qualificadas e que pagam salários menores.
Há um contraste, não tão visível, entre os dados que mostram a recuperação do mercado de trabalho, cujos indicadores começam a se aproximar dos observados antes do início da pandemia, e outros que ainda mostram que, do ponto de vista qualitativo, a recuperação ainda é fraca.
A taxa de desocupação medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE caiu de 14,7% para 11,4% entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022. O contingente de ocupados somava 94,1 milhões de trabalhadores em janeiro deste ano, já muito próximo do nível de antes da pandemia (94,5 milhões em janeiro de 2020).
Embora tenha diminuído, ainda é alta a taxa de subocupação e desalento. Também o número de desempregados, de 12,1 milhões de trabalhadores na última pesquisa do IBGE, está caindo, mas continua muito alto. E, entre esses, vem crescendo a fatia dos que não encontram trabalho há pelo menos dois anos.
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado em sua mais recente Carta de Conjuntura, mostra que a proporção dos desempregados que estão nessa situação há dois anos ou mais é a maior desde o início da série, em 2012. Alcançou 30,3% dos desempregados no quarto trimestre do ano passado. Essa porcentagem cresce desde o segundo trimestre de 2020, quando a pandemia atingiu duramente o País.
Perda de habilidades e comprometimento de talentos necessários ao desenvolvimento do País, entre outras consequências, afetam a eficiência da economia. Perda do interesse profissional e problemas psicológicos são alguns dos riscos para quem fica muito tempo sem encontrar emprego.
Há outro aspecto do desemprego longo, observado pela técnica do Ipea Maria Andréia Parente Lameiras, uma das autoras do trabalho: “As pessoas menos qualificadas, aquelas que já estão há muito tempo desempregadas, cada vez ficam sobrando mais no mercado de trabalho”.
Políticas de treinamento e de apoio a esse conjunto de trabalhadores serão indispensáveis, assim que o governo federal recuperar o mínimo de responsabilidade e eficácia que, perdidas desde 2019, serão indispensáveis para a superação da crise em que o País mergulhou por causa da pandemia e, agora, da guerra na Ucrânia.
Folha de S. Paulo
À moda de Bolsonaro
Trocas no MEC e na Petrobras mostram governo sem visão que não seja ieleitoral
A exposição do balcão de negócios no Ministério da Educação tornou insustentável a permanência de Milton Ribeiro no comando da pasta, e Jair Bolsonaro (PL) assinou sua demissão na segunda (28).
O presidente deixou claros os seus objetivos dias antes da exoneração do auxiliar, ao declarar que confiava tanto na honestidade de Ribeiro que colocaria a cara no fogo por ele se fosse necessário.
Bolsonaro não tem interesse em investigar as suspeitas de corrupção no ministério, muito menos quer melhorar a gestão do ensino. Sua prioridade é evitar que o escândalo respingue na campanha à reeleição —e para isso ele quer contar com a ajuda de Ribeiro.
Este caiu após a divulgação do áudio em que, numa reunião com prefeitos que pediam verbas, recomendava que se acertassem com pastores que traficavam favores no MEC. Como explicou, tratava-se de um pedido do próprio Bolsonaro.
Com o afago no colaborador às vésperas da degola, o mandatário procurou garantir, tudo indica, que não haja mais declarações inconvenientes sobre o caso.
Preservar a aliança com os evangélicos é parte essencial da estratégia de Bolsonaro para recuperar sua popularidade e vencer as eleições de outubro. Abafar o escândalo é o que precisa fazer para manter os pastores ao seu lado.
O presidente busca ainda proteger os interesses de seus aliados no centrão, que têm a chave do cofre de onde saem os recursos orçamentários disputados pelos prefeitos arrebanhados pelos pastores.
Os esforços pela reeleição explicam também mais uma turbulenta troca do comando da Petrobras, anunciada no mesmo dia da saída do ministro da Educação.
O presidente decidiu demitir o general Joaquim Silva e Luna porque ele não cedeu a seus apelos para segurar os preços dos combustíveis a qualquer custo, ainda que isso colocasse em risco a confiança dos investidores e a saúde financeira da companhia.
Silva e Luna é o segundo presidente da Petrobras a ser afastado por Bolsonaro pelo mesmo motivo, depois de Roberto Castello Branco. O economista Adriano Pires, indicado para o posto, defende subsídios que amorteçam os efeitos da alta dos combustíveis sem mexer na política de preços da empresa.
A Lei das Estatais e melhorias introduzidas na governança da Petrobras nos últimos anos criaram barreiras que a protegem contra tentações intervencionistas, mas a aposta de Bolsonaro é que ganhará pontos mesmo se o preço da gasolina não baixar.
Ele espera convencer o eleitor de que tentou alguma coisa —e que só não fez mais porque os adversários não o deixam trabalhar. Um governo responsável buscaria alternativas que não comprometessem o futuro da Petrobras, mas o jogo de Bolsonaro é outro. Ele prefere a confusão desde sempre.
Valor Econômico
Terra arrasada na educação com o governo Bolsonaro
O FNDE está sob comando do PP, que sustenta o presidente
Mais um capítulo do show de horrores em que se transformou o Ministério da Educação terminou com o pedido de demissão de Milton Ribeiro, o terceiro a ocupar a pasta em pouco mais de três anos de governo Bolsonaro. Como ocorreu na Saúde, que seguia a orientação oficial de denegrir as vacinas, enquanto um esquema paralelo de atravessadores tentava obtê-las com lucro, agora surgiram pastores picaretas vendendo influência para intermediar verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Como os três ocupantes do ministério até agora foram péssimos, aguarda-se com justificado temor, a nomeação de um substituto, que deverá seguir o mesmo padrão de ignorância e preconceito que o presidente da República implantou em área vital para o desenvolvimento cultural, social e econômico do país.
A ideologia reacionária do governo e seu apoio em algumas seitas evangélicas não conseguiram esconder que há dinheiro corrente por trás de tão severos princípios. O presidente Jair Bolsonaro, depois que surgiram as suspeitas sobre vendilhões agindo no templo ministerial, chegou a exagerar no dito e dizer que “colocaria a cabeça no fogo” pelo pastor Ribeiro. Deve ter tido um diálogo breve com sua assessoria do Centrão, que lhe esclareceu sucintamente que não daria, em plena campanha eleitoral, e em um momento em que o presidente começava a recuperar parte do apoio perdido, para sair por aí propagando que não há corrupção em seu governo. Então, Bolsonaro, com a cabeça ilesa, partiu para outra – foi demitir o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna.
Quando o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, do PP, disse que a permanência de Ribeiro não estava assegurada, antes dos pedidos de inquérito feitos pela Procuradoria Geral da República, o destino de Ribeiro estava selado. Nas duas demissões ocorridas na segunda – uma a pedidos, outra não – se vê a ação da cúpula do governo de limpar o terreno eleitoral para alavancar as chances de Bolsonaro, que aumentaram um pouco. Assim como corrupção tira votos, o aumento dos combustíveis retira dinheiro do bolso dos contribuintes e sufrágios do candidato.
Assim como se passou na Saúde e no Ambiente, na Educação o descaso planejado do governo destruiu as capacidades operacionais públicas, sem colocar nada no lugar. Bolsonaro, que pouco governa, se safa de suas responsabilidades com relativo sucesso até agora. A CPI da Covid acusou o presidente de não ter agido para deter os atravessadores de vacinas, mesmo depois de avisado pessoalmente por um deputado. Mas um responsável pelo inquérito concluiu que não está entre as funções do presidente da República denunciar falcatruas em seu próprio governo. É absurdo, mas se entende.
Sobre o escândalo dos pastores que vendiam facilidades a peso de ouro, Ribeiro não desmentiu as denúncias, só um trecho de fala sua cuja gravação foi obtida pela Folha de S. Paulo, em que disse que os pedidos dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura deveriam ser atendidos por indicação de Jair Bolsonaro. Ribeiro encaminhou denúncias a respeito à CGU em agosto, mas continuou se reunindo com eles depois disso, um habeas corpus preventivo.
No ministério, Ribeiro foi só menos estridente que Ricardo Vélez Rodriguez e menos boquirroto que o inacreditável Abraham Weintraub, seus antecessores. Discretamente, porém, disse barbaridades à vontade, entre elas sobre o papel da educação sobre a sexualidade (para ele, nenhum, fora a repressão) e ganhou um inquérito contra si por homofobia. Como os outros, nada fez em prol da educação. Não moveu uma palha para coordenar o setor durante a grave pandemia, que deixou as escolas brasileiras por mais tempo paradas do que qualquer país relevante do planeta. Gastou a maior parte do tempo sem fazer nada de relevante, ciceroneando ávidos comerciantes de bíblias.
Mas há algo intrigante, que enseja desdobramentos. Ribeiro está certo ao dizer que os repasses são determinados pelo FNDE. Este é um feudo do PP, do ministro Ciro Nogueira. O fundo é dirigido por seu ex-chefe de gabinete, Marcelo Lopes da Ponte. Mais de R$ 1 bilhão hoje, e de R$ 5 bilhões em 2021, compuseram verbas discricionárias, as que atraíram a cobiça de finórios. Ribeiro foi o mestre de cerimônias de dois pastores, não tinha a chave do cofre. É possível que haja mais gente envolvida no trânsito bíblico de recursos públicos para bolsos particulares.