Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (15/03/2022)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Proposta para baixar gasolina gera impasse entre Planalto e Guedes
Vacina previne Deltacron, a nova variante
Presidenciáveis buscam nichos dos adversários
Governo responde a STF que não pagou viagem de Carlos Bolsonaro
Um mês depois da tragédia, Petrópolis tem 4 desaparecidos
Paulo Tafner – ‘É preciso preparar jovem do Bolsa Família’
‘Dinheiro esquecido’ – Uns com tanto, outro com tão pouco…
Homeopatia: estudo indica manipulação de resultados
A dor dos feridos no ‘front médico’ de Kiev
Guerra na Ucrânia – Trans têm obstáculos a mais na fronteira
Protesto em Moscou – Pacifista que invadiu estúdio de TV pode pegar 15 anos de prisão

O Estado de S. Paulo

Isenção de impostos da gasolina pode gerar rombo de R$ 27 bilhões
Conflito dificulta importação de diesel
Insatisfeitos, motoristas falam em abandonar aplicativos
Negociação com Ucrânia não avança e Rússia amplia ataques a Kiev
Repressão de Putin e sanções levam milhares de russos a buscar o exílio
Partidos preveem disputas estaduais com ‘traições consentidas’
Baixada Santista terá temporais mais frequentes e risco de enchentes
Boa forma física pode ajudar a reduzir risco de Alzheimer em 33%
Controle da comunicação gera disputa interna no PT
Morte entre não vacinados é 26 vezes maior que de imunizados

Folha de S. Paulo

Delegação da Ecovias atinge PSDB, PT e União Brasil em SP
Boric diz que quer manter boa relação com Brasil
Queiroz sai das sombras e tentará vaga de deputado
Quase 1 mês após chuvas, mulher ainda busca irmão
Destruição em Irpin é espelho para Kiev em caso de invasão
Negociações não avançam, Kremlin fala em ocupação
Ex-campeão de xadrez pró-guerra teve ajuda da KGB
Militares agem para segurar chefe da Petrobras
São Paulo afirma ter vacinado 100% dos adolescentes

Valor Econômico

Guerra joga mais incerteza sobre fusões e aquisições
Risco fiscal e exterior afetam ativos
Covid na China renova ameaça a cadeias globais
Governo lança medidas para animar economia
Rodrik vê fim da “hiperglobalização”
Rússia intensifica ataques a cidades ucranianas
Varejo on-line busca reaquecer as vendas
Qualificar os jovens é desafio para o país

EDITORIAIS

O Globo

O impacto da educação é inequívoco

Nas cidades de melhor desempenho, a busca por avanços foi um trabalho de sucessivas administrações

Até há não muito tempo, o Brasil não fazia ideia do que se passava em suas salas de aulas. Sem medir, não havia diagnóstico possível. Uma das conquistas do país nas últimas três décadas foi a implementação de testes e índices para acompanhar a qualidade das escolas. Esse trabalho crucial acaba de ganhar uma contribuição. Um novo estudo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e do Insper criou um novo indicador, batizado Ideb-Enem, para medir a qualidade da educação do ensino fundamental ao médio. De modo pioneiro, os pesquisadores relacionaram esse índice aos indicadores sociais em nível municipal. O resultado confirma o efeito positivo dos investimentos em educação e demonstra mais uma vez por que se trata da área mais crítica para o futuro do país.

O índice é composto do percentual de alunos que entram no ensino fundamental com 6 ou 7 anos, não abandonam os estudos, não repetem nenhum ano e, ao concluir o ensino médio, se sentem motivados a fazer a prova do Enem. Leva em conta ainda a nota média desses alunos na prova. Os pesquisadores analisaram os estudantes em dois anos (2009 e 2014) e concluíram que o país avançou em todas as regiões, principalmente no Sudeste. Entre os estados, menção especial para Rio e Ceará. Entre as cidades de destaque, há bons exemplos em diferentes estados, como Valinhos (SP), Santa Rita do Sapucaí (MG), Nova Mutum (MT) ou Aracaju (SE).

Com os resultados em mãos, os pesquisadores averiguaram o impacto no mercado de trabalho, no ensino superior e nos índices de violência cinco anos depois do Enem. O resultado: a melhoria de um ponto percentual no índice está associada a um aumento de 15% nas matrículas em universidades, 200% na geração de empregos e a uma diminuição de 25% nos homicídios de jovens. Conclusão: os municípios que implementam melhorias de forma mais consistente elevaram a aprovação no ensino superior, criaram mais empregos e registraram queda na violência.

Nas cidades de melhor desempenho, a busca por avanços foi um trabalho de sucessivas administrações. Diferentes prefeitos e governadores mantiveram a continuidade dos investimentos e projetos. Para o país, é a lembrança de que uma boa educação espalha seus benefícios por diferentes esferas. Para a classe política, é uma lição: as decisões precisam ter consistência mesmo com a alternância de poder.

A reflexão baseada em experiências internacionais é sempre bem-vinda, mas, por vezes, turva o debate. Experimentos feitos em lugares distantes, com culturas, sindicatos de professores e níveis de vida distintos dos nossos, nem sempre podem ser adaptados. Como mostra o índice Ideb-Enem, porém, o Brasil conta com municípios e estados que conseguem se destacar e podem servir de inspiração para gestores públicos nos demais. Quando a educação se torna prioridade de Estado, independentemente da preferência política ou partidária, os resultados são inequívocos.

O Estado de S. Paulo

Um legado sinistro para o novo governo

Preços disparados, juros altos e baixo crescimento podem durar pelo menos até o meio do próximomandato presidencial

A herança macabra deixada para o próximo governo incluirá inflação acima da meta, juros muito altos e economia emperrada, segundo projeções do mercado. As expectativas, muito ruins desde o começo do ano, pioraram depois da invasão da Ucrânia, em reação à insegurança criada pelo autocrata Vladimir Putin e aos possíveis efeitos das sanções à Rússia. Já confrontado com enorme desarranjo de preços, o Brasil terá de enfrentar um caminho mais longo e mais difícil em busca da estabilização, de acordo com as últimas avaliações. Em uma semana subiu de 12,25% para 12,75% a taxa básica de juros prevista para o fim do ano. As estimativas para os dois anos seguintes – metade do mandato do próximo presidente – também se elevaram, atingindo 8,75% e 7,5%.

São números sinistros para quem tiver a pretensão de administrar o Brasil e conduzi-lo para fora da estagnação. Não é o caso do presidente Jair Bolsonaro e de seus companheiros, concentrados em medidas improvisadas, concebidas para efeitos eleitorais, com elevado custo fiscal e, na melhor hipótese, inúteis para a prosperidade e a saúde econômica.

Convertida em pandemia, a inflação poderá afetar a atividade financeira em várias economias importantes, dificultando a redução ou favorecendo a elevação de juros. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) tem de enfrentar uma alta de preços de 7,9% acumulada em 12 meses, a maior em quatro décadas. No Brasil, um surto inflacionário com taxa de 10,54% no período anual até fevereiro está na lista de problemas da autoridade monetária.

Nesta quarta-feira os bancos centrais dos dois países devem anunciar novas decisões sobre as taxas de referência. O Fed poderá iniciar um ciclo de aumentos, com um primeiro acréscimo de 0,25 ou 0,50 ponto porcentual. Neste momento, os juros básicos nos Estados Unidos estão na faixa de zero a 0,25%. No Brasil, a taxa básica, a Selic, deverá subir de 10,75% para 11,75%, segundo a maior parte das apostas.

De qualquer forma, a subida, de acordo com as apostas do mercado, deverá continuar, no Brasil, até 12,75%. Para cuidar dos problemas internos será preciso olhar também para fora. Qualquer aumento nos Estados Unidos poderá afetar o fluxo internacional de capitais e o mercado cambial. Isso limitará as ações dos bancos centrais no mundo emergente, dificultando, por algum tempo, qualquer suavização da política monetária.

Para afrouxar sua política, no entanto, os dirigentes do Banco Central terão de renunciar ao compromisso de levar a inflação à meta oficial até o fim do próximo ano. Essa mudança será justificável se o custo do ajuste – perda de crescimento econômico e prolongamento do desemprego – for considerado excessivo em relação aos benefícios.

As famílias serão triplamente afetadas pela inflação: 1) a alta de preços, muito sensível nas compras do dia a dia, continuará erodindo os ganhos de quem ainda tiver uma fonte de renda; 2) o custo do dinheiro, elevado pelo aperto monetário, tornará mais difícil o acesso a novas compras a crédito; e 3) financiamentos até para a liquidação de obrigações já assumidas poderão ser menos acessíveis. Os consumidores, principalmente os de baixa renda, serão afetados pela doença, a acelerada alta de preços, e pela medicação, os juros mais elevados.

Pelas projeções do mercado, a taxa básica de juros ainda estará em 7%, em 2025, terceiro ano do novo mandato presidencial. A inflação ficará em 3%. A meta para 2025 ainda é desconhecida. A inflação estimada para 2022 acaba de passar de 5,85% para 6,45% (meta de 3,50%). A taxa projetada para 2023 subiu de 3,51% para 3,70% (meta de 3,25%). A estimativa para 2024 subiu de 3,10% para 3,15% (meta de 3%). Diante disso, dos juros previstos e do escasso potencial produtivo do Brasil, o mercado estima crescimento econômico de 0,49% neste ano, 1,43% no próximo e 2% nos seguintes. São prazos muito longos e problemas muito distantes para a visão e os interesses do presidente Jair Bolsonaro, de seus ministros e de seus sempre caríssimos aliados do Centrão.

Folha de S. Paulo

Plano infértil

Programas para a indústria de fertilizantes se repetem sem sucesso há décadas

O Brasil é, sabidamente, uma potência agrícola. Praticamente metade de soja, 30% do açúcar, 25% do café e 21% das carnes de aves exportadas no mundo são produzidos aqui. Em contraste com esses números, a indústria nacional de fertilizantes nunca decolou.

Esses insumos, vitais para a produtividade de solos tropicais pobres como o brasileiro, são importados. Cerca de 85% vêm de fora — o que, em circunstâncias normais, passa quase despercebido.

Nas últimas semanas, porém, a guerra na Ucrânia criou um gargalo na oferta global, especialmente de produtos a base de potássio da Rússia, segundo maior produtor desse insumo. A situação fez autoridades se mexerem, não necessariamente com boas ideias.

Na tentativa de mostrar alguma iniciativa, Jair Bolsonaro (PL), acompanhado de ministros, lançou o Plano Nacional de Fertilizantes, com a assinatura de um decreto que cria um conselho dedicado à implantação de medidas.

São muitas as sugestões elencadas no calhamaço de 195 páginas, mas é indisfarçável a propensão a receitas velhas e frequentes geradoras de distorções: elevação do Imposto de Importação, incentivos tributários e linhas de crédito favorecido por parte do BNDES.

Em paralelo, o governo insiste na ladainha pelo projeto que facilita a mineração em terras indígenas —mesmo sem dados que indiquem ser essa uma boa solução.

Planos de incentivo à produção doméstica de fertilizantes já foram tentados, sem sucesso, nos anos 1970, 1980 e 2010. Nenhum foi capaz de superar o problema singelo e central da falta de competitividade dessa indústria no Brasil.

Análise do Observatório da Mineração aponta que o setor sofre com a concentração em poucas empresas, baixo investimento em novas tecnologias e limitações da logística. O translado entre portos e fábricas, em muitos casos, é mais caro do que a importação.

Uma das limitações mais importantes é o elevado custo da energia —a produção de fertilizantes demanda alto uso de eletricidade. Ademais, parte da atividade ficou por anos em mãos estatais, com inibição de investimentos.

Decerto que essa indústria poderia se beneficiar de tributação mais racional, boa regulação, crédito mais abundante, melhor infraestrutura. São condições que valem para toda a economia e dependem de reformas nas quais o Brasil permanece atrasado.

Valor Econômico

Custo da energia seguirá alto, apesar da melhora hídrica

A contratação das térmicas é uma das despesas que vai se prolongar

As chuvas volumosas neste início de ano causaram perdas humanas e desastres em algumas cidades do país. Mas, ao menos, melhoraram o nível dos reservatórios de água depois da pior crise hídrica dos últimos 91 anos ocorrida em 2021. Uma consequência natural seria a redução das tarifas de energia elétrica, que tanto pesaram – e ainda pesam – no bolso do brasileiro. Isso seria especialmente bem-vindo neste momento de escalada da inflação. Essa expectativa, porém, pode ser frustrada ao menos parcialmente em consequência dos erros do governo na administração da crise hídrica.

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) informou que o armazenamento do Sistema Interligado Nacional (SIN) atingiu 63,6% da capacidade na semana passada, acima do previsto no pior cenário. A expectativa é que chegue a 68,2% do nível máximo da capacidade do SIN ao fim do mês, percentual considerado confortável para enfrentar o início do período de redução das chuvas mais à frente, em maio, que geralmente se prolonga até outubro ou novembro.

A situação mais favorável permitiu que o CMSE anunciasse a antecipação do retorno da navegação de embarcações na hidrovia Tietê-Paraná, prevista para ser retomada gradualmente a partir desta semana. Ela havia sido suspensa no auge da crise para poupar água para as turbinas das hidrelétricas, interrompendo uma importante alternativa de transporte de grãos.

Esses números são médios. Os registros são melhores nos reservatórios do Norte e Nordeste, que devem chegar a 94,7% e 93,1% da capacidade, respectivamente, até o fim do mês. Na chamada caixa d’água do país, nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, responsáveis por cerca de 70% da geração de energia nacional, os reservatórios atingirão 63,3% da capacidade instalada. No Sul, porém, persiste a escassez hídrica e a projeção do ONS é que a capacidade de armazenamento dos reservatórios permaneça em 33%.

A situação mais segura no Sudeste e Centro-Oeste leva o ONS a prever que os reservatórios dessas regiões chegarão em agosto com 53% do armazenamento, o melhor nível desde 2013, e nada menos do que 32,3 pontos percentuais acima do verificado no mesmo mês de 2021, no auge da crise energética.

A melhoria levou o governo a reduzir o acionamento das caras e poluentes usinas termelétricas a cerca de 8 mil megawatts (MW) médios desde fevereiro, o equivalente a 40% do que estava sendo usado em setembro de 2021, quando se atingiu o nível recorde de 20 mil MW médios. Mas elas seguem em funcionamento por conta do nível baixo dos reservatórios da região Sul. Por esse motivo também foi mantida a importação de energia do Uruguai e da Argentina nessa região.

A contratação das térmicas é uma das despesas que vai se prolongar. Para colocar algumas delas em funcionamento, o Brasil precisou comprar no exterior o gás natural liquefeito (GNL). As importações do produto saltaram 187% em 2021 e representam 27% do total de gás consumido no país. No primeiro bimestre o volume importado aumentou 42% e os preços saltaram 260% antes mesmo de refletirem totalmente o conflito no Leste Europeu. Enquanto isso, a construção da infraestrutura para a exploração do gás do pré-sal caminha a passos mais lentos do que o desejável.

Além da contratação das térmicas, a bandeira de escassez hídrica criada na crise vai até abril. Como disse o ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Edvaldo Santana, as decisões que o governo tomou para enfrentar a crise hídrica “serão sentidas por anos no bolso dos consumidores” (Valor, 4/3). Uma das contas mais salgadas é a das distribuidoras, que cobriram a diferença entre o que o consumidor pagou e o custo real da energia. Além de disso arcaram com as medidas de desestímulo ao consumo, como o programa de incentivo à Redução Voluntária de Demanda (RVD). Santana calcula que “só da crise passada, independentemente do valor do empréstimo às distribuidoras, os consumidores vão pagar por cinco anos”.

Não há consenso sobre o total dessa conta. Nos cálculos da Aneel, o empréstimo ao setor elétrico pode chegar a R$ 10,8 bilhões. Já o presidente da Abradee, associação das distribuidoras, Marcos Madureira, calcula que as distribuidoras estão com déficit acumulado de R$ 12,4 bilhões até novembro. Qualquer que seja o valor, vai levar tempo para ser amortizado pelo consumidor.

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