MANCHETES DA CAPA
O Globo
China se posiciona pelo fim do conflito
EUA proíbem aviões russos
Petróleo tem maior alta em sete anos
Símbolos de capitalismo e consumo deixam país
Bolsonaro em choque com o Itamaraty
O boicote cultural à Rússia
Projeto das Fake News trava na Câmara
Série de debates analisa como abrir o Brasil ao exterior
Brasil não tem protocolo para reabilitar Covid longa
Sebastião Salgado – ‘A Funai acabou’
Para foliões, carnaval foi só um prévia
Menino foge de casa, dribla segurança e pega avião para SP
O Estado de S. Paulo
Rússia endurece ataques, mata civis e avança sobre Kiev
Putin se equivocou e pagará o preço, diz Biden na fala anual aos EUA
Ngozi Okonjo-Iweala – ‘Tenho medo do impacto do conflito no preço dos alimentos’
China muda tom e promete ajuda para negociar fim da guerra
Ucranianos, por enquanto, vencem batalha travada nas redes sociais
Próximo governo poderá indicar 31 magistrados para tribunais
Pesquisa explica sono pior de idoso e pode ajudar a criar medicamentos
Plano para ligar Santos e Guarujá tem ponte e túnel
Explosão do e-commerce provoca falta de galpões
Folha de S. Paulo
Rússia ataca cidades-chave da Ucrânia
China afirma que fará esforços pelo fim do conflito
Sem contar que vai se alistar, pai se despede da família
Restrições a Moscou podem travar comércio
Biden anuncia que fechará espaço aéreo a russos
Zelenski cobra apoio em fala ao Parlamento da UE
Lula visita o México e fala em união da América Latina contra a guerra
Empresas devem formar redes para além do ESG
Mensagens de Bolsonaro ao Congresso contém série de promessas
Marcos Pontes deixará Ministério da Ciência e diz que indicará sucessor
Valor Econômico
Rússia aumenta ataques em meio a sanções mais duras
Bric foi decepção e não alcançou nada como grupo, diz O’Neill
Gestores reveem ativos em carteira
Inflação deve subir mais com conflito
Companhias passam a temer mais custos
EDITORIAIS
O Globo
Telegram só reagiu depois que o STF ameaçou suspender serviço
Havia anos que a empresa, criada por russos e com sede em Dubai, fazia pouco-caso das autoridades brasileiras
Os executivos do aplicativo de mensagens Telegram deram, finalmente, sinal de vida. Depois que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ameaçou mandar suspender o aplicativo pelo prazo inicial de 48 horas, os canais do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos foram bloqueados. Havia anos que a empresa, criada por russos e com sede em Dubai, fazia pouco-caso das autoridades brasileiras. Tentativas de notificação feitas pela Justiça Eleitoral desde 2018 não haviam sido respondidas. A primeira notificação de Alexandre, em 13 de janeiro, também fora ignorada.
Os responsáveis pelo Telegram faziam de conta que não acompanhavam o noticiário do quinto maior país do mundo em usuários de internet, onde seu aplicativo está em 53% dos celulares. A caneta de Alexandre acabou com a indiferença no dia 18 ao usar a palavra suspensão. Ele determinou a intimação dos sócios e de seu procurador domiciliado no país, que cuida sobretudo de questões relacionadas à propriedade intelectual.
Foram bloqueados três canais do blogueiro, alvo de dois inquéritos no STF que investigam um esquema de desinformação: Allan dos Santos, TV Terça Livre e Artigo 220. Será preciso acompanhar os próximos passos do Telegram para saber se foi uma atitude isolada ou o início de um novo comportamento que deixe para trás o deboche com a Justiça brasileira. Espera-se que haja uma mudança de postura.
Uma nova frente poderá ser aberta no Congresso, onde tramita o Projeto de Lei 2.630/2020, apelidado de PL das Fake News, com votação prevista para este mês. Um dos artigos exige que empresas com participação significativa no mercado tenham representantes legais no país. Nada mais razoável. Seria uma forma de fazer valer as decisões judiciais. Nas Cortes e entre parlamentares existe o temor de que o festival de mentiras que circulou no WhatsApp na campanha de 2018 migre neste ano para o Telegram. Não por coincidência, o aplicativo se tornou popular entre os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
Se a aprovação do PL e as ações futuras do Telegram são pontos de interrogação, o comportamento de Allan dos Santos é bem menos incerto. Logo após o bloqueio dos canais, ele apareceu em vídeo nas redes sociais debochando da decisão judicial, se dizendo vítima de censura e comparando o Brasil a países como China, Cuba ou Coreia do Norte. Deixou claro que criara um perfil reserva no próprio Telegram, de onde seguiu xingando Alexandre e ensinando seus seguidores a driblar restrições ao aplicativo.
A prisão preventiva de Allan dos Santos, que vive nos Estados Unidos, foi decretada em outubro. O Ministério da Justiça recebeu também no ano passado o pedido para que desse início ao processo de extradição dele, mas, até agora, tem gastado mais energia tentando explicar por que quase nada foi feito.
O Estado de S. Paulo
Segurança pública não é violência
Ao lado de casos de sucesso na segurança pública, como são as câmeras nos uniformes policiais, observam-se ações políticas que fomentam a violência e a baderna
Aspecto fundamental da vida em sociedade, a segurança pública afeta todas as pessoas e empresas. Ninguém está imune à desordem, à violência, ao crime e à sensação de insegurança. Tal constatação deveria conduzir a um consenso mínimo sobre políticas públicas para a área, identificando prioridades e os meios disponíveis para realizá-las. No entanto, observam-se ideias e ações políticas diametralmente opostas que, mais do que diferenças ideológicas, revelam uma grande confusão sobre a própria concepção de segurança pública. Há gente se aproveitando do tema para a mais vil politicagem.
Constatam-se, de um lado, avanços significativos na área de segurança pública, como são os bons resultados advindos do uso de câmeras em uniformes das polícias. Cada vez mais governos estaduais e municipais adotam a tecnologia. Segundo levantamento do Estadão, além de São Paulo, Santa Catarina e Rondônia – que já usam as câmeras de forma permanente –, nove Estados têm feito testes com os equipamentos. Guardas municipais também têm usado a tecnologia.
Trata-se de investimento público que melhora a segurança da população. As câmeras corporais filmam a atividade policial, monitorando a legalidade das condutas e colhendo provas. Como era previsível, o uso da tecnologia diminuiu drasticamente a taxa de letalidade policial. O equipamento também propicia uma melhor coordenação da atividade policial, ao fornecer a localização precisa dos agentes e das ocorrências.
O uso de câmeras corporais é um poderoso caso de sucesso de política pública na área da segurança. Vale lembrar que a transparência também beneficia diretamente o bom trabalho dos policiais. Com o registro das evidências, as ações policiais em defesa da lei podem ser facilmente justificadas. Diante da incontestável eficiência da tecnologia, o Colégio Nacional de Secretários de Segurança Pública (Consesp) está elaborando uma diretriz sobre as câmeras corporais, para orientar e fomentar sua adoção em todo o território nacional.
Ao lado dessas experiências positivas, verificam-se também ações políticas que, sob o pretexto de aumentar a segurança pública, trazem na verdade riscos para a população. Nessa rota de retrocesso e violência, o bolsonarismo tem notório protagonismo.
Se as câmeras corporais são uma excelente notícia para o País, é simplesmente estarrecedor constatar o crescimento do número de registros de armas. Em 2021, a Polícia Federal licenciou mais de 204 mil artefatos para a população civil, segundo informou o jornal O Globo. Em 2020, foram 177 mil licenciamentos e em 2019, 94 mil. Em 2018, último ano do governo de Michel Temer, a Polícia Federal havia licenciado 51 mil peças. Os números não incluem as armas utilizadas por caçadores, atiradores e colecionadores (CACs), controladas pelo Exército.
O progressivo armamento da população civil, que contraria a Constituição e o Estatuto do Desarmamento, revela o quão nefasta é a permissividade do governo de Jair Bolsonaro, que reduziu o controle e as restrições relativas às armas de fogo. Recentemente, contrariado com uma notícia que mostrava como armas obtidas por meio da licença para CACs abasteciam o crime organizado, Bolsonaro reafirmou sua enorme confusão e ignorância sobre o tema. “Estamos no caminho certo. Cidadão legalmente armado (no campo ou cidade) além de segurança para si e sua família, é a certeza que nunca será escravizado por nenhum ditador de plantão”, escreveu no Twitter.
Não há segurança pública se o cidadão precisa se armar. Cabe ao poder público prover a segurança de todos. Um presidente da República que, sob o pretexto de proteger o cidadão, libera o uso de armas está admitindo sua mais cabal incompetência em realizar um serviço que compete ao Estado prestar.
Além disso, como nos tempos de mau militar, Jair Bolsonaro segue atiçando paralisações e motins das forças de segurança estaduais. Isso é grave baderna ilegal e irresponsável. Segurança pública é proteção do cidadão, dentro da lei. Não é violência, é cidadania.
Folha de S. Paulo
Rússia sob sanção
Medidas tendem a derrubar a economia do país, mas impacto sobre Putin é duvidoso
Sanções econômicas dificilmente derrubam regimes ou mesmo autocratas de turno. As retaliações e o isolamento impostos a Coreia do Norte, Cuba, Irã ou Venezuela são exemplos notórios do impacto limitado desse tipo de instrumento de conflito ou punição.
Acreditar que as medidas contra a economia da Rússia possam colocar em perigo iminente o poder de Vladimir Putin é especular contra as probabilidades conhecidas, pois. De resto, parece haver pouco conhecimento acerca do esquema de sustentação do líder russo.
Está evidente, entretanto, o efeito imediato das sanções na economia do país. Os danos serão tanto maiores quanto mais tempo durarem o conflito e as retaliações.
De pronto, a Rússia foi submetida a uma crise de pagamentos externos. O país ficou sem acesso a parte de suas reservas em moeda forte, por decisão de Estados Unidos, União Europeia e aliados.
As autoridades econômicas russas, portanto, têm de lidar com uma crise de confiança ampliada por essa nova restrição, mas com meios reduzidos de fazê-lo.
É difícil evitar uma desvalorização aguda do rublo, o que vai provocar mais inflação. A fim de combater a carestia e o descrédito na moeda, nos bancos e nos títulos de dívida, elevam-se brutalmente as taxas de juros. Tal aperto monetário contribuirá para desaceleração ainda maior da economia.
Os maiores bancos russos foram banidos dos mercados americano e europeu e do sistema principal de pagamentos internacionais. A medida dificulta a realização de negócios, elevando riscos e custos.
Além do mais, empresas e bancos ocidentais temem punições de seus países por burlar as sanções, inadvertidamente. Temem ainda o risco de inadimplência da contraparte russa, sujeita à escassez de moeda forte ou outros óbices.
Assim, cancelam-se operações, o que afeta até o comércio de petróleo ou de grãos, que não foi objeto direto de retaliações. Grandes fretadoras de navios mercantes do mundo evitarão atracar nos portos russos; companhias ocidentais rompem parcerias ou desinvestem no gigante da Eurásia.
O país pode perder até sua fonte restante e contínua de recursos, as exportações, que colocam no azul seu balanço de pagamentos, que lhe rendeu US$ 21 bilhões em janeiro deste 2022 e US$ 120 bilhões em todo o ano passado.
No médio prazo, a escassez de recursos externos e as restrições a compras de alta tecnologia ocidental vão estrangular ainda mais a atividade econômica.
Sem solução ampla do conflito com o Ocidente, o que vai muito além da guerra na Ucrânia, a perspectiva da Rússia é de empobrecimento a perder de vista.
Valor Econômico
Financiamento da dívida mobiliária já está mais caro
Conflito afeta o Brasil com mais pressão sobre a inflação, volatilidade no câmbio e reforça a tendência de alta dos juros domésticos
O secretário do Tesouro Nacional, Pedro Valle, vangloriou-se de que o Brasil está preparado para enfrentar a volatilidade dos mercados internacionais causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Desde que o conflito estourou, na quinta-feira da semana passada, os mercados reagiram negativamente, pressionando os juros e o câmbio. Valle argumentou que o país possui reservas elevadas e que parcela pequena da dívida mobiliária é dolarizada.
Valle tem razão em relação à dependência reduzida dos financiadores estrangeiros para rolar a dívida mobiliária. Em janeiro, os estrangeiros detinham R$ 565,4 bilhões da dívida mobiliária brasileira, ou 10,53%. Instituições financeiras e fundos de investimentos concentram 53% da dívida mobiliária. No passado, estrangeiros já tiveram posição mais relevante. Em novembro de 2015, chegaram a possuir 19,37%. A dívida em moeda estrangeira também está em níveis baixos, somava R$ 249,9 bilhões, ou 4,4% do total.
Outros fatores que contribuem para uma certa tranquilidade são as reservas internacionais, que estão no nível confortável de US$ 350 bilhões; e o colchão de liquidez do Tesouro. Apesar de os resgates realizados ao longo de janeiro terem diminuído em R$ 54 bilhões esse colchão, a reserva de segurança fechou o mês em R$ 1,132 trilhão, com um salto de 40% em um ano, em comparação com os R$ 806 bilhões de janeiro de 2021. O volume é suficiente para cobrir 85% dos vencimentos previstos para os próximos 12 meses em R$ 1,334 trilhão, o equivalente a quase um quarto do total da dívida mobiliária, que atingiu R$ 5,616 trilhão no fim de janeiro.
Mas não há como escapar da influência da turbulência no mercado doméstico dada a pressão que a guerra no Leste Europeu deve provocar sobre os preços, contribuindo para elevar os juros ainda mais. O conflito alimentou a expectativa de alta dos juros e dos preços internacionais ao pressionar as cotações do petróleo, gás e commodities em geral.
O custo de financiamento da dívida mobiliária federal já vinha aumentando ao longo do ano passado, acompanhando a elevação dos juros básicos (Selic), determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) para deter a escalada da inflação. Os preços subiram no Brasil por motivos internos, como a crise hídrica, mas também externos, como a elevação do petróleo e problemas nas cadeias globais de suprimentos causados pela covid-19.
Na esteira da escalada da Selic, que saltou dos 2% do início de 2021 para os atuais 10,75%, o custo médio de emissão da dívida mobiliária federal quase dobrou, saindo de 4,67% em janeiro de 2021 para 8,92% em janeiro passado. O aumento mais acentuado foi das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), títulos pós-fixados indexados à Selic, que, apesar da demanda forte, teve a taxa triplicada, de 2,19% em janeiro de 2021 para 6,60% no mesmo mês deste ano.
Como as LFTs acompanham a Selic, a alta dos juros é a principal impulsionadora da demanda por esse título. A participação das LFTs no estoque total da dívida mobiliária federal aumentou de 35,2% em janeiro de 2021 para 38,4% agora. Desde o começo do ano, o Tesouro emitiu R$ 217,5 bilhões em títulos públicos 63,5% dos quais são LFTs. Mais recentemente a demanda, verificada também nas operações do Tesouro Direto, causou o recuo das taxas desses papéis.
Também foi significativo o aumento das Letras do Tesouro Nacional (LTN), de 3,71% para 7,34% no mesmo espaço de tempo. Subiram, embora com menos intensidade, as Notas do Tesouro Nacional (NTNs). As NTNs B, que acompanham o IPCA, passaram de 10,52% para 15,31%; e as NTN-Fs, prefixadas, subiram de 7,18% para 9,25%.
É compreensível que o secretário do Tesouro queira transmitir calma e garantir que a administração da dívida mobiliária está sob controle. Apesar dos fatores positivos do colchão de liquidez, das reservas internacionais e da baixa dependência do capital externo para rolar os títulos públicos, o ano ainda está no começo. Se já havia preocupação com as turbulências esperadas em consequência das eleições presidenciais, o quadro agora se agravou com o conflito no Leste Europeu. O desenvolvimento do conflito no Leste Europeu parece bem incerto e os prognósticos são pessimistas. Além das perdas em vidas humanas, há todo o impacto econômico que afeta o Brasil, com mais pressão sobre a inflação, volatilidade no câmbio e reforça a tendência de alta dos juros domésticos, além dos 12,25%, que é a mediana das projeções colhidas pela pesquisa Focus, do BC.