Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (17/01/2022)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Estados apostam em aulas de reforço e ações contra evasão
Na pandemia, um bilionário surgiu a cada 26 horas
Briga por poder abre crise entre evangélicos
Vacinação infantil deslancha – 12 capitais começam hoje
Governo precisa acelerar a testagem em massa contra Covid, advertem especialistas
Além do dinheiro, sucesso esportivo é desafio na ‘era SAF’
Game, set e vax: Djokovic é deportado
Direita se fortalece para enfrentar Macron
Tsunami deixou Tonga sem comunicação e acesso à ajuda externa

O Estado de S. Paulo

Vendas online batem as dos shoppings centers na pandemia
Advogados que são contra a Lava Jato querem que Lula mude Conselhos
Brasileiro bebe mais, faz menos exercício e vê crescer obesidade
Passaporte da vacina já é exigido em restaurantes e bares de São Paulo
Bronze nos 400 m com barreiras em Tóquio, Alison muda a passada para se manter no topo
Morre a atriz Françoise Forton, aos 64 anos
Fausto Silva estreia seu novo programa na Band
Caderno traz estratégia das marcas contra turbulências
Djokovic é deportado e está fora do Aberto da Austrália

Folha de S. Paulo

79% dos brasileiros são a favor de vacinar crianças
Saúde contrata empresa sem experiência para levar imunizantes
Rui Falcão – Alckmin vai contra tudo o que o PT já fez e quer fazer
STF mira ações que têm impacto em campanhas
Recurso demorado ameaça planos de Paulinho da Força
Favelas do Rio criam sistema de entrega própio
Calor recorde na Argentina provoca incêndios e apagão

Valor Econômico

Número de operadoras de saúde cai 47% e aumenta concentração
BNDES entra em fundos de infraestrutura
Avanço regional da vacinação é desafio no país
Vacinação infantil
Aliansce não desistiu da BRMalls
Banco foca na renegociação de dívida
Brasil e o risco de ‘tempestade perfeita’
TJ-SP afasta seguro de vida por embriaguez

EDITORIAIS

O Globo

Instituições têm papel central para dissipar crise de confiança no Brasil

Só um em 20 brasileiros confia no semelhante

No mundo, a fração dos que confiam nos outros caiu de 38% nos anos 1980 para 26% na década passada. Na América Latina, segundo o estudo “Trust” (Confiança), lançado na última semana pelo Banco Interamericano de Desenvovimento (BID), “o declínio foi ainda mais dramático”: de 22% para 11%. E, zero surpresa, o país com o menor nível de confiança no continente é o Brasil: 4,7%. Só um em 20 brasileiros confia no semelhante. “Quando a confiança está ausente das interações, a sociedade e todos os seus membros sofrem: a política é instável, a qualidade do serviço público se deteriora, o crescimento econômico diminui, a equidade social se esvai, e o bem-estar individual declina”, afirmam os autores. “O comportamento oportunista vira ameaça persistente.”

O estudo é feliz ao interpretar as consequências econômicas da desconfiança e do oportunismo. Empresas e cidadãos optam pela informalidade em vez de cumprir seus deveres legais. A falta de confiança afeta todas as decisões que impulsionam a economia e podem reduzir a desigualdade: investir, produzir, comprar e vender. Há mais gastos privados em funções que são vocação do governo, como segurança, saúde ou educação. Tudo isso derruba a produtividade e reduz o crescimento.

Quando um não confia no outro, também não existe união na sociedade para cobrar ações do governo. Há mais receio em fechar transações comerciais, maior sonegação de impostos, maior demanda por regulações para disciplinar as interações no mercado. “Cidadãos têm maior chance de pedir ao governo benefícios pessoais imediatos na forma de subsídios e transferências, em vez de exigir investimentos mais eficientes e eficazes em bens públicos.” Não poderia haver retrato mais preciso da mentalidade brasileira.

Os autores ilustram a questão com o exemplo do transporte público em Minas Gerais. Sem confiança no governo para garantir a qualidade do serviço, mesmo a população de baixa renda tem receio em usar ônibus, por medo de assaltos ou assédio sexual. “Os municípios em que se reluta mais em usar o transporte público pela preocupação com a segurança são aqueles em que a confiança nas instituições também é mais baixa.” O resultado é uma ineficiência econômica brutal.

Entre as causas apontadas para a desconfiança, uma tem papel fundamental se quisermos combatê-la: as instituições. O oportunismo, tanto na esfera pública quanto na privada, deriva da percepção de que ninguém é penalizado pelas próprias ações (assim como a corrupção resulta da impunidade). “As instituições têm um papel-chave para ajudar cidadãos a responsabilizar o governo. Judiciários e legislaturas podem impor freios ao comportamento que limitem as ações oportunistas”, afirmam os autores. Na América Latina e no Brasil, porém, tem acontecido o oposto. As instituições, “em vez de aumentarem a confiança no governo, se tornaram parte da crise de confiança”. O amadurecimento institucional é uma batalha em que não podemos esmorecer.

O Estado de S. Paulo

A resiliência da democracia

Nada indica que os brasileiros não estejam dispostos a proteger o regime democrático de ataques cada vez mais audaciosos

O País chega ao último ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro exaurido após tantos desmandos, tanta incompetência e tantas manifestações de descaso pelas aflições de milhões de brasileiros. No meio dessa travessia acidentada, a eclosão da pandemia de covid-19, que no Brasil matou mais de 620 mil pessoas, lançou luzes ainda mais fortes sobre as flagrantes deficiências administrativas e de caráter do atual mandatário.

A história da República não registra um presidente que tenha rebaixado tanto a instituição que representa. Sob Jair Bolsonaro, o deboche, a mentira, a violência e o linguajar chulo, entre outras descargas de falta de decoro, foram convertidos em instrumentos de governo, vendidos aos incautos e aos convertidos como traços da “simplicidade” ou da “autenticidade” do presidente.

De seu gabinete no Palácio do Planalto, das praias do exuberante litoral brasileiro ou da beira de estradas País afora, Bolsonaro tem trabalhado duro para erodir os pilares do Estado Democrático de Direito e semear a desconfiança entre os cidadãos e entre estes e as instituições democráticas. Seu governo não tem medido esforços para esgarçar ainda mais o tecido social e dividir os brasileiros em falanges. Nunca o grau de confiança dos cidadãos, entre si e em relação ao governo, foi tão baixo, como apontou um recente estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Diante desse cenário de aparente terra arrasada, é compreensível, pois, a falta de confiança de muitas pessoas na capacidade do País de parar, refletir e traçar novas rotas para sair dessa crise de múltiplas dimensões da qual parece ser um prisioneiro. Mas, por incrível que pareça, há razões para otimismo, ainda que cauteloso e vigilante. Há dados objetivos para acreditar que a sociedade será capaz, se quiser, de virar uma das páginas mais sombrias da história nacional.

Nos últimos três anos, a democracia brasileira foi submetida ao maior teste de estresse desde 1985, quando a liberdade foi reconquistada após longos 21 anos de ditadura militar. Nenhum presidente da República desde a redemocratização pregou e atuou com tanto afinco como Bolsonaro para desacreditar o valor do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso, dos partidos políticos, da imprensa livre e profissional, da educação, da ciência e da cultura como elementos essenciais para a construção de um país livre, justo e desenvolvido.

Não obstante as agressões, há vibrantes sinais de resistência que demonstraram a resiliência do regime democrático no Brasil, ora sob ataque. No STF, no Congresso e nas organizações da sociedade civil não foram poucas as ações que se contrapuseram às investidas liberticidas de Bolsonaro e seus esbirros espalhados por diferentes órgãos do governo e fora dele.

No curso da pandemia, foi notável a reação ao negacionismo mortal do presidente empreendida pelo STF, pelo Congresso, pelos entes da Federação e, principalmente, pelos cidadãos. Não é exagero dizer que todas essas instituições reagiram como reagiram porque souberam aferir o pulso dos cidadãos, majoritariamente contrários à “gestão” federal da emergência sanitária.

A agenda reacionária encampada por Bolsonaro, que lhe serviu para angariar votos na campanha eleitoral, teve pouco espaço para avançar na atual legislatura. Bolsonaro é o presidente que menos conseguiu aprovar projetos de sua iniciativa, mesmo sendo o recordista em pagamento de emendas parlamentares. Com todos os seus erros e acertos, o Congresso está em pleno funcionamento. Sinal mais vigoroso de resistência democrática não há.

Graças à imprensa livre e profissional, a sociedade tomou conhecimento de escândalos que rondam o presidente e pessoas de seu entorno, como as “rachadinhas”, o “orçamento secreto” e as interferências ilegais em órgãos da administração pública e instituições de Estado.

Como já foi dito nesta página, a democracia não se sustenta por si só, apenas pela força de suas virtudes. É preciso batalhar por ela. E diante de tudo o que o País viveu nesses três últimos anos, nada indica que os brasileiros não estejam dispostos a protegê-la de ataques cada vez mais audaciosos.

Folha de S. Paulo

Clareza de propósito

Frente ao quadro econômico, é fundamental que candidatos ao Planalto detalhem planos desde já

Na partida do ano eleitoral, esta Folha publicou artigos e entrevistas com os assessores econômicos de quatro dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas.

Participaram os colaboradores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB). Assessores dos demais candidatos, assim como do presidente Jair Bolsonaro (PL), não quiseram se manifestar.

Embora a lógica convencional diga que não há incentivo para as campanhas anteciparem propostas, a emergência nacional exige transparência desde cedo para que o país faça uma escolha informada. As transformações globais, aceleradas pela pandemia, demandam disposição política para amplas reformas que precisam ser debatidas já.

As análises das candidaturas têm pontos em comum. O principal é a necessidade de recuperação da capacidade do Estado em fazer políticas públicas. Requalificar a ação estatal, de fato, é condição para que o país possa reverter os retrocessos do governo atual e superar o quadro de estagnação e concentração de renda das últimas décadas.

A recuperação da estabilidade fiscal se insere nesse contexto, pois sem ela não será possível controlar a inflação e manter os juros baixos.

As divergências quanto aos meios para obtê-la logo aparecem, sobretudo em relação à atual âncora fiscal, o teto de gastos, defendido pela candidatura Doria, mas que, na opinião de Lula e Ciro, deveria ser reformado, especialmente no que tange aos investimentos públicos.

De um modo geral, os economistas ligados à centro-direita pregam um Estado enxuto, com ação focada em áreas de alto retorno social, além de boa regulação para incentivar investimentos privados.

Para a centro-esquerda, o papel do Estado é mais amplo. Na plataforma de Ciro, além da estabilidade macro, seria necessária a retomada dos investimentos públicos em larga escala, coordenando a iniciativa privada num plano nacional de desenvolvimento. O foco na indústria, caro ao desenvolvimentismo, aparece com clareza.

O tema do meio ambiente também figura com ênfases distintas, mas não deixa de ser curioso que tenha sido a direita a falar em carbono e desmatamento zero.

No entanto, é o artigo de Guido Mantega, representante de Lula, que destoa ao ignorar erros petistas sem apresentar propostas para o futuro. As pertinentes críticas ao governo Bolsonaro logo dão lugar a um resgate das mesmas receitas de tutela do Estado sobre investimentos e a retomada de políticas industriais, apesar dos repetidos fracassos nessa área.

O ano eleitoral está só começando, mas será fundamental que as campanhas desçam cada vez mais aos detalhes daqui para frente.

Valor Econômico

China avança e país segue sem ampliar vantagens estratégicas

A alta das vendas externas do país desde o período pré-pandemia foi quase toda direcionada à China. A participação dos chineses nos valores subiu de 28,7% em 2019 para 31,3% no ano passado

Em janeiro de 2008, o economista Antônio Barros de Castro, falecido em 2011, apresentou à cúpula do então governo Lula parte de suas reflexões sobre o fenômeno chinês e seus impactos no mundo e no Brasil. Especialista no tema, o professor, que presidiu o BNDES no governo Itamar Franco (92-94), mostrou que a China estava protagonizando o deslocamento do centro de gravidade da economia global, como fizeram os EUA no início do século XX.

Naquele momento, o Brasil se beneficiava à farta do “boom” de commodities provocado, justamente, pela China. Fabricantes massivos de produtos industriais destinados ao mercado externo, os chineses têm carência em duas áreas: alimentos, para nutrir população de quase 1,5 bilhão de pessoas, e energia.

Diante do novo deslocamento da ordem econômica mundial, a economia brasileira, ao contrário de muitas outras, pode se beneficiar graças à sua complementaridade com a chinesa. Ainda assim, advertiu Barros de Castro no pequeno estudo intitulado “No Espelho da China”, o país não deveria deitar-se em “berço esplêndido” e esperar que apenas os bons ventos nos ajudem a materializar “profecias” favoráveis.

O professor alertou que há três formas de reação possíveis à onda chinesa. A primeira é o simples “entrincheiramento”, isto é, a adoção de medidas de proteção a atividades industriais ameaçadas pelos produtos chineses. A segunda é formular estratégia “adaptativa” e a terceira, aproveitar o momento para transformações.

Na visão de Barros de Castro, há espaço para as três estratégias, mas ele sugeriu que a primeira – o protecionismo – não seja a preponderante, como historicamente costuma ser, quando a indústria nacional, desenvolvida num ambiente de fechamento às trocas comerciais, recebe mais proteção do governo, acelerando o processo de obsolescência competitiva. Dizia o professor que o protecionismo não é uma resposta à altura do desafio, sobretudo, porque não gera futuro.

Barros de Castro defendeu, então, a ideia de que os setores público e privado deveriam unir-se para criar “frentes estratégicas”, focadas na formulação e criação de um Sistema Nacional de Inovação. Seria a forma de posicionar o país diante do fenômeno chinês, cujas oportunidades e ameaças são frequentes e rapidamente redefinidas, o que obriga todos a atirarem em “alvos móveis”.

Dissemina-se a ideia de que o mundo caminha para um eixo no qual a China será a fábrica, o Brasil, a grande fazenda, e a Índia, a prestadora de serviços. Barros de Castro sustentou que esta é uma visão equivocada, uma vez que o agronegócio brasileiro é extremamente sofisticado e o país ainda possui diversidade industrial comparável, no mundo emergente, apenas às da China e Índia. Ele deixou claro, todavia, que cabe ao Brasil definir sua estratégia de inserção no mundo cada vez mais sinocêntrico.

No estudo, o professor mostrou que uma das explicações para a longa e penosa decadência da Argentina, um dos países mais ricos do planeta no início do século XX, foi o fato de sua economia não ter se posicionado adequadamente em relação ao deslocamento da economia mundial provocado pelos EUA no início do século passado.

Passados 14 anos, vemos que os protagonistas da economia brasileira nos setores público e privado pouco ou nada fizeram do que prescreveu, de maneira lúcida, o professor. A segunda década deste século foi, do ponto de vista do Produto Interno Bruto, a de pior desempenho dos últimos 40 anos, e que alguns economistas já chamam de a “Grande Depressão” do Brasil.

Mesmo crescendo hoje em ritmo menor que os da primeira década do século, a economia chinesa segue beneficiando exportações brasileiras. A alta das vendas externas do país desde o período pré-pandemia foi quase toda direcionada à China – a participação dos chineses nos valores subiu de 28,7% em 2019 para 31,3% no ano passado. A Ásia como um todo avançou quatro pontos percentuais em igual período, atingindo 46,4%.

A fatia dos Estados Unidos no valor de nossas exportações caiu de 13,4% para 11,1% do total no mesmo período. Na mesma comparação, a da União Europeia ficou praticamente estável – de 13,6% para 13% -, embora tenha atingido o menor nível desde 1997. Já a participação da América do Sul também se manteve estável – de 12,7% para 12,1% entre 2019 e 2021.

Os números mostram a importância avassaladora da China e das economias asiáticas na pauta comercial brasileira, o que comprova as palavras proféticas do professor Barros de Castro. Trata-se de um fenômeno que, dificilmente, passará por mudanças no horizonte previsível de tempo. O agronegócio brasileiro entrou em modo próprio. Sua produtividade crescente independe hoje de políticas públicas. Mas, se ainda deseja ter uma indústria nacional, capaz de oferecer empregos de qualidade e produzir bens competitivos, o Brasil precisa acordar.

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