MANCHETES DA CAPA
O Globo
Inflação em alta inibe consumo e freia o PIB
PEC dos Precatórios é aprovada no Senado
Mendonça será relator de ações do interesse de Bolsonaro
PGR abre seis investigações contra o presidente
Nova cepa: 21 capitais ficarão sem réveillon
Rio amplia exigência de passaporte de vacina
Merval vai presidir a ABL
Virada em 5 minutos, título após 50 anos
Melatonina: prós e contras do hormônio
Eleição é risco para relação com Argentina
EUA têm novas ações, e Alemanha restringe não vacinados
O Estado de S. Paulo
Com o agro em baixa, PIB cai e Brasil entra em recessão técnica
PEC dos Precatórios passa e viabiliza Auxílio Brasil de R$ 400
Gestão Bolsonaro já mudou pelo menos 20 nomes no comando da PF
São Paulo cancela réveillon e manterá obrigatoriedade do uso de máscara
Justiça autoriza retomada de avaliação de cursos pela Capes
50 anos em 5 min: Atlético-MG faz 3, vira e é campeão
EUA e México retomam política migratória do governo Trump
Folha de S. Paulo
PIB volta a derrpar e indica longa estagnação para 2022
Senado aprova PEC dos Precatórios e Auxílio Brasil
STF e Congresso adotam cautela com Mendonça
SP decide manter máscaras, e capital suspende Réveillon
Governo Doria reduz de 5 para 4 meses intervalo de reforço
Unesp vai oferecer bolsa para aluna que se torna mãe
Ato marca despedido de Merkel
EDITORIAIS
O Globo
Economia perde fôlego, e Congresso piora situação
É essencial lembrar que os dados do IBGE são ainda uma visão pelo retrovisor
Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a economia engatou marcha à ré. Os números comprovam dois trimestres consecutivos de retração, situação que configura uma recessão pela definição técnica. No segundo trimestre, houve queda de 0,4% em relação ao primeiro; no terceiro, de 0,1% em relação ao segundo. A péssima notícia corre o risco de ficar ainda pior.
Poderia não passar de mera flutuação estatística, não fossem os sinais a cada dia mais preocupantes vindos de Brasília. O Senado aprovou ontem a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Precatórios, que dá um golpe mortal no teto de gastos e abre um rombo na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Por sabotar nossas salvaguardas fiscais, trata-se de medida flagrantemente inflacionária. O Brasil começa a reproduzir o cenário de paralisia dos anos 1980, quando a combinação tóxica de estagnação e inflação —apelidada estagflação —corroía ao mesmo tempo o poder de compra e as perspectivas de crescimento, contribuindo para agravar a miséria e a desigualdade.
É essencial lembrar que os dados do IBGE são ainda uma visão pelo retrovisor. Não levam em conta os temores sobre os efeitos da nova cepa Ômicron do coronavírus no comércio, na produção de bens e na prestação de serviços. O Índice de Confiança Empresarial da Fundação Getulio Vargas — que procura olhar para a frente, mas também foi medido antes da Ômicron — exibe tendência declinante. A maior preocupação apontada pelo último levantamento era com a desaceleração da economia sob influência da inflação alta e do necessário aumento de juros. O ano de 2022 começa, portanto, sob o signo da recessão combinada à alta de preços.
A retração dos últimos dois trimestres é obra da falta de competência do governo — Executivo e Legislativo. As crises sem fim alimentadas pelo presidente Jair Bolsonaro, a inépcia do Congresso para produzir um Orçamento crível e levar adiante um programa consistente de reformas, a inflação de dois dígitos, a alta dos juros, a crise energética, o ataque às regras fiscais, tudo isso mina a recuperação da indústria, a confiança dos empresários e os investimentos. A recuperação no setor de serviços não tem sido suficiente para aplacar a queda na agropecuária e nas exportações.
É preciso ficar atento à guerra de narrativas que se avizinha. É provável que o governo martele que a economia crescerá mais de 4% em 2021. O número está correto, mas precisa ser visto com ressalva. Depende da base de comparação. No ano passado, houve longas quarentenas, baixa circulação, alta no desemprego e queda na renda, resultando na recessão de 4,1%. Com a vida voltando ao normal, a economia, na comparação, certamente cresceu. Mas isso não significa avanço. Se estivesse num jogo de tabuleiro, ocuparia hoje a mesma casa em que estava no fim de 2019 ou início de 2020, antes da pandemia — bem atrás do pico atingido no primeiro trimestre de 2014.
É inegável que a Covid-19 provocou uma crise econômica de alcance global. Mas o governo brasileiro mente ao creditar todas as más notícias à questão sanitária. A pandemia não pode ser escudo para sua vasta incompetência. O nome dos responsáveis por essa situação estará nas urnas no fim de 2022. Para evitar a volta da estagflação, o país precisará fazer escolhas melhores.
O Estado de S. Paulo
Governo medíocre, PIB idem
Com mais um recuo, o País mantém um dos piores desempenhos econômicos do mundo, longe da fantasia do ministro Paulo Guedes
Com dois tombos em dois trimestres, inflação disparada e desemprego muito alto, o Brasil mantém um desempenho econômico desastroso, muito longe da ficção sustentada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Sem nenhum grande avanço para celebrar, economistas discutem agora se o País voltou à recessão, com duas taxas trimestrais negativas, ou se está apenas estagnado, em contraste com a maior parte do mundo. A discussão pode ir longe, enquanto a economia mal se move. No período de julho a setembro o Produto Interno Bruto (PIB) foi 0,1% menor que nos meses de abril a junho, quando já havia diminuído 0,4% em relação ao volume dos primeiros três meses. Essa sequência, segundo analistas, caracteriza uma recessão técnica. Como as quedas foram pequenas, há quem prefira falar de “estabilidade”, mas isso em nada melhora o quadro.
Desmentindo o ministro Guedes e seus auxiliares, os dados internacionais mostram o Brasil em posição muito desvantajosa. O PIB cresceu nos três primeiros trimestres – 0,7%, 1,7% e 0,9% – no conjunto de países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na União Europeia houve recuo de 0,1% nos primeiros três meses e avanços de 2% e 2,1% nos períodos seguintes. Na maior parte dos grandes emergentes os números também têm sido positivos. Além disso, o desemprego na OCDE já caiu para 5,8% e a inflação nos 12 meses até outubro ficou em média em 5,2%.
No Brasil, todos os principais indicadores são muito piores. Embora em queda, o desemprego ainda correspondeu no terceiro trimestre a 12,6% da força de trabalho, com 13,5 milhões de pessoas em busca de ocupação. A alta dos preços ao consumidor chegou a 10,73% nos 12 meses terminados em novembro, segundo a prévia da inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15). Enquanto os dados pioram no dia a dia, pioram também as projeções para o próximo ano e até para o seguinte, o primeiro do próximo período presidencial.
Não há surpresa, portanto, nos números muito ruins do terceiro trimestre, em parte já indicados pelas prévias do PIB publicadas mensalmente pelo Banco Central e pela Fundação Getúlio Vargas.
A maior parte da economia foi mal no período de julho a setembro. Só um dos três grandes setores produtivos, o de serviços, teve desempenho positivo no terceiro trimestre, com expansão real de 1,1%. A agropecuária produziu 8% menos que nos três meses anteriores, em parte por causa da base de comparação elevada, em parte por causa das más condições do tempo. O conjunto da indústria ficou estagnado, com variação zero. Isso é em parte atribuível a falhas no suprimento de insumos, um problema global e muito sério para a produção automobilística.
Mas a explicação geral tem de ser mais ampla, porque só um dos segmentos industriais, o da construção, teve resultado positivo, com avanço de 3,9%. Parte importante da resposta deve estar na demanda final. O consumo das famílias aumentou 0,9%, mas permaneceu muito contido, por causa do desemprego, da inflação e da perda de renda. Em quatro trimestres, o gasto com o consumo familiar aumentou só 2,1% enquanto o PIB cresceu 3,9%. O empobrecimento, um dado inegável, condena a maior parte da população a conter os gastos severamente, baixando os padrões de consumo e, em muitos casos, limitando as possibilidades de desenvolvimento dos filhos.
Desemprego, inflação, perda de renda, falhas nas ações anticíclicas e de ajuda emergencial mantêm o presente estagnado e o futuro incerto. A insegurança quanto aos próximos anos é agravada pelo risco de piora das contas públicas, ameaçadas pela irresponsabilidade presidencial e pelo rompimento com as boas normas de uso do dinheiro público, sujeito cada vez mais aos fins pessoais do presidente e ao apetite de seus apoiadores. Quase encerrado o ano, os sinais econômicos positivos permanecem escassos, enquanto as incertezas se acumulam, alimentadas também pelo temor de novas cepas de coronavírus, tanto mais perigosas quanto maior a carência de um governo sério e competente.
Folha de S. Paulo
PIB no chão
Economia tem novo trimestre ruim e projeta, quando muito, alta medíocre em 2022
A economia está estagnada, com risco considerável de quedas recorrentes de produção e renda —vale dizer, do Produto Interno Bruto— nos próximos trimestres.
O desempenho do ano de 2022 ainda é uma incógnita, mas as possibilidades estão limitadas por deficiências crônicas, pela alta dos juros, pela inflação e por incertezas agravadas em razão do eleitoral.
Ainda que o PIB viesse a se expandir em 0,5% a cada trimestre a partir do final deste 2021, o ano que vem terminaria com um crescimento de apenas 1,5%, similar à média de 2017 a 2019.
Ou seja, em uma hipótese agora otimista, a economia voltaria àquele mesmo padrão de desempenho menos do que medíocre.
Tal perspectiva tornou-se mais clara com a divulgação do resultado do PIB de julho a setembro, uma contração de 0,1%. Ao longo de 12 meses, o produto avançou 3,9%. Ao final de 2021, terá aumentado o bastante para compensar as perdas do ano de maior impacto econômico da epidemia, 2020. Mas a recuperação rápida teve fim no primeiro trimestre deste ano.
Os números ruins desde então se devem também a choques diversos, mais ou menos circunstanciais. A inflação corroeu o rendimento do trabalho e minou a confiança dos consumidores.
Parte da elevação aguda e persistente dos preços decorreu de fatores externos, no entanto agravados pela desvalorização do real, provocada pelo tumulto institucional e pela perspectiva de nova escalada da dívida pública.
A consequente alta de juros e as convulsões domésticas derrubaram também o ânimo das empresas de investir. A escassez mundial de insumos industriais teve seu peso no terceiro trimestre seguido de decréscimo da produção do setor.
A seca elevou os preços de energia e provocou uma grande retração na produção agrícola, motivo circunstancial forte do recuo do PIB.
O setor de serviços ainda mostrou recuperação razoável no período. Assim pode prosseguir, a depender das vicissitudes da epidemia. As perspectivas para a safra no momento são positivas.
É possível que estados e municípios apliquem seus caixas bem fornidos em obras. Pode haver surpresas positivas na crise hídrica elétrica e no choque mundial de energia, o que traria alívio para a inflação, ainda que tardio.
No entanto, mesmo que 2022 ainda possa vir a ser menos negativo do que ora se prevê, juros e inflação altos vão cobrar seu preço. Caso se confirme esse cenário de estagnação, também devem desacelerar de modo relevante as melhorias no nível de emprego.
Não há muito mais o que fazer a não ser evitar degradação maior e ainda mais conturbação da política econômica. Candidaturas presidenciais responsáveis podem ajudar a conter danos com planos coerentes e politicamente viáveis.