Obra retrata em 15 textos legado do prefeito humanista que estabeleceu marcos sociais até hoje existentes em Florianópolis, Santa Catarina
A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) lança oficialmente na próxima quarta-feira (22), em encontro virtual a partir das 20h00, o livro “Grando, Presente!”, que reúne em 224 páginas 15 textos de personalidades, intelectuais, amigos e familiares de Sérgio Grando, líder histórico do partido cuja gestão marcou Florianópolis, capital de Santa Catarina.
Entre eles, Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania, o padre Vilson Groh, presidente do IVG, organização da sociedade civil voltada a ações educativas e socioassistenciais nas periferias da Grande Florianópolis; e os sociólogos Homero Gomes e Remy José Fontana.
A obra que narra a história e o legado de Grando, morto em 2016, vítima de um câncer aos 69 anos, foi idealizada pela direção do então PPS catarinense, hoje Cidadania-SC. Tem como organizadores os dirigentes Francisco Medeiros e Elaine Otto. Cientista social e educadora, Otto se emociona ao relembrar o trabalho realizado.
“Organizar e produzir o livro com Cleide [ex-mulher de Sérgio Grando] e Francisco [Medeiros] foi uma experiência única. A emoção das palavras proferidas por Padre Vilson Groh no dia 1° de janeiro de 2017, dizendo que Grando foi um homem justo, um verdadeiro camarada, se renovaram a cada texto. O livro está lindo. Vida densa, discreta, retilínea, Grando foi e continua sendo um exemplo de que é possível uma Florianópolis de todos”, sustenta.
O evento será transmitido em tempo real, no portal da FAP, que edita o livro, na página da entidade no Facebook e também no canal no Youtube. As pessoas interessadas em participar diretamente do lançamento, por meio da sala virtual do aplicativo Zoom, devem enviar a solicitação ao departamento de tecnologia da informação da FAP e se identificarem.
O contato deve ser realizado por meio do WhatsApp (61) 98419-6983 (Clique no número para abrir o WhatsApp Web), até 20 minutos antes do início do webinar.
Quem foi Grando
Foi do jornalista Carlos Damião o retrato próximo de quem foi Sérgio José Grando, ou Sérgio Grando, e ainda para a juventude, o gordo, na política catarinense. Disse Damião à época do falecimento do ex-prefeito de Florianópolis: é preciso não reduzir Sérgio Grando à simplificação do termo ‘comunista’, como fazem os professores de Deus que proliferam nas redes sociais com suas manifestações rasas de ódio e intolerância.
Grando fez política de um jeito incomum, sem qualquer ranço de radicalismo. A capacidade de articulação de Sérgio Grando esteve presente em toda a sua vida pública. Na década de 1970 destacou-se no então MDB, hoje PMDB, em especial entre os jovens de esquerda que militavam no partido.
O MDB era o espaço legal e democrático dessa corrente política, banida do campo institucional pela ditadura instaurada em 1964. Grando escapou de ser preso na Operação Barriga Verde, que desmontou a célula comunista abrigada no MDB. Mas esteve sempre solidário aos seus companheiros encarcerados e torturados.
Carreira
Líder prestigiado entre os militantes de esquerda e entre os professores, Sérgio Grando elegeu-se vereador pelo PMDB em 1982. Aproveitou a legalização do PCB em 1985 para se transferir para o “partido do coração”, à época identificado com a política da União Soviética e ainda liderado nacionalmente pelo lendário Luiz Carlos Prestes.
Seu estilo, no entanto, nunca foi autoritário ou raivoso. Talvez a experiência profissional no magistério tenha forjado em Sérgio Grando uma personalidade conciliadora, afável e generosa. Transitava bem em todas as rodas, inclusive entre os liberais (PFL), inimigos clássicos da esquerda de modo geral.
Depois de prefeito, foi deputado estadual. Na Assembleia Legislativa, também se destacou pela maneira leve e fraternal de fazer política.
Homem culto, tinha na literatura e no cinema suas principais paixões. Quando prefeito, fortaleceu a Fundação Franklin Cascaes, a fundação cultural de Florianópolis. Carismático, tinha amigos em todos os segmentos sociais. Foi nos morros, batendo de porta em porta, que se elegeu vereador em 1982.
Tinha uma Brasília velha, caindo aos pedaços, quando fez a campanha para prefeito em 1992. Duro, contava com a ajuda de amigos até para pagar os serviços gráficos realizados para o seu comitê.