Mentiras e teorias conspiratórias foram mortais na pandemia e muita gente ganhou dinheiro com isso, avalia senador
Jailton Batista, diretor da farmacêutica Vitamedic, que lucrou com a Ivermectina e até bancou propaganda a favor do tratamento precoce, admite que sabia que o medicamento não tinha eficácia contra o vírus
Depois de um dia em que a ‘tropa de choque’ do governo, na CPI da Covid, voltou a defender medicamentos não comprovados contra a Covid, e a minimizar a eficácia da vacinação em massa, o líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (SE), lamentou que colegas insistam em criar uma “tsunami de desinformação” dentro da comissão. O senador referia-se a colegas que o antecederam na CPI – Marcos Rogério (DEM-RO), Eduardo Girão (Podemos-CE), Marcos Do Val (Podemos-ES) e Luiz Carlos Heinze (PP-RS), este último conhecido por propagandear remédios sem comprovação científica para Covid. “Todas as falas desses sendores foram no entido de desinformar o cidadão brasileiro”, apontou Alessandro Vieira. “A repetição da mentira, para a camada mais ignorante da população, é mortal. E agora a gente consegue mostrar com clareza o quanto teve gente ganhando dinheiro com isso”, completou.
Foi o caso da Vitamedic, empresa que bancou anúncio publicitário em defesa do uso de medicamentos ineficazes no tratamento da Covid. Vendida como a ‘bala de prata’ do governo Jair Bolsonaro em sua contrapropaganda para o combate à Covid, junto com a hidroxicloroquina, a Ivermectina continua servindo apenas para o que está informado na bula: contra piolho e sarna. O próprio Jailton admitiu ao senador Alessandro Vieira que a empresa nunca conduziu estudos para avaliar a eficácia da Ivermectina contra o coronavírus e que não há nenhum dado científico que justifique sua prescrição contra a Covid – qualquer cepa. “Já citei ao redor do mundo vários ensaios, mas não temos nesse momento um estudo clínico que comprove essa ação antiviral do produto”, reconheceu.
Jailton Batista admitiu que a empresa bancou, em fevereiro, um manifesto publicado nos principais jornais do país, em nome da Associação Médicos pela Vida, em defesa do chamado “tratamento precoce” contra a covid, com uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença. Foram pagos R$ 717 mil pela peça publicitária, muito menos do que as 1,127 milhão de unidades de ivermectina vendidas a municípios de todo o país. O manifesto defendeu uma combinação de medicações como a Hidroxicloroquina, a Ivermectina, a Bromexina, a Azitromicina, o Zinco, a Vitamina D, anti-coagulantes entre outras. O próprio presidente Jair Bolsonaro, mais de uma vez, defendeu o tratamento com algumas dessas drogas, como Ivermectina e Hidroxicloroquina.
“O que se ataca é a política pública baseada no equívoco, na anticiência. O médico, que recomenda um medicamento, assume uma responsabilidade, está dentro de sua esfera”, pontuou o senador. “Mas a empresa que o senhor representa financiou a disseminação de uma informação que não tem base na ciência. Fez isso estimulando a automedicação”, completou o senador, lembrando que o anúncio, como de resto quem defende o tratamento precoce, passa a impressão de que essa é uma doença que tem remédio. “É o mesmo remédio que um pateta na cadeira de presidente levanta pra ema.”
Jailton Batista, diretor da farmacêutica Vitamedic, não deveria ser o depoente de hoje. O requerimento do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), previa originalmente a convocação de outro representante da Vitamedic, o empresário José Alves Filho – que traçou toda a estratégia comercial da Vitamedic. (Fonte: Assessoria de Comunicação)